28 de setembro de 2010

Uma civilização drogada

Por Darci Bergmann

Segundo muitos estudiosos e de acordo com depoimentos dos muitos usuários, as drogas que mais preocupam são usadas livremente. Elas geram uma grande movimentação na economia e algumas tem incentivos oficiais.
Retirando-se o véu que encobre a movimentação financeira e os muitos interesses envolvidos, percebe-se os malefícios causados por essas drogas. Algumas são rotuladas como alimentos, um disfarce que estimula o seu consumo. Outras são incentivadas com argumentos que lembram os prazeres da vida, em rodas sociais ou mesmo na modalidade de consumo discreto. Uma ou outra dessas drogas sempre está ao alcance das nossas mãos. Algumas delas são combatidas por profissionais da saúde, por grupos religiosos ou até por quem já foi prejudicado pelo seu consumo.  Outras, no entanto, tem livre acesso em pessoas de todas as correntes de pensamento.
Desde épocas remotas, a humanidade consome algum tipo de droga. As mais antigas continuam a ter adeptos e no decorrer do tempo outras são acrescentadas à dieta consumista. As drogas ditas ilícitas são as que tem a repressão do aparato policial. Esse tipo de droga chama atenção pela dependência e pela mudança de comportamento no usuário. Entre as ilícitas parece que o crack  é a mais temida, pelos efeitos danosos imediatos ao consumidor. As sociedades estão perplexas porque o crack é realmente devastador. Mas segundo muitos entendidos, essa é apenas a ponta do iceberg da questão drogas. A sociedade competitiva e consumista estimula o consumo de outras drogas que, no seu conjunto, são muito mais prejudiciais que aquelas proibidas em leis. Além de prejuízos à saúde, algumas drogas de grande consumo tem enormes implicações ambientais, como se verá mais adiante.


25 de setembro de 2010

Árvores e biodiversidade: tema mobilizou dezenas de pessoas

Por Darci Bergmann


Na semana dedicada à Festa Anual das Árvores, a ong ASPAN promoveu evento sobre o tema, em data de 25/09/2010. Diversas entidades enviaram representantes. Os trabalhos foram abertos pelo presidente da ASPAN, Jones Dalmagro Pinto, que fez relatório sucinto sobre as atividades que a entidade vem realizando na área ambiental. No ano corrente, até a data do evento, a ASPAN já plantou mil  mudas de espécies florestais nativas, no horto florestal e áreas próximas, entre as quais uma da FEPAGRO Cereais. 
Coube a mim fazer palestra  com o tema Árvores e biodiversidade.  Repassei aos presentes sugestões encaminhadas por diversas pessoas. Uma dessas sugestões refere-se ao controle sanitário da espécie vegetal parasita conhecida como erva-de-passarinho. Essa espécie está infestando centenas de árvores no perímetro urbano e muitas delas já foram aniquiladas. Presume-se que a poluição ambiental esteja favorecendo a propagação da erva-de-passarinho. Dois secretários municipais presentes ao evento prontificaram-se a encaminhar providências sobre a questão. 
Outra queixa recorrente refere-se aos agrotóxicos usados em lavouras próximos ao perímetro urbano. Mais uma vez houve denúncia de que o herbicida Clomazone, nome comercial Gamit, está provocando danos às árvores e demais formas de vegetação. Um dos presentes apresentou folhas de espécies arbóreas com sintomas de clorose albina, aquele branqueamento característico de produtos de princípio ativo Clomazone. As folhas foram colhidas em árvores  da área urbana, próximo ao Jóquei Clube. A questão Clomazone/Gamit já foi objeto de expediente da ASPAN ao Ministério Público Federal, em Uruguaiana, o qual repassou a matéria ao Mnistério Público Estadual. 
Ainda no decorrer da esplanação sugeri aos presentes que houvesse ampla mobilização para que em São Borja, ou em algum município próximo, seja implantada uma UC - Unidade de Conservação, no Bioma Pampa, pelo Ministério do Meio Ambiente.

Também foi sugerido que a prefeitura de São Borja estimule a compostagem dos resíduos orgânicos nas residências, visando diminuir os gastos de coleta. Também a qualidade do ar será melhorada, pois haverá menos circulação de veículos coletores de um resíduo que pode ser facilmente processado no local em que é produzido.  
As propostas receberam manifestações dos presentes e farão parte de um documento a ser encaminhado a outros setores da comunidade.
A palestra ainda abordou outras informações sobre arborização urbana e rural. 
Na sequencia, os presentes visitaram o viveiro com mudas de espécies florestais e um setor de compostagem. Práticas simples e eficientes como a compostagem deveriam ter mais incentivo. No entanto, onera-se o morador com taxas de lixo exorbitantes para repassar esses recursos a empresas de coleta terceirizadas. De uns tempos para cá a questão ambiental vem sendo tratada de forma burocrática e de modo a atender o interesse de corporações que auferem grandes lucros. As práticas simples, descentralizadas e muito mais eficientes são relegadas a um segundo plano. Criam-se projetos mirabolantes, complexos e de resultados ambientais discutíveis.Tudo isso rotulado como avanço ambiental.

