31 de janeiro de 2010

Sítio Itaperaju





Desde o início dos anos 1980 uma gleba de terras, hoje com 14 hectares, vem se transformando num refúgio natural. Antes havia exploração de pecuária e agricultura. Aos poucos foram sendo plantadas árvores e arbustos, ultrapassando 400 espécies, entre nativas e exóticas. É uma área relativamente pequena, mas repleta de espécies animais. Os bugios constituem um atrativo à parte.

Tudo ali é muito simples, pois a prioridade é a biota e a sua relação com o meio físico. Em determinados pontos exitem auditórios rústicos, onde os bancos e mesas são feitos com peneus, pranchões e dormentes velhos cedidos pela ALL. Os auditórios permitem um certo conforto quando da realização de palestras. Também existem trilhas nos vários ambientes do local. Muitos estudantes e pessoas em geral já visitaram o Sítio Itaperaju. As aulas de educação ambiental, ministradas pelo proprietário e ambientalista Darci Bergmann sempre foram gratuitas. Algumas melhorias são necessárias, mas as limitações financeiras nem sempre o permitem. O Projeto SEMEAR, da ong ASPAN, tem ali uma oportunidade valiosa para o seu objetivo de educação ambiental. A própria ASPAN, tem uma pequena gleba de pouco mais de 3 hectares na divisa com o Sítio. Ali foram plantadas mais de 500 mudas de espécies florestais nativas e parte da área está em regeneração natural.



A preservação do local exige cuidados, especialmente com relação às queimadas. O fogo pode se originar por descuido das pessoas. É o caso quando alguém joga um toco de cigarro nos corredores de acesso, nas épocas de poucas chuvas.

Um outro fator de preocupação é a rede elétrica de alta tensão que atravessa o Sítio. A vegetação tem de ser mantida em porte baixo e isso, além de custos altos de manutenção, prejudica o ecossistema como um todo.




O sítio tem uma boa coleção de exemplares da espécie ipê-roxo, árvore-símbolo de São Borja. As canafístulas, os cinamomos, os angicos e outras espécies de árvores sofreram e sofrem ainda grande impacto ambiental com a deriva dos herbicidas. Os piores são aqueles de princípio ativo clomazone, de nome comercial Gamit e Gamit 360. O clomazone é muito volátil e neste blog já foi relatado sobre isso.



As fotos acima e ao lado mostram flagrantes do Sítio Itaperaju. Na foto superior uma turma do PROJOVEM, área de Administração, acompanhada pelo professor e associado da ASPAN, Jones DalmagroPinto. A última foto, à direita da página, mostra professores e estudantes da Escola Estadual Franco Baglione


















28 de janeiro de 2010

SERVIÇOS AMBIENTAIS


Por Darci Bergmann


Uma árvore é uma usina viva. Ela retira água do solo e a devolve à atmosfera, através dos estômatos, pequenos orifícios nas folhas. Nesse processo, ocorre a diminuição do calor pela evaporação da água, diminuindo a temperatura em torno de 15%. A copa de uma árvore intercepta em média 20% da radiação ultravioleta, aquela que pode causar câncer de pele. Ao mesmo tempo, pela fotossíntese, a árvore retira do ar o gás carbônico (CO²), fixando parte deste como constituinte do lenho e outros tecidos. As folhas e galhos sobre o solo formam uma forração natural, que absorve o impacto das gotas de chuva, mantém a umidade e melhora a infiltração de água. As raízes se aprofundam no solo, dele retirando nutrientes minerais, devolvidos em parte à camada superficial quando da queda das folhas. Estas, por sua vez, servem de alimento a uma infinidade de seres vivos, como minhocas, fungos e bactérias, num trabalho de equipe impressionante e a matéria orgânica é transformada em húmus. Uma única árvore já é uma maravilha da natureza. Que dirá uma floresta inteira, onde outras espécies vegetais e animais interagem formando um laboratório mais complexo ainda.
As florestas constituem ecossistemas de grande valor e prestam inestimáveis serviços ambientais, também no que se refere à qualidade da água. Numa floresta ou capoeira ela é retida pela estrutura de solo e matéria orgânica, é filtrada e alimenta as vertentes ou olhos d’água. Parte dessa água volta à atmosfera pela evapotranspiração e parte é acumulada nas camadas profundas do solo. É um ciclo vital para todos os seres vivos. Por desconhecimento desses serviços ambientais, nós humanos já degradamos muitos ecossistemas, a começar pelas derrubadas de matas ciliares nas margens de rios e vertentes ou mesmo no topo de montanhas e encostas íngremes. Sim, precisamos de terras para a agricultura, pastagens e expansão das cidades que parecem não ter mais limites. Mas sem água a vida não é possível.
Pois esses serviços ambientais podem se transformar em nova fonte de renda para os proprietários rurais que zelam pela Natureza. Nada mais justo. Em artigo anterior falei que os proprietários deveriam receber incentivos do Estado para a demarcação da reserva legal. Ainda deveriam receber remuneração pelos serviços ambientais que essas áreas, mais aquelas de preservação permanente (APP) prestam a toda a humanidade. Parte do que falei já vem ocorrendo em vários países do mundo. No Brasil já existem iniciativas semelhantes. Em reportagens recentes o programa Globo Rural mostrou um projeto em implantação na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais. Nessa área localizam-se nascentes importantes e que alimentam os rios que formam o complexo da Cantareira que abastece parte da região metropolitana de São Paulo. Os pequenos proprietários rurais demarcam e isolam áreas em torno de nascentes e rios e recebem um pagamento anual por hectare preservado. A água de boa qualidade já é uma commodity, isto é, uma matéria prima de alto valor em qualquer parte do mundo. A prefeitura de Nova York paga aos proprietários rurais que preservam os mananciais de água que abastecem a cidade. Esta água chega pura, sem nenhum tratamento nas torneiras dos nova-iorquinos.
Em Santa Catarina, havia um programa de incentivo ao reflorestamento. O governo fornecia as mudas de espécies florestais nativas e os proprietários rurais ganhavam um determinado valor em dinheiro para cada hectare cultivado. Muitas encostas íngremes que foram desmatadas e queimadas foram dessa forma recuperadas. Várias cidades no mundo já adotam incentivos a pessoas que tem responsabilidade ambiental. Em Lajeado, por exemplo, quem preserva as árvores nos terrenos recebe um abatimento no IPTU. Em São Paulo, apesar da especulação imobiliária, faz-se campanha permanente pelo verde com incentivos de toda a ordem. Quanto aos resíduos sólidos (lixo), a taxa é cobrada de acordo com o volume produzido por cada contribuinte. Esta é a cobrança justa, pois o lixo é produzido por pessoas não pelo terreno. O consumidor entra nessa cadeia, porque os seus hábitos de consumo podem influir na maior ou menor produção de lixo. O consumo responsável ambientalmente, resulta em economia de água, energia elétrica, papel, combustíveis, etc. Em todo o mundo forma-se uma tendência de incentivar as pessoas e empresas que tem compromissos com sustentabilidade ambiental. De outro lado, é punido quem degrada o meio ambiente.
Pelo que já se descortina no cenário mundial, os produtores de alimentos ou mesmo de matérias primas para a indústria que o fizerem sem o uso de agrotóxicos e com a preservação do solo e dos mananciais de água terão não só o reconhecimento da humanidade, mas igualmente serão remunerados pelos serviços ambientais que oferecerem.

