26 de setembro de 2012

ASPAN 25 anos. Alguns fatos marcantes

O presidente Jones Dalmagro Pinto fez a abertura dos trabalhos.
Depois, o fundador e primeiro presidente Darci Bergmann
fez uma rápida resenha das ações que antecederam à criação da
entidade. Seguiram-se dicas valiosas sobre a implantação de
áreas verdes.



Ventava e fazia muito frio na manhã do dia 25 de setembro de 2012,
em São Borja/RS. Mas a garra e a determinação de lutar por mais
espaços verdes motivou estudantes, profissionais da educação e
público em geral a prestigiar e conhecer melhor a ASPAN.

No dia 25 de setembro, os 25 anos de fundação da ASPAN
foram comemorados no Espaço Ambiental. Pela manhã,
 230 pessoas participaram e ouviram
uma resenha histórica de como tudo começou, em 1977,
com o projeto Plante Uma Vida, Plante Uma Árvore.





Espaço ambiental. Cenário preparado com materiais reaproveitados.
O local permite acolher aproximadamente 300 pessoas sentadas.
Muitas oficinas e palestras do Projeto SEMEAR são realizadas
neste local.

Por equipe da ASPAN
1


   1) Antecedentes: a) Projeto Plante Uma Vida, Plante Uma Árvore, iniciado pelo ambientalista Darci Bergmann, em 1977, com o plantio voluntário de árvores na área urbana, caso da Rua Gal. Canabarro;  b) No legislativo municipal de São Borja, iniciativas do então vereador Darci Bergmann: Ipê-roxo - árvore-símbolo do Município, lei municipal nº 1022, de 26/09/1980; c) Lei municipal dos agrotóxicos, 1984; d) Lei municipal nº 1568/1988, que declara a espécie Furnarius rufus,  joão-de-barro, ave-símbolo do Município de São Borja; e) Mensagens aos Nativistas – Centro Nativista Boitatá, sob a coordenação do eng. Agrônomo Darci Bergmann. De 1978 a 1988 diversas mensagens e distribuição de milhares de mudas de espécies florestais nativas; f) Palestras em instituições de ensino e outras. g) Preparativos para fundação da ASPAN.

2)   21/09/1987 Fundação da ASPAN, nas dependências da Câmara de Vereadores. Darci Bergmann eleito presidente. Atual presidente: Jones Dalmagro Pinto.

3)   Legislação pela melhoria da arborização urbana. Em 1991, decretos sobre arborização, depois incorporados à Lei Complementar Municipal nº 24/2000.

4)   Luta pela implantação da Reserva Biológica de São Donato ( Maçambará e Itaqui). Em 1997, a ASPAN conseguiu que Tribunal de Justiça obrigasse o Estado do Rio Grande do Sul a implantar em definitivo a Reserva, o que ainda não ocorreu na prática.

5) Diversos projetos de arborização: Circuito dos ipês, com o plantio de centenas de exemplares da árvore-símbolo, inclusive entre os trevos de acesso à cidade de São Borja.

6) Encontros e seminários, como 1º Seminário Ambiental, em 1998, com mais de 400 participantes. Encaminhamento de propostas aos poderes constituídos, envolvendo arborização, saneamento básico, resíduos sólidos (Cartilha sobre lixo), poluição sonora, deriva de agrotóxicos, etc.

7) Atualmente, a ASPAN desenvolve um conjunto de ações denominado Projeto SEMEAR, com palestras e oficinas no Espaço Ambiental, na Rua Engº Manoel Luís Fagundes, nº 1591. Também faz a implantação de espécies florestais nativas numa área próxima às Instalações da FEPAGRO, no Rincão do Itaperaju.

8) Recentemente, por seu associado e fundador Gastão Bertim Ponsi, encaminhou representação junto ao Ministério Público Federal em Santa Maria pela manutenção de uma gleba da UFSM, para fins de educação e pesquisa nas ciências agrárias, e não como assentamento de famílias de ‘sem-terra’ ligadas ao MST. A citada área foi ocupada ilegalmente por integrantes do MST.