Na questão do tratamento de esgoto, as coisas não são diferentes. Por que não descentralizar o sistema de tratamento? Existem alternativas viáveis que permitem tratar o esgoto a nível de residência ou mesmo por quarteirão urbano sem os transtornos das grandes obras. Se o governo é capaz de reduzir tributos para baratear os automóveis, não seria coerente também baratear os equipamentos para tratamento descentralizado dos efluentes residenciais?  Hoje, é facílimo ter financiamento para aquisição de um carro e da casa própria. Mas ainda é difícil conseguir financiamento com prazo e juro acessível para financiar a implantação de sistema de tratamento de esgoto ou mesmo de captação de água pluvial.
Essas e outras práticas são importantes para a qualidade de vida e para a preservação das florestas, na medida em que reduzem as emissões dos gases que provocam o aquecimento global e as mudanças climáticas.

   

21 de setembro de 2010

Como estamos tratando as árvores?

foto:Darci Bergmann


Por Darci Bergmann


 

A semana declarada como Festa Anual das Árvores nos remete à reflexão. Descobrimos então que nada há para comemorar. Primeiro porque milhões de árvores são reduzidas a cinzas pelas queimadas. Não só árvores, mas sementes e mudas necessárias para renovação também desaparecem em meio às chamas. Como se isso não bastasse, a expansão urbana devora os espaços verdes circundantes. Em algumas regiões as cidades se emendam umas às outras e os espaços verdes livres desaparecem sufocados pelo concreto. E as árvores remanescentes ainda sofrem com as derivas dos herbicidas e outras investidas causadas pelas ações humanas.

Arborização nas escolas

Nas escolas, o tema árvore é tratado quase sempre de forma superficial. Uma redação e talvez o plantio de alguma muda que tem pouca chance de se tornar adulta. Não estou exagerando. Com essa inversão de valores onde qualquer bobagem consumista vira um grande evento, a educação ambiental ainda está longe de se tornar realidade nas escolas. Fala-se muito, mas se age pouco. É só observar a quantidade de lixo, desde aquelas embalagens de guloseimas até copos descartáveis jogados em qualquer canto nos pátios dos educandários. Com as árvores não é diferente. Até porque se ensina erradamente que as folhas das árvores sujam as calçadas e algum gramado sobrevivente. Não se faz uma diferenciação pedagógica entre resíduos orgânicos tipo folhas de árvores e aqueles do tipo canudinhos, chicletes e os recorrentes copos descartáveis de plástico, por exemplo. Os currículos são massacrantes. O conhecimento em todas as áreas é tanto que é dedicado menos tempo para o trato com as coisas naturais. Muitas escolas conseguem afastar os alunos da natureza. Esse tipo de escola quase sempre tem prédios rodeados de pátios cimentados. Não se reserva espaço para uma área verde. Em cenários de tamanha esterilidade, falar sobre árvores vira mesmo um exercício de retórica, um discurso vazio apenas para cumprir um calendário. O que esperar dos adultos que passam por educandários sem um mínimo de área verde?

O cenário também faz parte da educação

Se o tempo destinado à educação ambiental de forma prática é pouco, devido à exigência curricular, uma alternativa é a implantação de escolas com a integração de áreas verdes. Os novos projetos deveriam contemplar essa realidade. Os alunos aprendem com o cenário. Educa-se muito mais pela interação aluno ambiente.

Por todos os lados nesse imenso Brasil as florestas estão regredindo. A legislação para protegê-las é importante, mas só ela não evitará a destruição. Para arborizar e salvar parte do nosso patrimônio natural, é necessária uma educação de cunho mais prático. E não há tempo a perder com frases soltas e discursos vazios.



