26 de fevereiro de 2011

Formiga global




A formiga lava-pés (Solenopsis invicta), muito comum no Brasil, é uma das principais pragas invasoras no mundo, tendo causado muita preocupação nos últimos anos por conta de seu deslocamento entre países. Em artigo publicado na edição de ontem (25/02/11) da revista Science, Marina Ascunce, do Centro de Entomologia Médica, Agrícola e Veterinária do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, da sigla em inglês), e colegas descrevem a história do processo de invasão mundial promovido pela pequena formiga.



Nativa da América do Sul, a Solenopsis invicta se deslocou pelo continente até chegar aos Estados Unidos, onde se estabeleceu no sul do país há quase um século. Dali, partiu para conquistar Califórnia, Caribe, China, Taiwan, Filipinas e Austrália em pelo menos nove invasões distintas.

Segundo os autores, trata-se de uma história com implicações importantes, uma vez que o impacto econômico da praga é superior a US$ 6 bilhões de dólares por ano apenas nos Estados Unidos. A agressiva lava-pés afeta comunidades locais de insetos, promovendo desequilíbrio ecológico e favorecendo o desenvolvimento de organismos nocivos à agricultura.

O nome comum da formiga deriva da característica de subir rapidamente pelas pernas quando alguém pisa no ninho, injetando por meio de seus ferrões um veneno de alcaloides que provoca dor intensa. Além de dolorida, sua picada provoca bolhas, alergias e até choque anafilático. A espécie se alimenta de plantas, animais e alimentos domésticos.

Solenopsis invicta teve seu genoma sequenciado recentemente e publicado no fim de janeiro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.


No novo estudo, os cientistas analisaram variações genéticas de 2.144 colônias de formigas lava-pés em 75 locais no mundo de modo a traçar a sua proliferação. O estudo verificou que a base norte-americana do inseto foi o ponto de partida para todas as invasões identificadas, com exceção de uma, que foi da Califórnia a Taiwan.

Os resultados da pesquisa apóiam a presença do chamado "efeito de ponte", no qual uma única população – ela própria estabelecida por uma invasão anterior – torna-se a fonte de repetidas invasões em novas regiões.

Os autores apontam que provavelmente a Solenopsis invicta chegou aos seus destinos principalmente por meio de navios e ressaltam que o aumento no comércio e turismo globais pode incorrer em novas invasões da formiga pelo mundo.

O artigo Global Invasion History of the Fire Ant Solenopsis invicta (doi: 10.1126/science.1198734), de Marina Ascunce e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em www.pnas.org

FONTE

22 de fevereiro de 2011

Energia limpa obtida do sol é oportunidade para a África

MEIO AMBIENTE | 22.02.2011


A energia solar limpa vinda do deserto poderá superar instalações poluentes movidas a carvão, bem como usinas nucleares. Em particular na África, onde as condições de incidência solar são excelentes.

Quando o assunto é África, frequentemente os noticiários abordam a falta de alimentos, deficiências na educação e a falta de condições para uma vida saudável. Uma coisa, porém, o continente tem de sobra: o sol.
E é por esse motivo que a energia solar poderia resultar em uma mudança expressiva para o continente – tanto em termos econômicos, quanto sociais. Hoje, tal estimativa é compartilhada simultaneamente por pesquisadores, ambientalistas e profissionais de ajuda ao desenvolvimento.
Fatos e números
De acordo com a Agência Internacional de Energia, o sol irradia permanentemente mais de 120 mil terawatts para a superfície terrestre. Isso corresponde ao desempenho de 100 milhões de grandes usinas atômicas. A luz solar oferece 7.700 vezes mais energia do que toda a demanda mundial medida em 2006 (136 mil terawatts-hora).