18 de setembro de 2012

UERGS reivindica terras para estudos e pesquisas


Por Darci Bergmann


  Professores e estudantes da UERGS, em São Borja, estão fazendo estudo geoambiental de uma área de terras que havia sido destinada à UFSM e ocupada em parceria pela FEPAGRO.
   Os alunos da UERGS foram divididos em grupos temáticos, tais como de flora, fauna, solos, entre outros. O objetivo é fazer o levantamento da área e propor um projeto que leve em conta as potencialidades do local, dentro de uma visão de sustentabilidade.
   Ao mesmo tempo, o trabalho pretende chamar atenção das autoridades para que a área, antes pertencente à Universidade Federal de Santa Maria-UFSM, tenha um aproveitamento dentro dos objetivos da educação e pesquisa. É assim que consta no decreto-lei nº 707, de 25 de julho de 1969, onde a União repassou uma área de 434 hectares à UFSM. Esta teria vendido a gleba ao Estado pelo valor de dez milhões de reais, conforme noticiou o jornal A Razão, de Santa Maria/RS.
    A negociação da área causou surpresa e preocupação pelo fato de que poderia haver destinação da gleba para assentamentos de ‘sem-terras’ ligados ao MST. Isto seria um desvio de finalidade, a um custo alto, enquanto universidades da cidade e região não dispõem de áreas para estudos e práticas de campo.
  Os estudantes visitaram também um projeto pioneiro de recuperação de áreas degradadas e sistema de produção sustentável – agrossilvicultura – em área de 15 hectares, no sítio do ambientalista Darci Bergmann. Nesta área, hoje existem centenas de espécies florestais e arbustivas nativas e exóticas. Constituem um valioso banco genético de espécies. A partir desse núcleo, é possível estabelecer um novo modelo de exploração sustentável em toda área antes pertencente à UFSM.
   Também puderam avaliar uma área com regeneração natural de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas, sob os cuidados da Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural – ASPAN, dentro de área maior que pertencia à UFSM. Os ambientalistas, de forma voluntária, fizeram a semeadura e o plantio de espécies florestais em área de antiga lavoura. Cuidaram da área por muitos anos, inclusive com sistema de prevenção às queimadas. Esta área foi invadida por um operador de máquinas ligado ao MST, que já causou impacto ambiental com descapoeiramento não autorizado. A ASPAN deliberou por apresentar queixa-crime na polícia civil pela invasão da área pública sob sua tutela, bem como de casa de moradia onde antes morava um funcionário da FEPAGRO. Da mesma forma a Patrulha Ambiental - PATRAM, em inspeção rotineira, constatou o descaminho ambiental do invasor, já autuado na forma da lei.











16 de setembro de 2012

A natureza sabe o que faz (3)

Por Darci Bergmann




   O tempo e a observação cuidadosa podem nos ensinar muito.

   Estamos imersos num mar de preocupações e de cobranças impostas pela civilização tecnológica. Nesse contexto nem sempre aprendemos as lições que a natureza nos transmite. Quase sempre queremos resultados rápidos. Quantos são os que plantam florestas nativas e recuperam áreas degradadas? Um percentual pequeno talvez. O nosso imediatismo nos leva a consumir ràpidamente o que a natureza levou um bom tempo para construir. Os produtos das florestas, por exemplo. Precisamos de madeira, lenha, fibras, matéria-prima para remédios, frutos e sementes. Esses produtos são muito cobiçados por quem não os plantou e não tem paciência em produzi-los, nem em conservá-los. Quando escasseiam, pelo excesso de consumo e esbanjamento, aumentam de preço. Aí, vozes inconformadas bradam ante os holofotes.

