23 de abril de 2014

A Internet sob censura

   Em diversos países a liberdade de expressão pela internet está ameaçada. Governos utilizam os mais diferentes pretextos para amordaçarem opositores. Quase sempre o motivo da censura está ligado a um suposto 'perigo do terrorismo'.
   No Brasil, a interferência do governo sobre os meios de comunicação já é real. Ela ocorre de forma dissimulada. Por exemplo, ameaçando o corte de publicidade com verbas públicas quando o governo é contrariado. Isto remete a que empresas recomendem aos seus colaboradores a não manifestarem opiniões que desagradem à fonte pagadora oficial. 
     A internet permitiu a circulação livre de idéias de forma rápida e agora parece ser a bola da vez. O famigerado Marco Civil da Internet foi 'pensado' com o intuito de instrumentalizar o governo brasileiro com um aparato legal de censura. O texto original sofreu algumas alterações. Ele permitia que a lei fosse regulamentada por um decreto ao sabor dos interesses da Presidência da República. Mas o perigo ainda persiste, pois existem nuances no texto aprovado que podem remeter a uma censura. Basta o governo sentir-se ofendido por algumas manifestações que expõem os seus 'mal-feitos'. É esperar para ver.
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Veja a seguir matéria veiculada no site da DW

Fundador acusa Kremlin de assumir controle da maior rede social russa


Pavel Durov anuncia que deixou a Rússia por ter se recusado a fornecer informações às autoridades locais. Ele afirma ter sido demitido da rede social que fundou, a VKontakte.
O fundador da principal rede social da Rússia, Pavel Durov, de 29 anos, anunciou nesta terça-feira (22/04) ter deixado o país depois de ter sido demitido do cargo de diretor-geral da empresa, em meio a tensões com as autoridades de Moscou.
O controverso fundador da VKontakte, rede social preferida dos russos e que supera o concorrente Facebook na região da antiga União Soviética, com mais de 100 milhões de usuários, disse que não pretende regressar à Rússia.
Em declarações ao site de tecnologia TechCrunch, Durov argumentou que optou por deixar a Rússia depois de se recusar a fornecer aos serviços secretos russos os dados pessoais dos organizadores do grupo da Praça Maidan, o centro da contestação pró-europeia na Ucrânia.
"Receio que não há como voltar atrás. Não depois de ter recusado publicamente cooperar com as autoridades. Eles não me suportam", disse ao TechCrunch. "Infelizmente, [a situação na Rússia] é incompatível neste momento com o negócio da Internet", acrescentou.
Por meio de um comunicado, Durov afirmou que, na prática, o Kremlin assumiu o controle da VKontakte por meio de aliados do presidente Vladimir Putin, como Igor Sechin, chefe executivo da maior petrolífera do país, a Rosneft, e Alisher Usmanov, homem mais rico da Rússia, que controla parcialmente o maior acionista da VKontakte, o grupo Mail.ru.
Mas foi o próprio Durov que vendeu sua parte à Mail.ru, que controla 52% da empresa. Os outros 48% pertencem ao grupo de investimento United Capital Partners, que Durov acusa de ter relações com os serviços secretos.
A VKontakte declarou que Durov foi oficialmente afastado nesta segunda-feira depois de não ter recuado de seu pedido de demissão, em 21 de março, passado o período de um mês que ele teria para fazê-lo.
Já Durov afirma que ficou sabendo da sua demissão pela imprensa. Segundo o site da emissora Voz da Rússia, ele afirma que o conselho de diretores da empresa havia aprovado o cancelamento da sua carta de demissão em 3 de abril e que a informação fora publicada em sua página na rede social.
A saída de Durov ocorre num momento em que a Duma (câmara baixa do Parlamento russo) adotou um conjunto de leis que foram apresentadas como medidas de combate ao terrorismo, mas que permitem um maior controle governamental da Internet, considerado um dos últimos espaços de liberdade de informação num país dominado pela mídia estatal.
Os blogueiros estão entre os principais alvos das novas leis, que atribuem a esses espaços de opinião as mesmas obrigações dos órgãos de comunicação públicos. Qualquer blog que tenha mais de três mil visitantes diários deve comunicar essa informação à autoridade que controla a mídia russa e arquivar esses dados durante seis meses.
AS/lusa/afp

