31 de maio de 2010

A CEPA SOCIAL URBANÓIDE

Por Darci Bergmann

O mundo está urbanizado. As cidades cresceram demasiadamente em alguns casos. Isso faz com que os espaços naturais sejam tão alterados que a espécie humana perde o contato com a Natureza original. Todo equilíbrio, interdependência de espécies e destas com o meio físico está deteriorado. As ilusões do progresso e da crença cega no crescimento ilimitado moldaram uma conduta predatória sem precedentes. O propalado conhecimento científico dissociou ainda mais a sociedade do meio natural. Agora existe gente culta, ultra-especializada, que não é capaz de entender o papel de uma simples lagartixa. Pessoas brilhantes, doutas em suas áreas, mas incapazes de separar o lixo doméstico. Ou magistrados que aplicam leis nascidas de parlamentos corruptos que legalizam a destruição do que ainda resta do patrimônio natural. O cenário contemporâneo é fruto da visão antropocêntrica em que a espécie humana é a razão central da própria existência. É o conhecimento humano que dita a conduta e a relação com a Natureza.

Por milênios, a espécie humana encontrou desafios pela frente. A Natureza lhe fornecia o ambiente para a expansão dos seus sonhos de aventura e conquista. Com o passar do tempo a Terra foi ocupada. Mas a ocupação não se deu sem conflitos. Pelo contrário. Guerras de conquista, por divergências, por supremacia e, como pano de fundo, a questão religiosa. Os conflitos se davam entre os clãs da própria espécie humana. Esses conflitos foram levados às outras espécies e à Natureza como um todo.

A civilização globalizada aparentemente revela a supremacia da espécie humana, vitoriosa sobre a Natureza indomável. Mas é um engano pensar que essa mesma civilização sobreviva nos moldes em que foi estabelecida. Os sinais de fraqueza desse modelo de comportamento assolam a sociedade planetária. A modernidade tecnológica não satisfaz plenamente a espécie humana. Os sinais de que o mundo artificializado está perturbado estão por toda a parte. As gigantescas metrópoles, opulentas por si só, estão repletas de seres humanos confusos, amedrontados, fragilizados e escravizados. Muitos desses humanos são criaturas vitoriosas no que tange à carreira profissional, consumidores de elite que tem acesso à tecnologia e seus produtos. Mas no fundo são presas da rotina massacrante do mundo artificial. Não são mais felizes do que outros de menos posses materiais e que vivem ainda em relativa harmonia com a Natureza, ou com o que resta dela. A excessiva urbanização determina um comportamento diferenciado e talvez o surgimento de uma cepa social da espécie Homo sapiens que aqui eu denomino urbanóide. Os urbanóides constituem a ampla maioria da população. Formam a grande massa consumidora, escolhem os governantes e concentram o conhecimento científico. Alguns deles já percebem os enganos desse modelo civilizatório. Resta saber o que a maioria deles quer para o futuro.



25 de maio de 2010

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A EXPERIÊNCIA DE GIRUÁ





Por Darci Bergmann

Em 1975, fui supervisor técnico de uma empresa multinacional. Nessa época conheci Giruá. As áreas urbanas da região já recebiam contingentes de agricultores que migravam para as cidades em busca de melhores oportunidades. Dessa época até hoje, as transformações da cidade são perceptíveis, especialmente no aumento da área urbana e na paisagem rural. A primeira porque a cidadezinha pacata encorpou e agora já define um perímetro central movimentado; subdividiu-se em bairros e tem subúrbios. A segunda porque tem lavouras de alta produtividade. O progresso chegou a Giruá, onde todas as prerrogativas de uma cidade estão presentes. Mas como em tudo, o crescimento urbano, o aumento populacional e a modernidade sempre impõem novos desafios. São os problemas de trânsito, de habitação, poluição visual, do barulho urbano, de emprego, do saneamento básico e da perda memorial, entre tantos outros que precisam de políticas públicas adequadas e uma devoção coletiva na busca de soluções.

                               Foto: Paisagem rural em Giruá: lavouras e remanescentes
                                         da mata original

Nos últimos sete ou oito anos, tenho percebido que a população de Giruá está imbuída de um sentimento coletivo de firmar uma identidade cultural. Quer resgatar os seus referenciais histórico-ambientais e tender para uma cidade sustentável. É uma agradável surpresa esse sentimento que atinge as lideranças em todos os setores da comunidade. Essa identidade histórico-cultural tem tudo a ver com preservação ambiental. Já começa pelo nome do Município, ligado a uma bela palmeira, o butiá. Pertence ao gênero botânico Butia, que tem várias espécies entre as quais a Butia yatay e a Butia paraguayensis.

