5 de fevereiro de 2011

Mais gente, mais consumo, mais degradação

Por Darci Bergmann

O aumento da população mundial está diretamente ligado à degradação do meio ambiente.Alguns estudiosos alegam que é possível sustentar uma população humana de alguns bilhões a mais, desde que o consumo de alimentos e bens seja equilibrado.
A história nos mostra que a degradação ambiental não é de hoje. Remonta há milênios. Em muitas regiões já ocorriam incêndios propositais, agricultura predatória, retirada de madeira e por consequencia a destruição do solo. No entanto, a população humana ainda não era expressiva e não tinha os padrões de consumo que ostenta hoje. As áreas degradadas eram abandonadas, outras eram então cultivadas e a sucessão de ciclos exploratórios alcançou o Planeta inteiro. Nenhum bioma ficou imune a essa ocupação humana. E muito pouco do mundo natural será preservado porque a pressão demográfica é maior que o esforço de preservação.
Nem a Amazônia escapará da fúria do progresso entranhada nas mentes da civilização atual. Isto porque a ideologia dominante coloca a espécie humana como o centro de tudo.

Falando em progresso o que ele significa na prática?

É a expansão sem limites de qualquer atividade. Isto vale para uma empresa que almeja crescer sempre mais e vale para as cidades onde a maioria das pessoas ainda supõe que a expansão das áreas urbanas e da população é melhoria de qualidade de vida. 
Poucos se questionam sobre os limites dessa expansão. Todas as empresas que já existem no mundo almejam crescer e isto significa um maior número de consumidores para os seus produtos e serviços. Haverá espaço para todos? Haverá matéria-prima suficiente? E se a população humana aumentar ainda mais e as cidades ocuparem mais espaço físico em prejuízo da produção de alimentos e da conservação da bio-diversidade? Essas são algumas das questões que a maioria dos políticos e das religiões ignoram. Por isso,  na maioria dos países, andam com lentidão os programas de planejamento familiar e alguns sequer os tem.

Quase sempre as pequenas cidades são mais charmosas

Conheci pequenas cidades que eram aprazíveis, pacatas, limpas, com uma invejável qualidade de vida. Decorridos alguns anos, elas se transformaram em amontoados de prédios, ruas barulhentas apinhadas de carros,  sujas e inseguras. Na visão de alguns vereadores e mesmo das pessoas que chegaram depois dos anos de bonança, essas cidades cresceram e progrediram. Na minha maneira de pensar pioraram a qualidade de vida. Houve inchaço urbano em algumas delas a tal ponto que o maior volume de impostos não consegue dar conta de todas as demandas. Nesses casos, a demanda por recursos de fora aumenta. Prefeitos, vereadores e comissões da comunidade batem às portas dos estados e da união em busca sempre de mais verbas. Como essas são centralizadas boa parte delas fica perdida com gastos supérfluos, remuneração do aparato do estado e corrupção. O que chega nas comunidades também sofre erosão. A propaganda oficial se encarrega de dilapidar mais uma parte deles - o que é realmente aplicado em obras e serviços não dá conta do recado.  Enquanto isso a população aumenta, a cidade se expande sobre as áreas verdes no entorno e a esse descalabro alguns denominam progresso. Nesse cenário, oportunistas de plantão tiram proveito da miséria com promessas de tempos melhores. Os políticos querem mais eleitores e alguns religiosos  mais fiéis no seu rebanho. Poucos são os que se preocupam com a verdadeira qualidade de vida. Quase nada se faz em termos de planejamento familiar, embora tantos recursos hoje existentes. O assistencialismo corre solto e a preservação ambiental é mais discurso do que ação real.

Em busca do equilíbrio

O ser humano afastado da natureza e movido apenas pela lógica do consumo degrada mais o meio ambiente.  Os seus valores giram em torno de bens materiais transitórios. Para consegui-los não mede esforços nem limites de expansão. O ser humano, na ânsia do ter mais, é capaz de degradar o último riacho, secar a última fonte, drenar o último banhado, acabar com a última e única floresta. Um único indivíduo com essa escala de valores é capaz de grandes estragos ambientais. O que será do Planeta quando centenas de milhões de indivíduos ou quem sabe bilhões de indivíduos apostarem no consumo desenfreado e na expansão sem limites de suas atividades? Evidente que a Terra não comporta essa civilização de competição. Ao invés de falarmos em crescimento das empresas, expansão do consumo, economia de escala, crescimento das cidades deveríamos debater nas nossas escolas e, no âmbito da sociedade, uma outra escala de valores. Esta inclui sistemas de cooperação e não de competição; complementação de atividades entre empresas e indivíduos; desestímulo ao consumismo aviltante, predatório, que exaure o Planeta e o transforma numa grande lixeira. Num sistema assim, até boa parte dos impostos poderiam ser pagos em serviços e não em dinheiro. Não precisariam políticos demagogos criarem isenções eleitoreiras. Até a corrupção seria menor. 
Cada indivíduo deve rever a sua escala de valores e o mesmo vale para as corporações e o Estado. Essa condição de equilíbrio talvez se consiga com a estabilização da população mundial e com a redução do consumo.  Caso isso não seja possível, creio que a Terra fará os ajustamentos à revelia da nossa civilização.  

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