15 de abril de 2014

Glifosato, um herbicida que está junto com os nossos alimentos

Por Darci Bergmann

     O alarme disparou. Novos estudos revelaram que o herbicida glifosato é mais nocivo à saúde do que se supunha. Largamente empregado na agricultura e até nas áreas urbanas, resíduos do dessecante aparecem numa grande gama de alimentos. Em milhares de pessoas de diferentes países ele apareceu em amostras de urina.
   Agora já se sabe que ele causa diversos distúrbios e pode potencializar o surgimento de outras doenças em humanos e animais.
      No ambiente ele causa grande impacto à vegetação no entorno das lavouras que servem de habitats a diversas espécies deanimais.
      Tenho observado o aumento no consumo de glifosato em áreas urbanas. A chamada capina química substituiu a tradicional enxada, a um aparente custo mais baixo. Pessoas aplicam glifosato nos pátios urbanos sem as mínimas precauções. Alegam que o produto é quase inofensivo e por isso dispensaria maiores cuidados.No entanto a realidade é outra. Em certa ocasião flagrei uma mulher aplicando glifosato em frente à sua residência. Ao lado dela estava uma menina de uns três anos de idade. Recomendei à mulher que tivesse mais precauções no uso do dessecante e que pelo menos afastasse aquela criança do local. A resposta foi que ela já estava acostumada na utilização de glifosato e que nunca notara problemas de saúde nela ou em seus familiares.  
 No Brasil, o assunto glifosato é agora motivo de alarme. A ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, quer fazer a reavaliação do glifosato. A pressão parte também de entidades da sociedade civil e do Ministério Público Federal. A questão envolve muitos interesses em jogo, principalmente por ser o glifosato de amplo uso na agricultura, como é o caso da soja transgênica.
    A discussão sobre restrições de uso ou a proibição do glifosato pode se estender por muitos anos. 
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Veja a seguir matéria publicada no site da Deutsche Welle