A memória missioneira está em fase de consolidação e até o pároco local lidera uma reforma da bela Igreja Matriz, resgatando motivos da arquitetura jesuítica.
                                Igreja Matriz: restauração da memória missioneira

Entre os dias 20 e 22 de maio do ano corrente, a cidade sediou o 17º Seminário de Educação – Internacional. Em torno de seiscentas pessoas participaram, mostrando a preocupação de Giruá e região na busca de alternativas educacionais para os novos tempos. Esses novos tempos querem cidades com mais qualidade de vida, passando pela educação ambiental de cunho prático e não apenas conceitual. O tema meio ambiente foi inserido no evento e tive a honra de participar com o relato de experiências pessoais e diretrizes para a gestão ambiental nas escolas. As sementes lançadas certamente vão germinar em ações não só em Giruá, mas em outras cidades da região. As lideranças educacionais se preparam para a gestão ambiental nas escolas e há o mesmo sentimento nos demais setores da administração municipal, dos clubes de serviço, do legislativo e de outras entidades e pessoas. Uma cidade não se torna melhor por ser grande, mas sim pela qualidade de vida que pode proporcionar aos seus habitantes. Almejo que a experiência de Giruá em desenvolvimento sustentável seja exitosa e parabenizo o seu povo pela busca dessa alternativa.


24 de maio de 2010

ALARME POR INSETICIDAS ASSASSINOS DE ABELHAS



Por Julio Godoy*

A França autorizou o uso, até 31 de maio, das reservas de produtos químicos suspeitos de aniquilar apiários. Há preocupação em outros países europeus.

PARIS., (Tierramérica).- “Gaúcho”, um inseticida de ampla aplicação da empresa química alemã Bayer, foi proibido na França em 1999, por representar intoxicação para abelhas e outros seres vivos, incluindo os humanos, mas seu substituto, o “Regent”, da também alemã Basf, é igualmente perigoso, segundo apicultores e biólogos. O produto da Bayer era usado sobretudo na plantação de girassol e milho, e aplicado diretamente nas sementes, de modo que se incorporasse em toda a planta, desde a raiz até flores e grãos. Após meses de análises e batalhas legais, o Ministério da Agricultura francês determinou, em 1999, que o imidaclopride, principal componente químico do Gaúcho, era altamente tóxico e que um breve contato com plantas tratadas por esse inseticida resultava mortal para abelhas e outros insetos benignos.

Segundo a União Nacional de Apicultores Franceses, o Gaúcho causou o desaparecimento de centenas de milhares de abelhas, espécie que tem uma função ambiental vital através da polinização, bem como a bancarrota de milhares de pequenos produtores de mel. O inseticida da Bayer foi substituído pelo da Basf, mas não é por isso que os apicultores do sudoeste francês deixaram de constatar a morte de até 40% de suas abelhas.

Em meados de fevereiro, um juiz dessa região decidiu iniciar um processo contra a Basf e a Bayer pela “venda de produtos químicos altamente tóxicos para uso agrícola”. Além do Regent, outros cinco inseticidas baseados na substância “fipronil” estão no banco dos réus. Esse processo judicial obrigou o ministro da Agricultura, Hervé Gaymard, a agir. No dia 23 de fevereiro proibiu o uso do Regent, mas autorizou os produtores de milho e girassol a usarem suas reservas dos inseticidas suspeitos até 31 de maio.

Jean-Marc Bonmatin, especialista em abelhas do Centro Francês de Pesquisa Social e Científica, confirmou ao Terramérica ter descoberto fipronil em pólen de girassol na razão de 0,1 microgramas por quilo. “A título experimental, alimentamos abelhas com pólen contaminado com uma taxa similar de fipronil, e em poucos dias pudemos detectar o tipo de envenenamento denunciado pelos apicultores”, explicou. O biólogo Gerard Arnold, do mesmo Centro, garantiu ao Terramérica que o fipronil e o imidaclopride são perigosos para os seres humanos, aos quais chegam porque “se armazenam e concentram no leite, nas matérias gordurosas e nos vegetais”.

No dia 26 de fevereiro, camponeses defensores da agricultura orgânica ocuparam os escritórios do Ministério da Agricultura em protesto por essa decisão, e ali descobriram documentos, até então mantidos em segredo, que confirmam a elevada toxidade do Regent. Esses documentos incluem relatórios médicos da Mutual Social Agrícola, um seguro de saúde, sobre 182 casos de pessoas intoxicadas após terem contato com o Regent e outros inseticidas. Os relatórios mencionam complicações cardíacas e respiratórias, enfermidades da vista e da pele, disfunções digestivas e desmaios.

Os camponeses também descobriram um relatório do departamento jurídico do Ministério, detalhando as alternativas disponíveis para o governo na questão dos inseticidas. Segundo esse documento, o fim imediato do uso do Regent custaria cerca de US$ 360 milhões e a permissão de uso das reservas “teria conseqüências financeiras comparativamente mais baixas”. José Bové, líder dos camponeses defensores da agricultura orgânica e um dos ocupantes do Ministério, disse que “o governo baseou sua decisão exclusivamente em considerações financeiras e não em sanitárias e de segurança pública”.

