12 de outubro de 2011

Clima terrestre. Britânicos suspendem teste de geoengenharia.

Britânicos suspendem teste de geoengenharia para manipulação deliberada do clima terrestre
  Comentários :: Publicado em 11/10/2011 na seção noticias :: Versões alternativas: Texto PDF


Um projeto para injetar água do mar a uma altitude de 1 km na atmosfera, conduzido por pesquisadores de quatro universidades do Reino Unido, não será mais realizado neste mês de outubro de 2011. O plano, que envolvia suspender uma mangueira por meio de um balão de hélio, seria um teste preliminar de uma família de estratégias de geoengenharia - a manipulação deliberada do clima terrestre - para combater os efeitos do aquecimento global.

Chamado
 Spice (sigla em inglês de Stratospheric Particle Injection for Climate Engineering, ou Injeção de Partículas na Estratosfera para Engenharia do Clima), o programa investiga a viabilidade de se lançar partículas na alta atmosfera para refletir parte da energia do Sol de volta ao espaço.

O teste previsto originalmente para outubro, mas agora suspenso por pelo menos seis meses, não teria a capacidade de afetar o clima: um modelo realmente funcional teria de injetar partículas a uma altitude de 20 km. O teste em escala serviria para gerar dados sobre o comportamento do balão e da mangueira.
 

De acordo com o material de divulgação do projeto, o efeito de resfriamento global esperado de uma aplicação dessa estratégia seria comparável ao de uma grande erupção vulcânica, um tipo de evento que lança grandes quantidades de material à base de enxofre na estratosfera.

Os pesquisadores envolvidos no Spice citam como exemplo a
 erupção do Monte Pinatubo, nas Filipinas, me 1991, que causou uma redução de 0,5º C na temperatura média global, ao longo dos dois anos seguintes.

PRESSÃO POLÍTICA

De acordo com o site da revista
 New Scientist, o teste foi adiado depois de uma forte pressão exercida pela ONG ETC, baseada no Canadá.

Em cartas enviadas a autoridades britânicas, a organização acusava o experimento de violar acordos internacionais como a Convenção de Biodiversidade das Nações Unidas, que impõem uma moratória na implementação de estratégias de geoengenharia até que seus efeitos ambientais sejam bem estudados.

Mas um especialista ouvido pela revista aponta que o teste do Spice não deveria ser visto como uma violação desse princípio, já que não teria o potencial de, realmente, afetar o clima. Mas alguns grupos ambientalistas consideram que a simples realização do teste representaria um "Cavalo de Troia" para a introdução efetiva de tecnologias de geoengenharia.
 

Também há o temor de que a opção de manipulação tecnológica do clima seja usada como pretexto para que medidas mais urgentes, como a redução das emissões de dióxido de carbono por atividade humana, sejam adiadas.

A nota do Conselho de Pesquisas em Engenharia e Ciências Físicas do governo britânico que anunciou a suspensão do teste informa, apenas, que a decisão foi tomada para "permitir mais tempo de interação com as partes interessadas. Adotamos uma abordagem responsável de inovação com este projeto", diz o texto. "E nossa decisão de interromper o teste reflete conselhos que recebemos de nosso comitê consultivo".
 

A oposição à geoengenharia não vem só de ONGs, no entanto. Em 29 de setembro de 2011, o
 Parlamento Europeu aprovou uma resolução sobre meio-ambiente que, entre outras disposições, manifesta "oposição a propostas de geoengenharia de larga escala". O mesmo texto reconhece "a importância da pesquisa, desenvolvimento e inovação, e a necessidade de cooperação científica e tecnológica."

RECOMENDAÇÕES DOS EUA

A despeito da perda de prestígio na cena europeia, a pesquisa sobre geoengenharia recebeu, no início de outubro, um impulso de um grupo de estudos nos Estados Unidos, o
 Bipartisan Political Center (BPC).Relatório divulgado em 4 de outubro de 2011 pede que o governo federal americano lance um "programa coordenado de pesquisas para explorar a eficácia potencial, viabilidade e consequências de estratégias de remediação climática".

O relatório afirma que "os riscos da mudança climática são reais e estão aumentando", e que "os riscos geopolíticos e para a segurança nacional da adoção de tecnologias de remediação climática por outros países ou agentes são reais".
 