Pedido para reavaliar herbicida a base de glifosato está parado há 6 anos

Pedido é da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Herbicida é o mais vendido no mundo e no Brasil, mas estudos apontam riscos à saúde.
Há seis anos, o glifosato, um dos agrotóxicos mais usados no mundo e mais vendido no Brasil, integra uma lista de produtos que precisam passar por uma reavaliação toxicológica. O pedido é da própria Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária: para o órgão, uma nova análise é necessária porque há indícios de que o herbicida é potencialmente nocivo à saúde e ao meio ambiente.
Em 2008, a agência reguladora reconheceu que o produto vendido no país desde o final década de 1970 precisaria passar por novos testes que garantissem a segurança do produto. Caso contrário, sua venda poderia ser proibida ou restringida no Brasil. Entretanto, o processo de reavaliação ainda não foi concluído.
A Anvisa afirma que está cumprindo a legislação que permite uma" visão ampla dos três setores envolvidos (agricultura, saúde e meio ambiente) e dá direito de ampla defesa aos interessados, além de permitir que a comunidade científica faça parte da discussão de forma ativa", diz Jeane de Almeida Fonseca, da gerência de Análise Toxicológica da instituição.
O processo de reavaliação envolve não somente a Anvisa, responsável pelos aspectos relacionados à saúde, mas também o Ministério da Agricultura e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Um dos principais problemas enfrentados para a reavaliação do herbicida são as ações judiciais, movidas pelas fabricantes do produto e associações para tentar barrar o processo. A Monsanto detém metade do mercado mundial de glifosato, principal ingrediente ativo do herbicida Roundup. Seu uso foi liberado pela primeira vez em 1974 na Malásia e no Reino Unido. Em 1978, o produto passou a ser vendido no Brasil e, em 1984, passou a ser fabricado no país. Outras empresas como a Syngenta, BASF, Bayer e Dow também possuem produtos a base de glifosato.
A Anvisa informou que cada reavaliação é julgada em todas as instâncias possíveis e praticamente toda semana sua equipe técnica, responsável por formular as respostas dos processos, precisa responder essas questões à Justiça. Outro fator que emperra o processo seria a grande demanda de atividades realizadas pela Anvisa e o número reduzido de funcionários para atendê-las.
Agilizar o processo
O Ministério Público Federal (MPF) cansou de esperar o pedido pendente desde 2008 e entrou com uma ação na Justiça. O órgão pede que seja marcada a data para a avaliação de nove ingredientes ativos, considerados suspeitos pela agência reguladora – entre eles está o glifosato. Além disso, a instituição pede a suspensão da venda desses produtos até o final desse processo.
Além de combater ervas daninhas, glifosato sincroniza colheita
"Não temos, até o momento, informações suficientes para solicitar o banimento do glifosato, o que nós pedimos é a suspensão por medida de cautela. Existem indícios que são reconhecidos pelo próprio governo brasileiro, pois a própria Anvisa, quando determinou a reavaliação há seis anos, identificou que o herbicida possui riscos ainda não bem avaliados", justifica Anselmo Lopes, procurador da República.
Riscos à saúde
