13 de setembro de 2010

Brasil em chamas: Biomas inteiros agonizam

Por Darci Bergmann

As queimadas que dilaceram o patrimônio natural do Brasil e de boa parte do nosso continente causariam inveja ao imperador Nero, incendiário de Roma. As estatísticas sobre o número de focos de incêndio variam a cada dia. Mas o lado mais triste dessa tragédia aqui no Brasil é o modelo irresponsável de ocupação de terras que há décadas vem ocorrendo com aval dos governos constituídos. Nesse tocante os governos revolucionários de 1964 e os pós regime militar são parceiros da mesma estupidez ambiental. Grileiros de terra foram favorecidos com benesses oficiais e financiamentos de bancos estatais. Pessoas sem vocação para o trato com a terra foram incentivadas a ocuparem áreas nos biomas cerrado e floresta amazônica, tudo no intuito de ocupar espaços vazios e de alargar a fronteira agrícola.

 São exceções os proprietários que produzem dentro de uma visão de sustentabilidade.

 O novo eldorado gerou uma riqueza aparente em algumas famílias, mas já esboça uma contrapartida de miseráveis que se espalham nas malhas urbanas da região. No campo, entremeando grandes produtores da agropecuária, algumas famílias em pequenas áreas se aventuram num tipo de produção que exige grande aporte de capital. Mas esses extremos se complementam quando o assunto é queimadas. Não há dúvidas que a causa é antrópica. A maioria dessa gente sempre foi incentivada por politiqueiros e atravessadores a liquidarem com a natureza, pois o escopo sempre foi o lucro imediatista e nunca o amor à terra. Num cenário assim, práticas como as queimadas foram usadas para a ocupação rápida dos grandes espaços então disponíveis.

O capitalismo segue as nuvens da fumaça

Na esteira da ocupação acelerada, as obras de infra-estrutura, tais como estradas e pontes, permitem o acesso fácil a rincões antes protegidos pelo isolamento. Escoamento da produção, acesso a novas áreas, criação de núcleos urbanos, produção de energia, para citar algumas, são exigências dos novos proprietários. O uso intensivo de agrotóxicos e do fogo sempre fez parte desse processo. Aquilo que se repete por gerações vira tradição, um modelo cultural. Modelo cultural negativo, destruidor quando aniquila a natureza milenar. É assim que devem ser vistas as queimadas em boa parte do Brasil. É uma cultura equivocada, mas que tem raízes históricas e teve apoio oficial. As conseqüências dessa destruição ambiental agora assustam. Cidades inteiras ficaram cobertas de fumaça e fuligem. A saúde das pessoas agora é afetada numa escala sem precedentes, haja vista que os hospitais ficam lotados de pacientes com problemas respiratórios. Mais uma vez os grandes laboratórios farmacêuticos se beneficiam com a venda de medicamentos. Alguns desses laboratórios produzem agrotóxicos e assim o ciclo capitalista se fecha.

A fumaça das queimadas mata gente na cidade, já poluída por outras fontes.

Lá no interior a natureza agoniza. Os últimos refúgios naturais estão virando gigantescos cemitérios de bichos e plantas. Assim começaram muitos desertos. Quem faz uso deliberado das queimadas não deveria ter acesso a nenhum programa de financiamento. A queimada é crime ambiental e crime contra a humanidade.


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