Basf e Bayer alegam que o fipronil é usado em mais de 70 países sem conseqüências nocivas para a saúde animal ou humana. A Bayer, inclusive, iniciou um processo por difamação contra o apicultor Henri Clement por descrever o Gaúcho como um “assassino de abelhas”. Entretanto, nos Estados Unidos, o Estado da Flórida, a sudeste, aconselha a não usar o fipronil na proximidade de apiários; os criadores de caranguejos de Louisiana, ao sul, observaram, entre 1999 e 2002, a mortalidade elevada desses crustáceos depois que plantações de arroz da região foram tratadas com essa substância; e, no Estado de Nova York, a nordeste, estão proibidos os pulverizadores de fipronil contra parasitas de animais domésticos.

Na Europa, durante um encontro de agricultores, em abril de 2002, participantes belgas, suíços e espanhóis pediram a proibição de inseticidas com base no fipronil e no imidaclopride, e o diretor do Centro Belga de Informação sobre Apicultura, Etienne Bruneau, afirmou: “no ritmo atual, em dez anos não haverá mais abelhas na Bélgica”. A União Européia prevê definir em 2005 sua “Diretiva sobre Preparados Perigosos”, uma lista de produtos tóxicos a serem proibidos. A França é responsável pelo relatório sobre o fipronil e pediu a peritagem de uma Comissão de Estudo da Toxidade de Produtos Fitosanitários, cuja conclusão, no dia 29 de janeiro, foi de que “o fripronil não deveria ser autorizado, em vistas das enormes preocupações que provoca em relação ao meio ambiente e às espécies selvagens.

http://www.tierramerica.net.

* O autor é correspondente da IPS

INCLUSÃO AMBIENTAL

     Por Darci Bergmann

     Ouvi relatos de educadoras que alegavam dificuldades na implantação de algumas tarefas nas escolas em que atuavam. Uma das queixas dava conta de que o tema meio ambiente era tratado em uma ou outra disciplina, sem o envolvimento da comunidade escolar como um todo. É uma constatação da realidade no ensino. Existe muita teorização em termos de educação ambiental. De prático pouco acontece. Mas isto precisa mudar se realmente a sociedade quer uma escola transformadora. Ainda existem professores e professoras que acham que as suas disciplinas nada tem a ver com sustentabilidade ambiental e com a formação de um consumidor consciente. Isto talvez decorra do fato de que algumas pessoas, especializadas em suas disciplinas, não terem um comportamento adequado quando o assunto envolve o tema ambiental. Não só elas. Autoridades em vários campos do conhecimento e pessoas com altos graus de titulação ainda são verdadeiros analfabetos ambientais. Conheço experts que sequer são capazes de fazer uma destinação mais correta do lixo domiciliar, separando o lixo orgânico do lixo seco. Pessoas que, por terem poder aquisitivo acima da média, esbanjam energia e água como se estivessem num planeta de recursos ilimitados. Também empresas que fazem um grande estardalhaço com ações ambientais de resultados irrelevantes enquanto promovem a orgia consumista. As cenas do cotidiano nos mostram esses fatos. A sociedade reflete a educação que lhe é dada.
     Constatação recorrente é a que se vê nos próprios seminários de educação, das empresas, da classe política, dos sindicatos e associações em geral. Ali, entremeando exposições brilhantes dos palestrantes, ocorrem os chamados coffee breaks aqueles intervalos com guloseimas de todo o tipo. Via de regra, são a pedagogia do esbanjamento. Os copos quase sempre são descartáveis e amolecem com o café ou chá quente. Às vezes tem quatro ou cinco bolinhas de guloseima num prato de isopor. Pelo menos se os pratos fossem de papelão ainda seriam biodegradáveis. Depois de cada sessão dessas, as lixeiras ficam cheias de descartáveis. Alguns promotores de eventos chegam a dizer que isso vai para a reciclagem. Na verdade não é bem assim. Quase sempre é esbanjamento mesmo. Poucas vezes vi em congressos sucos, chás e café serem servidos em recipientes laváveis. Alega-se que os descartáveis são práticos e higiênicos. Isto é outra balela. Mudam o sabor do conteúdo, consomem matéria-prima e energia e viram lixo que tem custo para ter destino correto. E ainda podem contaminar os alimentos neles contidos. Líquidos quentes em copos plásticos podem liberar substâncias tóxicas como as dioxinas.

    Para termos de fato uma educação voltada para a sustentabilidade ambiental, todo o corpo docente de uma instituição de ensino, direção e funcionários devem implantar uma política de gestão ambiental. Caso contrário, ainda sairão de nossas escolas muitos analfabetos ambientais. Inclusão ambiental é um bom tema na área de educação.