Com base nisso, indica que os EUA deveriam pesquisar se alguma estratégia de "remediação climática" poderia representar uma resposta significativa aos riscos da mudança climática, e avaliar que medidas outros países podem ser levados a tomar. Os Estados Unidos deveriam "liderar as importantes conversações internacionais que provavelmente surgirão" a respeito do assunto.
 

ROYAL SOCIETY

Em 2009, a
 Royal Society do Reino Unido publicou um relatório de mais de 90 páginas intitulado Geoengineering the climate: science, governance and uncertainty, que avaliava a viabilidade de diversas opções propostas para a manipulação deliberada do clima, notando logo no início a "ausência de informação acessível e de qualidade" a respeito de tais propostas.

O trabalho divide os vários planos sugeridos em dois grupos -- remoção de dióxido de carbono, com as estratégias para retirar o excesso de gás causador do efeito estufa da atmosfera; e controle da radiação solar, envolvendo propostas para reduzir a energia do Sol que chega á superfície do planeta.

O relatório conclui que as opções de geoengenharia "só deveriam ser consideradas como parte de um pacote mais amplo de alternativas", incluindo reduções nas emissões de gases causadores do efeito estufa, e que ainda assim os métodos relacionados à remoção do dióxido de carbono são preferíveis. No entanto, o texto diz que, numa situação de "emergência climática", técnicas para refletir a luz solar de volta ao espaço podem representar "a única forma de reduzir as temperaturas globais".

FONTE
 

Inovação Unicamp
Carlos Orsi
 - Jornalista
Telefone: (19) 3521-4876
E-mail:
 contato@reitoria.unicamp.br

______________________________________________________________________
Saiba mais sobre o clima:
Uma persistente La Niña está de volta
Por Stephen Leahy, da IPS
La Niña voltou menos de três meses após sua última e poderosa manifestação, que ajudou a disparar os preços mundiais dos alimentos. A nova Niña, fase fria da Oscilação do Sul, prolongará a falta de chuvas em importantes regiões agrícolas do Brasil e da Argentina, e no sul dos Estados Unidos, afetando colheitas de soja e trigo.
Não é raro que La Niña se apresente em vários anos consecutivos, disse Jeffrey Masters, diretor de meteorologia e cofundador deWeather Underground, primeiro serviço meteorológico comercial na internet. A última vez que ocorreu foi em 1998 e 2001, "com intervalo de poucos meses de condições neutras, como neste ano de 2011", explicou ao Terramérica.

La Niña e El Niño são, respectivamente, as caras fria e quente do El Niño Oscilações do Sul (Enos), fenômeno climático marítimo cíclico que afeta os padrões meteorológicos em todo o mundo. O Enos é parte do sistema que regula o calor no trópico oriental do Oceano Pacífico e está pautado por mudanças na temperatura da superfície oceânica e na pressão atmosférica. Entretanto, mal começamos a entender como o Enos se manifestará no futuro em razão da mudança climática, advertiu Masters.

A aparição anterior do La Niña foi em junho de 2010. Na Austrália desatou fortes chuvas que puseram fim a dez anos de seca, mas que inundaram cerca de 850 mil quilômetros quadrados, quase a área que França e Alemanha ocupam juntas. Também causou inundações sem precedentes no norte da América do Sul, por exemplo, na Colômbia e norte do Brasil. Ao mesmo tempo, o centro e o sul de Brasil eArgentina e o sul do continente sofreram secas.

"As projeções indicam que esta Niña será mais fraca", afirmou Masters. Contudo, seus impactos serão amplificados porque muitas regiões ainda não se recuperaram do La Niña anterior. América Central, Venezuela, Colômbia e outras regiões, que em dezembro e janeiro sofreram inundações sem precedentes, podem esperar mais precipitações fortes nos próximos meses, segundo as previsões, acrescentou.