Em decorrência da forte incidência solar em diversos países africanos, o continente apresenta condições particularmente boas para produzir energia a partir dos raios solares. Conforme os cálculos da organização ambientalista Greenpeace, se apenas 2% da área do deserto do Saara fossem ocupados por plantas solares, seria possível suprir toda a demanda energética do planeta. 
Representação da área necessária para que plantas solares abasteçam o mundo, a Europa, a Alemanha ou o continente africanoRepresentação da área necessária para que plantas solares abasteçam o mundo, a Europa, a Alemanha ou o continente africano
Altos custos de lançamento
O principal obstáculo para uma ampla captação de energia solar na África, de acordo com as estimativas de especialistas, ainda são os altos custos para a construção da planta solar – tanto o sistema fotovoltaico, quanto o termossolar. Quando se trata de um projeto desse gênero, os investimentos são muito altos, ainda que a geração posterior de energia seja praticamente gratuita, explica Frank Asbeck, diretor da construtora alemã de plantas solares SolarWorld, de Bonn.
Quem opta por combustíveis poluentes, como o querosene ou o diesel, paga nitidamente mais pela mesma quantia de energia, mas esse montante é distribuído em gastos menores, diz. Esse é um dos fatores que leva principalmente os países mais pobres a dar preferência às usinas que prejudicam o meio ambiente.
Em função disso, o Greenpeace propõe um maior esforço político e financeiro dos países desenvolvidos, especialmente os europeus, para amparar a técnica solar na África. Entre eles, por exemplo, o governo alemão estaria promovendo a inovação de usinas termossolares com um orçamento de pesquisa de 8 milhões de euros. No desenvolvimento da tecnologia nuclear, no entanto, seriam investidos pelo país mais de 130 milhões de euros anualmente, reclama.
Andree Böhling, especialista em energia do Greenpeace, pondera: "Na realidade, a Alemanha não depende de importações de energia solar da África, mas considerando os enormes problemas climáticos e energéticos que temos, é necessário que nos abstenhamos o quanto antes de fontes de energia fósseis como o carvão e o gás – evidentemente, também da atômica – e foquemos nas renováveis."
As instalações solares africanas poderiam ser uma boa contribuição para incentivar a utilização de energias limpas, afirma Böhling.
Enquanto falta, acima de tudo, dinheiro e determinação política, os engenheiros não veem dificuldade técnica alguma em construir usinas termossolares ou sistemas fotovoltaicos na África. "Hoje em dia, há modernas usinas de energia movidas a gás ou petróleo no Egito, no Marrocos, na Líbia e em outros países [do norte da África]. Comparado a elas, as usinas termossolares ou os sistemas fotovoltaicos não são uma tecnologia complicada", explica o pesquisador solar Robert Pitz-Paal do Centro Aeroespacial Alemão, DLR. "Tecnologicamente, isso não é um desafio", diz.
Entre uma série de parcerias, o DLR trabalha no Projeto Desertec, que pretende instalar usinas na região do cinturão colar africano, a fim de gerar energia "verde" para a África, Oriente Médio e Europa.
Limpa e ecológica

Se as usinas poluentes fossem substituídas pelas solares, o benefício climático seria imenso. Um estudo do Greenpeace mostra que as usinas termossolares planejadas de acordo com o conceito da Desertec no Saara poderiam prevenir a emissão de 4,7 bilhões de toneladas de CO2 até o ano 2050. Essa economia equivale a seis vezes o volume total de CO2 produzido pela Alemanha atualmente.
Visão obtida da torre solar de Jülich Visão obtida da torre solar de Jülich
Vantagens para a África
A geração de energia através da força solar também poderia resolver grandes problemas no próprio continente africano. Lá, mais de meio bilhão de pessoas não têm um abastecimento constante de energia elétrica, o que prejudica o desenvolvimento econômico e social. Os custos de produção são mais altos do que em outros lugares, afetando negativamente a competitividade de países africanos no mercado mundial. Uma energia solar barata não apenas possibilitaria um melhor atendimento à saúde, comunicação, informação e educação, como também é um pré-requisito para unidades de produção competitivas no mercado mundial.
Horizonte de tempo
Resta a pergunta: Quando os africanos estariam prontos para se tornarem fornecedores de energia limpa para si próprios e para os outros? O especialista Böhling, do Greenpeace, afirma que parte disso poderia estar em andamento já em dez anos. Por outro lado, o pesquisador de tecnologia solar Pitz-Paal é mais cauteloso e acredita que irá demorar mais de 20 anos até que nas tomadas alemãs corra eletricidade vinda da África.
Autor: Martin Schrader (mdm)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: DW

21 de fevereiro de 2011

Contaminar se conjuga no masculino


Por Julio Godoy

Os maus hábitos alimentares e o uso ineficiente do transporte fazem com que os homens provoquem mais emissões do contaminante dióxido de carbono do que as mulheres.


PARIS, França, 14 de fevereiro (Tierramérica).- A desigualdade de gênero em detrimento da mulher é bem conhecida e documentada. O que não se sabe tanto é que o comportamento masculino também é o maior responsável pela emissão de gases causadores do efeito estufa, que provocam o aquecimento do planeta. A essa conclusão chegaram dois estudos independentes desenvolvidos por cientistas europeus separadamente, ambos baseados em dados estatísticos sobre o consumo e as atividades cotidianas de homens e mulheres em países industrializados.