  Um modelo de agricultura predatória na base do arado, do agrotóxico, da monocultura, do uso abusivo do fogo e desmatamento descomedido arruinou milhões de hectares dos nossos solos.
  Em meio a esse transe imediatista, surgiram pessoas que alertaram sobre a necessidade de ações mais respeitosas ao solo e a todas as formas de vida nele contidas. Foram assim as práticas naturais propostas pelo casal Arthur e Ana Primavesi, que conheci nos meus tempos na Agronomia da UFSM. Tive a honra de ler e comentar alguns dos seus livros antes mesmo de serem publicados. E quanto aprendi com eles. Nesse tempo, conheci também o José Lutzenberger, notável ambientalista.    Antes deles, tive professores no então Ginásio Agrícola Celeste Gobbato*, em Palmeira das Missões, depois na Escola Técnica de Agricultura – a ETA em Viamão, que se preocupavam com uma agricultura mais natural. Caso do professor Henrique Muxfeldt e de Napoleão Leiria e outros mais.
    Em Palmeira das Missões, Henrique Muxfeldt ministrava aulas práticas de silvicultura aos adolescentes – eu tinha então 15 anos. Elas sempre eram precedidas de uma explanação. Os alunos sentavam no chão, sob a copa das árvores. Então a gente aprendia a refletir sobre o tema e a observar a natureza no entorno. Meu grupo plantou centenas de mudas de araucária, o nosso pinheiro. Muitos anos depois fiz uma visita ao local e me emocionei ao ver as árvores enormes que resultaram daquelas mudas produzidas e plantadas na minha adolescência. Só se aprende fazendo. Um cenário natural é a melhor sala de aula para se aprender sobre a própria natureza.   Como vamos ensinar aos nossos jovens sobre a natureza se tem escolas sem uma árvore sequer? Penso que ambientes  excessivamente artificiais não significam melhor qualidade de ensino.  
   Voltemos aos nossos mestres da agricultura natural. Transcrevo a matéria apresentada no programa Globo Rural, que faz referência à Ana Primavesi, com todos os méritos.

                     Nota:  * Ginásio Agrícola Celeste Gobbato, hoje Escola Estadual Técnica Celeste Gobbato, .____________________________________________________
16/09/2012 09h00 - Atualizado em 16/09/2012 09h00


Globo Rural conta a vida e a obra da

agrônoma Ana Maria Primavesi

Manejo ecológico dos solos é o centro do trabalho de Primavesi.
Em mais de 60 anos de carreira, ela escreveu livros e ganhou prêmios
.