21 de maio de 2010

PRÁTICAS AMBIENTAIS NO FAZER PEDAGÓGICO

                                         


Por Darci Bergmann

        Dentro da programação do 17º Seminário de Educação - Internacional, em data de 21 de maio corrente, ministrei  minicurso sobre o tema Práticas Ambientais no Fazer Pedagógico, em Giruá-RS. Em torno de 70 pessoas de vários municípios acompanharam esse minicurso. O Seminário reuniu um público estimado em 600 pessoas. Apresentei algumas experiências práticas que podem auxiliar na pedagogia das questões ambientais.
Práticas simples e que nem sempre precisam de estruturas complexas podem ser valiosas nessa questão.
        Entre os tópicos abordados há o que se refere à Gestão Ambiental na Escola, tendo como objetivo final a Escola Sustentável. Este é um conceito quem vem sendo trabalhado, tornando a escola mais dinâmica, ou seja, criando-se um cenário onde todo o espaço físico da instituição deve ser adaptado para uma nova forma de educação ambiental, a partir de um diagnóstico ambiental elaborado por um Grupo de Trabalho Ambiental, interdisciplinar.
       Roteiro para implantação da Gestão ambiental na Escola - como primeira medida, deve-se criar um Grupo de Trabalho Ambiental - GTA, composto por docentes, alunos e funcionários, tendo um coordenador. O GTA irá fazer um Diagnóstico Ambiental, a partir de observações e sugestões colhidas na comunidade escolar. O diagnóstico ambiental leva em conta os temas mais evidentes em cada escola, tais como resíduos sólidos, arborização, poluição sonora, água, energia, aspectos administrativos que podem auxiliar na reduçaõ de desperdíos, etc.
       Definição dos temas prioritários para serem trabalhados e cronograma por semestre ou ano. A cada semestre ou ano são adionadas novas ações, mas sem interromper aquelas já implantadas. Periodicamente fazer uma avaliação dos resultados e correção dos rumos se for o caso.
       Equipe diretiva - A equipe diretiva da escola deve ter a vontade expressa de implantar um sistema de gestão ambiental, pois o sucesso em grande parte dela depende. 
Uma vez constituído o GTA, realizado o diagnóstico ambiental, elencadas as prioridades e o cronograma de atividades, tudo fica mais fácil. Começar pelas ações mais simples, pois elas quase sempre dão melhores resultados.
      
                                                          

17 de maio de 2010

AS CORES DO OUTONO


Por Darci Bergmann

      Sempre ouvi essa expressão, mas confesso que poucas vezes dei importância a ela. Até porque o nosso outono aqui não é tão colorido como aquele de regiões mais frias. Em alguns países o outono é uma sucessão de cores e tonalidades. Algumas plantas caducifólias ficam em tons amarelados, depois avermelhados e finalmente as suas folhas forram o solo num espetáculo que dizem ser emocionante. Em compensação, temos aqui primavera, verão e até parte do próprio outono com floradas magníficas e que também causam inveja aos habitantes das regiões de outono mais frio. Beleza natural pode existir em qualquer lugar ainda relativamente preservado, desde que as nossas percepções sejam sensíveis.
     Ontem, um domingo de pouco sol, estive no meu recanto rural e nas andanças pelas trilhas entre os bosques parei numa clareira de vegetação herbácea, tipo brejal. Aquela área estava relativamente degradada quando a adquiri. Deixei-a em recuperação espontânea, mas em alguns pontos plantei espécies florestais nativas e exóticas. Ali, entre gravatás e outras herbáceas e arbustos, aparecem as corticeiras-do-banhado, os toropis, as aroeiras-vermelhas, entre outras árvores. Poucas plantas ainda ostentavam alguma flor. Mais ao lado, em frente a um renque de bambus, avistei uma copa colorida, contrastando com os tons cinzentos do brejal. A visão daquela copa me arrebatou e por alguns instantes eu tive a sensação de estar contemplando aquele colorido outonal de alguma região mais fria. Era uma só copada de uma árvore ainda jovem. Não tinha flores, mas folhas coloridas – as cores do outono. Um espetáculo deslumbrante e causador de uma sensação de paz e tranqüilidade lá no meio do brejal. É algo quase indescritível, mas que revela a capacidade que tem a Natureza de nos arrebatar e de nos dar forças para enfrentar os desafios do cotidiano. É uma terapia da alma e do corpo. Por gratidão, fiz mentalmente um agradecimento ao Criador por me permitir momentos de tamanha harmonia. Ainda, por gratidão, plantei nesse mesmo dia mais algumas mudas de espécies frutíferas nativas, com o pensamento voltado a outros habitantes que aparecerão para o banquete alguns anos depois. Aves e outros animais são atraídos por um ambiente assim e nos transmitem momentos inesquecíveis. Depois, registrei algumas fotos daquela copa colorida. Não é de uma espécie nativa. Plantei-a por curiosidade, porque já vira na literatura referência às suas qualidades ornamentais e não me decepcionei. Trata-se do Taxodium distichum, conhecido popularmente como cipreste-vermelho, cipreste-do-brejo, pinheiro-do-brejo e outros nomes.

     Às vezes, penso que os seres humanos estão ofuscados por essa onda de consumir futilidades a tal ponto de esquecerem certos espetáculos da Natureza. O progresso insustentável que dá pouco espaço às áreas verdes, talvez um dia nos apresente um outro colorido que não as cores do outono. Esse colorido artificial de carros de luxo e de obras suntuosas talvez não tenha essa magia de nos arrebatar tanto quanto as cores da natureza.