Frédéric Chomé, consultor francês para questões ambientais e de desenvolvimento sustentável, afirmou que uma mulher francesa típica provoca a emissão de 32,3 quilos de dióxido de carbono (CO²) por dia, em média, enquanto um homem no mesmo período é responsável por 39,3 quilos. “As estimativas têm como base um estudo das atividades humanas dividido por gênero, realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos da França”, explicou Frédéric ao Terramérica.

“Embora nosso método de cálculo ainda seja muito aproximado, creio que o resrultado é um bom indicador das diferenças de poluição ambiental derivadas do comportamento diferente entre homens e mulheres”, acrescentou o autor do estudo “23 Heures Chrono: Votre Bilan Carbone” (24 Horas Exatas: Sua Conta Pessoal de Carbono). A conclusões semelhantes chegaram a sueca Annika Carlsson-Kanyama e a finlandesa Riita Räty em uma pesquisa sobre os comportamentos de homens e mulheres em dez atividades cotidianas na Alemanha, Grécia, Noruega e Suécia.

“Os homens consomem mais carne e bebidas processadas do que as mulheres, além de utilizarem com mais frequência o automóvel e dirigir por distâncias mais longas. Isso os leva a emitirem maior quantidade de CO²”, diz o estudo “Comparing Energy Use by Gender, Age and Income in Some European Countries” (Comparaçao do Uso de Energia por Gênero, Idade e Renda em Alguns Países Europeus). Comentando os dois trabalhos, Corinna Altenburg e Fritz Reusswig, do Instituto de Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (Alemanha), avaliaram que alguns dos hábitos mais poluentes atribuídos à população masculina são motivados pelos papeis que eles cumprem na sociedade.

“No transporte, por exemplo, fazem muitas viagens em avião e automóvel, o que aumenta consideravelmente a pegada ecológica dos homens”, explicaram Corinna e Fritz ao Terramérica. Esse desequilíbrio pode ser compensado “na medida em que a igualdade de oportunidades profissionais permitirem que a mulher suba na escala profissional e os homens assumam mais tarefas domésticas”, afirmaram. Por outro lado, as diferenças na alimentação são determinantes por gênero. “Os homens tendem a comer mais carne e as mulheres mais frutas e vegetais, hábitos difíceis de serem combatidos”, acrescentaram.

Corinna e Fritz sugerem que uma política voltada à redução das emissões masculinas deve se orientar tanto para objetivos ambientais como para temas de desenvolvimento urbano, tradições profissionais e costumes arraigados. “A meta em alimentação deveria ser trocar quantidade por qualidade. Ao diminuir o consumo de carne se consegue reduzir a produção em massa e, assim, baixar as emissões de CO² emitidas pelos animais, por exemplo”, ressaltaram.

A culpa dos homens 

Frédéric comprovou que na França, apenas devido aos hábitos alimentícios, um homem é responsável pela emissão de 7,98 quilos de CO² por dia, enquanto uma mulher emite 6,79 quilos. O cientista estimou diferenças semelhantes de gênero em praticamente todas as 11 atividades analisadas. No único caso em que as mulheres provocam maiores emissões desse gás-estufa é quando realizam tarefas tradicionais em casa, como lavar, cozinhar, limpar a casa e passar roupa, segundo o estudo divulgado no dia 24 de novembro.

Por sua parte, Annika explicou ao Terramérica que a pesquisa feita com Riita apresentou como resultado que, além das diferenças substanciais entre gênero em transporte a e alimentação, o consumo de álcool e tabaco são dois fatores que aumentam as emissões sobre as quais os homens são muito mais responsáveis. “Para o estudo, examinamos o uso total de energia por família nos quatro países e depois diferenciamos os consumos individuais entre homens e mulheres por atividade”, explicou.

A atividade mais importante por suas consequências ambientais é o transporte, disse Annika. “Só neste item, os homens consomem entre 70% e 80% mais energia do que as mulheres na Alemanha e na Noruega, 100% a mais na Suécia e até 350% na Grécia”, acrescentou. Isto se explica pela utilização muito mais intensiva de automóveis individualmente por parte deles, o que representa um consumo maior de conbustível e peças de reposição, bem como mais consertos.

“Estas diferenças não são específicas dos quatro países analisados, sendo generalizadas em toda a União Europeia (UE), e têm pouco a ver com as diferentes atividades profissionais entre homens e mulheres”, disse Annika. As mulheres na UE tendem a fazer viagens mais curtas de carro, utilizar mais vezes o transporte público e concebem seus trajetos em função das necessidades de transporte de outras pessoas. Em geral, o estudo publicado em agosto de 2009 por UE e Riita mostra que os homens consomem muito mais energia do que as mulheres. As diferenças vão desde 8% na Alemanha, passando por 6% na Noruega, até 22% na Suécia e 39% na Grécia.

