31 de agosto de 2010

Usinas nucleares: ameaça permanente à vida

Por Darci Bergmann

Parece inerente ao ser humano emaranhar-se em tecnologias com alto poder de destruição, mesmo quando são destinadas ao uso pacífico. A fissão nuclear sabida e reconhecidamente tem um enorme custo para fins energéticos, mas os custos maiores decorrem dos acidentes e das consequencias daí resultantes.
Mesmo assim, ela encontra quem defenda o seu uso em amplos setores da sociedade. Sempre o argumento maior é que as demais fontes de energia ou são caras ou não atendem à crescente demanda de uma civilização cada vez mais consumidora. 
Dentro da visão de progresso linear, expansionista, em que a natureza deve ceder espaço à espécie humana que prolifera e rompe as barreiras da sustentabilidade, a energia  de fissão nuclear faz sentido. Mas para quem ainda pensa viver num planeta mais seguro onde a natureza ainda pode e deve ser preservada nada justifica o uso dessa tecnologia. Se parte dos gigantescos recursos financeiros fosse usada para programas de planejamento familiar, redução do consumo de supérfluos e investimentos em fontes alternativas de energia, as ameaças de acidentes nucleares não existiriam.

As usinas atômicas são concentradoras do capital e das decisões.

Pela complexidade e pelos altos custos o manejo nuclear está nas mãos de pouca gente, mas a sociedade como um todo é que banca os altos investimentos.  A sociedade é trabalhada no sentido de aceitar a energia nuclear como alternativa segura e viável economicamente. Esse discurso une investidores e políticos que se apresentam numa aura de defensores do progresso e da geração de empregos. O dinheiro investido na mídia para informar a opinião pública traz resultados aos interesses da turma atômica. De outro lado, quem se opõe ao uso da energia nuclear é rotulado como retrógrado, desinformado, enfim contrário à modernidade. Mas seria bom perguntar: que modernidade tem essa tecnologia que pode destruir a Vida? Particularmente entendo que a modernidade está em se utilizar energias de outras fontes que não se constituem em ameaças à integridade física de pessoas e às outras formas de vida.

Alguns acidentes nucleares já dispararam o sinal de alerta 

O maior deles foi o de Chernobyl, em 1986, na Ucrania. Naquela época a Ucrania fazia parte da URSS - União das Repúblicas Soviéticas Socialistas. Os relatórios divulgados procuravam minimizar as consequencias do acidente, embora alguns ambientalistas já levantassem suspeitas de que nem tudo estava sendo revelado à opinião pública. O decorrer do tempo mostrou que os efeitos radioativos continuam agindo numa vasta região. Em matéria divulgada por Pavol Stracansky, o autor diz:  

 "Quase 25 anos depois do pior acidente nuclear da história, novas descobertas científicas sugerem que os efeitos da explosão em Chernobyl foram subestimadas. Especialistas publicaram, no mês passado, uma série de estudos indicando que, contrariando conclusões anteriores, as populações de animais diminuíram na área de exclusão em torno do lugar onde funcionava a antiga central nuclear soviética, e que os efeitos da contaminação radioativa depois da explosão foram “assombrosos”. Cada vez mais javalis com altos níveis de césio são encontrados no lugar.



Esta informação foi divulgada meses depois que médicos na Ucrânia e Bielorússia detectaram aumento nas taxas de câncer, mutações e doenças do sangue, que pensam estar relacionado com Chernobyl. Por outro lado, uma pesquisa norte-americana publicada em abril constatou aumento nos defeitos de nascença, aparentemente devido à exposição continuada a doses de radiação de baixo nível".

Concluo, depois dessas informações, que a minha desconfiança em relação à energia de fissão nuclear só me trouxe mais certezas: é preciso que cada um de nós se posicione contra essa pretensão absurda de instalação de novas usinas atômicas. A modernidade está em ultrapassar certos modelos de progresso que sempre nos levaram à destruição da vida nas suas múltiplas formas.


 Matérias relacionadas:
    Efeitos de Chernobyl podem durar séculos 
    Pesadelo Nuclear
    Outros riscos da energia nuclear
    Energia nuclear: debate na Alemanha
   Alemanha e China são precursoras de uma "economia verde"

26 de agosto de 2010

Estudo comprova que plantas crescem menos com aquecimento global

Estudo comprova que plantas crescem menos com aquecimento global: Elevação nas temperaturas tem reduzido a produtividade nas plantas, segundo análise dos últimos dez anos feita a partir de dados de satélite

O aquecimento global não tem feito as plantas crescerem mais, como se estimava, mas sim menos. Segundo um estudo publicado na revista Science, a produtividade dos vegetais tem decaído em todo o mundo. Até então, achava-se que as temperaturas constantemente mais elevadas estariam estimulando o crescimento das plantas, mas a nova pesquisa, feita com dados de satélites da Nasa, a agência espacial norte-americana, aponta o contrário.

O motivo são as secas regionais, indica o estudo feito por Maosheng Zhao e Steven Running, da Universidade de Montana, segundo o qual a tendência na produtividade já dura uma década.

A produtividade é uma medida da taxa do processo de fotossíntese que as plantas verdes usam para converter energia solar, dióxido de carbono e água em açúcar, oxigênio e no próprio tecido vegetal.
O declínio observado na última década foi de 1%. Parece pouco, mas, de acordo com os autores da pesquisa, é um sinal alarmante devido ao impacto potencial na produção de alimentos e de biocombustíveis e no ciclo global do carbono.

"Os resultados do estudo são, além de surpreendentes, significativos no nível político, uma vez que interpretações anteriores indicaram que o aquecimento global estaria ajudando no crescimento das plantas mundialmente", disse Running.

Em 2003, outro artigo publicado na Science, de Ramakrishna Nemani, do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, e colegas, havia apontado um aumento de 6% na produtividade global de plantas terrestres entre 1982 e 1999.

O aumento foi justificado por condições favoráveis na temperatura, radiação solar e disponibilidade de água, influenciados pelo aquecimento global, que seriam favoráveis ao crescimento vegetal.

Zhao e Running decidiram fazer novo estudo, a partir de dados da última década reunidos pelo satélite Terra, lançado em 1999. Os cientistas esperavam pela continuidade da tendência anterior, mas verificaram que o impacto negativo das secas regionais superou a influência positiva de uma estação de crescimento mais longa, o que levou ao declínio na produtividade.

Segundo o estudo, embora as temperaturas mais elevadas continuem a aumentar a produtividade em algumas áreas e latitudes mais altas, nas florestas tropicais, responsáveis por grande parte da matéria vegetal terrestre, a elevação nas temperaturas tem diminuido a produtividade, devido ao estresse hídrico e à respiração vegetal, que retorna carbono à atmosfera.

O artigo Drought-Induced Reduction in Global Terrestrial Net Primary Production from 2000 Through 2009 (doi:10.1126/science.1192666), de Maosheng Zhao e Steven Running, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

FONTE
Agência Fapesp

25 de agosto de 2010

Ouro jogado no lixo


Por Darci Bergmann

O esbanjamento de matérias primas ainda persiste. Talvez por pouco tempo. O aumento do poder aquisitivo das populações na maioria dos países faz com que a demanda por matérias primas também aumente. Mas o mundo já se depara com a escassez de alguns metais e minerais imprescindìveis à fabricação de vários produtos. A reciclagem surge como alternativa para o suprimento dessa matéria prima.
É bem provável que num futuro próximo muitos objetos que hoje são considerados lixo sejam vistos como fonte valiosa de suprimentos à indústria. Entre esses resíduos estão os eletro-eletrônicos, aí incluídos os produtos da informática. Eles contém metais valiosos. Inclusive ouro. Em artigo recente na Deutsche Welle um empresário ao se referir aos aparelhos de celular afirmou: "Cada celular tem aproximadamente 23 miligramas de ouro, em média. No mundo inteiro, cerca de 1,3 bilhão de celulares são produzidos por ano. Desses, apenas 10% são, de fato, reciclados. Isso quer dizer que a humanidade joga, a cada ano, cerca de 20 a 22 toneladas de ouro no lixo", ressalta Schneider.

Nossos desperdícios de cada dia

Nossos hábitos de consumo são tremendamente esbanjadores. Vejamos um caso entre tantos outros. As garrafas de cerveja tem as tampas de latão - material ferroso. Alguém já calculou quantas dessas garrafas são consumidas por dia e onde vão parar o vidro e as tampas de metal? Quanto desse vidro e quanto desse metal é efetivamente reciclado? Parte considerável dessas matérias são jogadas no ambiente e ali causam problemas. Às vezes práticas simples podem mudar essa realidade de desperdício. As tampas metálicas de garrafas e outros pequenos resíduos ferrosos podem ser colocados num recipiente ferroso maior. Depois de fechados são destinados aos catadores ou levados às sucatas. Assim não apresentam riscos às pessoas e animais e não se perdem pela corrosão quando são jogados no ambiente. 

Atitudes simples e que melhoram a coleta. Alguns exemplos.













 

   







Existem diversas maneiras de facilitar a coleta e o destino correto de materiais

Cada pessoa pode estabelecer as práticas de sua preferência. O importante é que a questão do lixo seja tratada de forma a aproveitar melhor os materiais, desde a fonte geradora - a nossa casa ou nosso local de trabalho.

Saiba mais: 1)Lixo ganha importância
2)Práticas de compostagem
3)Política nacional de resíduos sólidos
4)Reciclando

23 de agosto de 2010

Masculinidade ameaçada

Por Darci Bergmann


Algumas pessoas mostram-se preocupadas com o lixo visível, aquele que causa entupimentos de esgotos e bueiros e agrava os efeitos das enchentes ou mesmo as provocam. Essas mesmas pessoas nem sempre tem noção exata do lixo invisível, constituído por milhares de substâncias químicas, desde metais pesados até os POPs - poluentes orgânicos persistentes, como as dioxinas. Em 2001, a Comissão da Saúde e Meio Ambiente da AL do Estado discutiu o tema e ali foram mostradas evidências de que as dioxinas, agrotóxicos e outros produtos podem afetar o aparelho reprodutor, sistema neurológico e imunológico das pessoas e causar diferentes tipos de câncer. No nosso cotidiano usamos produtos que geram ou contêm tais poluentes.

Branqueamento do papel libera produtos altamente tóxicos

Dioxinas podem se formar no processo de branqueamento do papel ou na incineração de plásticos, por exemplo. Mas porque é tão difícil as pessoas optarem por papel reciclado ou papel virgem sem branqueamento? Alguém uma vez opinou que as pessoas têm o hábito arraigado de usarem papel branco porque este aparenta mais presença. Também no interior das casas um ambiente sem qualquer vestígio de insetos e similares seria visto como medida de higiene. No entanto, as residências aparentemente muito limpas podem conter resíduos de pesticidas tóxicos cujos efeitos sobre a saúde humana vão se manifestar anos mais tarde. Uma inofensiva lagartixa predadora de insetos não é bem vista por algumas pessoas preocupadas com uma casa supostamente limpa. O comportamento reducionista, nossa visão equivocada de limpeza e de exclusão de todas as outras formas de vida tem sido um campo fértil para as empresas que faturam com o assim denominado saneamento ambiental. Esse neologismo se estende aos pátios das casas e as simples folhas e flores que caem das árvores são vistas como lixo. Lembro do tempo em que praticamente o único produto de limpeza era o tradicional sabão em barra, aquele feito com soda cáustica e gordura animal ou vegetal.

Poluentes no lar. Casas viram depósitos de produtos químicos para limpeza

Hoje são tantos os produtos e as opções que prometem limpeza que as prateleiras se enchem de potes e frascos. Esses produtos, em sua maioria, contem fenóis e outros componentes. Assim como outras substâncias, os fenóis atingem o solo e os rios pelo esgoto cloacal. As águas retornam até nós. Mesmo os chamados poços artesianos podem ficar contaminados. E o ciclo se fecha.

Hormônios femininos sintéticos: masculinidade ameaçada

Os fenóis, aditivos de plásticos e alguns agrotóxicos agem como hormônios femininos sintéticos. Segundo a médica Gerda Caleffi ¨Onde há concentrações dos poluentes, diminuem os nascimentos de crianças do sexo masculino e ocorrem mudanças anatômicas nos aparelhos genitais.¨
Entre os agrotóxicos que tem comportamento de hormônio feminino sintético estão os do grupo piretroides, muito usados nas desinsetizações dentro das residências. Dentro desse grupo estão princípios ativos como a cipermetrina  e a deltametrina, com diversos nomes comerciais.
Existem nas farmácias produtos com princípios ativos piretroides, os mesmos dos agrotóxicos, para uso em crianças. As bulas referem que são de baixa toxidade. Será que dizem toda a verdade? É o caso da deltametrina comercializada para matar piolho de crianças e adolescentes. Com todas as informações hoje disponíveis sobre tais produtos, não seria hora de proibir o uso em pessoas?

É bom ficar alerta. Talvez alguns bichinhos dentro de casa sejam muito menos perigosos do que os agrotóxicos e outros produtos químicos denominados domissanitários.  

                  2)Deltametrina/piolho da cabeça

20 de agosto de 2010

Vejam como estamos matando os índios

Os alertas de Lutzenberger e a impressionante atualidade

Estamos arrasando o planeta!
Precisamos retornar à natureza!
Chega, chega de vandalismo!

 

Íntegra da entrevista de José Antônio Lutzenberger ao Pica-Pau, suplemento semanal do jornal A Razão, de Santa Maria/RS, em 1973.

PP- O que o levou a se transformar num grande defensor do ambiente natural?

L – O que me levou a entrar nesta luta, posso dizer que foi uma questão de idiossincrasia. Desde criança sempre fui um naturalista, no sentido de sentir e amar a natureza. Meu pai era pintor, sabia ver as belezas da natureza, aprendi com ele essa sensibilidade. Desde criança sofria em ver todos esses estragos, essas agressões, muitas vezes irracionais e desnecessárias. Depois, quando me formei, trabalhei na indústria química, não por inclinação, mas por ser a única maneira de ganhar a vida, afinal de contas isso é preciso. Foi na indústria química que tive a oportunidade de viajar grande parte do mundo. Trabalhei oito anos na Venezuela, de onde viajava para outros países vizinhos, inclusive ao Caribe. Trabalhei também na África do Norte, na Europa, aqui no Brasil. Em todos os lugares tive a oportunidade de ver os mesmos estragos, a mesma agressão cega e cada vez mais violenta do homem contra seu ambiente. Dentro da indústria química, tive oportunidade de ver, por vez primeira, em primeira mão, a cegueira total do homem para com seu meio ambiente, ver que a única coisa que conta é o lucro imediato. Os métodos da química na agricultura, são métodos que só se justificam por razões comerciais, exclusivamente, que desprezam totalmente os fatores ecológicos, que os técnicos naquele campo desconhecem. A maioria de meus colegas era feliz, se sentia realizada, mas tinha uma visão muito estreita, apenas se interessava com seu produto e aumento do mercado; cada ano as vendas se duplicavam. Não tinham, por exemplo, uma sensibilidade aos aspectos estéticos da natureza; para eles uma paisagem só tinha valor como substrato, para produção e para vender mercadoria. Esta mentalidade predomina e é difícil de ser modificada. Eles visam por si mesmos uma economia imediata que lhes de um lucro rápido a curto prazo. Para que se modificasse esta forma de pensar seria preciso toda uma educação no sentido de despertar a sensibilidade das pessoas para as coisas da natureza. Como ecologista, só posso deixar como mensagem a esperança de que todos se conscientizem da importância da preservação da natureza e comecem realmente a lutar por ela.

PP – O sr. acredita que a curto prazo a ecologia pode solucionar o problema da fome?

L – Provavelmente não, pois a explosão demográfica já se encontra muito disseminada pelo mundo. E isto em absoluto não é uma advertência fantasiosa, mas a pura realidade. O fato de que o mundo pode vir a se transformar num enorme cemitério infelizmente é realidade. Os produtos químicos em grande parte são responsáveis, pois seu uso indiscriminado pode exaurir a terra. Mas, para substituí-los já estão sendo empregados métodos biodinâmicos que tem conseguido resultados espantosos. Por exemplo: empregando estes métodos num campo de batatas, na Inglaterra, conseguiu-se o dobro de produção que era normalmente de 25t, passou a 50t só com o emprego de métodos biodinâmicos. Mas o emprego de métodos biodinâmicos é de difícil aceitação, pois implica numa mudança de filosofia que é muito mais difícil e leva muito tempo. De modo que não vamos poder mudar os métodos de um dia para outro.

O agrônomo é o homem que mais devia estar em contato com a natureza

O agrônomo é o homem que mais devia estar em contato com a natureza e hoje ele está vendo-a como matéria-prima para tirar dela o máximo proveito econômico. Vejam as coisas que estamos fazendo no Mato Grosso, derrubando milhares de Km² de vegetação nativa para fazer pastos; o mesmo que fizemos na Amazônia para plantar eucaliptos, ou lavouras de duração efêmera. De modo que o agrônomo deve tornar-se um verdadeiro naturalista no sentido de amar, de sentir-se integrado na natureza. Eu daria como definição de naturalista o homem, não necessariamente o biólogo por aí que merece o nome de naturalista. Na indústria química, por exemplo, existem excelentes biólogos que são biólogos apenas para aprender a melhor maneira de matar mosquito. Nos laboratórios bélicos das grandes nações existem biólogos que só se preocupam com a melhor maneira de matar gente. Ora, isso não é naturalista nem biologista, é um assassino, seja da natureza ou de semelhantes. Por outro lado, conheço gente que não são naturalistas nem biologistas, mas que tem grande amor pela natureza: gente que sofre quando vê uma depredação. Esse é o verdadeiro naturalista. Quando ele, além disto, é biólogo, tanto melhor, mas não necessariamente. O que realmente faz falta é uma filosofia, uma maneira de ver. Um grande naturalista era Albert Schweitzer; sempre fazia questão neste sentido ele nem era cristão porque o cristianismo em sua maior parte é antropocêntrico. Ele fazia questão de dizer que nossa ética deve incluir todos os animais. Hoje a ética do homem ocidental é puramente antropocêntrica; nós enxergamos exclusivamente a humanidade e os negócios entre os humanos; e todos os demais seres são apenas matéria-prima; nós enxergamos a magnífica baleia com 30t de banha; se temos uma araucária milenar estamos enxergando apenas tábuas. Enquanto tivermos esta atitude, é claro que nós continuaremos sempre aumentando nossa agressão contra o ambiente, até que nós mesmos desapareceremos. Nós temos que voltar o homem para a natureza. Não contra, por cima e fora dela. Nós temos que ver que somos parte dela e vê-la como parte de nós. Assim como os budistas, com sua mentalidade totalmente diferente; falo nos poucos que ainda sobram, pois infelizmente hoje os temos contaminados com a nossa maneira de ver. A ideologia ocidental é uma ideologia fanática que está convertendo todas as demais culturas. Agora temos praticamente uma só cultura no mundo. Uma cultura não somente fanática, mas missionária. Pensamos que todos os povos que pensam de uma maneira diferente de nós são atrasados e que nós temos de levar nosso progresso até eles.

Hoje achamos que eles são bárbaros e nós os civilizados

Vejam como estamos matando os índios. Hoje achamos que eles são bárbaros e nós os civilizados, quando a situação é totalmente inversa. Os índios viveram 30 mil anos dentro daqueles postos e nunca estragaram nada. Ele está a 30 mil anos caçando ali e nunca exterminou espécie alguma, porque o índio se sente integrado em seu ambiente; ele não vive da destruição do ambiente e sim dos juros que a natureza lhe rende. Nós vivemos do capital, do consumo do nosso capital. Nosso sistema é insustentável. Não poderemos continuar mais três ou quatro décadas no sistema atual, pois estamos arrasando o planeta, estamos vivendo da destruição, da dilapidação da ecosfera, no grande sistema de suportes de vida neste planeta. Devemos restabelecer situações de equilíbrio permanentemente sustentável no nosso ambiente. Isto que chamamos de agricultura moderna, em muitos aspectos é uma rapina mais violenta que a rapina do caboclo, que derruba mato e faz deserto. Os nossos métodos de alta produtividade momentânea se baseiam muitas vezes na destruição da produtividade futura. Nós estamos assinando hoje notas promissórias que serão pagas por nossos filhos e nossos netos. Isto é mais rapina ainda que a do caboclo. Nós temos que voltar às situações de equilíbrio estável, de equilíbrio permanentemente sustentável, a viver dos juros não do consumo do capital. E nesse sentido situo o agrônomo como uma das figuras chaves, mas necessitamos para isso uma nova filosofia, radicalmente oposta à atual. Este é o problema fundamental da situação da humanidade: é que nós voltamos sempre ao aspecto filosófico e a nossa ideologia, a do progresso que temos hoje, parte da idéia do crescimento indefinido, não somente em população, mas também em consumo.

Vemos a economia praticamente ao avesso, somente a parte do dinheiro, não os custos ambientais

 Vemos a economia praticamente ao avesso, somente a parte do dinheiro, não os custos ambientais. A medida que hoje usamos para medir o progresso, por exemplo, é o PIB - Produto Nacional Bruto, mas produto nacional bruto como medida de progresso é um contra-censo, porque ele mede somente fluxo de materiais, nada mais. O produto nacional bruto é a soma de todas as transações entre humanos; no produto nacional bruto não aparecem os custos ambientais. Quando derrubamos pinho para fazer madeira, no Produto Nacional Bruto naquele ano aparece o valor monetário daquela madeira vendida ou exportada, como se fosse uma riqueza criada naquele ano. Mas no Produto Nacional Bruto não aparece desconto pela descapitalização que agora ficou naquele bosque. Aquele pinho desaparecido no bosque não é descontado.

O Produto Nacional Bruto reflete ali uma riqueza criada enquanto na realidade é uma descapitalização. Não se criou nada. Então há aquela euforia de progresso, enquanto na realidade não houve progresso nenhum; nós apenas consumimos capital. Se eu ficar doente hoje e gastar 100 mil cruzeiros no hospital, o Produto Nacional Bruto sobe 100 mil cruzeiros, como se o país estivesse mais rico por causa disso. Mas isso é um custo e nós estamos vendo as coisas ao avesso. A verdadeira medida do progresso deveria descontar todos os custos ambientais. Vejamos no caso da Borregaard*: quando o governo permitiu a instalação da Borregaard, os economistas e os políticos viram as divisas que aquilo nos traria, parece que aquilo nos traria uns 25 milhões de dólares anuais e que daria uns 2 mil empregos. Como nós temos que dar emprego a dois milhões de pessoas por ano, qualquer um que se apresenta e oferece 100 empregos é recebido com grande entusiasmo; 25 milhões de dólares de divisas não deixa de ser uma medida importante, mas ninguém pensou, ninguém viu o outro lado da moeda, ninguém pensou em termos de custos ambientais. E essa é uma terminologia que temos de lançar. Nós temos que ensinar o público e os políticos a verem esses aspectos. A Borregaard, que por um lado ela nos traz 25 milhões de dólares de divisas e nos proporciona 2 mil empregos, por outro lado traz também desempregos. Enquanto de um lado esse emprego é visível, o desemprego é invisível. Para os 2 mil empregados que trabalham nos bosques da Borregaard, quem sabe se 20 mil pescadores já não perderam os meios de vida... Acontece que, se fechamos hoje a Borregaard, amanhã teremos 2 mil trabalhadores na rua, contestando, mas os vinte mil pescadores se retiraram pouco a pouco, sem protesto, pois não sabem nem porque se retiram, apenas notam que o rio não dá mais peixe. A celulose não somente estraga a paisagem, mas também os rios. Devemos pensar em outros termos, mas aí reside o conflito: desenvolvimento e sobrevivência da humanidade. Enquanto pensarmos somente em termos de dinheiro, continuaremos a destruir nosso ambiente.

Notas: 1)A entrevista foi concedida aos formandos de Agronomia da UFSM e repassada ao Departamento de Comunicação do DCE/UFSM que a publicou no Pica-Pau, suplemento de A Razão ( Santa Maria/RS)
2) Lutzenberger palestrou em evento do Diretório Acadêmico do Centro de Ciências Rurais, com o tema Problemática da Química na Agricultura, com um público de mais de 500 pessoas, quando emitiu tais conceitos.
*Borregaard: Nome antigo de uma indústria de celulose às margens do Rio Guaíba.

19 de agosto de 2010

Planta indiana é controle alternativo para moscas-das-frutas

Um dos maiores entraves que se encontra em relação à produção e comercialização de frutas frescas no Brasil consiste na presença de moscas-das-frutas nas áreas comerciais. Para garantir a produção de frutas in natura com baixos níveis de agrotóxicos e sem presença de moscas-das-frutas, uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba, estudou o controle alternativo de duas espécies de moscas-das-frutas — Anastrepha fraterculus (Wied.) e Ceratitis capitata (Wied.) —, mais prejudiciais à fruticultura brasileira.

No Brasil, as moscas-das-frutas são controladas basicamente por meio de iscas à base de inseticida mais atraente alimentar. Diferente dessa proposta, o pesquisador Marcio Alves da Silva optou pelo uso do nim (Azadirachta indica A. Juss.), planta indiana que possui vários compostos inseticidas e que foi introduzida no País na década de 1980.

O pesquisador, autor do estudo Avaliação do potencial inseticida de Azadirachta indica (Meliaceae) visando ao controle de moscas-das-frutas (Díptera: Tephritidae) comenta que a produção brasileira de frutas é concentrada em pólos regionais de desenvolvimento, caracterizados pela presença de produtores de pequeno, médio e grande porte, com pacote tecnológico variável e objetivos mercadológicos diversificados.

Considera, ainda, que o Brasil apresenta um mercado interno grande, pouco exigente e lucrativo. "Nesse cenário, ocorre migração de insetos-praga, para as áreas exportadoras, principalmente de moscas-das-frutas. Essas moscas são provenientes de áreas abandonadas ou de áreas com controle fitossanitário deficiente, resultando em aumento de custo de produção e posterior desestímulo ao modelo exportador", ressalta o pesquisador.

VANTAGENS

De acordo com o orientador do trabalho, professor José Djair Vendramin, do Departamento de Entomologia e Acarologia (LEA), algumas características específicas do nim o tornam bastante promissor para o uso no controle de pragas: "a planta não precisa ser destruída para se produzirem os extratos; possui uma multiplicidade de compostos, o que torna mais difícil aos insetos adquirirem resistência; a concentração de compostos ativos é alta; eles são solúveis em água, são fáceis de extrair e com baixo custo; pela sua forma de ação, eles são, de modo geral, mais tóxicos às pragas do que os inimigos naturais; os produtos são praticamente inócuos ao ambiente e ao homem; são totalmente biodegradáveis e com baixa persistência no ambiente."

Silva estudou a utilização de derivados do nim (extratos aquosos e orgânicos de amêndoas, folhas e ramos, além do óleo da amêndoa) compondo uma isca para adultos, substituindo os inseticidas. Avaliou o efeito dos derivados do nim como regulador de crescimento dos imaturos, esterilizante de adultos e, por fim, como deterrente de ovoposição.

"Os resultados iniciais obtidos com esse trabalho sugerem a adoção de duas medidas de controle alternativo para moscas-das-frutas. A primeira, visando ao controle da fase de larva em trânsito e ou pupa, estágio em que o inseto fica imobilizado no solo e, consequentemente, bastante vulnerável a medidas de controle. A segunda, utilizando os derivados do nim (Azadirachta indica A. Juss) como agentes repelentes de ovoposição numa perspectiva de implementação da estratégia de "push-pull" (atrai e mata)", conclui o pesquisador. Investigações pormenorizadas no sentido de disponibilizar essas duas estratégias para o fruticultor brasileiro serão executadas no LEA nos próximos anos.

MAIS INFORMAÇÕES

Pesquisador Márcio Alves Silva
Telefone: (19) 3429-4122 - Ramal 224




18 de agosto de 2010

Economia global: novos paradigmas

Por Darci Bergmann

Algumas décadas atrás  pessoas já alertavam para as crises que haveriam de assolar o Planeta, caso fossem mantidos os mesmos paradigmas de crescimento da economia. Naquela época, documentos como Os Limites do Crescimento e outros foram lidos por muitas lideranças, mas de prático pouca coisa mudou. Com a população aumentando e os padrões de consumo também, certamente haveria uma grande demanda de recursos naturais, alguns não renováveis. Some-se a isso a poluição nos seus vários aspectos e tem-se uma idéia da vulnerabilidade da civilização que já não consegue mais se recompor das inúmeras tragédias ambientais, apesar de tantos avanços tecnológicos.

No atual momento, em pontos diferentes do Planeta, ocorrem desastres naturais como enchentes e secas que já afetam a produção de alimentos, causam perdas de vidas humanas, problemas de saúde, entre outras mazelas.


As mudanças climáticas já seriam reflexo do aquecimento global?

Embora toda a discussão que esse tema sucita, a tempertaura média da Terra vem aumentando. Secas e enchentes já ocorreram em outros tempos, mas as consequencias desses desastres naturais hoje causam maior impacto sobre a espécie humana. É fácil de perceber que um dos fatores é o aumento populacional. Isto gera uma tremenda pressão por mais alimentos e bens de consumo, o que por sua vez necessita a ocupação de mais espaços naturais. O crescimento em espiral da atividade humana ligada ao aumento populacional é um modelo que não tem sustentabilidade. O modelo econômico atual calcado num mero crescimento vegetativo realmente não faz mais sentido. O Planeta está mostrando os seus limites para uma civilização que quer crescer infinitamente. Essa é a questão central da crise que nos assola. Queremos cidades opulentas, gigantescas que se transformam em enormes mercados consumidores. Mesmo cidades pequenas, com razoável qualidade de vida, adotam modelos de crescimento visando o aumento da área urbana numa visão equivocada de progresso. Prefeitos e vereadores querem arrecadar mais impostos e acham que cidades maiores contribuem na solução dos problemas. Mas é mais um equívoco desses conceitos ultrapassados e nada sustentáveis. O aumento do PIB quase sempre está ligado ao aumento dos problemas sociais e ambientais. Isto pode não ser visível numa pequena escala, mas a nível global percebe-se que esse indicador da economia não leva em conta variáveis como poluição e esgotamento de recursos naturais.

Planejamento familiar deveria ser prioridade em todos os países

É muito melhor prevenir do que  tentar remediar situações de calamidade. Alguns países já chegaram no limite  da população e adotam programas de controle da natalidade. No entanto na maioria dos países em desenvolvimento, por vários motivos, esse controle não existe na prática dos governos. As ocupações desordenadas dos espaços territoriais com políticas equivocadas só aumentam os problemas ao invés de resolve-los. O Brasil cometeu esse engano quando estimulou a migração de milhões de pessoas para áreas de baixa densidade populacional nos biomas Cerrado e Amazônia. A pressa fez com que o desmatamento aumentasse e milhões de hectares de terras foram destruídos. Não é por acaso que nesse momento em que escrevo essa matéria grande parte do Brasil está sendo assolado por queimadas com intensidade nunca antes vista. Pelo menos o novo censo já mostra que o crescimento populacional tende ao equilíbrio. Mas é preciso educar para um consumo  mais consciente, práticas ambientais e mudança de paradigmas, o que implica numa árdua e impostergável tarefa de governos e sociedade. Não vejo nenhum sentido quando se argumenta que é preciso exportar grãos para alimentar animais em outros países, com a destruição de forestas e solo a nível local. Ou a exportação de minério bruto, não renovável, para depois importar quinquilharias que só vão aumentar os lixões. Se alguém duvida, é só observar o que ocorre nas comemorações natalinas, quando o consumo de futilidades é exorbitante. Cito, a propósito, o tão propalado milagre da China. Esse país de população gigantesca consegue a proeza de atrair matérias primas de base alimentar produzidos por países que dilapidam a natureza - caso do Brasil. Na contrapartida do comércio internacional a China inunda esses países com uma gama de artigos, a maioria futilidades que depois viram lixo. As bugigangas incluem até árvores de enfeite natalino, luzinhas coloridas e outras parafernálias que em nada contribuem para a solução dos problemas estruturais do Brasil.


 Pessoas de visão propõem mudanças no modelo econômico
Na matéria   Sustentabilidade versus crescimento: limites do atual modelo econômico,  publicada pela Deutsche Welle, o autor Zhang Danhong (md),  expõe a opinião de vários especialistas, conforme transcrevo a seguir:

Para o economista alemão Gerhard Scherhorn, professor emérito de Mannheim, o problema central da humanidade é o esgotamento dos recursos naturais. "Nós esgotamos os recursos naturais por meio da sobrepesca dos oceanos, da redução do nível das águas subterrâneas, da diminuição da biodiversidade e do aquecimento global", afirma¨.


O ex-vice-ministro alemão do Meio Ambiente Michael Müller tem opinião semelhante. "Temos um histórico de desenvolvimento industrial em que os recursos materiais da Terra foram usados com desperdício e ignorância", afirma.

O mau exemplo China

Na opinião dele, a China sofrerá em breve as consequências das mudanças climáticas, causadas também pelo próprio crescimento econômico a todo custo. Ele lembra que, segundo os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o aquecimento global ameaçará sobretudo as zonas industrializadas próximas aos deltas dos rios chineses.


"Isso quer dizer que a China terá que organizar e financiar imensos programas de relocação de moradores. Eu não sei se o país é capaz disso. De qualquer forma, seria uma tragédia humana", alerta. A sua conclusão é que os limites de crescimento econômico já foram alcançados em todo o mundo.

O economista Hans Diefenbacher, de Heidelberg, acha necessária uma reconstrução dentro de padrões ambientais. Ele cita como exemplo a Alemanha. "Podemos começar isolando termicamente as construções antigas dentro dos próximos 30 anos, a um ritmo anual de 3%. Podemos também ampliar os sistemas de transporte público", sugere.

Ele sugere ainda que as pessoas sejam mais contidas nos seus gastos. Mas mudanças no estilo de vida dos consumidores podem levar a uma contração do Produto Interno Bruto (PIB), cujo crescimento é a medida de todas as coisas para os governantes de qualquer país.

Diefenbacher, que desde meados dos anos 80 estuda a forma como o crescimento econômico é medido, defende uma revisão desse critério. "O Produto Interno Bruto deve ser substituído como medida de crescimento por um novo indicador de qualidade de vida, pois muitos aspectos importantes não são considerados no PIB", afirma.

Primeiro, a distribuição de renda não é contemplada pelo Produto Interno Bruto, lembra. Em segundo lugar, ele também não reflete os danos ambientais causados pela produção e pelo consumo. "Também não reproduz devidamente o consumo de recursos naturais não renováveis", explica o economista.

Franceses chegaram à mesma conclusão

Ou seja, a distribuição de renda e o uso dos recursos naturais teriam que ser levados em consideração por um novo indicador. Mas também o trabalho doméstico e os serviços voluntários deveriam ser incluídos como fatores positivos, de acordo com Diefenbacher.

Por muito tempo, a discussão sobre crescimento e sustentabilidade recebeu pouca atenção. Agora, esse debate começa a sair do seu nicho. Em alguns países europeus, ele está mais avançado do que na Alemanha.

Como na França, onde uma comissão criada pelo governo Sarkozy e chefiada pelo Prêmio Nobel Joseph Stiglitz chegou ano passado à mesma conclusão: o PIB não é um indicador suficiente, e distribuição de renda e consumo de recursos naturais também devem ser considerados.

Autor: Zhang Danhong (md) (matéria em itálico)
Revisão: Alexandre Schossler

16 de agosto de 2010

Crianças são as principais vítimas dos metais pesados

Ilustração* 

Por Darci Bergmann

Crianças tem o hábito de botar objetos na boca e aí está um dos fatores de contaminação

As crianças são as principais vítimas dos metais pesados. Água, alimentos e utensílios podem ser os fatores de intoxicação, que é acumulativa. No caso do chumbo, este pode atingir o feto a partir da mulher grávida e a criança pode sofrer dano neurológico e ter o QI reduzido. No homem, o chumbo na corrente sanguínea pode produzir espermatozóides malformados e lerdos, o que implica em infertilidade ou fetos deformados.

O mineralograma é um exame importante

  No espaço SAÚDE, da Folha de São Borja, em 24/11/1998, o farmacêutico Rogério Esquici, com muita propriedade, expôs o seguinte: “LIVRAR-SE DOS METAIS - Está claríssimo o efeito tóxico dos metais pesados (chumbo, arsênio, mercúrio, alumínio, cádmio, níquel e outros) no organismo. Este é um aspecto que não está sendo considerado na avaliação clínica das patologias apresentadas pelo paciente. É muito preocupante a intoxicação por chumbo em crianças e por alumínio ou mercúrio nos adultos. Para diagnosticar este problema é necessário o MINERALOGRAMA (exame do cabelo), dentre outros exames, não só para identificar as intoxicações, mas também para investigar deficiências dos minerais nutricionais.”


Outras fontes de chumbo

Algumas tintas contém chumbo e cádmio. Componentes de plásticos e bijuterias baratas podem conter metais pesados. Encanamentos metálicos de qualquer tipo e os bebedouros coletivos podem conter chumbo. Até corantes para alimentos podem conter chumbo e cádmio. Existem acordos internacionais que procuram reduzir a intoxicação por metais pesados. Algumas indústrias já utilizam matéria prima isenta de contaminantes, como alguns fabricantes de brinquedos e de tintas e solventes. No entanto, há muitos metais pesados espalhados no ambiente e que atingem os mananciais de água.

A globalização também lança no mercado produtos contaminados com metais pesados e que chegam aos consumidores em países com rigorosa fiscalização. Vejamos alguns casos: “O fabricante de brinquedos Mattel pagará 12 milhões de dólares por ter vendido brinquedos que utilizavam tintas com chumbo. O valor será dividido entre 39 estados americanos. Em 2007, autoridades americanas fizeram o recall de 2 milhões de brinquedos da Mattel e da Fisher Price.” (Correio do Povo- 16/12/2008 Pág. 7).

“Washington – A empresa americana de artigos esportivos Reebok aceitou pagar multa de 1 milhão de dólares por ter entregue milhares de pulseiras de brinde contendo chumbo, o que provocou a morte de uma criança americana que engoliu o acessório. As pulseiras eram trocadas na compra de tênis da Reebok. Em março de 2006, foi emitido comunicado para retirada de 500 mil unidades fabricadas na China.” (Correio do Povo – 20/03/2008 Pág. 11).

No Brasil, faltam informações e a fiscalização é precária, como se pode ver a seguir
“Santo Amaro da Purificação – O descuido com a escória de chumbo, base para pavimentos e aterros, atormenta a população desta cidade baiana. Líderes comunitários reivindicam a realização de testes em larga escala nos bairros onde o material foi utilizado. O Ministério Público Federal quer que o caso passe para a Justiça Federal. “É um absurdo a situação perdurar tanto tempo sem a fiscalização do poder público”, criticou o Procurador da República na Bahia, Robério Nunes dos Anjos Filho. O procurador Alexandre Camanho disse que a Previdência deve atender à população afetada.” (Correio do Povo 08/07/2002 Pág. 12)

Produtos piratas podem contaminar mais
Nem todos os produtos comercializados legalmente entre os países oferecem segurança quando o assunto é metais pesados. Que dizer então dos produtos piratas? Não há garantia de qualidade e não há para quem reclamar. É preciso ter muito cuidado com alguns tipos de brinquedo e mesmo outros artigos vendidos a preços ¨mais acessíveis¨. Em caso de dúvida é melhor não adquirir produtos suspeitos, ainda que aparentemente sejam baratos. As crianças são muito sensíveis aos metais pesados.

Chumbo de caça

Esta é outra fonte de contaminação que já vem ocorrendo há séculos. O solo e os mananciais de água são depósitos de milhares de toneladas de projéteis de chumbo espalhados nos campos e matas do País. Além disso, o chumbo deixa partículas na carne do animal abatido e assim passa ao organismo humano. É comum também que pequenas esferas de chumbo fiquem encravadas nas carcaças dos animais abatidos a tiros. O impacto desses projéteis libera partículas do metal. Depois, no cozimento e fritura, mais metal pesado pode ser liberado.

Indios brasileiros caçam com armas de fogo

Assistindo uma reportagem sobre a cultura indígena, chamou-me atenção que os índios de uma tribo foram filmados na sua atividade de caça. Mas ao invés de arcos e flechas usavam armas de fogo. Se há um movimento no País a favor da cultura indígena, bom seria que a caça de subsistência fosse no sistema tradicional, isto é, sem arma de fogo. Além do mais, a longo prazo podem ocorrer problemas às crianças indígenas pela exposição ao metal pesado chumbo. Também o solo e os rios nas reservas indígenas vão acumulando chumbo. Na mesma reportagem apareceram índios preparando alimentos em panelas e bacias de alumínio. Nada a ver com a cultura indígena. A civilização corrompeu muito as tradições de certos índios. Até o regime alimentar foi alterado com a introdução de guloseimas praticamente sem nenhum valor nutritivo.

*FEPAM/RS

13 de agosto de 2010

A mensagem da borboleta



Por Darci Bergmann

Hoje, treze de agosto, uma sexta-feira. Acordei por volta das seis horas da manhã. Ainda na cama fiz uma respiração profunda e um alongamento da coluna. Em seguida uma mentalização rápida e o meu habitual agradecimento ao Criador pelo dom da Vida. Depois ainda acrescentei alguns pensamentos positivos, para que o dia fosse maravilhoso não só para mim mas para toda a humanidade. Lá fora estava escuro e o frio era intenso. Antes da higiene pessoal fiz mais um agradecimento por ainda estar com razoável disposição e até para me proteger dessa onda de pessimismo que assola o Planeta. Às sete horas, dia clareando, já estava em meio ao meu viveiro de mudas de espécies florestais nativas e exóticas. Estava fazendo a irrigação e algum reparo cultural nas plantas. Nessa época do ano vicejam junto às mudas algumas espécies competidoras de inverno. Em dias frios não aparecem muitos insetos, a não ser alguns pulgões e cochonilhas. As plantas então diminuem o metabolismo e não se tornam muito atraentes aos insetos.

Já quase ao final da rotina de irrigação fui surpreendido pelo adejar de uma borboleta. Sim, alegremente surpreendido. A tal ponto que fotografei aquela borboleta numa alegria quase infantil. Eram por volta das nove horas. E iniciei o meu expediente na minha micro-empresa com uma sensação de gratidão pela Natureza. E tinha motivos de sobra. Ela nos surpreende a todo o momento. Parece não ter lógica nenhuma. Desafia a metodologia científica e ainda nos enche de mistérios mesmo nas coisas que aparentam ser tão simples e corriqueiras. Essa borboleta única saiu do casulo em pleno rigor do inverno e justamente se apresentou numa sexta-feira, treze de agosto. Eu entendi aquilo como uma mensagem positiva. Talvez um recado da Natureza que clama por mais atenção da espécie humana. E talvez como um incentivo para que a minha luta não esmorecesse.

Quando aqui me estabeleci, há mais de 25 anos, eram poucas as árvores. Hoje é um pulmão verde com direito até a um auditório vivo. Aqui milhares de crianças e adolescentes já vivenciaram experiências em meio a um ambiente mais natural do que uma sala de aula comum. Às vezes tenho me queixado do cansaço em manter essa área como um refúgio natural, acrescido de um viveiro de mudas. Mas sempre encontro forças para continuar a luta. E o que mais me fascina é quando a Natureza  abre a sua caixinha de surpresas, como ocorreu hoje. Em outras ocasiões foram espécies de aves que aqui apareceram e até uma bugia se aquerenciou por bom tempo. A bugia depois caiu nas graças de um macho nas proximidades da cidade e hoje faz parte do seu harém. 

Voltando ao dia de hoje. Pela manhã, recebi várias pessoas de diferentes atividades e no meio delas jovens proprietários de terras motivados para a arborização. Pela tarde mais pessoas se mostraram interessadas em plantar mudas especialmente de espécies nativas. Um movimento inusitado, acima do normal. Seria isto sinal de que os tempos estão mudando? Jovens que em outros tempos não demonstravam muito interesse pelas coisas da Natureza, mais preocupados que eram em curtir um som alto em carros reluzentes. Tudo isso foi um sinal de esperança para mim. Nem tudo está perdido. Posso até discordar de algum maluco que anda por aí arrebentando a sua saúde para chamar atenção. Mas vislumbro que há luz no fim do túnel. Os jovens   certamente terão outro olhar sobre a Natureza. De mais respeito e admiração. E nós ambientalistas veteranos talvez tenhamos ajudado para isso.

Quis compartilhar com todos os meus leitores essa experiência gratificante de hoje. A mensagem da borboleta foi uma dádiva. Façamos uma grande corrente pela salvação do nosso Planeta. Não existem dias bons ou ruins. Ao acordar, pela manhã, agradeça a Deus pela Vida e pela Natureza e as borboletas mensageiras de boas novas certamente estarão adejando perto de voce. Que Deus abençoe a todos nós

                


12 de agosto de 2010

Beba água da torneira!

Faça isso em defesa da sua saúde, do seu bolso e do planeta

 Por Emanuel Cancella*

As multinacionais de bebidas fizeram a cabeça de grande parte do planeta. Com uma campanha milionária, venderam a idéia de que a água da torneira não presta. Nos comerciais, tentam nos encantar. Rios e córregos límpidos são exibidos como origem da água engarrafada. ? A água mineral é mais saudável? dizem os donos das grandes empresas de refrigerantes, as mesmas que mercantilizam agora a nossa água.

O filme The Story of Bottled Water (A história da água engarrafada) , postado no youtube no endereço http://www.youtube.%20com/watch? v=KdVIsEUXIUM, traz revelações chocantes sobre a construção da falsa necessidade de consumir água mineral. Na produção, a apresentadora Annie Leonard, informa que um terço da água engarrafada dos EUA vem da torneira. A Aquafina Pepsi e Dasani Coca-cola são duas entre muitas marcas que usam água da torneira.

Nada é mais caro do que a água mineral. Um litro de água engarrafada custa mais caro que um litro de gasolina. A água industrializada custa aproximadamente de 2.000 vezes mais que a água da torneira. E ainda tem o fator ambiental. Milhões de garrafas são utilizadas para comercializar a água. Sabe para onde vão essas embalagens depois de consumidas? Cerca de 80% será jogada em aterros sanitários, onde essas embalagens ficarão por milhares de anos. Só os norte-americanos, segundo o curta A história da água engarrafada, compram mais de meio bilhão de garrafas de água toda semana, quantidade suficiente para dar mais de cinco voltas ao redor do mundo.

 Até hoje, em minha casa só utilizávamos água mineral. Vou conversar com a família e, já adianto, de minha parte já vou trazer meu filtro de barro de volta e enchê-lo com água da torneira. E você vai fazer o quê?

 *Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ


11 de agosto de 2010

OUTROS RISCOS DA ENERGIA NUCLEAR

Por Darci Bergmann
Como se não bastassem os diversos acidentes já ocorridos com reatores nucleares, tem-se agora uma nova situação com outras ameaças radioativas na Rússia. O acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, espalhou material radioativo para o território russo. Agora, com o intenso calor e muitos incêndios algumas dessas áreas contaminadas poderão espalhar para outras regiões as partículas radioativas.

Esse fato mostra o quanto é preocupante o uso da energia atômica de fissão nuclear.  Nunca se tem segurança plena com essa tecnologia. Os defensores dessa modalidade de energia argumentam uma série de vantagens e vem dizendo que os reatores atuais são muito mais seguros que os de algumas décadas atrás. Esse discurso seduziu muitos líderes e até alguns ambientalistas. No artigo Pesadelo Nuclear coloquei a minha percepção sobre o tema depois de muitas leituras. Não esqueço também de um debate que teve a participação de José Antônio Lutzenberger, contrário à instalação de usinas nucleares.

Abaixo transcrevo matéria divulgada pela Deutsche Welle e que mostra que ainda não termninou o pesadelo do acidente nuclear de Chernobyl

Rússia admite que fogo chegou a regiões de contaminação radioativa

Chamas chegam à área contaminada

Fogo na Rússia atinge área de contaminação radioativa. O temor é que as chamas liberem partículas radioativas assentadas nas florestas de Bryansk, após a catástrofe de Chernobil, há quase 25 anos.

Autoridades russas confirmaram nesta quarta-feira (11/08) que o fogo atingiu uma área do país contaminada com radioatividade. Os incêndios florestais que castigam a Rússia há semanas chegaram a Bryansk, região na fronteira com a Ucrânia que sofreu contaminação em decorrência da explosão do reator de Chernobil, em 1986.

Desde e a última sexta-feira (06), fontes oficiais contabilizaram 28 focos de incêndio nas proximidades de Bryansk, num total de 269 hectares de área queimada. A região é tida como uma das mais perigosas do planeta, devido à exposição radioativa sofrida há quase 25 anos.

O fogo também atingiu outras regiões contaminadas, como a área próxima a Chelyabinsk, na região Ural, que também abriga diversas instalações nucleares.

"Há mapas em que é possível ver a contaminação radioativa e outros mapas em que é possível ver os incêndios. Quando colocamos um sobre o outro fica claro para todos que as áreas contaminadas estão em chamas", informou a Agência Florestal Federal da Rússia.

Risco de contaminação

O governo russo havia negado, previamente, que o fogo estivesse consumindo as zonas afetadas pela radioatividade. A organização ambientalista Greenpeace, no entanto, denunciou a situação e acusou o governo de manter a população desinformada sobre o risco iminente.

O ministro russo de Prevenção de Catástrofes, Sergei Schoigu, já havia demonstrado preocupação: "Se houver incêndio nessa região, não serão liberados apenas materiais poluentes comuns, mas também partículas radioativas. Isso pode criar uma nova zona contaminada. Por isso nós reforçamos a nossa presença na região. Entre outros meios, contamos também com um grupo de robôs-bombeiros."

                                                   Região de fronteira contaminada por Chernobyl

Região de fronteira contaminada por ChernobilNikolai Schmatkov, da WWF, diz que o risco é imenso: "As partículas radiativas ficam por um longo período na floresta. Elas se instalam, principalmente, na madeira morta e seca, em galhos quebrados, na turfa ou nas folhas dos pinheiros acumulados no chão. Todo esse material é altamente inflamável."

Segundo o ambientalista, material radioativo como o Césio 137 pode ser liberado com a fumaça. "Quando a floresta começa a queimar, as nuvens e a poeira podem conter partículas radioativas, atingir as camadas superiores da atmosfera e atingir grandes distâncias. Fuligem e cinzas podem alcançar também povoações, e por isso são um grande perigo", esclarece Schmatkow.

Prejuízo econômico

A onde de calor na Rússia pode provocar também perdas econômicas estimadas entre 5 e 12 bilhões de euros e, ainda, comprometer a modesta recuperação econômica do país. A cifra foi calculada com base em perdas na agricultura, indústria e no setor de serviços, sem contar as doenças e mortes.

Várias fábricas suspenderam a produção durante a onda de calor para poupar os trabalhadores das altas temperaturas. A fumaça que tomou conta de Moscou também esvaziou o comércio da capital russa.

Antes de os termômetros atingirem marcas recordes neste ano, a previsão de crescimento da economia russa era de 4% em 2010. Alexander Morozov, economista-chefe para a Rússia e Comunidade dos Estados Independentes (CEI) do banco HSBC em Moscou, afirmou esperar que os prejuízos gerados pela onda de calor – que provocou a maior seca dos últimos 130 anos e incêndios – correspondam a 1% do Produto Interno Bruto da Rússia.

Batalha contra o fogo

Os bombeiros continuam tentando controlar o fogo que ainda consome uma área equivalente a cerca de 92 mil campos de futebol na Rússia. Na última terça-feira, o fogo atingia uma área de 174 mil hectares, mas nesta quarta-feira a área total de incêndios diminuiu pela metade, embora exista ainda centenas de focos de incêndio. Devido às chamas, 54 pessoas morreram no país.

NP/afp/dpa/dw

Revisão: Carlos Albuquerque



10 de agosto de 2010

Aumento das temperaturas pode prejudicar rizicultura

10/08/2010 - Autor: Fernanda B. Müller - Fonte: CarbonoBrasil


Um novo estudo publicado na última edição do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences e desenvolvido com dados reais de vários pontos de produção de arroz na Ásia, indica que o aumento das temperaturas pode prejudicar a produtividade.

Para minimizar o problema, que pode resultar em uma crise global no setor alimentício, os agricultores teriam que adaptar as práticas de manejo das culturas de arroz e passar a plantar variedades mais tolerantes ao calor.

O grupo de cientistas, liderado por Jarrod Welch da Universidade da Califórnia, descobriu que a produtividade do arroz cai com o aumento contínuo das temperaturas no período noturno.

“Com poucas exceções, grande parte dos estudos estatísticos sobre a temperatura e a produtividade do arroz focaram nos impactos das médias diárias da temperatura”, explicam os pesquisadores que utilizaram dados do período 1994-1999.

O estudo demonstra que o aumento das temperaturas ao longo dos últimos 25 anos já reduziu a taxa de crescimento da produtividade entre 10-20% em vários locais

9 de agosto de 2010

Cientistas procuram 100 espécies de anfíbios “perdidos”

Washington, DC, 09 de agosto de 2010 —

Foto: Rã incubadora: as fêmeas engoliam os ovos fertilizados e os chocavam no estômago. Davam à luz a girinos pela boca.



Equipes de cientistas ao redor do mundo começaram uma busca inédita na esperança de redescobrir 100 espécies de anfíbios “perdidos”. São animais considerados potencialmente extintos, mas que podem existir em alguns poucos lugares remotos, anunciaram hoje a Conservação Internacional e o Grupo de Especialistas em Anfíbios da União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês).

A procura, que já começou em 14 países nos cinco continentes, é o primeiro esforço coordenado já realizado para encontrar um número tão grande de criaturas “perdidas” e ocorre em um momento em que as populações mundiais de anfíbios sofrem um declínio dramático – com mais de 30% de todas as espécies ameaçadas de extinção. Duas das expedições de busca ocorrerão no Brasil (ver informações ao final do texto).

Muitos dos anfíbios que estão sendo procurados não são vistos há várias décadas. Os cientistas estão procurando entender a recente crise de extinção dos anfíbios, por isso é vital conhecer se as populações sobreviveram ou não. Os anfíbios provêem muitos serviços importantes para o equilíbrio do meio ambiente e também para a qualidade de vida humana, como o controle de insetos que espalham doenças e destroem plantações agrícolas e a manutenção de sistemas aquáticos saudáveis. A pele desses animais contém componentes químicos fundamentais para a criação de medicamentos que podem salvar vidas, incluindo um analgésico 200 vezes mais potente do que a morfina.

“Os anfíbios são particularmente sensíveis às mudanças no meio ambiente, por isso são geralmente um indicador do dano que tem sido causado aos ecossistemas,” explica Robin Moore da Conservação Internacional, que organizou a busca para o Grupo de Especialistas em Anfíbios da IUCN. “Esse papel de ‘anunciador da crise’ significa que as alterações rápidas e profundas que têm ocorrido no meio ambiente nos últimos 50 anos– particularmente a mudança climática e a perda de habitat – têm tido um impacto devastador nessas criaturas. Organizamos esta procura por espécies ‘perdidas’ que acreditamos terem conseguido sobreviver para obtermos respostas e para saber o que permitiu a algumas pequenas populações de certas espécies sobreviverem quando o resto de sua espécie desapareceu”, esclarece Moore.

Os problemas que os anfíbios enfrentam como resultado de perda de habitat têm sido bastante potencializados por um fungo patogênico que causa quitridiomicose, uma doença que devastou populações inteiras de anfíbios e, em alguns casos, já é responsável até mesmo pela extinção de espécies.

Dentre as 100 espécies selecionadas para a busca, Moore e sua equipe fizeram uma lista das “10 principais” espécies cuja redescoberta seria ‘mais emocionante’ para os pesquisadores. “Embora reconheçamos que é muito difícil atribuir importância e priorizar uma espécie em detrimento da outra, criamos a lista das 10 principais porque acreditamos que estes animais em particular têm um valor científico ou estético especial”, pontua.

As 10 principais espécies são:

1. Sapo dourado, Incilius periglenes, Costa Rica. Visto pela última vez em 1989. Talvez o mais famoso anfíbio perdido. Passou de abundante a extinto em pouco mais de um ano no final dos anos 1980.

2. Rã “incubadora”, Austrália (a rã não tem nome comum em português). Duas espécies – Rheobatrachus vitellinus e R. silus, vistas pela última vez em 1985. (Tinha uma forma singular de reprodução: as fêmeas engoliam os ovos fertilizados e os chocavam no estômago. Davam à luz a girinos pela boca.)

3. O sapo da mesopotâmia, Rhinella rostrata, Colômbia. Visto pela última vez em 1914. Tem forma fascinante, com uma cabeça distinta em formato de pirâmide.

4. Salamandra Bolitoglossa jacksoni, Guatemala. Vista pela última vez em 1975. Uma impressionante salamandra preta e amarela – uma das únicas duas espécies conhecidas, acredita-se que foi roubada de um laboratório na Califórnia em meados dos anos 1970.

5. O sapo africano Callixalus pictus (sem nome comum em português), República Democrática do Congo/Ruanda. Visto pela última vez em 1950. Muito pouco se sabe sobre esse animal.

6. Sapo do Rio Pescado, Atelopus balios, Equador. Visto pela última vez em abril de 1995. Pode muito bem ter sido dizimado pelo fungo quitridiomicose.

7. Salamandra Hynobius turkestanicus (sem nome comum em português), Quirguistão, Tadjiquistão ou Uzbequistão. Vista pela última vez em 1909. Conhecida pelos únicos dois espécimes coletados em 1909 em algum lugar “entre Pamir e Samarcanda”

8. Sapo arlequim; Atelopus sorianoi, Venezuela. Visto pela última vez em 1990. Encontrado em um único riacho em uma floresta isolada do país.

9. Rã sem teto, Discoglossus nigriventer, Israel. Vista pela última vez em 1955. Um único adulto coletado em 1955 representa o último registro confirmado da espécie. Esforços para drenar pântanos na Síria para erradicar a malária podem ter sido responsáveis pelo desaparecimento da espécie.

10. Sapo Ansonia latidisca (sem nome comum em português), Bornéu (Indonésia e Malásia): Visto pela última vez nos anos 1950. O aumento da sedimentação nos riachos após o desflorestamento pode ter contribuído para o declínio.

Para Claude Gascon, co-presidente do Grupo de Especialistas em Anfíbios da IUCN e Vice-Presidente Executivo da Conservação Internacional, a iniciativa é pioneira e de extrema importância, não apenas devido às ameaças que os anfíbios enfrentam e nossa necessidade de entender melhor o que tem ocorrido com eles, mas também porque representa uma oportunidade incrível para os cientistas de redescobrir espécies há muito tempo perdidas. “A busca por esses animais perdidos pode render informações vitais em nossas tentativas de parar a crise da extinção dos anfíbios e ajudar a humanidade a entender melhor o impacto que temos no planeta”, avalia.

Expedições no Brasil

Crossodactylus grandis (sem nome popular)- Visto pela última vez na década de 1960. A pesquisa, liderada por Taran Grant, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, acontecerá em cidades de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro de 18 a31 de setembro.. A espécie foi descrita a partir de Brejo da Lapa, Itamonte (Minas Gerais).