Do Globo Rural

Focando seu trabalho no manejo ecológico dos solos, Ana Maria Primavesi é a agrônoma que desvendou mistérios da vida no solo. Seu estudo é um ponto de virada da agricultura tropical. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, ela deu aulas, escreveu livros, fez conferências e ganhou prêmios em vários países.
A doutora Primavesi, hoje com 92 anos, passou a vida toda no campo, estudando e aprendendo com a natureza. Ao longo da carreira, ela sempre defendeu uma agricultura natural, sem agrotóxico e que valoriza a vida no solo. “Para mim é fascinante como a terra melhora, como a água nasce, como tudo está se desenvolvendo. A minha paixão é o solo, porque tudo depende do solo, inclusive os homens”, explica.
A renomada cientista nasceu em um vilarejo na Áustria. De família nobre, teve educação de qualidade, com muita leitura e estudo de várias línguas. Vivia em um ambiente ao mesmo tempo sofisticado e muito ligado às coisas simples do campo. A propriedade em que morava era também uma fazenda, com gado de leite, trigo e outros produtos.
Segundo a geógrafa e professora, Virgínia Knabben, que está escrevendo um livro sobre Primavesi, o contato com a agricultura, desde cedo, foi fundamental para que ela resolvesse estudar agronomia e ciências florestais na Universidade Rural de Viena e, posteriormente, fizesse um doutorado sobre nutrição de plantas e solos.
Em 1946, Ana se casou com Artur Primavesi, de quem pegaria o sobrenome. Quando chegaram ao Brasil, em 1949, ambos começaram a trabalhar como agrônomos, dando início a uma relação profunda com o mundo rural brasileiro.
Visitando fazendas, conversando com agricultores, aos poucos, o casal aprendeu português e começou a escrever livros e manuais. Ao longo da vida, a doutora Primavesi publicou 12 livros e 94 textos e artigos científicos inéditos.
Para o agrônomo João Pedro Santiago, o pensamento de Primavesi é um marco na agricultura tropical e começa com uma ideia simples: o agricultor deve valorizar a vida do solo. “O solo orgânico pode ter, em um punhado de terra, até cinco bilhões de seres vivos, desde os grandes, como minhocas, até bactérias, fungos e algas. É um universo de vida e quem fez a gente enxergar isso foi a Primavesi. Na época em que ela começou a defender essas ideias, o foco era dado apenas para a adubação química e o para o veneno”, conta.
Segundo Primavesi, as plantas que crescem em um ambiente rico em matéria orgânica ficam mais fortes e mais resistentes ao ataque de pragas e doenças. Ela é totalmente contra ao uso de agrotóxicos. “Quando você tem um ambiente em que não usa veneno, a vida é diversificada, uns competem com os outros. É um controle biológico natural. Quando você joga veneno, vira praga. O tóxico mata a vida”, defende.
De todos os livros da doutora Primavesi, o mais famoso é o “Manejo ecológico do solo”, lançado em 1979. Com força e pioneirismo, as ideias da agrônoma se espalharam pelas faculdades de agronomia e se tornaram referência obrigatória, principalmente para quem estuda manejo de solos e agricultura orgânica.
Os ensinamentos de Primavesi
A mensagem da doutora Primavesi também entrou no dia-a-dia de agricultores de várias regiões do Brasil. É o caso do produtor orgânico Fernando Ataliba. Em seu sítio de 36 hectares, em Indaiatuba, interior de São Paulo, ele planta hortaliças, frutas e grãos.
No sítio de Fernando estão vários exemplos concretos do que ele chama de “manejo Primavesi”. Por exemplo, em todos os cultivos, as entrelinhas devem estar sempre cobertas, o que ajuda a manter o solo úmido, fofo e fresco. “Tudo isso enriquece a vida do solo, que vai sendo alimento de fungos e bactérias. Quanto mais formas de vida, mais saudável e mais sustentável ele fica”, explica o agricultor.
Outra recomendação de Primavesi adotada no sítio é a rotação de culturas. A prática é positiva para a saúde do solo e também ajuda no controle de pragas e doenças. Além de não usar veneno industrial, Fernando evita também as caldas e defensivos orgânicos.
Outra dica de manejo, particularmente importante para a agricultura tropical, é o uso de quebra-vento. “O vento constante desidrata as plantas, carreia a umidade do solo e das folhas, fazendo as plantas se estressarem com essa situação”, explica Fernando.
Com todos esses cuidados e seguindo à risca as ideias da doutora Primavesi, a propriedade vem conseguindo resultados positivos em termos de produção. “Respeitando o equilíbrio do solo e a natureza das plantas, nós conseguimos explorar todo o potencial genético das plantas. Isso quer dizer que eu estou produzindo acima da produtividade convencional um produto de alta qualidade”, garante Fernando.


14 de setembro de 2012

Quando o poder público depreda


Por Darci Bergmann

O mesmo poder que concede o licenciamento ambiental pode ser o responsável por danos ao patrimônio das pessoas e ao meio ambiente. As reclamações já são rotineiras. Obras e serviços feitos na tropelia pela Prefeitura de São Borja são alguns exemplos dos danos sofridos pelos moradores. Nem as árvores escapam dessa volúpia obreira às vésperas das eleições que ocorrerão em 7 de outubro deste ano de 2012.
A prefeitura quer 'mostrar serviço'. Iniciou obras em diversos locais, mas ninguém sabe se elas vão continuar depois das eleições e se há recursos para isso. 
Alguns moradores, inconformados com a destruição de passeios públicos, muros, grades e retirada de árvores sem necessidade, estão procurando na justiça a reparação dos danos.