Como outros estudos anteriores, o destas pesquisadoras também conclui que o consumo de energia aumenta na medida em que cresce o nível de renda das famílias, e com isso também aumentam as emissões de CO² e sua contribuição individual para a mudança climática. Segundo Annika, as descobertas das duas pesquisas sugerem que os governos europeus devem focar seus esforços de redução de emissão de gases-estufa em convencer a população masculina a mudar seus hábitos de transporte e alimentação, para aumentar sua eficiência no consumo de energia nessas atividades.

* * O autor é correspondente da IPS.

18 de fevereiro de 2011

Gestão de resíduos ajuda a reduzir emissões de CO2

MEIO AMBIENTE


 

Restos de plantas, madeira e outros materiais orgânicos – que compõem a chamada biomassa – são combustíveis ecologicamente corretos. Mas qual é realmente o seu potencial de geração de energia?

 
No estado de Uttarakhand, no norte na Índia, combustíveis ecologicamente corretos estão à disposição pelas ruas: folhas de pinheiros, em forma de agulhas. O clima ameno – nem muito quente, nem muito frio – é ideal para os pinheiros.
Quando chega a época do ano em que as árvores perdem suas folhas, todo o chão fica coberto. Estas "agulhas" secas são ideais para serem transformados em briquetes, queimados depois como combustível.
A utilização da biomassa – como a proveniente das "agulhas" dos pinheiros indianos – é uma maneira de produzir energia sem prejudicar o meio ambiente. Ela reduz o uso de combustíveis fósseis como o carvão e as emissões de gases estufa.
A biomassa compreende tanto plantas oleaginosas, como a canola e o milho, como também madeira, folhas secas e palha. Resíduos orgânicos – sejam da agricultura ou da cozinha – são igualmente biomassa e utilizados para a obtenção de energia através da incineração.
Durante a geração de energia, a biomassa apresenta um comportamento neutro com relação ao gás carbônico. O dióxido de carbono absorvido durante o crescimento da planta é liberado durante a queima, não alterando o balanço de carbono.
Tal processo também acontece com as folhas dos pinheiros indianos: durante a queima, elas só liberam o carbono que as árvores absorveram do solo ou da atmosfera durante o crescimento. Se as folhas se decompuserem naturalmente ou forem queimadas, a quantidade de gás carbônico emitido será a mesma.
Com petróleo e carvão ocorre algo diferente. O dióxido de carbono contido nestes combustíveis fósseis permaneceu milhões de anos sob a terra. O gás carbônico liberado durante sua queima provoca um desequilíbrio no ciclo natural do carbono.
Outra vantagem da biomassa é ser uma matéria-prima renovável disponível periodicamente, durante o período da colheita.
Potencial limitado
Especialistas afirmam que o potencial da biomassa para a obtenção de energia é limitado, sendo suficiente para suprir apenas 10 a 15% das necessidades energéticas do planeta. É o que afirma a engenheira Daniela Thrän, diretora do setor de pesquisa em sistemas de bioenergia do Centro Alemão de Pesquisa em Biomassa e porta-voz da divisão de bionergia do Centro Helmoltz para Pesquisa Ambiental em Leipzig.
Para Thrän, há um grande potencial para biomassa no Leste europeu, na América do Sul, na Austrália e na América do Norte. Nestas regiões há muita área disponível para um número relativamente pequeno de habitantes, o que possibilita cultivar, sem concorrência entre si, alimentos para a população e plantas para a produção de biomassa.
Por outro lado, regiões densamente povoadas como o sudeste asiático têm um potencial pequeno para a produção de biomassa, lembra Thrän. Já a África não é tão povoada e possui muitas terras cultiváveis, apropriadas para a produção de plantas destinadas à geração de energia. Mas a produção agrícola é muito pequena no continente e não há previsão de melhora. Por isso, Thrän acredita que, para os próximos 20 anos, não se pode esperar um aumento do potencial da biomassa na África, pois concorreria com a produção de alimentos.
 Bioenergia a partir de folhas de pinheiros facilita o trabalho em olarias no norte da Índia: os briquetes não poluem tanto quanto o carvão e pesam menosBioenergia a partir de folhas de pinheiros facilita o trabalho em olarias no norte da Índia: os briquetes não poluem tanto quanto o carvão e pesam menos
Os conflitos gerados pelo tema ficaram claros em 2007, durante do debate "combustível versus alimento", na Alemanha. Naquele período, a crescente demanda mundial por "plantas energéticas" fez com que subissem os preços do trigo, do milho e do arroz. Os alimentos também encareceram nos países pobres. A opinião pública começou a debater sobre o sentido de transformar grãos comestíveis em biocombustíveis para movimentar automóveis.
Energia sempre disponível
Para a engenheira Thrän, uma grande vantagem da biomassa é armazenar energia, que – diferentemente da solar ou eólica – permanece sempre disponível. "A tendência é que, no futuro, a bioenergia complemente a solar e a eólica", afirma Thrän. "Quando não há vento, é possível compensar com a bioenergia."
Futuramente, a biomassa poderia ser utilizada no lugar de combustíveis fósseis, que não podem ser substituídos por energias renováveis – como o querosene, por exemplo.
Bernd Bilitewski, diretor do Instituto de Gestão de Resíduos da Universidade Técnica de Dresden, afirma que há um potencial inexplorado da biomassa em outras áreas. Na Alemanha, por exemplo, 12 milhões de toneladas de resíduos orgânicos são eliminados a cada ano, apesar de serem apropriados para a geração de bioenergia.
"A utilização destes resíduos precisa ser ampliada, antes que recorramos a outros produtos concorrentes." Além disso, há áreas agrícolas inadequadas para o cultivo de alimentos, mas ideais para plantas destinadas à produção de biomassa. Isto inclui espaços antes utilizados para mineração ou poluídos pela indústria, sugere.
Na Alemanha, praticamente não há mais unidades de incineração de resíduos que não utilizem de alguma maneira a energia gerada. Mas, para Bilitewski, seria possível usar essas fontes de bioenergia de forma ainda mais eficiente.
Bilitewski considera infundada a preocupação com a emissão de gases tóxicos durante a incineração dos resíduos. As regulamentações e controles do processo seriam tão rígidos e a técnica tão sofisticada, que nenhuma substância tóxica poderia ser liberada no ar.
O setor de gestão de resíduos é um dos maiores responsáveis pela redução das emissões de dióxido de carbono na Alemanha. Quase um quinto da meta estabelecida pela Alemanha no Protocolo de Kyoto será conseguido pelo setor.
Autor: Martin Schrader (lpf)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DW
 