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* Artigo Publicado in: Revista O Produtor, edição 04/Novembro de 2008, pg.33.
**A exemplo deste artigo que defende e mostra possibilidades de como os serviços ambientais podem se tornar fontes de renda, temos a ação política do Município de Campo Grande/MS que incentiva os moradores a adotarem medidas de proteção ambiental, concedendo-lhes descontos no IPTU e no ISS. Mais informações: Blog Antes que a Natureza Morra.

27 de janeiro de 2010

BARULHEIRA


Por Darci Bergmann




De uns tempos para cá, está difícil freqüentar certos eventos. A animação musical já não é mais uma demonstração de arte e se transformou em barulheira, tal a intensidade dos ruídos. Alíás, a própria arte musical perde espaço para o barulho com as geringonças de amplificação sonora brilhando a todo vapor.
Como se não bastasse isso, nos bailes e outros eventos, a conversação entre as pessoas fica quase impossível. E aí mais uma vez as relações humanas sucumbem ante a imponência tecnológica imposta pela indústria do lucro, travestida de modernidade.
Quem se submete por muito tempo à tortura sonora, regada pela ingestão de álcool, talvez nem se de por conta dos malefícios de tal exposição. O dia seguinte já mostra sinais de desgaste auditivo e de outras perturbações. O zumbido característico dos ouvidos é o primeiro alarme. As crianças são ainda mais sensíveis. Os especialistas em audição alertam que os danos são acumulativos e irreversíveis em alguns casos.
Pior em tudo isso, é quando as pessoas que não estão freqüentando os eventos barulhentos são obrigadas a ouvi-los. Umas porque moram próximo e outras porque estão momentaneamente nas imediações por razões de trabalho.
Mas a barulheira não é exclusividade só dos eventos. No dia a dia das cidades a balbúrdia sonora já é corriqueira. São vendedores ambulantes de frutas, picolés e guloseimas anunciados e vendidos sem nenhum controle de higiene. Dia desses, um vendedor ambulante de abacaxi, entrou no meu estabelecimento comercial e pediu para ir ao banheiro. Depois do expediente fisiológico saiu dali sem lavar as mãos e logo em seguida pegou um abacaxi, descascou-o e saiu oferecendo às pessoas na rua uma prova do produto. Picolés, produzidos, não se sabe em que condições, são anunciados por vendedores motorizados. As autoridades sanitárias gostam muito de fiscalizar os estabelecimentos regulares, mas fazem vistas grossas para essa venda ambulante. Os consumidores incautos adquirem tais guloseimas sem saberem dos riscos que correm. Ninguém sabe que tipo de corante foi utilizado, pois alguns podem ter metais pesados altamente tóxicos. A urina dos ratos pode transmitir a leptospirose e os produtos congelados, tais como picolés e sorvetes, conservam o bacilo transmissor da doença.
A zoeira do cotidiano aumenta com a propaganda sonorizada móvel. No meu entender é uma falta de respeito ao consumidor anunciar produtos e serviços dessa forma, quando existem outras opções de publicidade. Primeiro que ninguém guarda preço de produto anunciado na rua. Segundo, todos os consumidores também estão trabalhando de alguma forma. A propaganda sonorizada móvel perturba o trânsito, que perde fluidez e com isso aumenta a poluição do ar.
Há também uma mania de exibicionismo com barulho. Fabricantes e revendedores de equipamentos de sonorização, com astúcia, inculcam nos jovens o consumismo exacerbado. E alguns de personalidade mais fraca, submetem-se à volúpia da ostentação barulhenta, no intuito de chamar atenção de alguém. Nem que para isso tenham que perturbar centenas de outras pessoas. Isso me lembra dos meus tempos de adolescente, quando os fabricantes de cigarro anunciavam os seus produtos com os artistas de cinema. Tudo com o fim de fisgar algum incauto que, uma vez viciado em tabaco, passaria anos contribuindo para o lucro crescente das empresas fabricantes e às custas da saúde do consumidor enganado.
Vivemos uma época plena de avanços tecnológicos. No entanto, é paradoxal que a espécie humana está se sentindo mais insegura. Além disso, o respeito ao semelhante e à sua privacidade parecem retroceder diante da avalanche de grosserias e do mau uso dos produtos da tecnologia. Que se busque o equilíbrio e a volta ao bom senso. O respeito entre as pessoas e dessas com a Natureza talvez seja um novo desafio nesses tempos incertos.

25 de janeiro de 2010

CONSUMIDOR CONSCIENTE



Por Darci Bergmann
- Avalie bem a propaganda. Evite o supérfluo e aquilo que é produzido sem responsabilidade ambiental. A propaganda barulhenta perturba o sossego público e ainda prejudica a saúde.
- Produtos descartáveis, tais como barbeadores, copos e garrafas de cerveja aumentam o lixo e desperdiçam recursos. Dê preferência àquilo que não produz lixo ou que pelo menos o reduza. Até as sacolas descartáveis podem ser evitadas.
- Fumante, não fume perto de crianças e em ambientes fechados. Não jogue tocos de cigarro acesos pela janela do carro. Muitas queimadas começam assim.
- Escolha os alimentos pelos seus nutrientes. Evite os enlatados. Eles contem aditivos químicos. Faça você mesmo sucos, como alternativa aos refrigerantes calóricos.
- Se possível faça sua própria horta e cultive sem agrotóxicos. Existem produtos biológicos para o controle de pragas e moléstias. Pássaros, sapos, rãs e lagartixas são predadores de insetos e outras pragas. Proteja-os. Plante árvores. Elas atraem aves, amenizam o calor, reduzem a radiação ultravioleta e diminuem o aquecimento global.
- Pulverizações domiciliares de veneno liberam vapores tóxicos. Mosquiteiros e telas protegem contra os mosquitos. Produtos de limpeza podem conter fenóis prejudiciais à saúde. O branqueamento do papel também libera substâncias tóxicas. Prefira o papel reciclado ou o papel virgem não branqueado.
- Em casa ou no local de trabalho, separe o lixo em ORGÂNICO: folhas, cascas de frutas, etc.; SECO: vidros, latas, plásticos, papel limpo, etc.. O orgânico se transforma em adubo. Com tijolos, tábuas, sacos de plásticos ou outros materiais faça caixas de compostagem. Folhas, aparas de grama e papel higiênico podem ser adicionados e se transformam em húmus. Doe ou venda o lixo seco. Pilhas, baterias de celular e lâmpadas fluorescentes devem ser devolvidos no local onde foram comprados. Pilhas recarregáveis geram menos lixo.
- Poupe energia, poupe água. Não deixe luzes acesas em compartimentos vazios. Desligue o chuveiro enquanto estiver se ensaboando. Feche a torneira durante a escovação dos dentes. Ande menos de carro e, se possível, utilize o transporte coletivo.
- A Natureza faz bem. Não jogue lixo nas praias, praças, parques e ruas. Quando acampar, evite fogueiras junto às árvores. Ao sair, não deixe brasas ou fogo. Recolha o lixo do local. Os excrementos devem ser enterrados. Não retire plantas e animais do ambiente. A melhor lembrança é a fotografia ou a filmagem.
- NÃO SE OMITA! Um consumidor consciente faz bem ao nosso planeta.

