11 de fevereiro de 2011

DOCE MORTE

Por William Duffy.
que realmente acontece no nosso corpo quando comemos açúcar?
"A ingestão diária de açúcar refinado faz o fígado inchar como um balão"
 “Refinado". De qualidade superior. O resultado de uma melhoria consciente. Mas não no caso do açúcar. O açúcar refinado é aquele do qual foram retirados os minerais e as vitaminas. O que sobra é puro carboidrato refinado. Uma vez que não contém os minerais naturais presentes na beterraba ou na cana, o açúcar refinado retira do corpo minerais e vitaminas preciosas porque sua digestão, desintoxicação e eliminação impõem essa exigência ao organismo. Não surpreende, portanto, que, na década de 1950, o doutor William Coda Martin tenha chamado o açúcar de veneno.
O impacto repentino da ingestão de grande quanti­dade de açúcar rompe o delicado equilíbrio que é essen­cial para o funcionamento saudável de nosso organismo. Então, o corpo mobiliza ácidos neutros e minerais tais como sódio (do sal), potássio e magnésio (das verduras) e cálcio (dos ossos) numa tentativa de restabelecer o equilíbrio ácido-alcalino do sangue.
Comer açúcar todos os dias piora o problema, produzindo um contínuo estado excessivamente ácido, que significa que mais e mais minerais serão exigidos do corpo para corrigir o desequilíbrio. Por fim, é tão grande a quantidade de cálcio retirada dos ossos e dentes que começam a surgir cáries e há um enfraquecimento geral do corpo.

"A ingestão diária de açúcar refinado faz o fígado inchar como um balão"

Açúcar em excesso acaba por afetar todos os órgãos do corpo. Inicialmente, ele fica armazenado no fígado na forma de glicose (glicogênio). Dado que a capacidade do fígado é limitada, a ingestão diária de açúcar refinado (acima da quantidade necessária de açúcar natural) logo faz o fígado inchar como um balão. Quando o fígado chega a sua capacidade máxima, o glicogênio em excesso retoma ao sangue na forma de ácidos graxos, que são levados a todas as partes do corpo e armazenados nas áreas mais inativas: a barriga, as nádegas, o peito e as coxas.
Quando esses locais comparativamente menos importantes estão completamente cheios, os ácidos graxos, então, são distribuídos pelos órgãos ativos, tais como o coração e os rins. Esses órgãos começam a funcionar de modo mais lento, finalmente, seus tecidos começam a se deteriorar e se transformar em gordura. O organismo todo sofre com o funcionamento reduzido desses órgãos e a pressão sangüínea começa a atingir níveis anormais. O sistema nervoso parassimpático é afetado e os órgãos por ele controlados se tornam inativos ou ficam paralisados. (O funcionamento normal do cérebro raramente é lem­brado como sendo tão biológico/orgânico como a diges­tão). Os sistemas circulatório e linfático são invadidos e a qualidade dos glóbulos vermelhos começa a mudar. Há uma superabundância de glóbulos brancos e a formação de novos tecidos começa a diminuir. O poder de tolerân­cia e de defesa do organismo torna-se mais limitado, de modo que não conseguimos responder adequadamente a grandes ataques, sejam o frio, o calor, mosquitos ou mi­cróbios.
Açúcar em excesso traz grandes efeitos prejudiciais ao funcionamento do cérebro. A chave para o funciona­mento organizado do cérebro é o ácido glutâmico, um componente vital encontrado em muitas verduras. As vi­taminas do complexo B desempenham um papel impor­tante na divisão do ácido glutâmico, que produz uma resposta no cérebro de «continuar" ou «parar". As vitaminas B são também produzidas por bactérias simbióticas que vivem em nossos intestinos. Quando açúcar refinado é ingerido diariamente, essas bactérias secam e morrem, e nosso estoque de vitaminas do complexo B fica muito baixo. Açúcar demais faz as pessoas ficarem sonolentas; nossa capacidade de fazer cálculos e de lembrar coisas se perde.
A energia "imediata" que a gente sente ao comer açúcar está baseada no fato de que a sacarose refinada não é digerida nem na boca nem no estômago; passa di­retamente para o intestino e, de lá, para a corrente sangüínea. A grande rapidez com que a sacarose entra na corrente sangüínea causa mais mal do que bem.
Açúcares de todos os tipos tendem a suspender a secreção de ácidos gástricos e têm um efeito inibitório sobre a capacidade natural do estômago de se movimen­tar. Quando ingeridos isoladamente, eles passam rapidamente pelo estômago até chegarem ao intestino delgado. Quando ingeridos junto com outros alimentos ­ talvez carne e pão em um sanduíche -, permanecem no estômago por um certo tempo. O açúcar do pão e da Coca­-Cola ficam ali com o hambúrguer e o pão aguardando para serem digeridos. Enquanto o estômago trabalha na digestão da proteína animal e do amido refinado do pão, a presença do açúcar praticamente garante uma rápida fermentação ácida sob as condições de calor e umidade existentes no estômago.
Quando amidos e açúcares complexos (tais como os do mel e das frutas) são digeridos, são transformados em açúcares simples chamados "monossacarídeos", que são substâncias possíveis de serem usadas pelo corpo. Quando amidos e açúcares são ingeridos juntos e sofrem fermenta­ção, são transformados em dióxido de carbono, ácido acético, álcool e água. Com exceção da água, todas são substâncias que o organismo não pode utilizar- venenos.
Quando proteínas são digeridas, são transformadas em aminoácidos, que são substâncias úteis para o organismo - nutrientes. Quando proteínas são ingeridas com açúcar, elas se decompõem; são transformadas em uma série de ptomaínas e leucomaínas, que são substân­cias que o organismo não pode utilizar - venenos.
A digestão enzimática prepara os alimentos para serem usados pelo organismo. A decomposição feita pe­las bactérias os torna inadequados para serem usados pelo organismo. O primeiro processo nos fornece nutrientes; o segundo nos fornece venenos.

William Duffy  é autor de Sugar Blues, do qual esse artigo foi adaptado.
Fonte: Artigo publicado na The Ecologist em novembro de 2003, versão em portugues extraída da The Ecologist Brasil, ano 2005.




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