Estudos internacionais recentes apontam que o glifosato pode danificar embriões, causar câncer e alterações hormonais, por exemplo, retardando a puberdade em adolescentes. "Esses são os principais riscos à saúde que foram comprovados em pesquisas de cientistas independentes", afirma Heike Moldenhauer, especialista em transgênicos da Federação para o Meio Ambiente e Proteção da Natureza da Alemanha (Bund).
Além disso, outros estudos encontraram glifosato na urina humana e de animais domésticos e silvestres. Uma pesquisa coordenada por Monica Krüger, da Universidade de Leipzig, encontrou o herbicida em quase todas as amostras de urina recolhidas e em grande quantidade.
"Do meu ponto de vista e com base nos resultados das minhas pesquisas, o glifosato é perigoso para o ser humano, animais e também para o meio ambiente", opina Krüger.
Moldenhauer conta que outra pesquisa semelhante analisou amostras de urina de habitantes de grandes cidades de 17 países europeus. Os resultados apontaram que grande parte das amostras possuía glifosato ."A pergunta era como ele foi parar lá e a conclusão é pela alimentação", diz a especialista.
Para pesquisadores, a principal responsável pela entrada do herbicida na cadeia alimentar humana é a prática chamada de dessecação da lavoura. Neste processo, o produto é aplicado poucos dias antes da colheita fazendo com que as plantas fiquem maduras na mesma época, além de possibilitar uma data exata para a colheita.
Danos ao meio ambiente
Na União Europeia, o glifosato é liberado para essa função nas lavouras de grãos em geral. Segundo Moldenhauer, o herbicida pode ser usado até uma semana antes da colheita. Mas o produto permanece no grão por até um ano, não é eliminado sob altas ou baixas temperaturas.
"Há a suspeita de que produtos como farinha de trigo, pão e cereais matinais estão cheios de glifosato", justifica a especialista. No Brasil, esse herbicida é liberado como dessecante nas culturas de aveia preta, soja e azevém.
Além dos indícios de riscos à saúde, o herbicida pode causar danos ao meio ambiente. Segundo Moldenhauer, além do constante aumento da quantidade aplicada devido ao aumento da resistência das ervas daninhas ao produto, outro problema é que seu uso destrói toda a área verde na região de campos, ou seja, o habitat de insetos.
Esses insetos, que são a base alimentar de outros animais, acabam morrendo – o que compromete todo o ecossistema. Na Alemanha, cerca de 30% de todas as espécies de pássaro presentes em regiões agrícolas estão ameaçadas de extinção, revela a Bund.
Glifosato é o princípio ativo do Roundup
Transgênicos
Em 2011, cerca de 650 mil toneladas de herbicidas, cujo princípio ativo é o glifosato, foram usados no mundo. Segundo a Bund, essa quantidade deve dobrar até 2017. Somente o Roundup, da Monsanto, é vendido em mais de 130 países.
O herbicida é aplicado principalmente no cultivo de sementes transgênicas resistente a esse princípio ativo, inclusive a soja no Brasil.
Procurada pela DW Brasil, a Monsanto respondeu com uma nota dizendo que "agências regulatórias do mundo inteiro já concluíram que os herbicidas à base de glifosato não apresentam riscos à saúde humana e ao meio ambiente".
A empresa também enviou um documento assinado por associações de defensivos agrícola afirmando que, caso haja a suspensão dos nove ingredientes ativos, como pedido pelo MPF, "os impactos econômicos e sociais seriam incalculavelmente drásticos."
A associação calcula que os ingredientes ativos totalizam 180 produtos formulados registrados e abrangem as 56 principais culturas no Brasil. A lista inclui grãos, cana-de-açúcar, café, frutas, legumes e hortaliças, além de pastagens.