24 de janeiro de 2010

O PLANTADOR DE ARAUCÁRIAS


Por Darci Bergmann

Quando eu era adolescente, morei no Extremo Oeste de Santa Catarina. Na cidade de Mondaí, às margens do Rio Uruguai, presenciei o ciclo das balsas. Estas consistiam de toras de madeira ou pranchões amarrados em molhes. A madeira provinha de vários municípios e era depositada no rio. Com as enchentes, as balsas desciam e tinham como destino principal São Borja. Foi um tempo de muita destruição das matas nativas e algumas empresas faturaram alto com isso, deixando para trás encostas desnudadas e depois erodidas. Na esteira do desmatamento veio também a lavoura de fumo, quase sempre ocupando áreas impróprias para esse tipo de cultivo devido à declividade do terreno.
Tempos difíceis para a Natureza que até hoje não se recompôs da cruzada devastadora. Mas em todos os episódios existem exceções de comportamento. Uma dessas foi a de um agricultor analfabeto e sábio por intuição. Esse homem, já pelos seus setenta anos, deixou uma grande lição. Plantava araucárias, o pinheiro brasileiro, botânicamente conhecido como Araucaria angustifolia. Certo dia esse agricultor fora abordado por alguns amigos que lhe questionaram sobre essa estranha mania de plantar árvores que levariam décadas para dar retorno. Até mesmo para a colheita de pinhões seriam necessários mais de dez anos e o plantador já tinha idade avançada. O sábio iletrado então justificou a sua atitude. Disse aos seus interlocutores que não plantava essas árvores para usufruto próprio, mas por agradecimento a Deus e aos seus antepassados. Explicara que quando menino tinha o hábito de andar pelas matas e comer frutas nativas. Ele não havia plantado as árvores que lhe deram frutos. Se elas estavam lá foi por obra da Natureza e de pessoas que as preservaram para que ele pudesse desfrutar. Assim, por gratidão, escolhera uma encosta desmatada para repor árvores que um dia poderiam fazer a alegria das crianças e das pessoas em geral.
Que lição de vida! Chegará o dia em que todos os seres humanos serão gratos a Deus por nos ter legado a Natureza. Aí ela será preservada com ações e não apenas lembrada com palavras.



Artigo publicado no jornal Alternativo, 21/11/2008, pg 16, S.Borja-RS.

22 de janeiro de 2010

AVES LIVRES PERTO DE NÓS




Por Darci Bergmann



Nas palestras do Projeto SEMEAR sempre recolho sugestões. Uma delas se refere à divulgação de práticas que permitam atrair aves para o perímetro urbano. É evidente que a primeira prática importante seria a ampliação das áreas verdes, medida essa que faz parte das políticas públicas. Mas essas nem sempre se voltam à questão ambiental como prioridade. Mais dia as pessoas e os administradores vão entender que os espaços verdes são imprescindíveis à qualidade de vida. A impermeabilização excessiva das cidades está se tornando um fardo pesado ao erário público e alguns planos diretores contemplam o aumento das áreas verdes. Na esteira das conseqüências benéficas das áreas verdes está o aumento da biodiversidade. Exagero? Creio que não. É só observar a quantidade de espécies de aves que aparecem em qualquer pátio bem arborizado. Quanto mais espécies de árvores e arbustos, mais bichinhos aparecem. Não só aves, mas borboletas, sapos, lagartixas e por aí vai. E essa bicharada toda pode viver em harmonia com o bicho homem. 
   Claro que às vezes ocorrem conflitos, porque algumas espécies se tornam pragas e também porque há pessoas que tem fobia de animais silvestres. Na maioria das vezes a convivência é possível e o condomínio urbano pode atrair muitas espécies.
   Aqui um alerta. Nada de enjaular bicho. Sei de pessoas que criam aves em cativeiro. Quase sempre aquelas espécies exóticas, que não sobrevivem no meio natural porque a vida em cativeiro lhes tirou o aprendizado instintivo. Melhor seria se criássemos ambientes propícios e nenhuma ave precisasse ficar trancafiada. Nada se iguala ao convívio das aves livres perto de nós. 
   Outra face da questão é que o tráfico absurdo de animais aumenta o perigo de extinção de algumas espécies. Esse tráfico aqui no Brasil é muito maior do que se imagina. Não há nenhuma justificativa para essa prática nojenta. 
   Uma vez flagrei um sujeito pegando cardeais. Alegou que as aves eram apanhadas e vendidas porque não conseguia emprego. O sujeito era um corpulento, jovem ainda e se realmente quisesse trabalhar de forma decente teria outras formas de sobreviver. Numa atitude arriscada de minha parte, fiz a soltura dos cardeais já aprisionados e recolhi os alçapões e gaiolas, que depois foram destruídos. O correto seria denunciar o sujeito à autoridade policial, mas naquelas alturas achei a medida adequada. Ressalto que esse tipo de abordagem é arriscado.
   Nas cidades, podem ser plantadas muitas espécies de árvores e arbustos que fornecem alimento para a fauna alada. Basta ter um olhar atento. E também a nidificação de algumas espécies pode ser estimulada com dispositivos simples, como os ninhos ou casinhas com vários materiais. As garrafas de PET são um dispositivo barato e eficiente. Os canarinhos especialmente, são atraídos para esses ninhos. A prática tem mostrado que canários e outras aves gostam da privacidade. Por isso as garrafas translúcidas devem ser pintadas com cores neutras. Usar de preferência tinta com base água. A porta de acesso é feita com um cano metálico aquecido, com 2,50 cm ou pouco mais de diâmetro. A porta ou furo deve ficar a uns 10 cm acima do fundo da garrafa. Também a tampa superior é retirada para facilitar a ventilação. No fundo da garrafa são feitos 4 ou 5 pequenos furos com no máximo 0,5 cm de diâmetro. Isto previne algum acúmulo de água. Também é recomendável que os ninhos sejam pendurados em áreas sombreadas. 
   Outras dicas: o ninho deve ser pendurado com fio a mais de 20 cm dos galhos para evitar o acesso dos roedores. Nos locais onde há movimentação de pessoas, o ninho deve ficar pelo menos 3,50 metros acima do solo. Não é necessário colocar o poleiro ao lado da porta de acesso do ninho de pet. Faço a limpeza a cada dois anos no máximo, retirando a forração velha antes da chegada da primavera. Quando ela chega, os canários e outras espécies de aves fazem o acasalamento e avidamente procuram moradia. 
  Com quase setenta ninhos espalhados no terreno onde moro, é um festival de canários na maior parte do ano. Curiosamente os pardais não incomodam os canários. Talvez um dos motivos seja a presença constante dos bem-te-vis (Pitangus sulphuratus). Eles afugentam os pardais. Existem outras opções de ninhos até bem mais sofisticadas. O importante também é reutilizar os materiais que já circulam no ambiente.




Na foto ao lado exemplar macho de canário-da-terra Sicalis flaveola. O poleiro de plástico que aparece na direita do ninho de pet é opcional.