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Foto: Darci Bergmann
Taxodium distichum

15 de maio de 2010

CLOMAZONE: PESQUISAS CONFIRMAM DENÚNCIAS DA ASPAN

Foto: Darci Bergmann*

                                                                                                                                  Por Darci Bergmann
Repercutiu no Brasil e no exterior a denúncia da mortandade de árvores na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Milhares de árvores e arbustos viraram esqueletos devido à ação das derivas de herbicidas. No ano dedicado à Biodiversidade é bom lembrar que a espécie humana também está sendo afetada.

Entre os grandes vilões, a ASPAN denunciou ao MPF o Clomazone, mais conhecido aqui pelo nome comercial Gamit, da multinacional FMC Química do Brasil Ltda. É certo que outros herbicidas também podem afetar o meio ambiente, especialmente com derivas devido ao uso da aviação agrícola. É o caso do glifosato que tem causado injúrias em culturas nas imediações de lavouras de soja transgênica e de áreas dessecadas para posterior plantio. Mas o clomazone não é seguro para nenhum tipo de equipamento e não há condição meteorológica favorável.

O Clomazone é extremamente volátil, mas permanece no ambiente por mais tempo conforme as pesquisas já comprovaram. Ele contamina água, solo, ar e atinge plantas e animais.

SUSPEITAS SE CONFIRMAM – Os estudos das empresas registrantes de herbicidas à base de Clomazone, apresentados às autoridades, foram no mínimo incompletos. Pesquisas à campo em lavoura de arroz irrigado onde produtos comerciais foram aplicados via aérea, mostraram Clomazone na água dos condutos de irrigação até 115 dias após a aplicação.

Outras pesquisas mostram a ação de clomazone interferindo nos sistemas enzimáticos dos peixes, sendo algumas alterações irreversíveis. Isto ficou demonstrado quando os peixes que estavam em água contaminada por clomazone foram depois colocados em água isenta do produto. Algumas alterações metabólicas não voltaram ao estado normal.

No Estado do RS, o produto é usado nas lavouras de arroz irrigado e no cultivo do fumo. Agora com a possibilidade de plantio de mais de 800 mil hectares de cana-de-açúcar, o seu uso e os conseqüentes malefícios à saúde e ao meio ambiente poderão aumentar.

USO ILEGAL DO CLOMAZONE – As doses recomendadas pelos órgãos oficiais estão sendo adulteradas para mais. Portanto a situação é muito mais grave ainda. Uma dos artifícios dessa fraude é o sistema de tratar a semente de arroz com produtos que conferem à cultura maior tolerância ao clomazone. Até painéis com essa prática ilegal foram colocados em pontos estratégicos em São Borja e depois retirados quando a ASPAN denunciou o fato. Ficaram as fotos e a certeza de que na prática o uso abusivo continua.

*A foto mostra uma cena comum na região: cinamomos com folhas albinas devido às injúrias provocadas pelo herbicida Clomazone. O branqueamento das folhas é o sintoma inicial, evoluindo depois para a necrose e podendo ocorrer a morte da planta. O local da foto é o Bairro Paraboi, em São Borja, o que evidencia que as derivas estão atingindo a população da cidade.

ESTUDOS MOSTRAM PROBLEMAS COM HERBICIDAS

POLUIÇÃO DAS ÁGUAS POR HERBICIDAS UTILIZADOS NO CULTIVO DO ARROZ IRRIGADO NA REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL: PREDIÇÃO TEÓRICA E MONITORAMENTO

Aproximadamente um terço de todos os compostos orgânicos produzidos têm como destino o meio ambiente, incluindo a água. Cerca de 700 compostos químicos, incluindo mais de 600 compostos orgânicos, muitos dos quais biologicamente ativos, têm sido detectados em amostras de água2.

O Brasil, desde a década de 70, destaca-se como um dos maiores consumidores mundiais de pesticidas8. Porém, o único dado que nos dá uma indicação da escala em que são aplicados no Brasil são os valores de pesticidas em linha de comercialização, a partir dos quais destaca-se a grande utilização de herbicidas9. As culturas responsáveis por este elevado consumo são principalmente soja, cana-de-açúcar, milho e arroz10. O estado do Rio Grande do Sul (RS) é responsável pela utilização de cerca de 20% dos pesticidas consumidos no país.

No Brasil são cultivados anualmente 1,3 milhões de hectares com arroz irrigado, dos quais cerca de 950 mil (73%) estão no RS11. A orizicultura gaúcha contribui com cerca de 50% da produção nacional de arroz12. Apesar da grande contribuição do estado do RS na produção de arroz, muito pouco se fez até o momento em relação a estudos de comportamento e destino dos herbicidas no sistema, visando a manutenção da eficiência com menor risco de dano ambiental5.

Parte Experimental

Área do estudo

O estudo foi realizado a campo em área de várzea do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS); e na Bacia Hidrográfica dos Rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim durante o período de cultivo do arroz irrigado nas safras agrícolas de 2000/01, 2001/02 e 2002/03.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Águas de superfície

De acordo com os critérios de Goss usados para avaliar se um pesticida ao ser usado na agricultura pode atingir águas de superfície, pode-se dividi-los entre aqueles que podem ser transportados dissolvidos em água e aqueles que são transportados associados ao sedimento em suspensão. Assim, dos herbicidas em estudo o clomazone e o propanil indicam um alto potencial de poluição de águas de superfície (APTDA) porque podem ser transportados dissolvidos em água.