Este é o caso da senhora Catarina Barbosa dos Santos, moradora da Rua Anselmo Campos da Rosa, nº 582, que me comunicou sobre os prejuízos causados pela municipalidade de São Borja. Fui ao local e constatei a veracidade dos fatos. A obra pretendida era uma rede coletora pluvial. Apenas uma árvore -  uma canela-de-tempero - precisaria ser removida. A equipe dos trabalhos mostrou 'documento' licenciando a remoção de mais duas  árvores: um pé de manga em floração e um pé de ipê-roxo, árvore-símbolo de São Borja. Não havia conflito dessas árvores com a rede elétrica e nem atrapalhariam a passagem dos tubos da rede coletora. Foram removidas assim mesmo. 
Nem o passeio público foi poupado pelo 'vandalismo oficial'. 




Fica a pergunta. A Prefeitura Municipal de São Borja vai ressarcir a proprietária?. Vai plantar alguma muda no local como medida compensatória da depredação do verde público?

7 de setembro de 2012

A natureza sabe o que faz (2)


Por Darci Bergmann

Áreas em regeneração espontânea: do simples ao complexo

   As plantas pioneiras proporcionam resultados positivos, nem sempre compreendidos pela maioria das pessoas. Elas foram projetadas geneticamente para uma série de funções e abrem caminho para o estabelecimento de sistemas ecológicos mais complexos. Esses sistemas ecológicos propiciados pelas plantas pioneiras, ou precursoras, permitem a produção de alimentos e fontes de matéria-prima vegetal de forma sustentável. Formam um leque de possibilidades de produção sem o uso de agrotóxicos, sem revolvimento do solo e sem a exposição deste à radiação solar, entre outras vantagens. Num sistema assim, cada ser tem a sua função reconhecida. A competição cede lugar à integração. 
   Esse tipo de agricultura tem denominações diferentes, conforme as variações de manejo.  Permacultura, Agrossillvicultura, Agricultura Natural, Agroecologia, Agricultura Biodinâmica e Agricultura Regenerativa são algumas dessas conceituações. Tenho realizado algumas experiências ao longo de quase 30 anos, em pequena área, aplicando um pouco de cada uma dessas correntes. E os resultados começaram a aparecer e já permitem concluir que  a recuperação de áreas degradadas é viável economicamente. 
   O importante é não ter pressa e sim manter o foco do que se pretende fazer. 

Citrus deliciosa, bergamoteira ou mexerica
Dentro de mata secundária, sem ataque de pragas.


Poderíamos ter evitado a degradação de grandes áreas em todos os biomas brasileiros
Citrus limonia, limão-cravo.
planta sã dentro de vegetação secundária


A foto acima mostra uma cooperação entre  plantas pioneiras
  e árvores  nativas de grande porte. O ipê-roxo se desenvolve
bem com a proteção das pioneiras.


 Se esses conceitos tivessem sido aplicados em vários programas de colonização e reforma agrária, a degradação teria menores proporções. Por ora os custos e a demora em recuperar certas áreas não atraem a maioria dos candidatos a um pedaço de terra. A maioria quer o filão mais fértil, que traga retorno financeiro imediato. Esse tipo de comportamento se refletiu na ocupação das áreas com remanescentes florestais. O certo seria viver com aquilo que a floresta intacta pode nos proporcionar, com o mínimo de interferência humana. Quase sempre a floresta foi arrasada. A madeira fornecia o 'lucro imediato' e o restante era queimado para então estabelecer lavoura ou pecuária
    Uma das alternativas para a recuperação do que já foi degradado – são dezenas de milhões de hectares – seria a ocupação dessas áreas por pessoas capacitadas e com incentivos públicos. Profissionais das áreas agronômicas e florestais, além de técnicos agrícolas de nível médio e agricultores com experiência, teriam prioridade na ‘aquisição’ dessas terras, sempre com o foco de recuperação e produção sustentável. Assentar pessoas  despreparadas em terras férteis, sem recuperar o passivo ambiental, é um desperdício de tempo e de recursos.
   Os tempos são outros e urge uma nova postura diante da calamidade ambiental que nos assola.  
 ______________________________________________________________
Fotos: Darci Bergmann
     

5 de setembro de 2012

A natureza sabe o que faz


Por Darci Bergmann


   O manejo inadequado do solo com as monoculturas causa redução da fertilidade e potencializa o aparecimento de pragas e moléstias. A rotação de culturas é uma alternativa para atenuar essas questões. Outras vezes o ‘descanso’ ou pousio da área se mostra viável.


