Por Darci Bergmann
Pelo menos é o que se constata em São Borja. A Universidade Federal de Santa Maria- UFSM, desde os anos 1970 recebeu uma gleba de terras com mais de 400 hectares. As terras pertenciam ao Ministério da Agricultura, no local denominado Campo de Semente. Ocupando parte das terras da UFSM e tendo outra área própria de mais ou menos 109 hectares, ali também existe uma Estação Experimental Fitotécnica - a FEPAGRO-Cereais. Esta é mantida pelo Estado. As duas áreas foram, por décadas, administradas pela Fepagro, que ali desenvolve projetos de melhoramento de cultivares de soja, trigo, forrageiras, entre outras atividades. Houve atividade pastoril na maior parte da área, tendo até um projeto de produção de leite a campo, agora desativado, em parceria com o Município de São Borja.
De uns tempos para cá os investimentos na FEPAGRO-Cereais minguaram. São poucos os funcionários e houve redução significativa nos trabalhos de pesquisa. Com altos custos para conservação da gleba - cercas, monitoramento e controle das queimadas, etc., a Fepagro devolveu as terras à UFSM, exceto a sede com benfeitorias construídas pelo Estado.
Quando eu cursava o último ano de Agronomia na UFSM, em 1973, o então reitor José Mariano da Rocha disse-me que solicitou as terras para que ali fosse mais tarde implantada uma extensão da Universidade, o que abriria as portas para intercâmbio com outros países, na área de pesquisa e ensino.
Conheço “in loco”a gleba da UFSM. Há pouca disponibilidade de água. Boa parte das terras está num divisor de águas. Existe a necessidade de recomposição de vários fragmentos, pois houve neles retirada de material saibroso pela Prefeitura de São Borja.
Agora o inusitado. A UFSM, não tendo interesse em alavancar projetos nessa gleba, chegou a oferecê-la ao INCRA para o assentamento de famílias. Isto mesmo, terras públicas destinadas à pesquisa virariam um assentamento. Dois agrônomos do INCRA fizeram vistoria rápida no local, que acharam ‘apto” para assentamentos. “Apto” nesse caso e no entender de muitos, significa descaso com a coisa pública.
Não é só isso. Em São Borja, tem um “campi” da UNIPAMPA, tem a UERGS, estadual e com cursos na área de produção primária e mais recentemente o IFEF – Instituto Federal Farroupilha. Portanto três instituições públicas. A UERGS não tem um palmo de terra. A UNIPAMPA está localizada em área equivalente a três campos de futebol e já não tem mais espaço físico. O IFEF tem algo em torno de 7 ha. Portanto, as três instituições em conjunto poderiam receber essas terras cuja finalidade sempre foi o ensino e a pesquisa.
Em Itaqui, a pouco mais de 80 Km de São Borja, foi implantado um Curso de Agronomia da UNIPAMPA, numa área de 10 hectares, doada por aquele município. Essa área de 10 hectares para Agronomia é limitante para implantação de cultivos didáticos e de pesquisa, tais como, lavouras, pastagens, hortas, pomares., etc. E faltaria espaço para benfeitorias tipo laboratórios, casa de vegetação, oficinas, depósito, entre outros. A Agronomia de Itaqui poderia ter um “campi” avançado de pesquisa nessa gleba da UFSM, em São Borja.
Não seria prudente e correto repassar as terras da UFSM às instituições de ensino e pesquisa públicas carentes de terras e interessadas em implantar projetos? Que prevaleça o bom senso.
*ASPAN - Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural
Mais fotos:
Na mesma gleba das fotos superiores, a ASPAN tem auxiliado na roçada e implantação de aceiros para evitar a propagação do fogo, principalmente depois que a Fepagro devolveu as terras à UFSM. |
Uma das queimadas atingiu parte da área da UFSM, junto ao leito da ferrovia desativada Fotos: Darci Bergmann |
Este corredor de acesso era local de constantes queimadas que atingiam parte das terras da UFSM. Há mais de vinte anos o ambientalista Darci Bergmann iniciou arborização no local, o que auxiliou na redução dos focos de incêndio. Na foto alunos da Escola Estadual Franco Baglione, quando se dirigiam ao sítio do ambientalista para aulas nas trilhas ecológicas. |
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