  • Data 08.04.2014
  • Autoria Clarissa Neher
  • Edição Nádia Pontes

10 de abril de 2014

Escândalo de Pasadena chama atenção para problemas da Petrobras


Valor de mercado da estatal caiu pela metade desde 2010. Para analistas, petrolífera é prejudicada pelo controle de preços no mercado interno, ordenado pelo governo.



Em junho de 2008, a Petrobras era a sexta maior petrolífera do mundo em valor de mercado, valendo quase 300 bilhões de dólares. Hoje é a mais endividada e a menos lucrativa. Os problemas são muitos – desde a perda de dinheiro devido ao controle de preços dos combustíveis, feito pelo governo, até atrasos na conclusão de refinarias. E ganharam relevância em meio ao escândalo da compra da refinaria de Pasadena (EUA), que virou uma crise política às vésperas da eleição presidencial.
O valor de mercado da estatal encolheu de 380 bilhões de reais em 2010, quando o preço do petróleo explodiu e a empresa ainda celebrava a descoberta do pré-sal, para 179 bilhões de reais no final de março. Segundo analistas ouvidos pela DW, a estatal vem perdendo sua credibilidade no mercado, em parte pelo que consideram o uso político feito pelo seu acionista majoritário, o governo brasileiro.
Este obriga a Petrobras a vender combustíveis a preços defasados – entre 15% e 20% inferiores ao preço internacional, desde 2006 – para segurar a inflação, o que prejudica o fluxo de caixa da empresa; e a comprar parte dos equipamentos de fornecedores nacionais, mesmo que estes sejam mais caros e mais propensos a atrasos do que os vendidos por empresas estrangeiras.
"O congelamento do preço da gasolina influencia consideravelmente o resultado da Petrobras, logo no momento em que tem um grande desafio pela frente, que é o de realizar os investimentos no pré-sal", diz o economista do Ibmec/RJ, Mauro Rochlin. "E quando o preço for equiparado ao valor de mercado, provavelmente após as eleições, as pressões inflacionárias vão ser maiores do que aquelas que o governo tentou conter. Essa política é um tiro no pé."
Em compensação, a empresa – que em 2013 produziu 1,93 milhão de barris de petróleo por dia no país, retrocedendo a patamares de cinco anos atrás – não está dando conta de abastecer o mercado interno e tem que aumentar a importação de gasolina e diesel – uma alta de 450% nos últimos três anos. Pelo fato de comprar mais caro no exterior e vender mais barato no mercado interno, a estatal teve prejuízo nos últimos dois anos de 37 bilhões de reais no setor de abastecimento.
Danos ao mercado
Dilma perdeu 6 pontos percentuais na intenção de voto para as próximas eleições, segundo o Datafolha
De acordo com Ildo Luís Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, além do governo brasileiro, os principais prejudicados pelos preços não competitivos da gasolina e do diesel são os acionistas minoritários e o setor sucroalcooleiro. Para ele, o setor foi "dizimado" por causa do preço artificial de venda de combustíveis usado pela Petrobras.
"Com isso, o etanol perde um espaço importante. Além disso, a própria empresa também perde, pois ela previa fazer a transição energética para fontes renováveis após a era do petróleo", afirma Sauer. "No passado, a ideia da transição fez com que a Petrobras fosse muito bem avaliada pelos investidores nacionais e estrangeiros."
Apesar de também criticar o controle de preços dos combustíveis realizado pela estatal, o especialista da área de energia e diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, diz que a Petrobras deverá recuperar seu valor de mercado com a consolidação da exploração dos recursos do pré-sal – podendo atingir em 2020 a ousada meta de extrair 4,2 milhões de barris de petróleo por dia.
"É claro que uma empresa estatal obedece às orientações do governo, como uma empresa privada segue as linhas do seu grupo de controle e visa o lucro. Uma estatal não persegue o lucro, mas um objetivo do governo, que depende do momento político", pondera Pinguelli, que refuta as acusações de uso político.
A Petrobras também sofre com atrasos nas obras de refinarias. A empresa luta para concluir obras que estão com o cronograma atrasado, tais como a Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), na região metropolitana da capital fluminense, com o objetivo de aumentar o refino de petróleo e atender melhor o mercado interno.
O custo da instalação da refinaria em Pernambuco se multiplicou por dez – passando de 2,3 bilhões de dólares para mais de 20 bilhões de dólares – depois que a estatal venezuelana PDVSA, até então parceira do projeto, desistiu do investimento. O Comperj, por sua vez, entraria em operação em 2011, mas não deverá ser inaugurado antes de 2016.
Dor de cabeça para Dilma
Especialistas condenam controle de preços de combustíveis feito pela Petrobras
A crise na Petrobras chega num momento delicado para a presidente Dilma Rousseff. Segundo a última pesquisa do Datafolha, ela teria hoje 38% das intenções de voto, seis pontos a menos que em fevereiro, data da sondagem anterior. Entre os motivos para a queda, segundo o instituto, estão o crescente pessimismo com a economia e forte desejo de mudança do eleitorado.
"A popularidade de Dilma está caindo por vários fatores, e a Petrobras também ajuda, já que a estatal é um ícone nacional. Os brasileiros têm um carinho especial pela empresa", afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
A Petrobras está envolvida numa crise política sem precedentes por causa da compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), e deverá ser alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso.
Num negócio suspeito de superfaturamento e evasão de divisas, a compra da texana custou 1,18 bilhão de dólares à Petrobras, mais de 27 vezes o valor desembolsado anteriormente pela belga Astra Oil. Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras e deu aval à operação.
Fonte: DW
  • Data 10.04.2014
  • Autoria Fernando Caulyt
  • Edição Rafael Plaisant