   É impressionante como a natureza reage, principalmente, quando o solo fica em período de ‘descanso’. A recomposição da flora vai ocorrendo ano após ano e determinadas espécies se estabelecem a partir do banco de sementes do solo – esta capacidade de ressurgimento de espécies chama-se resiliência.
   É o que se constatou numa antiga lavoura. A presença de ervas invasoras exóticas como Sorghum halepensis, conhecido como capim-massambará,  não foi empecilho para o surgimento de espécies nativas regeneradoras do solo, entre as quais várias leguminosas.


   Dois ou três anos após, a espécie Baccharis dracunculifolia, vassoura-branca, também se estabeleceu na área em análise. Sob o dossel das vassouras-brancas, a gramínea Lolium multiflorum, azevém, entremeado com ervilhaca nativa e espécies de trevos, oferece agora uma pastagem que permite uma boa lotação por hectare. Para um leigo pode parecer uma área de capoeira. Quem tem olhos e mentes focados na biodiversidade, enxerga um caso concreto de uma área de monocultura que tende à regeneração natural.

  Além de boas pastagens, as áreas em regeneração são fornecedoras de pólen e néctar para as abelhas. Permitem também a introdução de espécies arbóreas nativas ou exóticas, destinadas à produção de frutas em sistema de coleta sustentável, sem necessidade de empregar agrotóxicos.

   Em sistemas assim, mais diversificados, até as formigas cortadeiras não causam danos expressivos. Elas têm mais opções de coleta de folhas, sementes e outros componentes vegetais que permitem o cultivo do fungo que lhes serve de alimento.
As fotos mostram um pouco dessa incrível capacidade de regeneração natural.




2 de setembro de 2012

Reforma agrária ou cambalacho?

Decorrido um mês, os integrantes do MST ainda ocupam esta casa
em terras da Universidade Federal de Santa Maria, antes ocupada
por funcionário da FEPAGRO, em São Borja/RS. O carro novo,
 modelo Celta, pertence a um dos 'sem-terra'


Por Darci Bergmann


  A um custo maior que o orçamento anual de muitos municípios do Brasil querem fazer uma ‘reforma agrária’ em terras públicas destinadas à educação e pesquisa. Vinte e três‘sem-terras’, ligados ao MST, seriam assentados numa área repassada pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM ao Estado do Rio Grande do Sul, ao custo de DEZ MILHÕES DE REAIS. Conforme matéria divulgada no jornal A RAZÃO, de Santa Maria/RS, na página 6, edição de 30/08/2012, os números da transação foram citados pelo reitor da UFSM, Felipe Müller, que não vê ‘irregularidades’ no caso.
   Na minha opinião, as irregularidades existem. A começar pelo desvio de finalidade das terras da UFSM, que foram destinadas pela União, em 1969, para que a Universidade ali implantasse unidades de ensino e de pesquisa ligados à atividade agropastoril. Tudo está bem claro no decreto-lei nº 707, de 25 de julho de 1969, já publicado neste blog.
   Outra irregularidade escancarada é o montante elevado de dinheiro público para assentar 23 famílias ao custo de dez milhões de reais. Isto só pelas terras. Depois, através do INCRA, o assentado ainda recebe outras benesses, como moradia, água, luz e repasses diversos a fundo perdido, ou seja, recursos que não são devolvidos aos cofres públicos.
   Fazendo as contas, cada assentado que passou alguns meses debaixo de uma barraca de lona, se transforma num MEIO MILIONÁRIO. Isto mesmo, custará aos cofres públicos quase MEIO MILHÃO DE REAIS. Enquanto isso, o trabalhador, empregado ou autônomo, rala uma vida inteira e não consegue tal regalia.