 

11 de fevereiro de 2011

DOCE MORTE

Por William Duffy.
que realmente acontece no nosso corpo quando comemos açúcar?
"A ingestão diária de açúcar refinado faz o fígado inchar como um balão"
 “Refinado". De qualidade superior. O resultado de uma melhoria consciente. Mas não no caso do açúcar. O açúcar refinado é aquele do qual foram retirados os minerais e as vitaminas. O que sobra é puro carboidrato refinado. Uma vez que não contém os minerais naturais presentes na beterraba ou na cana, o açúcar refinado retira do corpo minerais e vitaminas preciosas porque sua digestão, desintoxicação e eliminação impõem essa exigência ao organismo. Não surpreende, portanto, que, na década de 1950, o doutor William Coda Martin tenha chamado o açúcar de veneno.
O impacto repentino da ingestão de grande quanti­dade de açúcar rompe o delicado equilíbrio que é essen­cial para o funcionamento saudável de nosso organismo. Então, o corpo mobiliza ácidos neutros e minerais tais como sódio (do sal), potássio e magnésio (das verduras) e cálcio (dos ossos) numa tentativa de restabelecer o equilíbrio ácido-alcalino do sangue.
Comer açúcar todos os dias piora o problema, produzindo um contínuo estado excessivamente ácido, que significa que mais e mais minerais serão exigidos do corpo para corrigir o desequilíbrio. Por fim, é tão grande a quantidade de cálcio retirada dos ossos e dentes que começam a surgir cáries e há um enfraquecimento geral do corpo.