17 de setembro de 2010

SE AMAS AS ÁRVORES

                                      
Ben Hur Lampman 

“Se já viste e apreciaste a corça e seu filhote correndo por entre as moitas, de manhã cedo, quando a neblina sobe do vale;
Se ouviste e apreciaste o canto sonoro do galo silvestre nos pinheiros e a melancolia dos pombos selvagens chamando uns pelos outros;
Se viste e apreciaste o marreco entrando na água; e o coelho que, de madrugada, sai das moitas de silvas para os bancos de areia – se já apreciaste e ainda aprecias tudo isto, evita os incêndios na floresta.
Se já apreciaste a sombra profunda e fresca do meio-dia, enquanto um gavião circula no ar; o silêncio encantado da floresta sonolenta rescendendo a festas, resinas e amoras; e a paz que flui em todos os sentidos qual uma grande pulsação batendo compassada; e a consciência de que aí não há nem nunca houve pressa; e uma trepadeira pendente carregada de bagas vermelhas, se alguma vez apreciaste essas coisas e te confortaste com elas, evita os incêndios na floresta.
Se já apreciaste o alongar das sombras da floresta ao anoitecer, quando o veado e a codorna saem dos seus esconderijos, se já tiveste a impressão de que ao crepúsculo as montanhas se tornam mais próximas;
Se apreciaste nessa quietude suspensa o rumor da esguia truta subindo à tona ou o salmão subindo o rio;
Se sentes que, de algum modo, tu não és estranho às árvores, ao anoitecer, nem ao Criador destas coisas;
Se já apreciaste tudo isto e guardas um sentimento de gratidão, evita os incêndios na floresta e nos campos”.
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(artigo publicado no Oregonian, de Portland, USA)
Nota: O texto acima foi-me enviado por José Antônio Lutzenberger, faz mais de 20 anos. No atual momento em que as queimadas devastam enormes áreas em nosso País e com a proximidade da Festa Anual das Árvores, que aqui na região sul acontece de 21 a 27 de setembro, essa matéria nos remete à reflexão.

13 de setembro de 2010

Brasil em chamas: Biomas inteiros agonizam

Por Darci Bergmann

As queimadas que dilaceram o patrimônio natural do Brasil e de boa parte do nosso continente causariam inveja ao imperador Nero, incendiário de Roma. As estatísticas sobre o número de focos de incêndio variam a cada dia. Mas o lado mais triste dessa tragédia aqui no Brasil é o modelo irresponsável de ocupação de terras que há décadas vem ocorrendo com aval dos governos constituídos. Nesse tocante os governos revolucionários de 1964 e os pós regime militar são parceiros da mesma estupidez ambiental. Grileiros de terra foram favorecidos com benesses oficiais e financiamentos de bancos estatais. Pessoas sem vocação para o trato com a terra foram incentivadas a ocuparem áreas nos biomas cerrado e floresta amazônica, tudo no intuito de ocupar espaços vazios e de alargar a fronteira agrícola.

 São exceções os proprietários que produzem dentro de uma visão de sustentabilidade.

 O novo eldorado gerou uma riqueza aparente em algumas famílias, mas já esboça uma contrapartida de miseráveis que se espalham nas malhas urbanas da região. No campo, entremeando grandes produtores da agropecuária, algumas famílias em pequenas áreas se aventuram num tipo de produção que exige grande aporte de capital. Mas esses extremos se complementam quando o assunto é queimadas. Não há dúvidas que a causa é antrópica. A maioria dessa gente sempre foi incentivada por politiqueiros e atravessadores a liquidarem com a natureza, pois o escopo sempre foi o lucro imediatista e nunca o amor à terra. Num cenário assim, práticas como as queimadas foram usadas para a ocupação rápida dos grandes espaços então disponíveis.

O capitalismo segue as nuvens da fumaça

Na esteira da ocupação acelerada, as obras de infra-estrutura, tais como estradas e pontes, permitem o acesso fácil a rincões antes protegidos pelo isolamento. Escoamento da produção, acesso a novas áreas, criação de núcleos urbanos, produção de energia, para citar algumas, são exigências dos novos proprietários. O uso intensivo de agrotóxicos e do fogo sempre fez parte desse processo. Aquilo que se repete por gerações vira tradição, um modelo cultural. Modelo cultural negativo, destruidor quando aniquila a natureza milenar. É assim que devem ser vistas as queimadas em boa parte do Brasil. É uma cultura equivocada, mas que tem raízes históricas e teve apoio oficial. As conseqüências dessa destruição ambiental agora assustam. Cidades inteiras ficaram cobertas de fumaça e fuligem. A saúde das pessoas agora é afetada numa escala sem precedentes, haja vista que os hospitais ficam lotados de pacientes com problemas respiratórios. Mais uma vez os grandes laboratórios farmacêuticos se beneficiam com a venda de medicamentos. Alguns desses laboratórios produzem agrotóxicos e assim o ciclo capitalista se fecha.

A fumaça das queimadas mata gente na cidade, já poluída por outras fontes.

Lá no interior a natureza agoniza. Os últimos refúgios naturais estão virando gigantescos cemitérios de bichos e plantas. Assim começaram muitos desertos. Quem faz uso deliberado das queimadas não deveria ter acesso a nenhum programa de financiamento. A queimada é crime ambiental e crime contra a humanidade.