9 de abril de 2014

Ex-ministro alemão diz que Dilma bloqueou fim do acordo nuclear Brasil-Alemanha

Cooperação iniciada na ditadura militar quase foi encerrada em 2004, por iniciativa dos então ministros dos Meio Ambiente Jürgen Trittin e Marina Silva. Dilma, na época chefe de Minas e Energia, teria barrado anulação
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As usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2, no Rio de Janeiro


O polêmico Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, base para a construção das usinas nucleares em Angra dos Reis, estava perto de ser encerrado em 2004 e hoje continua em vigor, afirmou nesta terça-feira (08/04) o político do Partido Verde Jürgen Trittin, na época ministro alemão do Meio Ambiente.
Durante um debate em Berlim sobre a ditadura militar brasileira, Trittin lembrou um episódio daquele ano. Segundo ele, a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, interferiu nas negociações que poderiam levar ao fim do acordo.
"Na época, eu e a Marina Silva [então ministra do Meio Ambiente] estávamos seguindo a mesma linha", contou Trittin, cujo partido é contra energia atômica. "No entanto, outra ministra, chamada Dilma Rousseff, tinha uma ideia totalmente diferente do que estávamos discutindo e pressionou para outro acordo ser assinado."
Questionado pela plateia porque ele, como ministro, não encerrou unilateralmente o acordo, Trittin respondeu que o Partido Verde fazia parte de um governo de coalizão com os social-democratas e era difícil chegar a um consenso interno sobre o tema.
Trittin fez um apelo para que o atual governo alemão ponha um fim à colaboração entre os dois países na área nuclear: "Temos de reconhecer a responsabilidade da Alemanha perante o mundo e falar que não vamos mais cooperar nesse tema."
Whitaker, Lisboa, Bartelt e Trittin durante debate em Berlim
"Considero praticamente impossível que o governo brasileiro encerre esse acordo", disse Chico Whitaker, da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares.
Para ele, um dos empecilhos para a anulação do acordo está na posição da presidente Dilma Rousseff. "É muito difícil ir contra o pensamento tecnocrático de Dilma", disse ele à DW. "Para ela, que veio do Ministério de Minas e Energia, é complicado ir contra essa política."
Segundo Whitaker, alguns setores do governo até gostariam de resolver a questão, mas ainda falta coragem para a maioria se manifestar contra o pacto. "O pedido que fazemos ao governo alemão é que não se iniba em quebrar unilateralmente esse acordo."
Dois pesos, duas medidas
O polêmico acordo nuclear assinado por Brasil e Alemanha em 1975, durante o regime militar, e seus riscos e consequências para a sociedade brasileira foram discutidos num debate da série Brasilientage.
A vigência inicial era de 15 anos, podendo ser prorrogada automaticamente por períodos de cinco anos caso não fosse encerrada por nenhuma das partes. Desde então, o acordo já foi prorrogado quatro vezes e deve ser renovado por mais meia década em novembro de 2015. Para o acordo ser anulado, uma das partes precisa manifestar seu desejo de cancelamento com pelo menos um ano de antecedência.
Durante uma acalorada discussão, ativistas do setor energético do Brasil afirmaram acreditar que não há vontade política por parte de Brasília para encerrar o pacto. Sendo assim, eles fizeram um apelo para que a Alemanha anule, de maneira unilateral, o acordo.
O mediador do debate, o chefe do escritório brasileiro da Fundação Heinrich Böll, Dawid Bartelt, acusou o governo alemão de ter uma política de dois pesos e duas medidas em relação à sua estratégia energética.
"Enquanto a Alemanha proibiu o funcionamento das usinas nucleares dentro de suas fronteiras, o governo ainda mantém a estratégia de exportação desse tipo de energia, e é por isso que esse acordo com o Brasil não é rescindido", disse Bartelt. "O governo alemão deveria se envergonhar de agir assim", completou.
Whitaker criticou a política energética brasileira, qualificando-a de "opaca", e disse que os militares ainda estão no controle do programa nuclear brasileiro. "A política energética no Brasil é insana", avaliou o ativista.
A socióloga Marijane Lisboa, uma das organizadoras do Brasilientage, cobrou uma resposta do governo da chanceler federal Angela Merkel. "A Alemanha tem parte da responsabilidade de qualquer acidente nuclear que venha a acontecer no Brasil", disse.
Brasilientage
Os 50 anos do golpe de 1964, que transformou o Brasil numa ditadura militar por mais de duas décadas, estão sendo lembrados com uma série de eventos no Brasil e na Alemanha até o fim do ano.
De março a novembro, o grupo teuto-brasileiro Nunca Mais – Nie Wieder organiza seminários, debates, ciclos de palestras, exposições de arte e mostras de filmes e documentários em ambos os países.
O evento terá um encerramento simultâneo, em novembro, em Berlim e São Paulo. A ideia dos organizadores é que o fim das atividades coincida com a entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade.
Fonte: DW
  • Data 09.04.2014
  • Autoria Renata Miranda
  • Edição Alexandre Schossler

