29 de novembro de 2014

Tatuagens constituem risco de saúde incalculável

Fonte: DW

Entre química e impurezas, desenhos corporais injetam no organismo um sem número de substâncias tóxicas, muitas vezes nem testadas. Especialistas presumem que sejam cancerígenas, mas não há estudos nem leis suficientes.


Quem gostaria de injetar alguns gramas de verniz de carro sob a pele? 
Ou um pouco de fuligem resultante da combustão de petróleo ou alcatrão?
Provavelmente ninguém. Mas isso é o que recebem todos os que se deixam tatuar. "Os pigmentos para tatuagens contrastantes e de longa duração foram desenvolvidas para cartuchos de impressora e tintas de automóveis", revela Wolfgang Bäumler, professor do Departamento de Dermatologia da Universidade de Regensburg, em entrevista à DW.
Acima de tudo, as tintas de tatuagem não foram desenvolvidas para estar sob a pele. Grandes empresas químicas fabricam toneladas de pigmentos coloridos, principalmente para fins industriais; empresas pequenas os compram e transformam em produtos para tatuagem.
"As substâncias nunca foram testadas para aplicação subcutânea", diz à DW Peter Laux, do Instituto Federal Alemão de Avaliação de Riscos (BfR) em Berlim. "A própria grande indústria diz que, na verdade, os pigmentos não são feitos para isso."
Da pele para o organismo inteiro
Wolfgang Bäumler acrescenta que as tintas de tatuagem precisam ser "brutalmente insolúveis em água". Isso já torna a prática perigosa, pois o corpo não tem como se livrar facilmente delas. De acordo com um recente estudo americano, apenas dois terços dos produtos utilizados nas tatuagens permanece sob a pele: o restante se espalha pelo corpo.
"As substâncias vão para o sangue, para os nódulos linfáticos, os órgãos, e vão parar em algum lugar. Onde, exatamente, não se tem ideia", relata o dermatologista.
Arco-íris de produtos químicos
Numa sessão de tatuagem, produtos químicos não testados são lançados no organismo
Os produtos químicos para as cores vermelho, laranja e amarelos são compostos azólicos – substâncias orgânicas com uma má reputação, que costumam desencadear alergias. Algumas delas, como o Pigment Red 22, podem se decompor, se a tatuagem for exposta á luz solar, diz Bäumler. Os compostos resultantes são tóxicos e cancerígenos.
Compostos chamados ftalocianinas, que resultam em azul e verde brilhante, geralmente contêm cobre e níquel. Também nos pigmentos marrons com óxidos de ferro, muitas vezes há presença de níquel. O metal provoca alergias de contato em muitas pessoas e é proibido em cosméticos. Nos produtos para tatuagens, contudo, ele continua sendo frequente.
Tatuagens pretas, por sua vez, são feitas com derivados de um material chamado Carbon Black. Ele nada mais é do que fuligem industrial, produzida quando a indústria química queima petróleo, alcatrão ou borracha.
Impurezas cancerígenas
No entanto os especialistas salientam que não só as cores são perigosas. "Além dos elementos corantes, produtos para tatuagem podem também conter outras substâncias, como solventes, espessantes, conservantes e diversas impurezas", adverte o BfR.
De acordo com Peter Laux, impurezas são a regra, não a exceção. "Os departamentos regionais de diagnóstico se queixam regularmente sobre a qualidade química das substâncias para tatuagem que eles controlam."
Entre essas impurezas, os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são particularmente perigosos. Formados durante as combustões incompletas, também na produção de fuligem, muitos são comprovadamente cancerígenos. Nas tintas pretas para tatuagem, estão muitas vezes presentes em concentrações acima do limite recomendado.
"Consta que os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos se desprendem continuamente durante o processo de tatuagem e se espalham pelo corpo. Os níveis medidos são um risco sério à saúde e segurança dos consumidores", adverte o BfR.
Laux acrescenta que "também há no mercado substâncias para tatuagens que cumprem os requisitos". No entanto, é difícil para o consumidor definir qual substância é boa e qual não.
 Segundo FDA, cerca de 25% dos americanos têm tatuagem
 Regulamentação insuficiente
Na Alemanha e em muitos outros países, as substâncias para tatuagens não são consideradas nem medicamentos nem cosméticos – e aí reside o problema. Porque esses produtos precisam atender determinados requisitos antes de poder sequer entrar no mercado. No caso dos medicamentos, análises de segurança mostram o que acontece exatamente com uma substância no corpo, como ela é metabolizada, e quais outras substâncias podem se formar a partir dela. Para as tatuagens, não há tais regulamentações.
Em 2008, o Conselho Europeu expediu uma resolução determinando o controle mais rigoroso dos produtos para tatuagens, e muitos países implementaram leis e regulamentações concernentes. Mas, de acordo com Peter Laux, todas são insuficientes.
Uma portaria relativa a substâncias de tatuagem de 2009 proíbe na Alemanha o uso de certas substâncias, e uma lista especifica exatamente o que é proibido. "Todas as demais substâncias são permitidas, mesmo produtos químicos que acabam de ser desenvolvidos por um fabricante e nunca foram previamente testados."
"Precisamos criar listas positivas", reivindica Laux. Isso significa que, ao invés de substâncias proibidas, a portaria deveria conter as permitidas que tiveram a sua segurança comprovada.
Incerteza é única certeza
Em diversas sociedades, tatuagem é símbolo cultural antigo.
Por exemplo, na máfia Yakuza do Japão
Até mesmo tatuadores profissionais concordam que a situação não é satisfatória. "Em nossa opinião, no momento as tintas de tatuagem não são realmente seguras", admitiu Andreas Schmidt, vice-presidente da associação Tatuadores Alemães Organizados, num simpósio em Berlim sobre a segurança dos produtos empregados.
Ele exige testes toxicológicos para os componentes, mas acrescenta: "Estamos otimistas de que há apenas alguns problemas com as tintas, caso contrário haveria mais reclamações de clientes e mais matérias em jornais e revistas".
No entanto, os especialistas lembram que o câncer muitas vezes precisa de décadas para se desenvolver, e a conexão não é tão fácil de provar.
Até agora, as substâncias para tatuagens não são testadas quanto a seus riscos. Faltam estudos em seres humanos, de curto quanto e de longo prazo. Experimentos em animais são proibidos. O dermatologista Bäumler foi judicialmente impedido de efetuar um teste de produtos de tatuagem em porcos. "A justificativa foi que as pessoas que se deixam tatuar o fazem voluntariamente", conta.
Portanto, ninguém ainda pode afirmar ainda se tatuagens são prejudiciais à saúde ou não. Talvez provoquem câncer – talvez não.
Peter Laux arremata que cada um deve decidir por si se quer fazer uma tatuagem ou não – o BfR não faz nenhuma recomendação. "Até agora só sabemos que não há qualquer garantia de que as substâncias para tatuagens sejam seguras para a saúde."
29-11-2014
Autoria: Brigitte Osterath