21 de janeiro de 2010

A LAJOTA



Por Darci Bergmann


Dia desses, fui consultado sobre o plantio de árvores no passeio público. O consulente reformara a calçada, colocando lajotas quadradas de 0,30m, ou seja, pouco mais de um palmo de largura. De trecho em trecho, rente ao cordão do passeio público, deixara um espaço sem lajota. Nesses espaços seriam plantadas as árvores. E árvores frondosas que dessem bastante sombra, pois o calor da primavera e do verão lhe seria insuportável. Ouvi atentamente o interessado. Como a rede elétrica passava do outro lado da rua, seria possível o plantio de árvores de porte médio. A largura da calçada se aproximava dos três metros. Depois de várias sugestões, o cliente optou pela espécie ingá-feijão (Inga marginata) . No entanto, havia uma limitação: os quadrados de 0,30m para abertura de covas não permitiriam o bom desenvolvimento das mudas. Além disso, a pequena distância do centro de cada cova até o cordão da calçada seria outro fator limitante.
Ponderei ao cliente que o centro de cada cova deveria ficar a 0,80m do cordão da calçada e que as covas tivessem, no mínimo 0,60m de lado e outro tanto de profundidade. Isto implicaria em retirar lajotas. Foi objetado que o gasto com a reforma fora alto e que a ampliação do espaço para o plantio estragaria, em parte, o serviço feito.
Argumentei em favor da saúde das árvores. Para isso covas mais amplas permitiriam mais espaço livre em torno das mudas, favorecendo a infiltração das águas e a aeração do solo. Além disso, as raízes teriam mais espaço para o seu desenvolvimento, dando boa sustentação às árvores e maior possibilidade de extração de nutrientes minerais. Finalmente, sugeri que além do local mais amplo para cada cova, deixasse ainda uma área livre de lajotas ao longo do passeio público e ali colocasse grama. Tudo isso para aumentar a infiltração de água no solo e diminuição do calor retido na pavimentação. Terminada a consulta, aguardei a resposta do consulente nos dias seguintes. O desfecho foi favorável às árvores. As covas foram ampliadas e as mudas se transformaram em frondosas copadas.
O fato acima narrado é uma realidade na arborização das nossas cidades. Geralmente as pessoas dão exagerado valor à estética artificializada. As ruas estão se tornando corredores agressivos, atulhados de painéis, redes elétricas, obstáculos de toda a ordem sobre as calçadas, inclusive os receptáculos fixos para lixo. Dá-se mais importância ao automóvel, rei absoluto a quem os tecnocratas reverenciam com todas as vantagens no planejamento urbano. Chega-se ao ponto de estreitar os já minguados passeios públicos para que a ostentação motorizada reine na urbe. Como se isso não bastasse, as marquises e corpos avançados sobre os passeios públicos asfixiam ainda mais as ruas. Ruas assim tornam-se um caldeirão poluído: badulaques, trambolhos, barulho e pouco oxigênio. Espaço para as árvores, nem falar. Nos meses mais quentes do ano, o desconforto é total. As lojas acionam equipamentos para refrigeração, gastando energia cara e que muitas vezes é gerada com a degradação ambiental. O melhor sistema de refrigeração e oxigenação é relegado a um papel secundário: é o verde urbano. Resgatá-lo é tarefa que se impõe a todos os homens públicos responsáveis. Mas os cidadãos podem e devem participar, começando com o plantio adequado de árvores nos seus quintais e passeios públicos. É bom sempre consultar profissionais sérios. Até os pedreiros são importantes nesse processo e deveriam fazer cursos de arborização urbana. Assim, nas reformas de calçadas, as árvores seriam melhor tratadas.


Fotos - 1) De cima: Rua de Porto Alegre-RS; arborização adequada, com faixa de forração que melhora a infiltração das águas pluviais.

2) De baixo: Árvore da espécie sibipiruna Caesalpinia pelthophoroides em rua de São Borja-RS. Plantio muito rente à pista; cova de pequenas dimensões. Fotos: Darci Bergmann

Artigo publicado no jornal Alternativo, 17/10/2008, Pg 16, São Borja-RS

A RESERVA LEGAL


Por Darci Bergmann
Na região sul do Brasil, a destinação de 20% da área de cada imóvel rural para fins de reserva legal é prevista desde 15 de Setembro de 1965, pela lei federal nº 4.771. Assim como nas áreas de preservação permanente, na reserva legal as atividades agropastoris são vedadas. Uma diferença é que a reserva legal deve ser averbada em cartório. Isto implica demarcação com georreferenciamento e isolamento da área. É possível, também, um manejo sustentável na reserva legal, tal como a coleta de frutos, apicultura, turismo, etc., desde que não causem degradação. Portanto, ela não é uma “área perdida” como supõem algumas pessoas.
O Brasil é signatário de vários acordos internacionais que prevêem o respeito às leis ambientais. Por isso, até o crédito rural, que antes era usado sem muito respeito à Natureza, agora exige contrapartidas de sustentabilidade. Cresce em todo o mundo a consciência ambiental. É um processo que não tem mais volta.
Mas é preciso bom senso. O Estado sempre incentivou a investida contra o patrimônio natural, até com migrações internas desastrosas em termos socioambientais. Ocupação desordenada do território, inchaço populacional, crescimento de cidades, etc. não significam melhor qualidade de vida. Confundiu-se progresso como sinônimo de desordem ambiental. Agora, num repente e acuado pela degradação de vários biomas, especialmente o da Amazônia, o governo federal quer o cumprimento rápido das leis que, por décadas, não fez cumprir e nem ele próprio respeitou. A especulação imobiliária degrada áreas de preservação permanente no bioma da mata atlântica. O governo autoriza o uso de herbicidas como 2,4-D e Clomazone que estão devastando a flora nativa do País. Existem terras da União em que a degradação ambiental é escancarada. E o mesmo governo quer mostrar ao mundo que está preocupado com a preservação da Natureza, especialmente depois que Marina Silva deixou a pasta ambiental, nesse mar de contradições. Nesse contexto surgiu o Decreto 6.514/2008 com prazos para demarcação da reserva legal e sua averbação em cartório. Também fixou pesadas multas em caso de descumprimento.
É evidente que deve haver um regramento jurídico nas atividades humanas e destas em relação ao meio ambiente. Caso contrário se estabelece a bagunça. Mas esse decreto parece mais mecanismo de arrecadação financeira nessa voracidade insaciável da União, que de alguma maneira tem de manter algumas castas privilegiadas que abriga e os desperdícios rotineiros.