"A ingestão diária de açúcar refinado faz o fígado inchar como um balão"

Açúcar em excesso acaba por afetar todos os órgãos do corpo. Inicialmente, ele fica armazenado no fígado na forma de glicose (glicogênio). Dado que a capacidade do fígado é limitada, a ingestão diária de açúcar refinado (acima da quantidade necessária de açúcar natural) logo faz o fígado inchar como um balão. Quando o fígado chega a sua capacidade máxima, o glicogênio em excesso retoma ao sangue na forma de ácidos graxos, que são levados a todas as partes do corpo e armazenados nas áreas mais inativas: a barriga, as nádegas, o peito e as coxas.
Quando esses locais comparativamente menos importantes estão completamente cheios, os ácidos graxos, então, são distribuídos pelos órgãos ativos, tais como o coração e os rins. Esses órgãos começam a funcionar de modo mais lento, finalmente, seus tecidos começam a se deteriorar e se transformar em gordura. O organismo todo sofre com o funcionamento reduzido desses órgãos e a pressão sangüínea começa a atingir níveis anormais. O sistema nervoso parassimpático é afetado e os órgãos por ele controlados se tornam inativos ou ficam paralisados. (O funcionamento normal do cérebro raramente é lem­brado como sendo tão biológico/orgânico como a diges­tão). Os sistemas circulatório e linfático são invadidos e a qualidade dos glóbulos vermelhos começa a mudar. Há uma superabundância de glóbulos brancos e a formação de novos tecidos começa a diminuir. O poder de tolerân­cia e de defesa do organismo torna-se mais limitado, de modo que não conseguimos responder adequadamente a grandes ataques, sejam o frio, o calor, mosquitos ou mi­cróbios.
Açúcar em excesso traz grandes efeitos prejudiciais ao funcionamento do cérebro. A chave para o funciona­mento organizado do cérebro é o ácido glutâmico, um componente vital encontrado em muitas verduras. As vi­taminas do complexo B desempenham um papel impor­tante na divisão do ácido glutâmico, que produz uma resposta no cérebro de «continuar" ou «parar". As vitaminas B são também produzidas por bactérias simbióticas que vivem em nossos intestinos. Quando açúcar refinado é ingerido diariamente, essas bactérias secam e morrem, e nosso estoque de vitaminas do complexo B fica muito baixo. Açúcar demais faz as pessoas ficarem sonolentas; nossa capacidade de fazer cálculos e de lembrar coisas se perde.
A energia "imediata" que a gente sente ao comer açúcar está baseada no fato de que a sacarose refinada não é digerida nem na boca nem no estômago; passa di­retamente para o intestino e, de lá, para a corrente sangüínea. A grande rapidez com que a sacarose entra na corrente sangüínea causa mais mal do que bem.
Açúcares de todos os tipos tendem a suspender a secreção de ácidos gástricos e têm um efeito inibitório sobre a capacidade natural do estômago de se movimen­tar. Quando ingeridos isoladamente, eles passam rapidamente pelo estômago até chegarem ao intestino delgado. Quando ingeridos junto com outros alimentos ­ talvez carne e pão em um sanduíche -, permanecem no estômago por um certo tempo. O açúcar do pão e da Coca­-Cola ficam ali com o hambúrguer e o pão aguardando para serem digeridos. Enquanto o estômago trabalha na digestão da proteína animal e do amido refinado do pão, a presença do açúcar praticamente garante uma rápida fermentação ácida sob as condições de calor e umidade existentes no estômago.
Quando amidos e açúcares complexos (tais como os do mel e das frutas) são digeridos, são transformados em açúcares simples chamados "monossacarídeos", que são substâncias possíveis de serem usadas pelo corpo. Quando amidos e açúcares são ingeridos juntos e sofrem fermenta­ção, são transformados em dióxido de carbono, ácido acético, álcool e água. Com exceção da água, todas são substâncias que o organismo não pode utilizar- venenos.
Quando proteínas são digeridas, são transformadas em aminoácidos, que são substâncias úteis para o organismo - nutrientes. Quando proteínas são ingeridas com açúcar, elas se decompõem; são transformadas em uma série de ptomaínas e leucomaínas, que são substân­cias que o organismo não pode utilizar - venenos.
A digestão enzimática prepara os alimentos para serem usados pelo organismo. A decomposição feita pe­las bactérias os torna inadequados para serem usados pelo organismo. O primeiro processo nos fornece nutrientes; o segundo nos fornece venenos.

William Duffy  é autor de Sugar Blues, do qual esse artigo foi adaptado.
Fonte: Artigo publicado na The Ecologist em novembro de 2003, versão em portugues extraída da The Ecologist Brasil, ano 2005.




O DOCE AROMA DO EXCESSO

Será que existe algum produto nas prateleiras dos supermercados que não contenha açúcar?

       Em 1598, o advogado alemão Paul Hentzner assim descreveu a rainha Elizabeth I ao vê-la: "A seguir, veio a rainha aos 65 anos de idade, conforme sabemos, muito majestosa, sua face oblonga, pele clara mas enrugada, seus olhos pequenos, embora pretos e alegres, seu nariz um pouco recurvo, seus lábios finos e seus dentes pretos (um defeito ao qual os ingleses parecem estar sujeitos, devido a seu uso exagerado de açucar. ...)
     Alguns anos mais tarde, no século XVII, em seu livreto intitulado "A dieta dos doentes" (The diet of the diseased), o doutor James Hart advertia: "O açúcar caria os dentes, confere-lhes um aspecto escurecido e, além disso, muitas vezes causa um hálito repugnantemente fétido. E, portanto, é bom alertar os jovens, porque eles se deixam envolver demais pelo açúcar".
Ninguém deu ouvidos. Em 2001, o consumo global de açúcar e de outros adoçantes chegou a quase 157 milhões de toneladas - mais de 2,5 vezes mais o que era em 1961. E, enquanto os consumidores mais vorazes do mundo são, sem dúvida, os cada vez mais numerosos cidadãos estadunidenses, o Reino Unido, não está muito atrás.
A Associação Internacional de Confeitos (International Confectionery Association), em Bruxelas, revela que, no Reino Unido, se comem mais doces e chocolates do que em qualquer outro país da Europa, representando 23% de todo o mercado europeu. Em 2002, no Reino Unido, foi consumido, em média, 14 quilos de doces per capta.
Entretanto, a indústria do açúcar diz que as pes­soas estão comprando menos açúcar do que no passado, no Reino Unido. E isso é correto, mas é apenas uma parte da história. Das 2,25 milhões de toneladas de açúcar branco consumidas no Reino Unido por ano, cerca de três quartos são usados para produzir alimentos industrializados. Podemos estar colocando menos açúcar em nossos alimentos e bebidas, mas isso porque alguém já adicionou mais açúcar do que o suficiente antes de nós.
Esse é o problema. Já que as pessoas gostam de sabores adocicados, a indústria alimentícia adiciona açúcar a seus produtos. Uma vez que também estamos cada vez mais preocupados com nossa saúde, e, portanto, estamos querendo comer menos açúcar, essa mesma indústria não quer que saibamos que seus produtos estão cheios desse ingrediente.
Os fabricantes podem, por exemplo, tentar fazer com que a quantidade total de açúcar em seus produtos pareça menor listando todos os diferentes tipos de açúcares separadamente e omitindo o valor que corresponde ao conteúdo total de açúcar.
Assim, a "nova" barra energética da empresa Cadbury tem, no rótulo, a informação de que é "enri­ quecido com glicose". Isso deve ser bom, afinal, a glicose é o açúcar do sangue - é energia. Entretanto, veja a lista de ingredientes. Inclui xarope de glicose e xarope de glicose desidratado, mas os açúcares não acabam aí. O açúcar é listado como um ingrediente separado, como um componente do biscoito, como um componente do chocolate ao leite e como "glicerol". Em nenhum momento, o consumidor é informado a respeito da exata quantidade de açúcar que todos esses ingredientes totalizam.
Em segundo lugar, uma vez que os açúcares são um tipo de carboidrato, os fabricantes normalmente não listam em separado a quantidade de açúcar de seus produtos nas informações nutricionais. Pelo contrário, o açúcar pode ser agrupado com todos os outros carboidratos. Na tabela de informações nutricionais dessa barra energética, assim sendo, não há menção a açúcar, apenas a carboidratos, dos quais aparentemente há 59,6 g a cada 100 g do produto. Já que a barra pesa 60,5 g, descobrir a quantidade contida de carboidrato - isso sem falar da quantidade de açúcar - não é tarefa das mais fáceis. Entretanto, uma vez que barras de chocolate têm, normalmente, entre 50 e 70% de açúcar, você poderia estar ingerin­ do, sem perceber, cerca de 7 ou 8 colheres de chá de açúcar em um único lanche.

Fonte The Ecologist UK, Novembro 2003. Versão em portugues, extraída da The Ecologist Brasil, ano 2005.

8 de fevereiro de 2011

Proteger a taiga significa proteger o clima global


 

Cenas de árvores sendo derrubadas em países tropicais dominam o debate sobre a preservação das florestas. Mas as matas do frio Hemisfério Norte também desempenham papel importante na manutenção do clima global.