31 de outubro de 2014

Evitar colapso climático exige recuperação da Floresta Amazônica

É preciso iniciar imediatamente “um esforço de guerra” de recuperação do que foi destruído nos últimos 40 anos no Brasil

Reduzir a zero o desmatamento da Amazônia já não é suficiente para evitar um colapso climático na América do Sul. É preciso iniciar imediatamente “um esforço de guerra” de recuperação do que foi destruído nos últimos 40 anos no Brasil – uma área de 763 mil km², equivalente a duas Alemanhas, ou três Estados de São Paulo.
As conclusões são de um relatório científico que sintetizou mais de 200 estudos sobre o papel da Floresta Amazônica no sistema climático, na regulação das chuvas e na exportação de serviços ambientais para as áreas produtivas do continente. Conduzido por Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estudo foi lançado nesta quinta-feira, 30, em São Paulo.
“Já foram destruídas pelo menos 42 bilhões de árvores na Amazônia. Em 40 anos, foram cerca de 2 mil árvores por minuto. Os danos dessa devastação já são sentidos, tanto no clima da Amazônia – que tem sua estação seca aumentando a cada ano – quanto a milhares de quilômetros dali”, disse Nobre.
Segundo ele, a floresta mantém úmido o ar em movimento, levando chuvas para regiões internas do continente. A floresta também ajuda a formar chuvas em ar limpo – o que não acontece no oceano, por exemplo. “O ar úmido é exportado para o Sudeste, o Centro-Oeste e o Sul do Brasil, por rios aéreos de vapor, mais caudalosos do que o Rio Amazonas. Sem isso, o clima nessas regiões se tornará quase desértico. Atividades humanas como a agricultura entrarão em colapso”, declarou.
Nobre explicou que a Amazônia regula o clima do continente graças à capacidade das árvores de lançar umidade na atmosfera. Cada árvore com uma copa de 10 metros, segundo ele, retira diariamente das profundezas da terra cerca de mil litros d´água, que são lançadas no ar em forma de vapor. Com isso, a floresta chega a transferir 20 trilhões de litros d´água por dia para a atmosfera.
“Se quiséssemos reproduzir artificialmente esse fenômeno, para evaporar essa quantidade d´água precisaríamos da energia de 50 mil usinas de Itaipu, ou cerca de 200 mil usinas de Belomonte”, afirmou.
Bomba de umidade
Segundo ele, uma nova teoria considera a Amazônia como uma “bomba biótica”: a transpiração das árvores, combinada à condensação vigorosa na formação de nuvens de chuva, rebaixa a pressão atmosférica sobre a floresta. Com isso, a floresta “suga” o ar úmido do oceano para o continente, mantendo as chuvas em qualquer circunstância.
“Isso explica por que não temos desertos nem furacões a leste dos Andes. Pelo menos até agora, porque se continuarmos derrubando a floresta, o fluxo se inverterá: o oceano é que sugará a umidade da Amazônia. Assim, poderemos ter no continente um cenário semelhante ao da Austrália, com grandes desertos e uma franja úmida próxima do mar”, afirma o pesquisador.
A redução do desmatamento na última década, segundo Nobre, é insuficiente para deter as dramáticas alterações no clima. “Não adianta dizer que reduzimos o desmatamento em 80%. O que importa é o passivo de desmatamento que já provocamos. Estamos quebrando nossa bomba biótica de umidade”, disse.
Além dos mais de 763 mil km² de florestas completamente devastadas, o sistema da Amazônia também sofre com o impacto das florestas degradadas, que segundo Nobre são áreas muito maiores onde só há “esqueletos de árvores” que não exercem mais os mesmos serviços ambientais. “Ao todo, acumulamos um total de quase 1,3 milhão de quilômetros quadrados de florestas comprometidas”, afirmou.
Com toda a devastação empreendida até agora, segundo Nobre, o clima da própria Amazônia foi alterado, tornando-se mais seco e facilitando o alastramento das queimadas. “Quem conhece a Amazônia há muito tempo sabe como era difícil acender uma fogueira naquela umidade. Hoje o fogo se acende facilmente, fazendo da Amazônia um crematório de riqueza genética.”
Nobre afirmou que a expansão da estação seca trará problemas econômicos de grandes dimensões para a produção agrícola. “Substituir as florestas por plantações é o que chamo de ´ilusão do agronegócio´. Eles pensam que estão conquistando terreno para plantar, mas com uma estação seca de até sete meses por ano, a irrigação – que é dispendiosa – tornará a atividade inviável. Sem falar na falta de água”, declarou.
Esforço de guerra
De acordo com Nobre, o público-alvo do relatório – intitulado “O Futuro Climático da Amazônia” – não é nem o governo, nem a comunidade científica, mas o público leigo. “Fiquei assombrado com a quantidade de estudos que comprovam os impactos da Amazônia no clima. A sociedade não pode ficar alheia a essa montanha de evidências científicas. Se demorarmos para agir, é provável que tenhamos que lidar com prejuízos inconcebíveis para quem sempre teve água fresca provida pela floresta, mesmo a milhares de quilômetros dela. Essa realidade tem que entrar no nosso imaginário”, declarou.
Segundo ele, é preciso iniciar um “esforço de guerra contra a ignorância”. “Em 2008, quando estourou a bolha financeira de Wall Street, os governos agiram rapidamente: em 15 dias, mobilizaram trilhões de dólares para salvar os bancos privados. É preciso agir com a mesma rapidez na recuperação da Amazônia – porque o desastre climático que nos ameaça é incomparavelmente maior que a crise financeira global”, disse Nobre.
Fonte: O Estado de São Paulo
Fonte acessada: jornalcana
http://www.jornalcana.com.br/evitar-colapso-climatico-exige-recuperacao-da-floresta-amazonica/
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Seca no Sudeste do Brasil: Matéria da Deutsche Welle