Os prazos exíguos para demarcação e averbação em cartório da reserva legal, preocupam. Também no curto prazo é insuficiente o número de profissionais habilitados para a tarefa. Outro ponto. Há proprietários rurais que estão respeitando a lei, no que tange às áreas de preservação permanente e até de reserva legal, mas que tem dificuldades financeiras para custearem os serviços demarcatórios e cartoriais. Assim, se não provarem que estão respeitando as leis ambientais, poderão ser punidos. Não é um contra-senso? Destarte e para finalizar, ouso sugerir o seguinte: a) Dilatação dos prazos, fixando-os de acordo com o tamanho da propriedade; b) crédito subsidiado aos pequenos e médios proprietários para as operações de implantação da reserva legal; c) que um percentual dos lucros das instituições financeiras seja revertido em reservas legais contabilizadas aos pequenos proprietários rurais. Uma justa reparação por parte de um setor que teve responsabilidade direta e indireta na degradação ambiental e que aufere grandes lucros; d) quando da implantação de assentamentos para pequenos agricultores, a parcela da reserva legal deveria ser prevista no total da gleba de terra, sem fragmentações. Isto evitará transtornos futuros, com menos burocracia e com ganhos ambientais; e) Que o Estado, passando pela União, estados e municípios, cumpra igualmente a legislação ambiental, que quer aplicar às empresas e cidadãos desse País, até para dar o exemplo.


1)Na foto acima: Ambientalista Jones Dalmagro Pinto observa efeito da deriva de herbicida sobre a vegetação ciliar do Rio Butuí, em 12/05/2006, em São Borja-RS, após dessecação por aeronave. Áreas de preservação permanente - APP e de reserva legal da região Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, além do uso irregular, ainda sofrem impacto das derivas dos agrotóxicos. Foto: Arquivo da ASPAN.

2)Artigo, menos a foto, publicado na Revista O Produtor, ed.03, Outubro 2008, pg.34, São Borja-RS.

19 de janeiro de 2010

CRIANÇA NATURALISTA

Seguidamente faço palestra às crianças sobre temas ambientais. E tenho aprendido muito com elas. Constatei, por exemplo, que as crianças encaram o mundo com mais naturalidade, sem aquela preocupação de alterar a natureza. Elas interagem com o meio ambiente, como se fizessem parte dele. Ao contrário da maioria dos adultos que quer mudar o estado natural das coisas, buscando na virtualidade artificial uma suposta felicidade. E um ambiente natural, sem muitos requintes é o que mais as crianças querem - e extravasam alegria quando conseguem brincar em um recanto assim. Um simples graveto, uma pedra, um pouco de areia ou terra e a criança já constrói sonhos. Nas caminhadas pelas trilhas dos bosques em meu sítio elas ficam deslumbradas pelos tons de verde, pelas formas de vida diferentes que encontram, pelos sons dos pássaros e dos insetos, pela flor silvestre que desabrocha. Tudo é motivo de encantamento. Quando se explica o porque de preservar um pequeno banhado, cheio de caraguatás, as crianças logo percebem que isso é importante para a conservação da água. São filtros naturais e locais de recarga dos aqüíferos. Para um adulto, provavelmente isso seria visto como uma área inútil. Quando se fala em preservar a vegetação nas margens dos rios as crianças entendem muito bem o porquê dessa medida. E aguçam a imaginação aumentando o tamanho da floresta e os seus mistérios. Para um adulto, talvez movido por outros princípios, as matas ciliares deveriam se transformar em lavouras e pastos até as barrancas do rio, deixando-o a mercê do assoreamento pela erosão das encostas. Bem, porque matas nativas, frutas silvestres, bichos livres num ambiente preservado? Para as crianças esse é um mundo puro, cheio de sonhos e esse mundo foi criado por Deus e elas fazem parte dele. Para alguns adultos sem sonhos o cenário natural não cria encantos. A Natureza é imperfeita e como tal deveria ser mudada. Pessoas assim não fazem parte do meio e buscam outros valores na exterioridade artificial. As crianças vão crescendo e com o tempo a sociedade lhes inculca outros princípios. A alegria natural cede lugar à pressão competitiva, o sistema de ensino é uma camisa de força e a intuição cede lugar à metodologia da ciência. Antes, quando criança, a pessoa era feliz com a inclusão ambiental. Agora, quando adulto, a sociedade molda o indivíduo para uma visão chamada antropocêntrica, isto é, todas as ações são voltadas para a espécie humana. Pelo que se vê nos noticiários e no nosso cotidiano a espécie humana não é mais feliz apesar de toda a gama de novos produtos e tecnologias que lhe estão disponíveis. Posso estar enganado. Mas percebo que o artificialismo não preenche o vazio que nos assola. A felicidade das crianças em meio à Natureza talvez nos revele um caminho a seguir.

Darci Bergmann (texto publicado no jornal ALTERNATIVO, em 14/11/2008, pg 8.)
Foto: Integrantes do Albergue Criança Feliz em trilha no Sítio Itaperajú- S.Borja-RS, em 14/10/2006.





17 de janeiro de 2010

PESADELO NUCLEAR


Algumas décadas atrás houve um movimento contra o uso da energia nuclear para a geração de eletricidade. Os acidentes radioativos contribuíram para essa tomada de posição. E havia o questionamento sobre o destino do lixo atômico, problema até hoje não resolvido, apesar da possibilidade de reprocessamento desse material. Também se argumentava que a energia poderia ser gerada a partir de outras fontes, como a eólica, hidrelétrica, fotovoltaica, biomassa, entre outras. Os defensores da energia nuclear afirmavam que os acidentes eram casos isolados. Quanto aos resíduos, não ofereceriam riscos maiores, pois acondicionados em barricas de chumbo ficariam contidos por milhares de anos.
O tempo passou e alguns sistemas de produção de energia dita mais limpa foram implantados em escala maior. No entanto, a geração de energias limpas não tem a unanimidade dos que se arvoram como ambientalistas. Sobre a energia eólica, dizem alguns que ela provoca tremendo impacto sobre a paisagem, interfere na rota migratória de aves, causa poluição sonora, entre outros problemas citados. Além disso, os ventos são irregulares, o que poderá diminuir o fornecimento por essa fonte em algumas épocas do ano. Quanto à biomassa, ela tem dois aspectos: um se refere ao aproveitamento de resíduos e o outro referente ao plantio de espécies vegetais em grande escala para a produção de biocombustíveis. Ambientalistas de renome entendem que os biocombustíveis são concorrentes diretos da produção de alimentos. Estaria aí um dilema. Um planeta cada vez mais povoado precisa de mais alimentos e de mais energia para atender aos seus padrões de consumo. Disponibilizar terras, máquinas, insumos e energia para a produção de combustíveis faz parte do agronegócio, mas não teria sustentabilidade ambiental, nem social.
Hoje parte dos combustíveis é desperdiçada nas cidades, sob várias formas, com requintes de descaso ao Planeta e às pessoas. Basta ver o que ocorre nos chamados rachas, madrugadas afora. Se assim é no comportamento, não é diferente nos planejamentos urbanos, onde as cidades crescem apenas pensadas para o automóvel e a construção civil moldada para obras consumidoras de energia. Arborização de ruas e outros espaços, para atenuar o calor, tem de ser motivo de pleitos insistentes dos quase sempre criticados ambientalistas.