Águas subterrâneas

Segundo Dores et al.,15 compostos classificados na faixa de transição e de provável lixiviação de acordo com o índice de GUS requerem investigação adicional, usando-se procedimentos mais detalhados. Compostos classificados como improváveis de sofrerem lixiviação podem, seguramente, ser considerados como não poluentes de águas subterrâneas.

Considerando esta afirmação e os critérios da EPA, pode-se dizer que para os herbicidas bentazone, 2,4-D, clomazone e propanil seriam recomendados estudos complementares sobre a possibilidade de poluição de águas subterrâneas na região. Com relação ao quinclorac, por falta de dados sobre diversas de suas propriedades, nada se pode afirmar sobre seu potencial de poluição. Utilizando-se o índice de GUS, bentazone e clomazone podem ser considerados contaminantes em potencial, propanil como não contaminante, 2,4-D de transição e quinclorac inconclusivo.

CONCLUSÃO

Esse trabalho demonstra que a quantidade de herbicidas usados nas lavouras de arroz irrigado influenciam diretamente os níveis de herbicidas que ocorrem nas águas de superfície das proximidades. Para reduzir a quantidade de herbicidas que atingem as águas de superfície são necessários programas de gerenciamento e conscientização para minimizar a quantidade aplicada.

Herbicidas usados na cultura do arroz irrigado têm um efeito prejudicial potencial para a vida aquática, pois a drenagem da água da lavoura de arroz irrigado coincide com a época de reprodução dos peixes. Então, todo sistema de cultivo de arroz que libera água para o meio ambiente precisa ser monitorado com relação à concentração de herbicidas, e planos de gerenciamento, de manejo da cultura e de desempenho para proteger a vida aquática precisam ser implementados.

Considerando a grande importância de se conhecer o nível de herbicidas nas águas, mais estudos são necessários para determinar exatamente os processos de dispersão de herbicidas aplicados na lavoura, tais como volatilização, degradação por microrganismos e luz solar, e adsorção no solo, pois os herbicidas podem ser prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, demonstrando esses efeitos mesmo em pequenas concentrações.


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Ednei Gilberto Primel*, I; Renato Zanella II; Márcia Helena Scherer Kurz II; Fábio Ferreira Gonçalves II; Sérgio de Oliveira Machado III; Enio Marchezan III
I Departamento de Química, Fundação Universidade Federal do Rio Grande, 96201-900
Rio Grande - RS
II Departamento de Química, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900 Santa Maria - RS
III Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900 Santa Maria - RS

Fonte: Química Nova
Print version ISSN 0100-4042
Quím. Nova vol.28 no.4 São Paulo July/Aug. 2005
doi: 10.1590/S0100-40422005000400010
Extraído da Internet em 20/08/2009, às 20:55 , by SCIELO

9 de maio de 2010

A BELA E HISTÓRICA ARQUITETURA DE SÃO BORJA

Foto: Ao fundo o histórico prédio Sotéia, de 1884, onde se hospedou o Conde D´Eu e possìvelmente D. Pedro II


                                                                                                                       Por Jarbas Felicio Cardoso

Uma das questões que me fazem visitar seguidamente São Borja é a família de minha esposa que lá reside. No entanto há outros fatores que também sempre me cativaram a conhecer e visitar esta terra, esta cidade! É seu peso e influência política na história do país, da áurea de cidade missioneira e fronteiriça, da participação na histórica e continental Guerra do Paraguay, de sua visibilidade no período imperial, de suas estâncias, e claro, posteriormente o titulo de terra dos presidentes.
A caminho de São Borja, gosto de contemplar sua rica geografia pampeana. Chegando lá, de caminhar na cidade por suas ruas, de tirar fotos de seus antigos prédios que me remetem ao passado e, penso eu, que devem envolver todos os seus visitantes em sua mística de seu rico passado. O passado histórico é de grande importância à questão turística da região, que ainda precisa ser explorado, pois sempre afirmo que essa questão se sobressai a tão só beleza da região serrana do Rio Grande do Sul. E claro que, dentro dessa questão histórica, há a questão da culinária e dos costumes locais que devem, por obrigação, estar presentes na questão turística.
Não sei, não quero me passar por um mero palpitante, o fato é que essa riqueza descrita acima da bela e histórica cidade de São Borja, que sempre me instigou a conhecer o local, não é explorada ao todo. Pois ao caminhar pela cidade vejo grande parte de seus prédios históricos ainda sem a devida manutenção e exploração, algo que me preocupa. Penso que estes imóveis poderiam ser mais bem conservados com restaurações que mantivessem a beleza original. Há belos prédios centrais que estão ruindo, clamando por atenção. Observo à comunidade e autoridades locais para esse cuidado, vejo que há um potencial imenso a ser explorado na esteticidade arquitetônica da cidade, que denomino de lusa-hispânica.
Por gostar de São Borja senti-me na obrigação de escrever estas poucas linhas para elogiar essa terra de hospitalidade e de riquezas culturais, mas também, para chamar a atenção da carência de conservação aos prédios históricos. A final, o que me levou a conhecer e me faz voltar seguidamente a São Borja, não são as novas casas, ou os novos e sofisticados projetos arquitetônicos, e sim as pessoas com a rica cultura fronteiriça e de farta hospitalidade, fruto do passado histórico que é materializado em sua arquitetura predial secular.
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Foto: Darci Bergmann, 09/05/2010


3 de maio de 2010

O ÚLTIMO DESEJO


Foto: Darci Bergmann*

Por Darci Bergmann
      Na viagem de volta da Rio 92 conheci algumas pessoas no ônibus. Logo se formou um grupo de animada conversa. Entre as anedotas e estórias que afloraram, destaco uma que tem como cenário uma região desértica de um país perto do Saara. Naquela região de chuvas escassas e solo arenoso, poucas plantas se adaptam ao cultivo, sobressaindo-se a tamareira, espécie de palmeira cujos frutos são bastante comercializados. O transporte usava camelos. O comércio era feito pela troca de mercadorias e pela moeda local que, na época, equivalia ao dólar americano. Ali vivia um ancião e seus três filhos, sendo o mais novo de nome Salim. A família produzia tâmaras e comercializava camelos. Mas os tempos já eram outros e o pai queria que um dos seus filhos fosse estudar na capital. Os negócios iam bem, mas era preciso garantir a sustentabilidade naquela região desértica. A família aumentara e logo os filhos estariam casando e a prole aumentaria ainda mais. Depois de muitas conversas, ficou decidido que Salim, o caçula, iria para a capital, onde poderia se hospedar na casa de um parente. Salim quis estudar agronomia, com ênfase numa agricultura ecológica. Desde pequeno seu pai já falava em economizar água. Já dispunham de algumas modernidades tipo banheiro com vaso e descarga. Pela manhã, um por um dos filhos ia para o banheiro, fazia ali as necessidades e a descarga só era acionada quando todos já haviam ocupado o trono. Tudo isso para economizar água. O esterco dos camelos fornecia adubo para as tamareiras e também era usado como fonte de energia, pois a lenha ali era escassa. Com o tempo, os lampiões à querosene foram ali introduzidos e mais tarde geradores à óleo diesel vindos da Alemanha produziam energia elétrica. Mas a água era o produto mais escasso. O pai de Salim sempre dizia que o petróleo pode trazer dinheiro para o país, mas só a água traz vida. Com esses conceitos, Salim foi estudar agronomia. Descobriu coisas interessantes e participou de estudos sobre permacultura, um ramo da agricultura ecológica. A permacultura, ou agricultura permanente, utiliza os recursos de uma região de forma sustentável. Por exemplo, as construções são feitas com materiais alternativos da região. Os adubos são produzidos no local; água e energia não podem ser desperdiçados.
    Nas férias, de volta à casa, Salim já começou a fazer melhorias, aliando a sua experiência com o que aprendeu nos estudos da capital. Implantou o sanitário compostável, que não precisa de água. Só não tinha serragem de madeira, mas no clima seco usava areia para misturar aos excrementos que, depois de fermentados, viravam adubo orgânico. Melhorou a produção das tamareiras. Instalou dispositivo mais eficiente para a captação de água das escassas chuvas. Montou até um painel solar para aquecimento de água e depois instalou painéis fotovoltaicos para produzir energia elétrica. Perante os irmãos, justificou esses investimentos, alegando que o gerador a óleo diesel causava muito barulho. O combustível era barato lá na refinaria, mas se tornava caro pelo transporte feito com os camelos. A permacultura ensina que tudo o que é produzido no local tem mais eficiência, pois as longas viagens gastam mais energia, ainda que esta seja por tracão animal. Alem disso, aquele cheiro da queima de óleo já era motivo de reclamação do seu velho pai.    
    Aos poucos, Salim foi adicionando novos conceitos e percebeu que agronomia e ecologia tinham muita coisa em comum. Mas precisava também aprender sobre economia e administração. Concluiu os estudos agronômicos, lançou-se a estudar economia e administração. Ali aprendeu novas formas de comercializar e agregar valor aos seus produtos. E descobriu que as transações comerciais são créditos que passam de uma pessoa à outra e que isso pode ser em dinheiro, cheques ou outra forma de pagamento. Começou a utilizar o sistema de cheques, apesar da desconfiança dos seus irmãos, que preferiam que tudo ficasse no sistema antigo, em moeda corrente do país. Com o tempo, Salim convencera os irmãos que trabalhar com cheque era seguro e prático. Terminados os estudos de economia e administração, Salim viu que a modernidade também trouxera os espertalhões para a região e que as leis do livro sagrado não eram respeitadas por todos. Novas leis foram implantadas pelo governo e era preciso conhecer alguma coisa sobre o assunto. Decidiu, então, estudar direito, até para que os negócios da família não fossem alvo dos novos espertalhões. Advogado formado, com ampla base em outros ramos do conhecimento, os irmãos passaram-lhe a chefia dos negócios. Salim convencera os irmãos de que trabalhar com cheques era seguro, desde que observados certos critérios. Nunca tivera problema com essa forma de transação, mesmo decorridos vários anos em que chefiava os negócios da família. Mas respeitava a vontade dos seus irmãos que preferiam ainda trabalhar com dinheiro vivo nas suas atividades pessoais.
   Com o passar do tempo, o pai de Salim envelhecera vendo a empresa familiar bem sucedida. Com idade avançada e pressentindo que em breve partiria para o outro lado da vida, o ancião convocou os três filhos e lhes fez um último pedido. Antes, contou-lhes que sempre fizera economia em tudo, desde as pequenas coisas do cotidiano. Poupava água, plantou tamareiras, criou camelos, evitava comprar coisas supérfluas e assim sobrava-lhe algum dinheiro para as outras despesas, inclusive os estudos do Salim. Revelou também que por crença herdada dos antepassados, as pessoas quando morriam levavam para as tumbas parte dos seus pertences que seriam usados pelos espíritos dos mortos. A família agora era rica, porque soube economizar. O ancião pediu então que cada um dos filhos, como último gesto de gratidão, depositasse sobre o seu esquife uma quantia de duzentos e cinqüenta mil dos seus proventos pessoais. Alguns dias depois, o pai de Salim morreu. Os dois filhos mais velhos logo depositaram sobre o caixão o dinheiro em cédulas novas, totalizando quinhentos mil. Chegou a vez de Salim fazer o depósito sobre o esquife. Primeiro, conferiu o dinheiro depositado pelos irmãos e constatou o valor de quinhentos mil. Sacou do bolso um talão de cheques e preencheu-o com o valor de setecentos e cinqüenta mil, depositou-o sobre o esquife e pegou os quinhentos mil em cédulas como troco da transação. Estava realizado o desejo do seu pai.

*Notas: 1- A palmeira da foto é a tamareira-das-canárias Phoenix canariensis.
 A tamareira referida na estória é a Phoenix dactylifera
            2 - O texto foi adaptado pelo autor e visa a difusão de conceitos de sustentabilidade ambiental.

A ERA DA SUSTENTABILIDADE

Foto: Darci Bergmann


Por Berfran Rosado*


A história da humanidade apresenta-nos vários exemplos da enorme capacidade do homem de buscar alternativas que melhorassem suas condições de vida. Foi assim com a invenção do fogo, da roda, com o surgimento da escrita e, sobretudo, na história mais recente, com as lutas empreendidas para a conquista dos direitos individuais que garantiram uma vida mais digna às pessoas. Obtivemos importantes avanços quando lutamos pela liberdade, pela justiça social, pela igualdade de direitos, pela democracia, pelo combate à miséria e à fome. Agora é o momento de trabalharmos pela sustentabilidade ambiental, elevando-a ao mesmo patamar das demais lutas. Há muito a ser feito pelo poder público, pelo setor produtivo e a sociedade, pois esta não é uma luta de uma categoria, mas de todos os cidadãos.

Nem sociedade, nem setor produtivo, tampouco o poder público estão cumprindo, integralmente, com suas responsabilidades frente às demandas ambientais. Esta situação precisa mudar com urgência; de nossa resposta depende o futuro do planeta. Não há outro tempo, nem outra vida, para cuidarmos dos recursos naturais. Proteger o ambiente deve ser a pauta prioritária dos governos, a meta do setor produtivo e o agir da sociedade. Há três grandes razões para ajustar-nos. A primeira trata do regramento legal, já que existe uma política nacional, estadual e municipal de meio ambiente, que busca harmonizar a produção com a proteção ambiental. A outra refere-se ao caráter ético de nossas escolhas. Devemos respeitar os espaços e direitos dos outros. Assim, não podemos dispor dos recursos naturais como se eles fossem bens particulares, e sim, tratá-los como bens comuns da sociedade. E, por último, há o aspecto comercial, em que os consumidores optam por mercadorias produzidas a partir de práticas sustentáveis.

Precisamos ter consciência ecológica, atitudes cidadãs e ações preventivas. É fundamental a reeducação dos hábitos de consumo, a redução do descarte, a reutilização dos resíduos, criando novos produtos, além da reciclagem, que inicia um novo processo produtivo. Proteger os recursos naturais não é somente uma questão ambiental, é também social e econômica, pois sua escassez impossibilitará a produção, reduzindo as oportunidades de emprego. A humanidade deve dar nova demonstração de seu poder transformador e eleger esta como a era da sustentabilidade, a fim de garantir mais qualidade de vida para a atual e para as próximas gerações, através de um ambiente mais saudável.

*Deputado, ex-secretário estadual do Meio Ambiente
  Fonte: Zero Hora, 18/04/2010, pág. 18