3 de abril de 2014

As espécies exóticas podem se tornar invasoras indesejáveis

Na matéria a seguir, publicada no site DW, é abordado o impacto da introdução da espécie exótica esquilo-cinzento na Escócia.

Para evitar extinção de nativos, esquilo cinzento é condenado à morte na Escócia

Espécies exóticas podem destruir ecossistemas naturais. Esse é o caso do esquilo cinzento na Escócia, que está acabando com o esquilo vermelho. No Brasil, há mais de 500 espécies trazidas de outras regiões.



Laura MacPherson não se lembra de ter visto um esquilo vermelho pessoalmente. "Talvez na Ilha de Skye quando eu era criança, mas não me lembro", afirma a dona de um pequeno hotel em Stirling, na Escócia.
Em vez dos esquilos vermelhos nativos da região, os esquilos cinzentos, uma espécie exótica – ou seja, fora de seu habitat natural – correm em seu jardim. "Eles incomodam um pouco. Eles roem os contêineres de plástico mais duros, entram no lixo e destroem coisas", conta MacPherson.
Mas esse é apenas um pequeno aspecto do potencial de destruição dessa espécie. Ela está provocando a extinção dos esquilos vermelhos. Os animais cinzentos têm mais filhotes, são maiores e comem mais, roubam até a comida que os vermelhos estocam para o inverno.
A estimativa é de que apenas 160 mil esquilos vermelhos ainda habitam o Reino Unido. Entretanto, a população dos cinzentos é composta por mais de três milhões de animais, segundo a organização Red Squirrels in South Scotland.
Acredita-se que os primeiros esquilos cinzentos tenham sido trazidos dos Estados Unidos para a Inglaterra no século 19 por um banqueiro chamado Thomas Brocklehurst. A espécie deveria embelezar o jardim de sua casa de campo.
Esquilos vermelhos não conseguem competir com cinzentos
"Eu gostaria de ter uma máquina do tempo para voltar e dizer a Thomas Brocklehurst que não foi uma boa ideia", diz o ambientalista Ken Neil, que trabalha no projeto do governo escocês Saving Scotland´s Red Squerrels. A grande maioria dos animais nativos restantes no Reino Unido, ou seja 75% deles, vivem na Escócia.
Erradicar o invasor
Ambientalistas se propuseram a livrar a Escócia da espécie cinzenta, para que a vermelha possa repovoar o habitat de onde fora expulsa. Neil e sua equipe espalham armadilhas pelas florestas e cidades do país.
Quando um esquilo vermelho é pego, ele é solto. Mas se um cinzento é capturado, ele é morto. "Não há alternativa. Eles não têm para onde ir e nós não podemos enviá-los de volta para os Estados Unidos", justifica Neil. A organização treina seus caçadores para matar os animais com apenas um tiro.
Mesmo se recusando admitir, Neil parece ter pena dos animais. Ele não quer demonizar os esquilos cinzentos, "mas a questão é essa: os homens criaram o problema e agora têm que consertá-lo", afirma, completando que a única a solução é erradicar a espécie exótica.
"Proteger espécies nativas é essencial, porque elas compõem a biodiversidade específica e única de um país ", argumenta.
Todos os anos, durante a primavera, Neil recolhe a amostras de pelos de esquilos das florestas escocesas para descobrir quais espécies habitam a região. Para colher o material, Neil cola uma fita adesiva dupla na entrada de caixas cheias de amendoim. Conforme o resultado da amostragem, ele decide onde colocar as armadilhas na próxima temporada.
Esquilos são atraídos com comida
O último levantamento feito pela organização revelou que houve uma queda na população de esquilos cinzentos em 2013 em relação a 2011. No mesmo período, os vermelhos foram encontrados em regiões onde não estavam antes. "Acreditamos que nossa estratégia está funcionando", argumenta Neil.
Predadores
Os seres humanos não são os únicos predadores do esquilo cinzento. Para a marta-do-pinheiro-europeia, eles são uma ótima refeição. Essa espécie de mamífero carnívoro que viva nas Ilhas Britânicas foi extinta em várias regiões. Mas agora, sua população está se recuperando na Escócia e na Irlanda.
Há alguns anos, os ambientalistas discutem o efeito da marta-do-pinheiro-europeia sobre as populações de esquilo vermelho ou cinzento. Esses animais se alimentam dos vermelhos, mas parecem preferir os cinzentos, que são maiores.
Um estudo recente dos pesquisadores Emma Sheehy e Colin Lawton da Universidade Nacional da Irlanda, em Galway, confirmou essa teoria. Eles descobriram que em regiões irlandesas onde havia a presença da marta-do-pinheiro-europeia, a população de esquilos vermelhos prosperava, enquanto a de cinzentos era mais rara.
"A abundância da marta-do-pinheiro-europeia pode ser um fator fundamental para o sucesso ou fracasso do esquilo cinzento como espécie invasora", escrevem Sheehy e Lawton.
Mas o esquilo cinzento não é a única espécie que incomoda ambientalistas. No início do século 20, o vison norte-americano foi importado para o Reino Unido, para a criação de peles. Ele escapou do cativeiro e se espalhou pelas Ilhas Britânicas. Outras espécies exóticas invasoras são o lagostim norte-americano e o mexilhão zebra. Essas espécies também estão sendo caçadas para serem erradicadas.
Marta-do-pinheiro-europeia se alimenta de esquilos
Espécies invasoras no Brasil
O problema de animais introduzido em ecossistemas diferentes que ameaçam o equilíbrio natural também ocorre no Brasil. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, já foram catalogadas no país mais de 500 espécies exóticas.
Algumas delas são consideradas pragas e prejudicam também a economia, como o mexilhão dourado. Esse molusco foi introduzido no Brasil na década de 1990, vindo em navios mercantes. No país, a espécie se proliferou rapidamente e entope tubulações de abastecimento de águas e filtros das usinas hidrelétricas.
Outro exemplo é a tilápia-do-nilo que chegou ao Brasil no século 20. Por se alimentar de plantas e animais, esse peixe causa a extinção de outras espécies. Até mesmo a jaca que se adaptou bem ao clima brasileiro é uma espécie exótica invasora.
A planta, originária da Índia e de outras regiões, foi trazida na época colonial e se dispersou pelo país. Em regiões de floresta onde há grande quantidade de jaqueiras, foi constatado o desaparecimento de mamíferos e insetos nativos.

DW.DE

  • Data 03.04.2014
  • Autoria Brigitte Osterath/Clarissa Neher
  • Edição Nádia Pontes