A controvérsia tem o seu lado positivo. Talvez não exista uma fonte única e ideal de energia, mas um conjunto de alternativas. Particularmente, acredito muito na alternativa da energia solar sob as várias formas de aproveitamento. Mas as peculiaridades regionais devem levar em conta qualquer fonte disponível e de menor impacto ambiental.
Voltando à energia nuclear, fiquei encafifado com as digressões de James Lovelock, no livro Gaia - Alerta Final. Ele defende o uso da energia nuclear e critica a postura dos ambientalistas. O Sr. James Lovelock assevera que os cientistas americanos, em sua maioria, não perceberam o problema do aquecimento global. Agora, diante do dilema, a humanidade precisaria de líderes para fazer um movimento consistente com vistas a, pelo menos, diminuir os impactos do aquecimento global e que a energia nuclear seria uma das alternativas até menos danosas.
O pensamento do Sr. James Lovelock deve ser colocado num contexto de sobrevivência de alguns países, como o Reino Unido. Mas o uso da energia nuclear tem outras implicações que não as de simples construção de usinas e o descarte seguro dos resíduos. Num mundo cada vez mais tumultuado, com ideologias que beiram ao fanatismo mais insano, a humanidade poderá ficar sob a ameaça dos atentados às usinas atômicas. Assim, cada uma dessas usinas se transforma numa bomba atômica em potencial. Os problemas da humanidade não serão resolvidos somente pela ciência ou pelos cientistas. O conhecimento tanto pode ser usado para o bem como para o mal. A ciência é neutra e até isso é reconhecido em parte pelo Sr. Lovelock. É preciso uma ampla mobilização das pessoas, numa corrente que atinja o Planeta por inteiro, visando um novo modo de pensar e de agir. Os atuais padrões de consumo já causaram grandes estragos e levarão a uma derrocada ambiental sem precedentes. No atual momento, centenas de milhões de pessoas estão conectadas na internet, essa ferramenta espetacular que diminuiu as distâncias entre nós. Que se faça um bom uso dela. Podemos esbanjar menos, com atitudes simples e que não nos tiram o prazer de viver. Até para nos livrarmos do pesadelo nuclear.
Darci Bergmann, janeiro de 2010.

13 de janeiro de 2010

AGROTÓXICOS E OS CONFLITOS NO CAMPO






Os prejuízos econômicos das derivas de agrotóxicos estão gerando conflitos entre produtores e destes com as empresas de aviação agrícola. Nas comarcas do Estado tramitam centenas de ações ligadas a esses fatos.
No entanto, há uma vítima silenciosa, que vem acumulando um prejuízo quase irreparável: é a Natureza. É notória a mortandade de milhares de árvores, estas transformadas em paliteiros nos rincões afora, diminuindo a biodiversidade. A escalada no uso dos herbicidas é proporcional às cultivares transgênicas.
Entre os maiores causadores de impacto ambiental com herbicidas está a aviação agrícola, devido a: utilização de baixo volume de água; sobrevôo de áreas além daquela que é pulverizada (área alvo); turbulência provocada pela própria aeronave; desrespeito às normas operacionais, entre outros motivos.
As empresas do setor alegam que são fiscalizadas e têm licenciamento ambiental para operarem. Uma coisa é a licença ambiental da empresa. Outra é o comportamento na hora da aplicação aérea. É como um condutor de veículos. Para dirigir ele deve ter o licenciamento, ou seja, a carteira de habilitação. Mas isso não lhe dá o direito de abusar da velocidade e estacionar em local proibido, por exemplo. Na prática, não há fiscalização a campo por parte da autoridade concedente da licença. O que existe são preenchimentos de relatórios de vôo feitos pelas próprias empresas aplicadoras e estes relatórios são depois recolhidos pelos técnicos do MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Muitos desses relatórios são mal preenchidos e não atendem os dispositivos da Portaria SNAD 009/1983 e seu anexo, do MAPA. Essa portaria, na parte que trata do planejamento operacional, diz que o relatório de aplicação deverá conter:
h) parâmetros básicos de aplicação, relacionados com a técnica e equipamentos a serem utilizados (altura de vôo, largura da faixa de deposição efetiva, limites de temperatura, velocidade do vento e umidade relativa do ar, regulagens ou modificações do equipamento.
j) croquis da área a ser tratada, indicando os obstáculos, as estradas, as redes elétricas, as aguadas, as construções, os tipos de culturas, e registrado, DURANTE A APLICAÇÃO, a DIREÇÃO DOS TIROS E O SENTIDO DO VENTO.
As condições meteorológicas são medidas pelos operadores antes do início dos trabalhos. No decorrer da aplicação, a temperatura, a umidade relativa do ar e a velocidade e o sentido do vento podem mudar. Nesse ponto reside um dos maiores desrespeitos no cumprimento das normas. São poucos que param o serviço, quando as condições de aplicação já não são mais seguras. Como não há fiscalização, o abuso e a certeza da impunidade acontecem e os prejuízos a terceiros e ao meio ambiente ocorrem.
O produtor rural tem como alternativa de menor impacto ambiental a utilização das aplicações terrestres de herbicidas, observando igualmente as condições meteorológicas, para não prejudicar os vizinhos e a Natureza. Os equipamentos terrestres evoluíram muito e são mais eficientes. Nem todos podem adquiri-los. Mas as cooperativas, por exemplo, poderiam disponibilizar aos seus associados esses equipamentos.
Quanto à aviação agrícola, ela tem outros usos sem riscos maiores. Por exemplo: combate às queimadas, semeadura, aplicação de fertilizantes e defensivos biológicos, entre outros. O problema está no tipo de produto e na localização da área a ser pulverizada. Aplicações aéreas de dessecantes à base de glifosato devem ser restritas a áreas de extrema segurança. Herbicidas muito voláteis, como Clomazone e o 2,4-D, deveriam ser proibidos em todo o território nacional, tanto para aplicações terrestres quanto por via aérea. Os conflitos entre os produtores não seriam tantos e a Natureza seria mais preservada. (Darci Bergmann. Publicado na revista O PRODUTOR – 01/08
AGOSTO de 2008)



NOTA: Ocorrem na região de São Borja vários problemas relacionados ao uso do glifosato, por ser um produto com larga aplicação. Os problemas se relacionam principalmente à deriva que atinge culturas nas proximidades do local de aplicação. A ANVISA incluiu o herbicida glifosato na relação de produtos que estão em análise para futura suspensão de registro, com a alegação de que ele pode provocar problemas à saúde das pessoas mais expostas a esse agrotóxico. No artigo acima foi abordada principalmente a questão das derivas aéreas em relação aos produtos mais voláteis.

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: Implicações sobre a produção agrícola no Brasil