 
Sem muito esforço, um guindaste levanta um tronco após o outro. Há horas, em uma clareira do vale do Bikin – no longínquo leste da Rússia e sob um frio de -30ºC –, árvores são empilhadas em um caminhão.
O especialista em florestas Ievgeni Lepioshkin, da sede da organização ambientalista WWF em Vladivostok, tira uma foto após a outra. O que se passa aqui é para ele, pela primeira vez, um motivo para comemorar: os madeireiros precisam desocupar o local.
O motivo disso é que o WWF e a população nativa arrendaram por 49 anos uma área de 460 mil hectares do Vale do Bikin. A região ameaçada de desmatamento é propriedade do governo russo.
"As florestas locais desempenham um papel importante na manutenção do clima. Somente nesta área arrendada, 48 milhões de toneladas de gás carbônico são capturadas em forma de dióxido de carbono", afirma Lepioshkin.
Máquinas potentes: durante horas, árvores são empilhadasMáquinas empilham troncos
O governo federal da Alemanha e o WWF alemã apoiam o projeto – nos moldes da Iniciativa Internacional de Proteção ao Clima – com 2,5 milhões de euros a serem gastos em três anos. Depois deste período, o arrendamento da área deverá ser financiado pela venda de créditos de carbono.
Florestas boreais: chave para o clima global
Grande parte do vale do Bikin está coberta pelas florestas boreais, formadas por pinheiros, píceas, bétulas e lariços, também conhecidas como floresta de coníferas ou taiga. Elas correspondem a mais de um terço da área florestal do planeta e formam um cinturão verde ao norte do Equador, entre 40 e 70 graus de latitude. Sessenta por cento destas florestas ficam em território da Rússia, mas a organização não-governamental Clube Florestal Russo estima que apenas 2% a 3% delas estejam suficientemente protegidas.
Por isso, a associação internacional Taiga Rescue Network apoia sobretudo as iniciativas de organizações ambientalistas e das populações nativas , que lutam para proteger a taiga do desmatamento ilegal e em larga escala. "As florestas boreais são uma área ecológica chave, capazes de influenciar o clima devido à sua sensibilidade e ao seu tamanho", adverte a associação.
Bomba-relógio climática
Também as florestas boreais do Canadá e dos países escandinavos estão ameaçadas pela exploração não sustentável de madeira e pelo avanço da urbanização. A organização ambiental Greenpeace atua há anos nas florestas boreais no norte do Canadá e na Finlândia, visando a acabar ou pelo menos reduzir o desmatamento extensivo para a produção de papel.
Além de armazenar grandes quantidades de gás carbônico, uma floresta boreal intacta é mais resistente aos efeitos do aquecimento global. Um estudo encomendado pelo Greenpeace a cientistas canadenses chegou a provar a fragilidade de florestas boreais que perderam suas árvores mais robustas por causa da exploração madeireira intensiva.
Um dos maiores problemas neste sentido é o descongelamento do permafrost – solo de rochas e gelo –, sobre o qual cresce grande parte das florestas de coníferas. Quando tal fenômeno ocorre, são liberados na atmosfera gases nocivos ao meio ambiente – como o metano –, que permaneceram armazenados no solo por milhares de anos.
Florestas saudáveis conseguiriam reter grande parte desses gases. "Já uma floresta boreal devastada poderia se tornar uma bomba-relógio climática", afirma Oliver Salge, especialista em florestas do Greenpeace.
Debate público: trópicos roubam a cena
Tigre siberiano: ameaçado de extinção Tigre siberiano está ameaçado de extinção
Nas discussões sobre a preservação florestal, as matas das regiões frias costumam ser apenas coadjuvantes: "Infelizmente, há um problema de percepção por parte da opinião pública", diz Frank Mörschel, coordenador florestal do WWF e representante da Alemanha no projeto do vale do Bikin.
"As florestas tropicais e sua preservação parecem ser mais atraentes e exóticas, porque as cenas que vemos na televisão de árvores gigantescas sendo derrubadas nos parecem bastante dramáticas". As alterações sofridas pelas florestas boreais não seriam tão chamativas e visualmente espetaculares, mas igualmente impactantes. "Não podemos fechar os olhos para isso", afirma Mörschel.
Pelo menos agora no vale do Bikin, na Sibéria Oriental, ativistas ambientais têm 49 anos para preservar as florestas nativas. Depois, esperam que o governo russo dê à região o status de área de proteção ambiental. 
Mas este processo pode ser acelerado, devido à ameaça de extinção de um dos animais mais importantes da região: o tigre siberiano. O assunto estará em pauta nos últimos meses deste ano em Vladivostok, numa reunião de políticos de todos os países onde o tigre ainda existe.
Se o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, declarasse a proteção da região como prioridade, não só o tigre siberiano, mas todo o clima do planeta seriam beneficiados.
Autor: Mareike Aden (lpf)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DW