Transposição para Cantareira não encerra crise da água, dizem especialistas

Além de não resolver problema de SP, transferência de água da bacia do rio Paraíba do Sul para sistema paulista pode afetar abastecimento no RJ. Sob críticas, governo federal diz que medida é "tecnicamente viável".

Estiagem afeta o rio Paraíba do Sul na cidade de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro
A transposição de água da bacia do rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira pode amenizar, mas não dar fim à crise da água no estado de São Paulo. Segundo especialistas ouvidos pela DW Brasil, além de não solucionar a escassez nos reservatórios paulistas, a medida poderia prejudicar o abastecimento na região metropolitana do Rio de Janeiro.
A proposta foi apresentada em março pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Nesta quarta-feira (05/11), o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, sinalizou que a transposição é "tecnicamente viável".
"Tudo é possível, mas tem um custo. As autoridades erram ao não fazerem um estudo técnico antes de tomarem uma decisão política", critica o oceanógrafo David Zee, professor da Uerj.
A bacia do rio Paraíba do Sul banha os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. De acordo com a proposta de Alckmin, o rio Atibainha, que fica no Sistema Cantareira, receberia água do reservatório do rio Jaguari, que é um dos afluentes do Paraíba do Sul.
"Uma retirada adicional de água trará impactos que serão sentidos com mais força quando houver escassez de chuva", diz Paulo Carneiro, pesquisador do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ. "A segurança hídrica deve diminuir, e a frequência de períodos de seca na bacia, aumentar."
O especialista em recursos hídricos Antônio Carlos Zuffo não acredita que a transposição irá resolver a crise hídrica em São Paulo. O volume do Cantareira continuará descendo, mesmo que em menor intensidade.
"A cada dia, o nível do reservatório fica mais baixo. Enquanto entram em torno de 9,63 metros cúbicos de água por segundo, são retirados 22,5 [metros cúbicos] para o Alto Tietê e o consórcio PCJ, que abastece algumas cidades do interior paulista. A defasagem é grande", diz Zuffo.
O nível do sistema Alto Tietê e da represa Guarapiranga também diminuiu de forma drástica. Como os reservatórios do sudeste e do centro-oeste estão com volume muito baixo, se chover pouco até o fim deste ano, é possível que haja um racionamento de energia, alerta Zuffo.
Interesses em jogo
A transposição da bacia do Paraíba do Sul envolve impasses jurídicos, administrativos e econômicos. Carneiro afirma que o argumento de que a medida vai aumentar a segurança hídrica é falso.
Para o especialista, a pressa da ANA e do governo de São Paulo em fazer a transposição é questionável. O projeto, que é complexo e exige uma série de etapas preparatórias, seria executado num período mínimo de três anos.
"Isso só mostra que houve de fato uma incompetência no planejamento de longo prazo. Não dá para querer sangrar o Paraíba do Sul sem trazer o assunto para o debate amplo, sem colocar as cartas na mesa", diz Carneiro. "São Paulo sabia há mais de duas décadas que era necessário fazer investimentos para evitar uma crise de abastecimento."
Além das obras, a transposição exigiria resolver entraves jurídicos. O reservatório Jaguari foi construído pela Companhia Elétrica de São Paulo (Cesp) para a geração de eletricidade. Segundo Zuffo, para fazer a transposição, a ANA precisa fazer outra outorga junto ao Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), para que o reservatório também seja destinado ao abastecimento urbano.
"A Cesp terá de ser indenizada, porque a retirada de água vai reduzir o rendimento da usina hidrelétrica. A amortização do investimento feito na construção não será cumprida no período previsto", afirma.
Em nível territorial, o gerenciamento de recursos hídricos no Brasil é dividido por bacias hidrográficas. Apesar de estar em São Paulo, a bacia do Paraíba do Sul é federal e de responsabilidade da ANA. O domínio da bacia, no entanto, é do estado de São Paulo.
"Há uma sobreposição de legislações. Esse imbróglio jurídico precisa ser resolvido, por isso, está no Supremo [Tribunal Federal (STF)]", diz.
O ministro Luiz Fux, do STF, convocou uma audiência de mediação para que o tema seja debatido entre o governo federal, agências reguladoras, Ministério Público Federal e representantes dos estados. Fux negou um pedido de liminar da Procuradoria Geral da República para impedir a transposição.
Ainda estão em jogo os interesses do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, já que a bacia do Paraíba do Sul abastece várias cidades nos dois estados. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, declarou que, se a União decidir transferir água do Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira, ele irá acatar.

MAIS SOBRE ESTE ASSUNTO

  • Data 07.11.2014
  • Autoria Karina Gomes

17 de outubro de 2014

Falta chuva e ainda sobra preconceito

Por Darci Bergmann



     A seca prolongada no Sudeste do Brasil revela um cenário desolador. Rios, açudes e poços secando, onde antes havia fartura de água. As plantações  e as florestas desidratadas agora são um combustível para os incêndios que aumentam ainda mais o teor de gás carbônico na atmosfera. Se nos campos é assim, nas vilas e cidades a tragédia climática muda o cotidiano das pessoas. Agora é possível perceber o quanto dependemos da natureza em equilíbrio e o quanto precisamos evitar os desperdícios de recursos naturais. Estávamos acostumados a abrir as torneiras e vermos água jorrando muito além do necessário para o banho diário. Ou lavando calçadas e carros com centenas ou milhares de litros esbanjados numa dessas operações. Nunca nos perguntamos de onde vem a nossa água.   Talvez a maioria pensa que ela vem das represas. Não, ela vem de muito longe. Vem lá da fazenda ou do pequeno sítio, onde tem vertente e dali se forma um córrego. Depois, outros córregos vão se juntando e formam os rios. As represas apenas são depósitos de água. E até o solo armazena água e a devolve para nosso uso através dos poços de captação. As cidades dependem dos campos e das florestas. Desde o alimento até o líquido mais precioso – a água.
     E a nossa crise de água tem a ver com preconceito? Tem sim. Aqui no Brasil, fomos ensinados a ver os sertões e as matas como sinônimos de atraso.  Nas periferias das cidades ou lá nos rincões ermos, qualquer reserva de mato é vista como área improdutiva e sujeita a invasões. Córregos e riachos urbanos são logo degradados com lixo e as suas margens ocupadas por habitações. Temos preconceito contra as matas ciliares, que protegem as encostas e as margens dos rios. As cidades se expandem e sempre mais pessoas aparecem para ocupar espaços verdes em prejuízo dos mananciais de água. Para alguns, a espécie humana tem preferência sobre as demais. Esta ideologia de crescimento populacional sem limites pode ser o colapso da civilização. As mudanças climáticas já dão sinais claros da fragilidade humana. Até um minúsculo vírus, como o ebola, faz tremer de medo o mais valente dos seres humanos. Nosso preconceito em relação à Mata Atlântica ajudou a destruí-la na maior parte e o que dela resta agora é alvo de queimadas criminosas ou não. E mesmo nas romarias, pedindo chuvas aos nossos santos, alguns incautos lançam rojões que iniciam incêndios na vegetação esturricada das proximidades.
    A crise de água já é uma realidade planetária. O momento é de profunda reflexão sobre o nosso estilo de vida e a busca de soluções deve nortear todas as pessoas, sejam elas autoridades ou não. Cada um deve fazer a sua parte. É inaceitável que candidatos a cargos públicos se aproveitem das mazelas climáticas e busquem culpados porque as chuvas não caem. A nossa civilização precisa ser repensada. Até porque falta chuva e ainda sobra preconceito.


24 de setembro de 2014

Supermercado sem embalagens descartáveis


Veja matéria divulgada pela DW:

O Original Unverpackt, iniciativa de uma dupla de jovens empreendedoras de Berlim, busca apresentar alternativas ao consumo de massa e ao desperdício.






23 de setembro de 2014

Falta de conservação do solo causa erosão e perda de lavouras no PR

Globo Rural, Edição do dia 21/09/2014
21/09/2014 08h15 - Atualizado em 21/09/2014 08h20

Falta de conservação do solo causa erosão e perda de lavouras no PR

Há 30 anos, Paraná foi referência mundial em recuperação dos solos.
Mas agricultores retiram a proteção para abrir caminho para o maquinário.

Do Globo Rural
Durante décadas, os agricultores brasileiros investiram em técnicas de conservação do solo. Mas, nos últimos anos, muitas práticas foram abandonadas, deixando as lavouras desprotegidas, em uma busca sem limites pelo aumento da produtividade. O Paraná, estado que já foi modelo mundial de conservação de solos, hoje sofre com problemas como a erosão e a poluição de rios.

O agricultor Juarez Hagemann, dono de uma área de 60 hectares no município de Realeza, no sudoeste do Paraná, sentiu na pele e no bolso os efeitos da erosão, ação da água da chuva quando cai sobre um solo desprotegido. Em 2013, um temporal destruiu a lavoura que o produtor tinha acabado de plantar.
A erosão leva a lavoura e a camada mais fértil do solo, que fica na superfície. As gotas de chuva batem com força no solo, desagregam os torrões de terra e formam pequenos grãos. Leves e barreiras no caminho, eles são arrastados seguindo o declive natural do terreno e se acumulam nas partes mais baixas, onde, geralmente, há outra propriedade, uma nascente ou um rio. Por isso, é essencial construir barreiras de proteção que mantenham o solo e a água dentro da área da lavoura.
Entre as décadas de 1980 e 1990, o Paraná conseguiu espalhar por praticamente todo estado um sistema de conservação de solos feito em microbacias. Em 1990, o Globo Rural conheceu o trabalho desenvolvido na região. Estradas foram refeitas de forma a não jogar água para dentro das propriedades. As lavouras foram colocadas em nível, cortando o sentido em que a água corre, como explicou a engenheira agrícola Graziela Barbosa, pesquisadora do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), em Londrina.
“A água é um processo natural. Vai chover e vai escorrer. Se o sulco de plantio forma uma pequena rugosidade. Quando a água começa a escorrer, ela já tem essa rugosidade como uma pequena barreira mecânica para diminuir a velocidade”, diz Graziela.
Além do plantio em nível, terraços foram construídos para segurar a água que passa por cima dos sulcos. “Quando vem no sentido da pendente, a água vai ter um canal. Depois, nós vamos ter a parte maior da terra que chamamos de camaleão, que vai fazer com que a água que escorreu pare nesse canal. Quando a chuva parar, essa água naturalmente se infiltra e mantém a umidade no solo e não se perde”, completa Graziela.
O tamanho dos terraços e o espaçamento entre eles dependem do tipo de solo, do declive e do regime de chuvas de cada região. Antigamente, no Paraná eles passavam de uma propriedade para outra acompanhando a bacia dos rios e formando uma grande barreira.
O plantio direto foi outra ferramenta importante integrada ao sistema. A técnica consiste em colher uma lavoura e fazer o próximo plantio diretamente sobre a palhada da cultura anterior.
A palha que fica sobre o solo também diminui o impacto das gostas de chuva e protege a terra do sol, mantendo a umidade por mais tempo. Para ser eficiente, o plantio direto deve deixar pelo menos seis toneladas de palha por hectare. Mas o trabalho de duas décadas para implantar esse sistema de conservação está indo literalmente por água abaixo porque muitos agricultores retiram os terraços de suas propriedades.
“Os terraços, de certa forma, são uma restrição à mecanização. Numa situação mais recente, dos últimos cinco ou 5 dez anos em que o tamanho das máquinas tende a ser cada vez maior”, diz o pesquisador Augusto Araújo, engenheiro agrícola do IAPAR.
Especialista em mecanização, Araújo explica que para ganhar tempo e poder plantar e adiantar a colheita, para fugir do risco de secas, geadas e chuvas fora de hora, os agricultores estão comprando máquinas maiores, mais rápidas e potentes, mas que têm dificuldade para passar no espaço entre um terraço e outro e precisam fazer muitas manobras para circular entre eles.
A decisão mais comum é retirar um de cada três terraços, abrindo espaço para a máquina passar. Há agricultor agravando a situação e elimina todos os terraços para plantar no sentido em que a água corre, ou seja, morro abaixo.
“A velha prática de se plantar em nível, uma das técnicas mais tradicionais e clássicas de conservação de solo, está se perdendo também. Para aumentar a produtividade se faz um tiro morro abaixo e morro acima”, alerta Araújo.
Foi o que fez o dono de uma propriedade da região que não quis gravar entrevista. Na fazenda com 1,2 hectares no município de Bela Vista do Paraíso já houve um sistema de conservação de solo, mas hoje não restou nenhum terraço. Eles não foram reformados ou simplesmente retirados ao longo do tempo. Há sinais de problema por toda a área.
Assista ao vídeo: 

Falta de conservação do solo causa erosão e perda de lavouras no PR

15 de setembro de 2014

Manacá-de-cheiro: um arbusto que irradia aroma e beleza

Por Darci Bergmann

Manacá-de-cheiro, manacá-de-jardim ou primavera (Brunfelsia uniflora)*
Na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul um arbusto nativo chama atenção. É o manacá-de-cheiro, também conhecido por manacá-de-jardim ou ainda primavera. Seu nome científico é Brunfelsia uniflora, família Solanaceae. Ele está cada vez mais presente nos jardins e motivos não faltam: a planta ostenta lindas flores brancas e violáceas, muito perfumadas. 



O cultivo do manacá-de-cheiro é fácil, visto tratar-se de uma planta rústica. Propaga-se por sementes, estacas e mergulhia dos ramos. As mudas também surgem pela brotação de raízes ao redor da planta-mãe.  


Recomenda-se evitar o cultivo em áreas frequentadas por animais herbívoros. O manacá-de-cheiro tem princípios tóxicos nas suas folhas. 

1 de setembro de 2014

Floresta Amazônica: a maior parte do Brasil depende dela

Por Darci Bergmann



A voz dos ambientalistas foi abafada pelo barulho das máquinas. Os projetos de colonização na Amazônia abriram feridas e alteraram o regime das chuvas em vastas regiões do Brasil. 

As rodovias que rasgaram a Amazônia foram consideradas como o início de uma era de progresso. Hoje, quase meio século depois, o que se vê é a destruição do bioma Floresta Amazônica cujas consequências vão muio além. Outros biomas dependem da floresta preservada para manterem seus mananciais hídricos. É uma interdependência que só agora começa a ser mais conhecida. 
O desmatamento na Amazônia já causa prejuízos bilionários nas regiões maiores produtoras de grãos do Brasil. Essa é a conta da seca mais prolongada de que se tem notícia, caso da região Sudeste.
Se o desmatamento da Amazônia prosseguir, o Brasil terá enormes dificuldades de produzir alimentos suficientes em futuro não muito distante. 
Por outro lado, sucessivos governos aplicaram centenas de bilhões de dólares na geração de energia a partir de mananciais hídricos que dependem das chuvas formadas com a umidade oriunda da Amazônia.
É preciso, com urgência, que autoridades e a sociedade unam esforços na preservação da Floresta Amazônica. Isto implica em combater os desmatamentos feitos pelos grileiros, mas também em limitar novos assentamentos feitos pelo INCRA.
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Ver mais: Reportagem do Fantástico, da Rede Globo, exibida em 31-08-2014

Falta d'água  em  cidades  tem  a ver com  devastação desenfreada da Amazônia  


12 de agosto de 2014

Ipê-roxo, uma das árvores mais lindas da Terra.


Ipê-roxo (Handroanthus heptaphyllus). A espécie é árvore
símbolo de São Borja*                 

Por Darci Bergmann

Na maior parte do ano ele parece discreto. Quando floresce ele esbanja encantamento. Assim é o ipê-roxo, que é por muitos considerada uma das árvores mais lindas dentre as milhares de espécies florestais. 

Uso no paisagismo

Por ser uma espécie rústica, de boa resistência aos ventos e de rara beleza quando em flor, o ipê-roxo está cada vez mais presente em parques, praças, ruas, nas margens de rodovias e arboretos em geral. 
Na arborização urbana, evitar o plantio sob as redes de energia elétrica e também em passeios públicos com menos de 2,50 m de largura. 
Ainda com relação aos passeios públicos, recomenda-se que a muda de ipê-roxo seja plantada em cova de pelo menos 0,50 m x 0,50 m x 0,50 m. A distância do centro da cova deve ser de no mínimo 0,50 m do cordão.
Ipê-roxo próximo ao trevo de acesso à cidade de
São Borja. Este e mais outras centenas foram plantados
pela ASPAN - Associação Sãoborjense de Proteção ao
Ambiente Natural, em 1995.

Nomes populares e nomenclatura científica

Os nomes populares variam conforme a região: ipê-roxo-da-mata, pau-d´arco, cabroé, etc. Na Argentina é denominado lapacho-rojo.  
Uma das espécies de ipê-roxo mais conhecidas e com ampla dispersão no Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina é a denominada Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos, família Bignoniaceae. Alguns botânicos denominam a mesma espécie de Tabebuia heptaphyllus ou ainda Handroanthus avellanedae. Em documentos mais antigos é citado como Tabebuia avellanedae. 
Ipês ao longo da BR 472, em São Borja-RS. Plantio feito por
voluntários da ASPAN, em 1995.


Nas propriedades rurais, os ipês estão cada vez mais presentes.
*Nota: Conforme lei municipal nº 1.022, de 26 de Setembro de 1980, a espécie ipê-roxo (Tabebuia avellanedae) foi declarada árvore-símbolo de São Borja-RS, projeto de lei do então vereador Darci Bergmann.


7 de agosto de 2014

Carros urbanos: leves, econômicos e acessíveis

Por Darci Bergmann

A indústria automobilística precisa se adequar à nova realidade urbana. E os motivos são muitos: a falta de espaço, a poluição do ar e o elevado custo da energia são alguns. De outro lado, muitas pessoas defendem que a mobilidade urbana com automóveis é viável, desde que mudem os conceitos. Carrões pesados e potentes atrapalham o trânsito já caótico das cidades, onde a velocidade média é a mesma das diligências do século XIX.
O desenvolvimento de veículos leves, simples e menores pode resultar em melhorias na mobilidade urbana individual. 
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A Deutsche Welle divulgou um vídeo sobre o tema.

1 de agosto de 2014

Londres. Impressões de viagem


O Big Ben é um dos símbolos de Londres


Por Melissa Bergmann*

Londres é uma das maiores capitais do mundo. Ela tem aproximadamente 8 milhões de habitantes e, apesar do seu tamanho, é muito bonita e muitos lugares frequentemente não lembram uma grande cidade. A meu ver, a arquitetura dos prédios é muito charmosa. A maior parte dos prédios é de tijolo à vista, muitos com floreiras em frente às janelas. As ruas são frequentemente bem arborizadas, e nos locais onde não há árvores plantadas nos passeios, existem pelo menos pequenos espaços verdes em frente às casas. Plátano é a espécie mais utilizada nas ruas, juntamente com uma espécie de amoreira.
Muitos prédios encantam pelos estilos arquitetônicos.

A cidade é também bem organizada. Como a mão inglesa de direção dos automóveis é contrária à nossa, nas faixas de pedestre está escrito “Look right” ou “Look left”, ou seja, “olha à sua direita”, “olhe à sua esquerda”. Existem sinaleiras para carros e pedestres na maioria das ruas. Nas escadas rolantes das estações de trem, as pessoas se posicionam à direita, para quem estiver com mais pressa ir passando pela esquerda. Em todas as plataformas de trens e metrôs há mapas indicando as linhas, e você pode verificar se precisará fazer uma conexão até o local onde quer chegar. Dentro dos trens, há gravações falando qual é a próxima estação, como por exemplo, “The next stations is St. Paul’s”, “This is Central line train to ...”.


Sempre que possível, as ruas são bem arborizadas


Prédios com tijolos à vista são comuns. E as floreiras  coloridas
também.


Acima, vista do Regent´s Park. Chama atenção a limpeza e
o estado de conservação.


Existem muitos espaços verdes na cidade, muitas praças e parques. O Rio Tâmisa é maravilhoso, e nas suas proximidades está o centro financeiro de Londres. Mas vale lembrar que já foram gastos bilhões para recuperar o rio que já esteve gravemente poluído. O passeio de teleférico (cable car) por cima do rio é incrível. Pode-se ver boa parte da cidade de lá, e chega-se a um canal do outro lado que é muito bonito e muito tranquilo. Tem muitos outros cursos d’água que foram canalizados no meio da cidade, mas que apesar disso preservam muita beleza em suas pontes e jardins construídos com a urbanização.
Teleférico sobre o Rio Tâmisa

Traremos mais informações sobre Londres nas próximas postagens.

 * Fotos: Melissa Bergmann, julho 2014

30 de julho de 2014

Carne bovina tem pegada de carbono pior do que se pensava

Novos estudos mostram que a carne bovina contribui mais para emissão de gases do efeito estufa e degradação ambiental do que produção de outras proteínas de origem animal, como laticínios, aves domésticas, carne suína e ovos, juntas.


Não é novidade que o consumo excessivo de carne pode ser muito prejudicial à saúde humana, aumentando a propensão a problemas como pressão e colesterol altos, excesso de peso, etc. Mas os problemas podem ir muito além da saúde humana, afetando também o meio ambiente e aumentando as emissões de gases do efeito estufa (GEEs). É o que mostram novas pesquisas publicadas recentemente nos periódicos Proceedings of the National Academy of Sciences(PNAS) e Climatic Change.

O estudo publicado no 
PNAS sugere que as emissões da pecuária, que são responsáveis por 14,5% da liberação total de GEEs pelas atividades humanas, estão aumentando, e que a carne bovina é responsável por mais GEEs do que a produção de outras proteínas de origem animal, como laticínios, aves domésticas, carne suína e ovos, juntas.

Embora essa descoberta não seja exatamente nova, é a proporção da pegada de carbono que assusta: a pesquisa mostra que a carne bovina exige 28 vezes mais terra para ser produzida, 11 vezes mais água e seis vezes mais fertilizante nitrogenado do que as outras quatro categorias, e resulta em cinco vezes mais emissões de GEEs.

Além disso, o estudo comparou a utilização de recursos da produção pecuária com a do cultivo de vegetais que são fonte de proteínas, como arroz, batata e trigo e concluiu que todos os tipos de carne emitem mais GEEs do que as culturas analisadas.

"A produção de batata, trigo e arroz, em média, exige de duas a seis vezes menos recursos por caloria consumida do que a carne não bovina. Entender os impactos das diferentes classes de pecuária pode dar aos consumidores e legisladores poder de mitigarem danos ambientais através da escolha da dieta e da política agropecuária", afirma o relatório do 
PNAS.

Outro estudo semelhante, divulgado no periódico 
Climatic Change, indica que, de 1961 a 2010, as emissões de GEEs da pecuária em 237 países aumentaram 51%.

Especificamente, os cientistas descobriram que a carne e laticínios de bovinos são responsáveis por cerca de 71% das emissões pecuárias, com 54% vindo da carne e 17%, dos laticínios. Isso é em parte devido à abundância do animal, mas também por causa dos altos níveis de metano que ele emite. As ovelhas são responsáveis por 9% das emissões, os búfalos, por 7%, os porcos, por 5%, e as cabras, 4%.

E muito disso se deve ao aumento da demanda por carne, especialmente em nações em desenvolvimento. A equipe observou uma diferença gritante entre as emissões pecuárias dos países em desenvolvimento, que são mais responsáveis por esse aumento, e as das nações desenvolvidas.

E acredita-se que essa diferença deva aumentar, já que a demanda por carne, laticínios e ovos deve dobrar até 2050 em países em desenvolvimento. As nações desenvolvidas já chegaram ao máximo de suas emissões pecuárias nos anos 1970, e têm diminuído desde então.

"O mundo em desenvolvimento está se tornando melhor em reduzir as emissões de efeito estufa causadas pelos animais, mas essa melhoria não está acompanhando a crescente demanda por carne. Como resultado, as emissões de GEEs da pecuária continuam subindo em boa parte do mundo em desenvolvimento", comentou Dario Cario, pesquisador do estudo.

"Esses hambúrgueres saborosos são os verdadeiros culpados. Seria melhor para o meio ambiente se todos nos tornássemos vegetarianos, mas uma série de melhorias podem ocorrer da ingestão de carne suína ou de frango em vez de bovina", disse Ken Caldeira, que trabalhou com Cario, mas não é autor do trabalho.

Uma terceira pesquisa confirma a declaração de Calderia. Segundo o estudo, também apresentado no 
Climatic Change, as pessoas que comem carne produzem o dobro da quantidade de emissões de GEEs em relação aos veganos devido a suas dietas.

O relatório observou tudo, desde a produção, transporte, armazenamento e cozimento até o descarte de alimentos, que contribui para as emissões de GEEs. Foram avaliadas as dietas de mais de 50 mil pessoas no Reino Unido.

O resultado aponta que as pessoas que comem carne de maneira moderada (50 a 99 gramas de carne por dia), contribuem com 5,63 Kg de dióxido de carbono equivalente (CO2e) para a atmosfera a cada duas mil calorias consumidas, enquanto os veganos contribuem com 2,89 Kg de CO2e.

Os veganos têm as menores emissões de gases do efeito estufa devido à sua dieta, seguidos pelos vegetarianos (3,81 Kg de CO2e), os que consomem apenas carne de peixe (3,91 kg de CO2e) e os que consomem menos de 50 gramas de carne por dia (4,67 kg de CO2e). Já os que comem bastante carne (100 gramas por dia ou mais) geram 7,19 Kg de CO2e.

A pesquisa também menciona que a população do Reino Unido está comendo mais carne do que nunca, tendo passado de um consumo anual de 69,2 kg em 1961 para 84,2 kg de carne por ano atualmente.

"Esse trabalho demonstra que reduzir o consumo de carne e outros produtos de origem animal pode dar uma contribuição valiosa à mitigação das mudanças climáticas", informaram os autores.

Por fim, estimativas do 
Environmental Working Group mostram que, se toda a população dos Estados Unidos adotasse uma dieta vegetariana, seria o equivalente a retirar 46 milhões de carros das ruas, e que se uma pessoa comesse apenas um hambúrguer a menos por semana durante um ano, seria o equivalente a não dirigir seu carro por 514 quilômetros.

De fato, há muito o que uma pessoa pode fazer para tentar reduzir sua pegada de carbono: andar menos de carro, consumir mais produtos que evitem a emissão de GEEs em sua produção e transporte, e consumir mais proteína vegetal e menos animal. Talvez nem todos possam se tornar vegetarianos ou veganos, mas reduzir o consumo de carne já é um primeiro passo para diminuir sua contribuição às mudanças climáticas.

FONTE

Carbono Brasil
Fonte acessada pelo blog: AGROSOFT, publicado em 28-07-2014, seção Economia