[1]Alexandre Hüller
[2]Melissa Bergmann


A conservação da biodiversidade representa hoje um dos maiores desafios da atualidade, especialmente quando consideramos a crescente demanda da sociedade humana por recursos naturais e espaço físico.
Não podemos tratar as questões ambientais de forma isolada, pois a população mundial aumenta a cada dia e está cada vez mais consumista. O Brasil é um país rico em biodiversidade, e a enorme variedade de animais, plantas, microrganismos e ecossistemas deve-se, entre outros fatores, à extensão territorial e aos diversos climas do país. Com mais de 50 mil espécies de árvores e arbustos, tem o primeiro lugar em biodiversidade vegetal, possui ainda uma quantidade de energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta, com grande potencial para produção de alimentos e bens de consumo. Esses fatores fazem do país um lugar de vocação natural para a agropecuária e todos os negócios relacionados a suas cadeias produtivas. A agricultura é uma atividade dependente da natureza, pois sem as condições adequadas de solo, água e clima, a base da agricultura deixa de existir. Com a aplicação da legislação vigente no Brasil, especialmente do Código Florestal Brasileiro, estão previstos grandes impactos sobre a agropecuária brasileira, remetendo esta a uma grande reestruturação dos sistemas e tecnologias de produção.
A legislação ambiental brasileira é uma das mais bem elaboradas do mundo, porém sua aplicação é bastante discutida e de difícil implementação. Na atualidade, acompanhamos muitas discussões sobre as exigências da legislação ambiental vigente, causando divergências entre ambientalistas, pesquisadores, produtores rurais, comerciantes, industriários, etc., principalmente quanto aos impactos econômicos de sua implantação.
Estudos realizados e divulgados recentemente pela Embrapa mostram que se fosse cumprida toda a legislação ambiental brasileira em vigência, teríamos mais de 75% do território brasileiro ocupado com áreas especialmente protegidas.
Segundo o estudo, hoje o país já possui aproximadamente 2.294.343 Km² de áreas protegidas em forma de Unidades de Conservação, áreas indígenas, áreas do exército e outras especialmente protegidas, o que corresponde a cerca de 27% do território brasileiro.
Se fossem cobradas e implantadas todas as Áreas de Preservação Permanente – APPs, conforme a Lei Federal 4.771/65 (Código Florestal Brasileiro), somariam-se no Brasil mais 1.442.544 Km², que corresponde a 17% do seu território.
Caso fossem abandonadas ainda as áreas referentes à reserva legal (Lei Federal 4.772/65), seriam mais 2.685.542 Km², ou 31% do território do país, destinadas à preservação de florestas que seriam averbadas na matrícula de cada imóvel rural.
Neste contexto restaria apenas 24.5% do território brasileiro destinado para as outras ocupações e usos do solo, dentre elas a agricultura e a pecuária. A área brasileira ocupada atualmente para a agricultura e a pecuária é de 2.980.000 Km² (35% do território brasileiro), tendo a possibilidade de ampliar esta área agricultável em mais 900.000 Km², segundo o Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento.
Diante disso, vem a pergunta: Como produzir mais alimentos, energia e bens de consumo para suprir a necessidade da população mundial atual com menos áreas para a produção agrícola?
Teríamos com certeza uma diminuição na área produtiva no Brasil que chegaria próximo a 1.000.000 Km², o que representaria uma grande queda na produção de alimentos, energia, serviços e na geração de renda e riqueza da população brasileira.
No dia 11 de dezembro de 2009 foi publicado o Decreto Federal nº 7.029 que trata da prorrogação por dois anos do prazo para averbação de 20% da área das propriedades para reserva legal, alterando, assim, o Decreto Federal 6.686/2008, que a partir desta data (11/12/2009), aplicava severas multas e sanções aos produtores rurais que não averbassem as áreas de reserva legal. O documento estabeleceu como nova data o dia 11 de junho de 2011, além de outros seis meses para as adequações.
São necessárias medidas mais práticas, além do simples aumento de prazo. Como exemplo, tem-se a possibilidade da inclusão das áreas de preservação permanente (APPs) nas áreas de reserva legal; o manejo sustentável das áreas de reserva legal; disponibilização de incentivos financeiros para o cumprimento desta legislação, proporcionando subsídios para os pequenos produtores rurais recuperarem as APPs, além de uma política consistente de educação ambiental para fortalecer a consciência ambiental da população.
Sabemos que para conseguirmos implantar um sistema sustentável de desenvolvimento para o nosso país, será necessário muito mais do que o simples cumprimento da legislação ambiental. O crescimento econômico, a eqüidade social e o equilíbrio ecológico juntos despontam como a única alternativa viável para superar as diferenças e chegar a uma solução. Para isso serão necessárias ainda outras medidas, como um trabalho mais efetivo de controle de natalidade da população mundial; incentivo às práticas que evitem os desperdícios e consumos exagerados; manejo adequado do solo, manejo de pragas e de culturas; redução das perdas na lavoura, na colheita, no transporte e no armazenamento dos grãos e demais alimentos.
Dessa forma poderíamos aumentar a produção agrícola sem aumentar as áreas de cultivo, diminuindo assim a pressão sobre as florestas e demais formações ecológicas, de modo que se possa continuar produzindo alimentos sem degradar o meio ambiente, e mantendo assim em equilíbrio a biodiversidade no Brasil e no planeta.
[1] Biólogo, Especialista em Ciências Ambientais e mestrando em Ciência e Tecnologia de Sementes. Técnico Ambiental da SEMA – Secretaria Estadual de Meio Ambiente/RS – alexandre-huller@sema.rs.gov.br
[2] Bióloga, Mestre em Ecologia. Técnica Ambiental da SEMA – Secretaria Estadual de Meio Ambiente/RS – biomelis@yahoo.com.br

9 de janeiro de 2010

Trilha urbana


Há vários anos o ambientalista Darci Bergmann mantem uma trilha urbana destinada à educação ambiental. Milhares de pessoas já frequentaram o local, inclusive de outras cidades do Brasil e exterior. Ali existe um auditório rústico, sob a copada de árvores, um viveiro com produção de mais de cem espécies de mudas florestais nativas, setor de compostagem e um bosque com mais de 50 espécies arbóreas. Para se ter uma ideia, no ano de 2006 foram realizadas 39 oficinas palestras, dezenas de grupos fizeram caminhadas pela trilha, com público de mais de 1.600 pessoas, dentro das atividades do Projeto SEMEAR. Os participantes são oriundos de escolas, empresas, igrejas e pessoas em geral. O cenário propício remete à reflexão sobre os problemas ambientais e é uma ferramenta valiosa de educação ambiental. Vale lembrar que no início dos trabalhos, o local recebeu a visita do saudoso ambientalista José Antônio Lutzenberger e da sua filha Lili. A cada ano o cenário recebe melhorias. Na foto superior, alunos e professores da Escola Municipal Onze de Junho, em 2006 e na inferior uma comitiva da cidade de Chapecó-SC em 08/01/2010.

8 de janeiro de 2010

PROJETO SEMEAR

O Projeto SEMEAR é uma referência ambiental em São Borja e região. É uma iniciativa da ONG ambientalista ASPAN, com recursos iniciais repassados via Termo de Ajustamento de Conduta. Esse acordo teve a participação do Poder Judiciário, Ministério Público Estadual e dois empreendedores de São Borja. O acordo pôs fim a uma demanda judicial proposta pela ASPAN ao MP, que encaminhou o inquérito ambiental ao Poder Judiciário, em 1989. Os recursos repassados permitiram à ASPAN a aquisição de alguns equipamentos e a ampliação de um viveiro de mudas de espécies florestais nativas, bem como o custeio de despesas diversas para a atividade de educação ambiental. Mais tarde a ACISB-Associação Comercial, Industrial, de Prestação de Serviços e Agropecuária de São Borja aderiu ao Projeto SEMEAR, repassando à ASPAN uma ajuda financeira mensal para a manutenção das atividades desenvolvidas.