Cycloramphus valae (rãzinha-das-pedras) - Vista pela última vez em 1982. Liderada por Patrick Colombo, doutorando da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, a pesquisa acontecerá entre 20 a 30 de setembro. A espécie é conhecida em quatro localidades da Mata Atlântica nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Para acompanhar a busca pelos anfíbios perdidos, acesse: www.conservation.org/lostfrogs

6 de agosto de 2010

Justiça proíbe glifosato em cidade argentina. Casos de câncer preocupam

Justiça de Santa Fé proibiu uso deste e de outros agrotóxicos nos campos da cidade de San Jorge e determinou um estudo sobre impacto ambiental e na saúde humana em toda a província. O uso de glifosato, um herbicida de amplo espectro (mata tudo) muito empregado nas lavouras de soja transgênica, vem ocorrendo, decidiu a Justiça, em aberta violação às normas legais vigentes, causando severos danos ao meio ambiente e à saúde da população. Diretor do Centro de Proteção à Natureza denuncia explosão de casos de câncer na região.

Redação - Carta Maior

A Justiça da província argentina de Santa Fé proibiu o uso de glifosato (comercializado pela Monsanto com o nome de Roundup) e de outros agrotóxicos nos campos da cidade de San Jorge. A Câmara Civil e Comercial de Santa Fé confirmou decisão de primeira instância que havia proibido o uso de agrotóxicos nesta região.

A ação que motivou a proibição denuncia que nos últimos cinco anos a população do bairro Urquiza foi duramente castigada com reiteradas fumigações, tanto aéreas como terrestres, realizados pelos proprietários ou arrendatários de áreas rurais próximas ao povoado. O uso de glifosato, um herbicida de amplo espectro (mata tudo) muito empregado nas lavouras de soja transgênica, vem ocorrendo, decidiu a Justiça, em aberta violação às normas legais vigentes, causando severos danos ao meio ambiente e à saúde da população.

Em entrevista ao site argentino Primera Fuente, o dirigente do Centro de Proteção à Natureza, Carlos Manessi, anuncia que a entidade (proponente da ação judicial) pretende agora estender essa proibição a toda província de Santa Fé e a toda Argentina (ver vídeo acima). “Deixar as pessoas doentes e contaminar o solo constituem a pior herança que podemos deixar às gerações futuras. Estão eliminando todas as formas de vida na região e contaminando a água pelo uso do glifosato, entre outros agrotóxicos”, destaca.

O glifosato é o agrotóxico mais usado hoje na agricultura Argentina. Estima-se que são aplicados entre 160 e 180 milhões de litros por ano em um mercado que movimenta cerca de US$ 600 milhões. Aproximadamente 70% desse produto é usado em lavouras de soja.

Segundo Manessi, são muitos os exemplos existentes sobre as conseqüências do uso desses agrotóxicos na saúde das pessoas e do meio ambiente. Um deles é a grande proliferação de casos de câncer em populações que vivem próximas às lavouras de soja.

“Acreditamos que não faltam mais provas. O que é preciso agora é que as autoridades e os produtores tomem consciência dos danos que estão sendo causados. Essa forma de produzir só traz dor e pobreza para a maior parte da população”, lamenta.





"Vida segue adiante", diz alemão sobrevivente da explosão de Hiroshima

 
Cerimônia pelos 65 anos da bomba de Hiroshima

Há 65 anos, os EUA lançavam uma bomba atômica sobre a cidade para forçar a capitulação japonesa. Três dias mais tarde, era destruída Nagasaki. Um padre alemão conta sobre a explosão de Hiroshima e o horror que se seguiu.

Nesta sexta-feira (06/08), o Japão recorda os 65 anos da explosão atômica sobre Hiroshima. Pela primeira vez, a cerimônia contou com a presença de um diplomata dos Estados Unidos, país responsável pela destruição daquela cidade insular e, três dias mais tarde, de Nagasaki. Os ataques forçaram a capitulação japonesa e se tornaram marcos para o fim da Segunda Guerra Mundial.

Ao lado de representantes de 70 países, também esteve em Hiroshima o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon. Ele aproveitou a oportunidade para pleitear pelo desarmamento atômico global, propondo o fim de todos os testes nucleares a partir de 2012.

O embaixador norte-americano John Roos declarou ser preciso trabalhar "por um mundo sem armas nucleares", "pelo amor das gerações futuras". É preciso garantir que um conflito atômico jamais se repita, insistiu. O premiê japonês, Naoto Kan, saudou a presença de Ban e de Roos.

                    Embaixador dos EUA John Roos (e) ao lado do prefeito de Hiroshima, Tadatoshi Akiba

Testemunho de um sobrevivente

O 6 de agosto de 1945 foi um dia quente em Hiroshima, já cedo de manhã a temperatura era de 30ºC à sombra. O padre alemão Klaus Luhmer andava pelo jardim do noviciado dos jesuítas, num subúrbio daquela cidade japonesa, rezando o seu breviário. Natural da cidade de Colônia, ele fora enviado ao Japão alguns anos antes como missionário.

Súbito aguçou os ouvidos: às 8:14h ele escutou, primeiro, o ruído de um bombardeiro B29. "E aí apareceu, coisa que não entendi, de forma alguma: mais brilhante do que o sol, uma espécie de meia-esfera, pareceu-me. E me veio instintivamente a ideia de que fosse uma bomba normal, que explodira atrás do morro mais próximo."

Mas o que o padre vira naquela manhã não era uma explosão comum, e sim a detonação da bomba atômica sobre o centro de Hiroshima, a quatro quilômetros de distância.
Padre Klaus Luhmer sobtrevivente da explosão

Luhmer procurou
cobertura no jardim, desceu apressado os degraus que levavam ao porão da casa, salvando-se no último momento.
"Quando vi esse brilho ofuscante, uma onda de calor passou sobre mim. E a onda de choque. A casa tremeu e balançou, três quartos das telhas caíram como uma chuva e os vidros de todas as janelas se quebraram", recorda.

Chuva negra

Tentando entender o que ocorrera, o jesuíta subiu o morro atrás do noviciado, de onde viu que toda Hiroshima estava em chamas. E observou outra coisa: "O céu estava claro. Mas de repente vieram nuvens negras e começou a chover. E era uma chuva preta, estava impregnada da cinza."

Pouco depois, Luhmer retornou à casa. As primeiras vítimas já haviam se arrastado para fora da cidade: a pele lhes pendia dos ossos, como trapos, o tecido da roupa de alguns havia derretido, fundindo-se com a pele. Os padres transformaram uma mesa de refeições em maca e começaram a tratar dos feridos. Eles ainda não tinham ideia do que acontecera, só sabiam que era necessário ajudar.

Alguns foram até a cidade, onde se depararam com um quadro inimaginável: hordas de flagelados vinham a seu encontro, havia incêndios por todos os lados, casas e edifícios desmoronados, entre os destroços, inúmeros mortos e feridos.

"Havia 30, 40 soldados uniformizados, meio queimados. Eles não gritavam, nem mesmo gemiam, só diziam 'Misu, misu', quer dizer: 'Água, água'. Nós conseguimos ajudá-los, pois por perto havia um poço, lhes demos água."

O padre Luhmer interrompe a narrativa, sua voz fica mais forte. "Mas uma pessoa sozinha, o que pode fazer? Seria preciso dezenas, centenas, centenas de mãos para transportar os mais necessitados."

                                 A cidade destruída, um mês depois

O horror depois

Os ajudantes trabalharam na cidade destroçada durante dois dias, até que as Forças Armadas japonesas fecharam Hiroshima hermeticamente e enviaram soldados à cidade. "Sua missão era retirar das ruínas os cadáveres que encontrassem, atirá-los num grande monte, jogar gasolina por cima e atear fogo. Foi o que sobrou das pessoas, elas foram dadas como desaparecidas."

Exaustos, os jesuítas retornaram em 8 de agosto para casa, mas o horror não chegara ao fim. Uma menina a que Luhmer dava aulas de piano estava à sua espera: seu pai havia morrido, ela lhe pediu que cuidasse da incineração. A fim de poupar desta tarefa a esposa do morto, ele reuniu palha e madeira para a pira fúnebre.

"E foi um mau cheiro horrível, jamais vou esquecer. Não sei como explicar a alguém o que foi incinerar esse cadáver totalmente contaminado de radiação." O religioso se interrompe mais uma vez, sua voz fica baixa, soa quase espantada: "Mas você fica incrivelmente calejado com essas coisas todas. E a forma como as pessoas se recuperam após uma catástrofe dessas: essa é uma história fascinante sobre a vida humana. Ela segue adiante, adiante, sempre adiante."

Autor: Silke Ballweg / A. Valente
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte :Deutsche Welle