Mais sobre queimadas:

9 de setembro de 2010

SINAL DE ALERTA

Por Darci Bergmann
A luz vermelha acendeu em São Borja e região. Os rios Butuí e Icamaquã que delimitam a nossa bacia hidrográfica, juntamente com o Rio Uruguai, já revelaram presença de produtos químicos em níveis acima dos teores normais. Em amostras colhidas e analisadas por equipe de professores da URCAMP, os metais pesados aparecem com índices preocupantes. Com relação ao Rio Uruguai seria até compreensível que pudessem provir de alguma região mais industrializada. Mas como explicar altos índices também nas amostras dos rios Butuí e Icamaquã? As respostas podem ser muitas. Metais como cromo, chumbo, cádmio e cobre estão associados aos adubos químicos, como impureza. É uma dentre outras possibilidades. As rochas que originaram o solo poderiam contê-los, mas isso é improvável. O cobre é micro-nutriente. Em excesso causa problemas, assim como o ferro. Os outros três elementos são altamente tóxicos e não tem função nos organismos vegetais e animais. Causam problemas sérios e podem levar à morte. O cádmio e o chumbo eram ou ainda são componentes de pilhas, tintas, impurezas industriais, etc. Os metais pesados não se degradam.

O tratamento convencional da água não retira os metais pesados. Alguns deles passam à cadeia alimentar de vários seres. Peixes, crustáceos, aves e mamíferos podem acumular chumbo e outros metais pesados. São necessárias condutas que diminuam a contaminação ambiental com metais pesados. Uma primeira sugestão. Quem tem arma de fogo para defesa pessoal não faça disparos desnecessários. A caça e as competições com arma de fogo deveriam ser proibidas de uma vez por todas, pelo bem da Natureza e no interesse da saúde humana.


O chumbo também foi espalhado em nossos campos e matas pelos caçadores.

 Esse metal se acumulou ao longo de séculos e hoje ameaça a fauna e a espécie humana em particular. São Borja e região foram cenários de muitas caçadas. Até pouco tempo se realizavam competições esportivas que deixaram no solo centenas - talvez milhares de quilos de chumbo. A modalidade chamada de tiro ao prato foi amplamente praticada na sede de uma associação de tiro e caça, próximo à FEPAGRO Cereais, em São Borja. Toda a munição usada nesse esporte continua sobre o solo, liberando partículas do metal pesado chumbo. Dali as águas vão para a sanga das Pontes, um dos formadores da sanga da Estiva; esta deságua no Rio Uruguai, um pouco acima do ponto de captação de água da CORSAN. Os que praticaram esporte de tiro vão limpar o resíduo perigoso chumbo que deixaram no ambiente?

7 de setembro de 2010

PARA SALVAR A NATUREZA, AGIR É PRECISO

Por Darci Bergmann

 

Qualquer pessoa, em qualquer tempo e lugar, pode ser uma defensora da natureza. Pequenas ações de todos nós podem fazer grandes diferenças quando o assunto é preservação do meio ambiente. Quantas vezes a gente ouve manifestações do tipo - eu gostaria de fazer alguma coisa pela natureza, mas não tenho terra para plantar árvores; eu gosto de animais, tenho um cão de estimação e cuido bem dele, acho que estou fazendo a minha parte; eu moro num apartamento e não posso me envolver com o problema do lixo, isso é com a prefeitura; as autoridades devem fazer mais pela natureza; a ciência e os cientistas é que podem salvar a natureza, eu nada posso fazer porque sou um leigo em meio ambiente; eu gosto de curtir um som alto e as outras pessoas que se danem. Esse tipo de manifestação revela um comportamento de quem acha que os outros devem fazer alguma coisa para salvar a natureza e que os outros são obrigados a aturar os nossos excessos.

Vamos examinar essas manifestações.

Eu gostaria de fazer alguma coisa pela natureza, mas não tenho terra para plantar árvores.

 Mesmo quem não tem terras pode fazer alguma coisa pela preservação das florestas e do verde em geral. Como consumidor pode-se fazer escolhas. É possível adquirir produtos florestais oriundos de manejo sustentável. Pode-se reduzir o consumo de papel e optar pelo papel reciclado. Pode-se plantar árvores em vias e logradouros públicos. Os moradores de um bairro podem adotar uma praça, um parque ou arborizar as ruas, dentro das normas preconizadas pelo poder público. Poupar combustível derivado de petróleo diminui a emissão de CO² e isso tem a ver com as mudanças climáticas devido ao aquecimento global. As florestas são sensíveis às mudanças climáticas. Ora são as secas que assolam vastas regiões e expõem as florestas remanescentes às queimadas, ora são as chuvas excessivas que provocam deslizamentos de encostas, enchentes e outras mazelas. Sim, eu posso e qualquer pessoa pode fazer alguma coisa para salvar o que ainda resta da natureza. Não vamos jogar os problemas para os outros. Aqui e agora vamos agir, começando dentro da nossa casa. Se for preciso mudar algum comportamento, não se pode adiar a decisão. A preservação da natureza não se faz com discursos, mas com a firme vontade de agir.

Método alternativo para o plantio de árvores.


Quem dispõe de terras e quem não dispõe delas pode arborizar através da semeadura direta. É muito fácil e funciona para várias espécies. O princípio se baseia naquilo que a natureza já faz e nós podemos dar uma incrementada nesse processo. Antes repare o seguinte: ao longo dos aramados e sob a rede elétrica desenvolvem-se algumas espécies arbóreas chamadas pioneiras ou precursoras. Entre elas estão as aroeiras, toropis, taleiras, goiabeiras, etc. Algumas espécies se comportam como pioneiras e secundárias tardias e uma vez estabelecidas outras espécies que precisam da sombra das primeiras então ali podem se desenvolver, como os camboatás, pitangueiras, ipês e outras mais. Os aramados e a rede elétrica servem de poleiro para as aves e estas fazem a semeadura. Algumas sementes são pequenas e passam pelo trato intestinal das aves e são depositadas sobre o solo junto com os excrementos. Quando as sementes são maiores as aves e também os morcegos fazem a separação delas da parte comestível. Sementes de pitanga, camboatá, cereja, coqueiro jerivá entre outras são assim depositadas sobre o solo macegoso e algumas vão germinar.

Outras sementes são transportadas pelo vento e quando encontram condições favoráveis podem germinar. É o caso dos ipês, da canafístula, do angico e muitas outras.

Bem, a natureza nos ensina como fazer. Por quase trinta anos tenho o hábito de jogar sementes em áreas tipo faixa de domínio das rodovias, margens de rios, clareiras onde antes havia floresta, entre outras. Quando eu era menino, morava em Mondaí, Santa Catarina e ali haviam muitas goiabeiras ao longo das estradas no interior. As primeiras foram plantadas pelos agricultores e depois a natureza se encarregou de ampliar o plantio até as beiras das estradas. Aquilo era um banco de vitaminas A e C e quem transitava por essas estradas podia usufruir desse manancial de frutas. A cena descrita foi a idéia para que eu semeasse goiabas ao longo das estradas aqui na região de São Borja. Por centenas de vezes recolhi baldes das frutas caídas e as arremessei em áreas macegosas. Assim, milhares de goiabeiras surgiram saudáveis e produzem frutos para pessoas e animais. Os graxains também se alimentam de goiabas e as espalham para outras áreas. Com o tempo semeei outras espécies e formei até um túnel verde com a semeadura direta de frutos de cinamomo. Esse túnel hoje tem dezenas de espécies arbustivas e arbóreas, pois os cinamomos serviram de poleiro às aves e deram a sombra inicial para algumas espécies nativas.

Um amigo meu tem o hábito de semear os caroços de butiá ao longo das rodovias. Outro semeia os caroços de manga e tenho alguns seguidores que arremessam sementes de espécies nativas que tiverem à mão. Às vezes ocorrem imprevistos, como é o caso das queimadas. Aí é preciso refazer o plantio. Mas isso não é problema porque o gasto é doar um pouco do nosso tempo para uma causa nobre. Eu tenho absoluta convicção de que o Brasil será um grande horto florestal se mais gente sair da inércia e partir para uma ação de plantio de árvores. É claro que não se pode descuidar outras questões como as queimadas, corte irregular de árvores, etc. Mas está aí uma alternativa a ser implementada por aqueles que ainda acreditam que a natureza pode ser salva. Os pessimistas, os derrotados, os que sugam o planeta para alimentar a vaidade própria talvez não encontrem motivos ou inspiração para preservar um pouco mais a natureza do Brasil que já foi tão exuberante e cantada em prosa e verso. Minha sugestão vai às pessoas de boa vontade, brasileiras ou de outras moradas na grande querência planetária.




6 de setembro de 2010

Eletricidade limpa sob nossos pés

Por Lester Brown

Uma fabulosa fonte de energia está dez quilômetros abaixo de nossos pés, diz neste artigo o premiado ambientalista e escritor Lester Brown.

WASHINGTON, Estados Unidos, 6 de setembro (Tierramérica).- O calor concentrado nos quase dez quilômetros superiores da crosta terrestre contém 50 mil vezes a energia combinada das reservas mundiais de petróleo e gás. Mas são aproveitados apenas cerca de 10.700 megawatts da geotermia. Em parte pelo predomínio do petróleo, do gás e do carvão, que oferecem combustível barato se são omitidos os custos da mudança climática e da contaminação do ar, se investe pouco no desenvolvimento de fontes geotérmicas.

Na última década, este tipo de energia cresceu apenas 3% ao ano. Quase a metade da capacidade de geração está nos Estados Unidos e nas Filipinas, e a restante quase toda pertence a Indonésia, México, Itália e Japão. Apenas 24 países convertem energia geotérmica em eletricidade. El Salvador, Islândia e Filipinas obtêm, respectivamente, 26%, 25% e 18% de sua eletricidade de centrais geotérmicas. O potencial elétrico, de calefação e calor industrial é vasto.

Boa parte da riqueza geotérmica se encontra no Cinturão de Fogo do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia, México, Estados Unidos, Canadá, Rússia, China, Japão, Filipinas, Indonésia e Austrália), no africano Grande Vale do Rift (Quênia e Etiópia) e no Mediterrâneo oriental. Para além da geração elétrica, cerca de cem mil megawatts geotérmicos são consumidos diretamente, não sendo transformados em eletricidade, para calefação doméstica, invernadas e caldeiras industriais: os banhos termais no Japão, as casas na Islândia e as invernadas da Rússia.

Uma equipe interdisciplinar de 13 cientistas e engenheiros, reunidos em 2006 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), avaliou o potencial de geração elétrica geotérmica nos Estados Unidos. Apoiada nas técnicas mais avançadas usadas pelas empresas de petróleo e gás, a equipe estimou que é possível controlar a energia geotérmica em escala maciça. O método consiste em perfurar a crosta de rochas quentes e nelas injetar água, que em seguida é extraída superaquecida para alimentar uma turbina a vapor.

Segundo a equipe do MIT, com esta tecnologia os Estados Unidos obteriam suficiente energia geotérmica para atender duas mil vezes suas necessidades elétricas. Embora ainda seja cara, esta técnica pode ser usada quase que em qualquer parte para transformar o calor geotérmico em eletricidade. A Austrália é líder em plantas-piloto que a utilizam, seguida de Alemanha e França. Para que os Estados Unidos aproveitem plenamente este potencial, os cientistas do MIT estimaram que o governo teria que investir, nos próximos anos, US$ 1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento, aproximadamente o custo de uma central elétrica movida a carvão.

Enquanto esta técnica se universaliza, ocorrem investimentos promovendo tecnologias existentes. Durante muitos anos, a energia geotérmica norte-americana esteve relegada ao projeto dos gêiseres do norte da cidade de São Francisco. Trata-se do maior complexo geotérmico do mundo, com capacidade de geração de 850 megawatts. No país, são gerados mais de três mil megawatts e estão em construção 152 unidades em 13 Estados, que praticamente triplicarão sua capacidade geotérmica.

A Indonésia chamou a atenção em 2008 quando anunciou um plano para desenvolver uma capacidade geotérmica de 6.900 megawatts. As Filipinas também planejam vários projetos. Na África, o Quênia é o líder. Agora pode gerar cem megawatts e prevê mais 1.200 para 2015. Isto quase duplicará sua capacidade atual de geração elétrica de 1.300 megawatts, considerando a soma de todas as fontes. O Japão, com capacidade total de 535 megawatts, foi um dos primeiros líderes. Agora, após quase três décadas de inatividade, este país muito conhecido por seus milhares de banhos termais, está voltando a construir centrais geotérmicas.

A Alemanha tem cinco pequenas usinas deste tipo, e cerca de 150 em estudo. “As fontes geotérmicas podem atender cerca de 600 vezes as necessidades de eletricidade deste país”, disse Werner Bussmann, diretor da Associação Geotérmica Alemã. Atualmente são muito usadas as bombas para calefação e refrigeração e o fazem com um consumo de eletricidade entre 25% e 50% menor do que os sistemas convencionais. Esta técnica aproveita a notável estabilidade de temperatura que tem a crosta terrestre próxima à superfície e a usa como fonte de calor no inverno, quando a temperatura do ar é baixa, e como fonte de refrigeração no verão, quando o ar está muito quente.

Islândia e França estão na vanguarda do uso direto do calor terrestre. Na Alemanha, 178 mil bombas funcionam em prédios residenciais e comerciais, e a cada ano 25 mil novas são instaladas. Se os quatro países mais povoados do Cinturão do Fogo – Estados Unidos, Japão, China e Indonésia – investissem seriamente no desenvolvimento deste recurso, poderiam facilmente convertê-lo em uma das principais fontes de energia do mundo.

* Lester Brown é fundador e presidente do Earth Policy Institute. Este artigo é uma adaptação de um capítulo de seu livro “Plano B 4.0: Mobilizing to Save Civilization”, disponível no site http://www.earthpolicy.org/index.php?/books/pb4.









2 de setembro de 2010

Um tratado para reduzir as emissões que esfriam a atmosfera?


Análise

Por Risto Isomäki*

Enquanto há pouco progresso para reduzir os gases que provocam o aquecimento global, avança-se rapidamente na proibição de substâncias capazes de esfriar a atmosfera, afirma neste artigo o escritor Risto Isomäki.
                                                                                                                     
HELSINQUE, Finlândia, 30 de agosto (Tierramérica).- Em uma temporada de impressionantes notícias vinculadas ao clima, há sinais de que estão derretendo gelos submarinos que abrigam depósitos de gases-estufa cuja liberação tornaria insignificantes as atuais emissões dessas substâncias causadoras da mudança climática. Neste ano de 2010, são batidos recordes mundiais e nacionais de calor: 37,2 graus na Finlândia, 35 na república russa de Sajá e 54 no Paquistão.

Os incêndios de florestas e jazidas de carvão causam enormes danos na Rússia, enquanto o Paquistão sofreu grandes inundações e enxurradas de lama. Um enorme bloco de gelo se desprendeu da geleira Petermann, no noroeste da Groenlândia, e a extensão do gelo no Mar do Ártico é a segunda menor que se recorde.

Em 1994, foi feita uma estimativa de que havia cerca de 25 mil quilômetros cúbicos de bancos de gelo flutuantes no Ártico. Desde então, a quantidade caiu, pelo menos, em 80%. Enquanto o gelo e a neve refletem entre 70% e 90% da radiação solar para o espaço, as superfícies aquáticas refletem apenas entre 4% e 10%. Portanto, a perda de gelo marinho acelera o aquecimento das águas em áreas polares. O Ártico abriga enormes depósitos naturais de carvão orgânico e metano, potente gás de efeito estufa.

As áreas terrestres com gelo permanente (permafrost) contêm sozinhas um bilhão e meio de toneladas de carvão orgânico que poderia ser liberado na atmosfera em forma de metano se o permafrost derretesse. Quase metade do leito do Ártico está coberta por um permafrost submarino além de existirem ali jazidas de hidratos de metano, uma mistura de gelo comum e gás presa dentro e debaixo do gelo. O derretimento deste permafrost e destes depósitos de hidratos de gás pode, teoricamente, liberar tanto metano e dióxido de carbono que, em comparação, nossas atuais emissões de gases-estufa seriam insignificantes.

Há sinais de que algo assim começa a acontecer. Em agosto de 2009, uma equipe da britânica Universidade de Southampton descobriu 250 locais em que as jazidas submarinas de hidratos de gás tinham começado a derreter e a liberar metano, ao redor do arquipélago ártico de Spitsbergen. É necessário deter esse derretimento antes que as coisas fujam ao controle.

Enquanto há pouco progresso nas negociações para reduzir as emissões que causam o aquecimento global, os esforços para reduzir emissões de substâncias capazes de esfriar a atmosfera avançam rapidamente. A Organização Marítima Internacional (OMI) decidiu, em outubro de 2008, que o máximo de conteúdo de enxofre no combustível usado pelas embarcações que percorrem os oceanos deverá ser de 0,5% até 2020, enquanto o limite no momento é de 2,7%.

As pequenas gotinhas de enxofre emitidas na atmosfera pela combustão dos motores dos navios estimulam a formação de nuvens baixas, que têm um impacto refrescante sobre o planeta, indicam observações científicas. As estimativas disponíveis indicam que as emissões de enxofre das embarcações ajudam a esfriar o planeta com uma eficiência de 58 décimos de watt por metro quadrado. Além disso, esse enxofre faz com que as nuvens sejam mais brancas, reflitam melhor a luz solar e tenham maior vida útil. Seu efeito é especialmente importante sobre os oceanos, onde frequentemente há escassez de pequenas partículas que possam atuar como núcleos de condensação para as nuvens.

Assim, a aplicação dessa disposição da OMI pode reduzir o efeito refrescante dos barcos em 0,31 watt por metro quadrado. Pode parecer pouco importante, mas, segundo medições da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, o desequilíbrio do calor planetário, o aquecimento global, chega hoje a 85 décimos de watt por metro quadrado. Isto significa que a Terra recebe mais energia do Sol do que a irradia de volta ao espaço, e que essa diferença é de 0,85 watt por metro quadrado.

Em outras palavras, a colocação em prática do tratado da OMI pode elevar o aquecimento global em 26%, de 0,85 para 1,16 watt por metro quadrado, um extremo perigoso, sobretudo porque o impacto se concentraria sobre os oceanos, especialmente no Atlântico Norte e no Ártico. O enxofre é prejudicial à saúde humana, por isso tem sentido reduzir as emissões nas zonas marinhas próximas de lugares densamente povoados, como o Báltico e o Mediterrâneo.

Porém, o enxofre emitido no meio do oceano dificilmente pode ser um problema importante para a saúde humana. Este é realmente um bom momento para investir mais de US$ 200 bilhões por ano para reduzir as emissões de enxofre das embarcações que cruzam os oceanos? Embora o tratado da OMI tenha boas intenções, poderia nos empurrar para a beira do abismo.
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* Risto Isomäki é ambientalista e escritor finlandês com livros traduzidos para vários idiomas. Direitos exclusivos IPS.

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1 de setembro de 2010

Que paisagismo é esse?

Por Darci Bergmann

Já de algum tempo estou intrigado com uma forma de paisagismo que se afasta cada vez mais da natureza. Seria a influência do artificialismo que já tomou conta das nossas cidades? Na minha concepção a implantação de jardins, parques e outras áreas verdes deveria ser uma reaproximação com a natureza, respeitadas as limitações impostas pelas áreas urbanas. No entanto, algumas dessas chamadas áreas ajardinadas primam pela ostentação, estão repletas de elementos até agressivos ao meio ambiente saudável e as plantas se tornam meros enfeites que não tem ligação entre si, tudo isso desvinculado do mundo natural.

Já fui consultado várias vezes sobre algumas espécies de árvores que poderiam ser colocadas nas áreas livres dos terrenos, com as condicionantes impostas pelos proprietários. Não raras vezes, pessoas queriam árvores que não derrubassem folhas e flores sobre o gramado. Uma dessas consulentes chegou ao absurdo de indagar se teria alguma árvore artificial para não causar sujeira. A esse absurdo respondi com certa ironia. Disse à madame que as plantas perdem as folhas por um processo natural. Algumas vão trocando aos poucos as folhas velhas e que cumpriram as suas funções de realizar a fotossíntese e são eliminadas num processo fisiológico, da mesma forma como nós humanos vamos ao banheiro fazer as nossas necessidades.

Alguns jardins são vitrines de esbanjamento de matérias primas. Sob o pretexto de reaproveitar materiais chega-se ao absurdo de utilizar centenas de dormentes e postes esquadrejados de madeira para forração do solo. Por mais que esses materiais sejam tratados e dispostos sobre uma camada de brita, nessa condição eles reduzem a vida útil, o que não aconteceria se a forração fosse de pedras ou material similar.

Também existe uma estranha mania de se instalar os fire place, uma espécie de pira só prá enfeitar o jardim à noite, queimando lenha que percorreu muitos quilômetros para chegar até ali. Essas piras não tem função de aquecimento ou para cocção de alimentos. É por mero deleite mesmo, como se o Planeta pudesse sustentar esse glamour.

Com relação à iluminação do jardim, a sofisticação faz a alegria dos fabricantes de material elétrico, tamanha a diversidade e custos altos dos dispositivos que são implantados. Nesse aspecto também existe um impacto gritante sobre a natureza. Acontece que o excesso de iluminação acaba por confundir e desorientar as aves, insetos e outros animais. O ideal que não houvesse nenhuma iluminação, mas nos casos em que ela é necessária que seja a mais discreta possível.

Constata-se em alguns jardins na linha clean, com poucas plantas, a excessiva impermeabilização do solo. A pobreza de quantidade e variedade em plantas, também significa menos diversidade de espécies animais. Jardins assim podem até ser mais fáceis de cuidar, mas são monótonos. Eles não expressam a explosão de vida que existe num país predominantemente tropical como o Brasil.

Chamado para uma vistoria técnica num jardim particular, fiquei impressionado com um fato: todas as plantas do jardim eram exóticas. Espaço tinha de sobra para acomodar bem algumas árvores nativas, mas não havia nenhuma. Nada tenho contra o uso de espécies exóticas. Algumas delas são lindas e também as utilizo nos meus projetos. É preciso equilibrar o número de espécies, até por uma questão educativa e de manutenção da biodiversidade. Há quem conheça toda uma gama de plantas ornamentais exóticas e quase nada das nossas espécies nativas.

Repito: os paisagistas devem olhar para os jardins e áreas verdes em geral como uma possibilidade de reaproximação do ser humano com a natureza. O valor da biodiversidade deverá sobrepor os elementos excessivamente artificiais.