Coube ao engenheiro agrônomo Darci Bergmann a iniciativa de sistematizar os trabalhos, daí nascendo o Projeto SEMEAR. Milhares de pessoas tiveram oportunidade de assistir às oficinas-palestras no CEA -Centro de Educação Ambiental, montado no terreno do ambientalista. A edição proposta e concluída teve amplo sucesso, superando as expectativas. Agora, o Projeto SEMEAR é trabalho permanente da ASPAN. Para mantê-lo são necessários mais recursos financeiros. Qualquer ajuda material ou mesmo de dedicação pessoal é bem recebida. Ao longo desse Blog serão divulgadas algumas atividades já desenvolvidas ou em andamento.

6 de janeiro de 2010

Fato intrigante: cacto resiste ao vento


Os cactos que aparecem nas fotos ao lado, da espécie Cereus peruvianus, foram fotografados na manhã de 30 de novembro de 2009, poucas horas após o vendaval de 119 Km/h. Eles se desenvolveram sobre o telhado da casa em meio às folhas caídas de um exemplar de angico-vermelho (Parapitadenia rigida). Os cactos foram semeados pelas aves, resultando num jardim suspenso. Um dos cactos tem mais de dois metros de altura e, por incrível que pareça, resistiu à tempestade. A pouco mais de 15 metros dos cactos, árvores nativas foram arrancadas pela força do vento.

O clima mudou! E nós?




Passada a tempestade vem a reconstrução. Pessoalmente tive prejuízos com a queda de várias árvores na cidade. Já no meu sítio, entre árvores nativas e exóticas, foram mais de quatrocentos exemplares arrancados ou prejudicados. No entanto, o problema maior agora reside em recompor a arborização urbana de São Borja, bastante afetada com a perda de milhares de árvores. Embora as ruas estreitas, nos terrenos a arborização era até boa, com diversas espécies nativas. Fruto de um trabalho que começou principalmente em 1977, com a campanha Plante Uma Vida, Plante Uma Árvore, quando iniciei o plantio em ruas e áreas particulares. Até um viveiro de mudas foi montado. Com tristeza, percebi que muitas árvores foram danificadas pelo vendaval. Algumas poderiam ter se salvado se o corte de raízes não fosse prática de algumas pessoas que procederam reforma nas calçadas. Outros, com medo de que as árvores mais altas pudessem atingir as suas casas, em novos vendavais, aproveitaram para cortar árvores frondosas, pois a prefeitura não tinha como fiscalizar. A lição que fica é que toda a arborização urbana deverá ser repensada. Espécies de pequeno porte deverão ser plantadas sob a rede elétrica nas vias públicas. Os terrenos, antes espaçosos, agora convivem com os novos prédios que se erguem por todo o lado. Esta é a realidade. A população humana aumenta e os espaços urbanos ficam reduzidos. Para ampliá-los, as cidades se alastram, engolindo as áreas verdes e com isso os problemas ambientais tendem a crescer numa exponencial sem fim.
A mudança no clima tem relação com o crescimento ilimitado da espécie humana que modelou uma civilização extremamente predatória de recursos naturais. Os sinais de alerta estão por todos os lados. Só culpar os governantes não resolve. Eles são o reflexo da nossa sociedade consumista e esbanjadora. As mudanças de comportamento que os novos tempos exigem já estão em curso. Mas é preciso ir além do discurso vazio.

AS LIÇÕES QUE NÃO APRENDEMOS

Em dezembro de 2008 escrevi um artigo sobre as enchentes do Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Tragédias semelhantes se repetem neste início de 2010, na região Sudeste e também em boa parte do Rio Grande do Sul. Transcrevo aqui o artigo Lições de Santa Catarina, escrito em dezembro de 2008, pois expõe a problemática das ocupações desordenadas dos espaços rurais e as suas consequencias:
LIÇÕES DE SANTA CATARINA
As enchentes de Novembro de 2008 no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, causaram comoção. As muitas vítimas fatais e os impactos sobre a economia merecem ampla análise. Opiniões à parte, desde a enchente de 1983, entidades ambientalistas propunham medidas preventivas às autoridades e à população em geral. Entidades, como a APREMAVI, de Rio do Sul e a Fundação Água Viva promoveram simpósios, encaminharam ações judiciais contra empresas poluidoras e cobraram ações das autoridades para deter a derrocada ambiental. Pressentindo uma nova tragédia, as ONGs partiram para ações práticas de reflorestamento, educação ambiental e o que fosse possível para evitar uma nova tragédia. Na obra Manejo Ambiental em Bacia Hidrográfica, de 1993, página 7, os autores Christian Guy Caubet e Beate Frank afirmam: Porém as enchentes são o mais grave problema do Vale do Itajaí. Problemática histórica, ela é hoje agravada pelas agressões ambientais observadas na região, como desmatamento, a ocupação desordenada das encostas, o crescente processo de erosão e o assoreamento das calhas dos rios ..... Mais recentemente, a proibição de exploração florestal na Mata Atlântica (Decreto presidencial nº 99.547, de 25/09/1990) veio lembrar, acertadamente, que o desflorestamento indiscriminado é uma das atividades econômicas mais importantes e que ela se efetua a montante das áreas que costumam ser inundadas. No plano regional, as violentas reações empresariais contra o decreto 99.547, simplesmente confirmaram que a economia madeireira teima em ignorar os requisitos básicos de uma exploração racional da floresta. Em outros trechos os autores falam que a extração irregular de madeira continuou, a despeito do decreto. As toras eram transportadas à noite. Elas provinham de cortes de espécies nobres como a canela sassafrás e outras. Os tocos levaram anos para se decompor e as pequenas clareiras nos morros cicatrizaram aparentemente com outras espécies ocupando os seus espaços. Mas bastariam chuvas mais intensas para que as encostas broqueadas mostrassem a sua fragilidade. As árvores antigas mantinham uma trama de raízes entrelaçadas e dificultavam o deslizamento. Agora essa trama estava decomposta e facilitou a desagregação do solo. O presidente Lula, ao sobrevoar a região, mostrou-se impressionado com o fato de que morros cobertos de mato terem sofrido tamanho deslizamento. O presidente desconhecia que a ação humana já tinha causado grande estrago na região. A Natureza tem mecanismos complexos que a racionalidade humana ignora. Quantas vezes ambientalistas são hostilizados pela opinião pública manipulada pelo discurso do progresso e geração de empregos. A própria FATMA, equivalente catarinense da FEPAM, fazia vistas grossas aos problemas ambientais como chegou a ser denunciado no Tribunal da Água – Casos e Descasos, publicado em 1994, pela Fundação Água Viva.
As áreas de preservação permanente – APP são de extrema importância para manter pelo menos parte do equilíbrio ambiental. Agora, discute-se a reserva legal, já prevista desde 1965, pela lei federal nº 4.771. O decreto que dava prazo curto para a implantação e multas altas era draconiano. Mas a pretensão de alguns em suprimi-la é um passaporte para a degradação ambiental. A reserva legal e as APP, se implantadas com apoio do governo, inclusive com remuneração pelos serviços ambientais que elas geram, são fundamentais à produção sustentável. Desde a preservação dos mananciais de água, conservação do solo, prevenção às enchentes, retenção de carbono, corredores ecológicos, etc. Prevenir ainda é o melhor remédio. Aprendamos com as lições de Santa Catarina. (Darci Bergmann, engenheiro agrônomo e presidente da ASPAN-Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural)