11 de fevereiro de 2011

O DOCE AROMA DO EXCESSO

Será que existe algum produto nas prateleiras dos supermercados que não contenha açúcar?

       Em 1598, o advogado alemão Paul Hentzner assim descreveu a rainha Elizabeth I ao vê-la: "A seguir, veio a rainha aos 65 anos de idade, conforme sabemos, muito majestosa, sua face oblonga, pele clara mas enrugada, seus olhos pequenos, embora pretos e alegres, seu nariz um pouco recurvo, seus lábios finos e seus dentes pretos (um defeito ao qual os ingleses parecem estar sujeitos, devido a seu uso exagerado de açucar. ...)
     Alguns anos mais tarde, no século XVII, em seu livreto intitulado "A dieta dos doentes" (The diet of the diseased), o doutor James Hart advertia: "O açúcar caria os dentes, confere-lhes um aspecto escurecido e, além disso, muitas vezes causa um hálito repugnantemente fétido. E, portanto, é bom alertar os jovens, porque eles se deixam envolver demais pelo açúcar".
Ninguém deu ouvidos. Em 2001, o consumo global de açúcar e de outros adoçantes chegou a quase 157 milhões de toneladas - mais de 2,5 vezes mais o que era em 1961. E, enquanto os consumidores mais vorazes do mundo são, sem dúvida, os cada vez mais numerosos cidadãos estadunidenses, o Reino Unido, não está muito atrás.
A Associação Internacional de Confeitos (International Confectionery Association), em Bruxelas, revela que, no Reino Unido, se comem mais doces e chocolates do que em qualquer outro país da Europa, representando 23% de todo o mercado europeu. Em 2002, no Reino Unido, foi consumido, em média, 14 quilos de doces per capta.
Entretanto, a indústria do açúcar diz que as pes­soas estão comprando menos açúcar do que no passado, no Reino Unido. E isso é correto, mas é apenas uma parte da história. Das 2,25 milhões de toneladas de açúcar branco consumidas no Reino Unido por ano, cerca de três quartos são usados para produzir alimentos industrializados. Podemos estar colocando menos açúcar em nossos alimentos e bebidas, mas isso porque alguém já adicionou mais açúcar do que o suficiente antes de nós.
Esse é o problema. Já que as pessoas gostam de sabores adocicados, a indústria alimentícia adiciona açúcar a seus produtos. Uma vez que também estamos cada vez mais preocupados com nossa saúde, e, portanto, estamos querendo comer menos açúcar, essa mesma indústria não quer que saibamos que seus produtos estão cheios desse ingrediente.
Os fabricantes podem, por exemplo, tentar fazer com que a quantidade total de açúcar em seus produtos pareça menor listando todos os diferentes tipos de açúcares separadamente e omitindo o valor que corresponde ao conteúdo total de açúcar.
Assim, a "nova" barra energética da empresa Cadbury tem, no rótulo, a informação de que é "enri­ quecido com glicose". Isso deve ser bom, afinal, a glicose é o açúcar do sangue - é energia. Entretanto, veja a lista de ingredientes. Inclui xarope de glicose e xarope de glicose desidratado, mas os açúcares não acabam aí. O açúcar é listado como um ingrediente separado, como um componente do biscoito, como um componente do chocolate ao leite e como "glicerol". Em nenhum momento, o consumidor é informado a respeito da exata quantidade de açúcar que todos esses ingredientes totalizam.
Em segundo lugar, uma vez que os açúcares são um tipo de carboidrato, os fabricantes normalmente não listam em separado a quantidade de açúcar de seus produtos nas informações nutricionais. Pelo contrário, o açúcar pode ser agrupado com todos os outros carboidratos. Na tabela de informações nutricionais dessa barra energética, assim sendo, não há menção a açúcar, apenas a carboidratos, dos quais aparentemente há 59,6 g a cada 100 g do produto. Já que a barra pesa 60,5 g, descobrir a quantidade contida de carboidrato - isso sem falar da quantidade de açúcar - não é tarefa das mais fáceis. Entretanto, uma vez que barras de chocolate têm, normalmente, entre 50 e 70% de açúcar, você poderia estar ingerin­ do, sem perceber, cerca de 7 ou 8 colheres de chá de açúcar em um único lanche.

Fonte The Ecologist UK, Novembro 2003. Versão em portugues, extraída da The Ecologist Brasil, ano 2005.

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