Devido à mudança climática, a atmosfera terrestre é, em média, 0,8 grau mais quente do que na era pré-industrial e por isso retém 4% mais de vapor de água, disse ao Terramérica, por e-mail, o especialista em clima Kevin Trenberth, do National Centre for Atmospheric Research, com sede em Boulder, o Estado norte-americano do Colorado. "A umidade extra acompanha as temperaturas marinhas e tem impacto em tudo. Nos lugares que estão mais quentes durante o La Niña, há mais risco de inundações", destacou.

Os modelos climáticos computadorizados ainda não conseguem prever como a mudança climática afetará o complexo ciclo do Enos, que pode durar entre três e sete anos, afirmou Trenberth. Embora as inundações e as secas tenham piorado, não há evidências claras de que a mudança climática afetou o Enos, alertou. Masters prevê que oLa Niña atual atingirá seu clímax em janeiro e se diluirá na primavera boreal [do hemisfério norte]. Isto levará tempo seco ao Texas e a outras partes do sul dos Estados Unidos que já sofrem uma seca extrema.

"As secas tendem a gerar sistemas de alta pressão que atuam reforçando as condições que produzem a própria seca", disse Masters. Este ano caíram no Texas menos de 127 milímetros de chuva, quebrando todos os recordes e causando perdas agropecuárias de US$ 5 bilhões. A agricultura da região enfrenta um caminho longo e difícil que exigirá várias temporadas de fortes chuvas para se recuperar, acrescentou.

Os técnicos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos(USDA, da sigla em inglês) acreditam que, continuando o La Niña, haverá "uma grande probabilidade" de fracassar a colheita de inverno de trigo e "um possível fracasso dos cultivos de verão" em 2012 nas planícies do sul do país. O Oil World, um serviço de previsão agrícola com sede na cidade alemã de Hamburgo, prevê que a soja e outros cultivos estarão ameaçados por condições mais secas em boa parte da Argentina e no sul e centro do Brasil.

"O centro do Brasil sofrerá condições de secas incomuns desde meados de abril", diz um informe do Oil World, divulgado dia 30 de setembro de 2011. Em algumas zonas da Argentina choveu muito menos do que a metade do que se considera normal. Sem chuvas, as colheitas de outubro e novembro podem ir à bancarrota, segundo o informe.

Os preços mundiais dos alimentos estão 26% mais altos do que há um ano, segundo o Índice da FAO, publicado em setembro pelaOrganização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação(FAO). As reservas de cereais estão baixas, mas a FAO estima que os rendimentos mundiais de trigo serão 2,8% mais altos do que em 2010, embora esta previsão seja de junho, antes de se saber com certeza do La Niña atual.

Fonte:Agrosoft/Tierramérica

11 de outubro de 2011

As florestas, os políticos e o dragão


Foto: Darci Bergmann
Por Darci Bergmann

          No atual momento uma onda de protestos sacode os Estados Unidos. No centro da questão o desemprego, os monopólios, as desigualdades sociais e acima de tudo a frustração com a classe política. Há quem afirme que a democracia americana é apenas de fachada e que uma elite de privilegiados é que tem o poder de fato. 
          Lá já perceberam que a classe política, com raras exceções, tem comportamentos diferentes. Na busca do voto o discurso é um e depois das eleições a prática é outra. O que deveria ser um exercício de cidadania, com  mandatos eventuais, transforma-se em profissão e num jogo de vale-tudo.
No Brasil a situação é semelhante. Querem até que prefeito tenha 13º salário. Já houve tempo em que queriam que vereador tivesse aposentadoria. Tem deputado que diz representar os pequenos agricultores e lá na Câmara Federal faz o jogo dos grandes latifundiários desse País. Os votos dos pequenos elegem e o mandato é exercido no interesse dos grandes do agronegócio. 
Tal percepção vem à tona quando se analisa o que ocorre com a pretendida reforma do Código Florestal, agora em tramitação no Senado Federal. Em pesquisas de opinião, a maioria da população brasileira  manifestou seu interesse em manter a essência do Código Florestal. Em outras palavras, pela manutenção das áreas de preservação permanente e da Reserva Legal, nos termos da lei ainda em vigor. E também contra a anistia aos desmatadores, alguns deles ligados a políticos corruptos, entreguistas, verdadeiros sanguessugas do patrimônio natural. 
           Floresta preservada dá emprego, renda, produz alimento e assegura as condições para produzir de forma sustentável. Não faltam exemplos de boa convivência entre produção e preservação ambiental. 
Mas o que se pretende mesmo é escamotear a verdade, criando-se a falsa impressão de que os ambientalistas são contra os agricultores e vice-versa. Citam alguns políticos que a lei como está impede o aumento da produção de alimentos. A prática já demonstrou que o desmatamento desordenado, aliado às queimadas e ao cultivo predatório, degradou milhões de hectares de terras. E quem vai pagar essa conta? Querem anistiar os causadores de tudo isso? Não seria mais coerente que quem degradou recupere a fertilidade perdida? 
          Que futuro terá este País, quando o restante de suas florestas estiverem aniquiladas sem os seus serviços ambientais? Os mananciais de água desprotegidos e muitos deles sem condições de qualidade e quantidade? As ocupações de áreas de risco tanto para habitação como para o plantio? E ainda se pode citar a perda de biodiversidade, polinizadores e o permanente risco de novas pragas e doenças que proliferam mais em áreas degradadas. 
          Tenho receio de que, na ânsia de produzir mais alguns milhões de toneladas de grãos e de carne para exportação, as florestas, o solo e os mananciais de água sejam sacrificados mais do que já foram. Essas exportações geram uma riqueza aparente. Boa parte desse dinheiro que entra é transformado em consumo de supérfluos, verdadeiras geringonças que viram lixo e sucatas de toda a espécie. Um exemplo disso está em certas quinquilharias que vem lá da Ásia. Exportamos matéria-prima e importamos lixo para a falar a verdade, tal é a falta de qualidade de alguns produtos que aqui aportam. Querem um exemplo entre milhares talvez? Importamos componentes e acessórios de computador, "baratos", que duram três ou quatro semanas e daí vão para o lixo.      
          O dragão chinês já está aqui em busca de matéria-prima, desde grãos e carne até minérios. São várias empresas já estabelecidas com essa finalidade. Na época do "descobrimento" do Brasil, os colonizadores presenteavam os índios com espelhinhos e outras futilidades, em troca de ouro, madeira e terras. Agora o Brasil cede matérias-primas valiosas e compromete o seu patrimônio natural em troca de futilidades tidas como de alta tecnologia a preços módicos. Vai matéria prima barata e vem produto industrializado com valor agregado. E tem político que vê progresso nesse tipo de intercâmbio. Ainda bem que pessoas de visão mais ampla já articulam medidas de proteção aos interesses nacionais. Resta incluir as nossas florestas nessa proteção, antes que sejamos inundados com os "espelhinhos" da globalização. 
          A nós cidadãos cabe também expurgar os políticos corruptos, desde os municípios até os altos escalões do poder.  
______________________________________________________________________________________________________________________

Saiba mais sobre os serviços ambientais das florestas e o Código Florestal. Acesse o link abaixo.  
Código Florestal: Os serviços ambientais da floresta
ONU alerta para risco de colapso de recursos naturais na América Latina

  

3 de outubro de 2011

A grande viagem

Foto: Darci Bergmann


Por Darci Bergmann

A minha trajetória aqui já percorreu mais de 63 anos. Ao longo desse caminho se descortinaram cenários admiráveis e outros de desolação. Como num filme, fui espectador. Também fui ator e de alguma forma alterei o cenário. A trama da vida vai fluindo e o fim ainda não tem data marcada. Quando esse filme terminar, inicia a grande viagem para outro cenário totalmente desconhecido. A minha embalagem  ficará nas entranhas da terra. Também ficarão todos os apetrechos, alguns tidos como indispensáveis e que não terão nenhuma serventia na nova jornada.
No tempo que resta desse filme da vida, devo fazer uma revisão.  Uma prestação de contas à minha consciência de ator. Quem sabe revise os meus erros de interpretação. E se possível ainda conserte alguns estragos meus e de outros atores.  É isso mesmo. Recebi um roteiro para o filme da vida, mas com o livre arbítrio de alterá-lo se o quisesse. Atuo numa fração do Planeta e o elenco é de uma única espécie que a cada ano se torna mais numeroso.  Agora percebo que atores de outras espécies foram negligenciados e alguns até correm risco de desaparecer.
O cenário é variado, é sutil e uma teia de formas de vida ainda palpita em alguns locais. O passar dos anos aguçou minhas percepções. No meu sítio, uma pequena amostra do gigantesco cenário da Terra, sou um espectador deslumbrado, tamanha é a diversidade do elenco de seres que eu antes não percebia. É uma quase reverência. Estou no primeiro domingo da primavera.  As chuvas regaram o chão e a explosão de verde é intensa, em vários tons. Nos bosques, o perfume de flores, de resinas e da terra molhada. A sinfonia de fundo vem de seres alados. De repente, o quase silêncio é interrompido pelo ronco de outro ator, lá do alto de uma copada. É um bugio macho. Comanda um grupo de fêmeas e os filhotes, dentro de um território demarcado por ele. Ali, naquele momento eu sou o único da minha espécie. Mas não há solidão. Nem poderia haver com tamanha quantidade de formas de vida. Sento-me no chão forrado de folhas e fico calado, apenas observando. Aqui e ali observo que os tatus fizeram pequenas covinhas em busca de minhocas e larvas. Muitas vezes coloquei sementes nessas covinhas e as tapei com a terra mexida e sobre esta coloquei folhas para manter a umidade. Ao meu lado uma pequena muda de jabuticabeira é testemunha de que a parceria com os tatus deu certo.  Agora, um quase silêncio. Nenhum ruído da civilização. Tenho uma sensação de paz. Ainda sentado faço uma meditação. Uma gralha-picaça chega de repente e faz coreografia bem perto de mim. Terminada a apresentação, volto a meditar. Agora é um bem-te-vi que se anuncia e outro mais adiante responde. O desfile de beldades não pára. Beija-flores, o alma-de-gato e outras aves se apresentam como atores neste cenário deslumbrante. Nunca se está só quando se está nas entranhas de uma floresta. Nunca se está só quando se está num campo verdejante. A vida palpita nesses cenários.
Procuro refazer os pensamentos e me vem à mente um sentimento de dúvida. Até quando cenários assim existirão aqui? A espécie humana, no seu conjunto, está obcecada pelo progresso. Os seus valores são outros. Por onde ela passa deixa marcas profundas de destruição e de resíduos. As paisagens do cenário são alteradas sempre com os mesmos argumentos. Ora porque uma estrada é necessária, ora porque há escassez de energia. Outras vezes porque há necessidade de produção de alimentos. Nessa visão unilateral de povoar o Planeta só com uma espécie talvez resida o maior equívoco da civilização. Uma civilização insensível, afastada do meio natural, torna-se alienada, dependente e sujeita à manipulação.  E ainda são poucos os indivíduos que tem percepção mais apurada sobre a importância de todas as formas de vida. Eu mesmo não sei o que será deste recanto que agora reverencio quando eu partir para a grande viagem.  Se depender de mim, ainda fico aqui por algum tempo. Até para dar minha humilde contribuição por um estilo de vida mais sustentável.        

30 de setembro de 2011

Ambientalistas elogiam Bolsa Verde mas apontam falhas no programa


MEIO AMBIENTE | 30.09.2011


 

Novo programa socioambiental brasileiro quer combater a pobreza e preservar a Amazônia. Ambientalistas alertam que o benefício pago não é suficiente para mudar a lógica econômica da região, que depende do desmatamento.

 
Em outubro, 3,5 mil famílias brasileiras que vivem em condições de extrema pobreza irão receber pela primeira vez o Bolsa Verde. O benefício é a nova arma lançada pelo governo federal para aliviar as condições sociais precárias desse cidadãos e, ao mesmo tempo, estimular a preservação ambiental e ajudar a conservar até 50 milhões de hectares de floresta.
O Bolsa Verde pretender alcançar os brasileiros que vivem em áreas de conservação dos nove estados da Amazônia Legal e que têm uma renda de até 70 reais por membro. O programa tem a meta de atender 18 mil famílias até o fim do ano, chegando a 76 mil em 2014. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2,6 milhões de pessoas vivem em condições de extrema pobreza só na Região Norte do país – a metade delas está no estado do Pará.
"Ao assinar o termo de adesão, elas se comprometem a manter suas atividades de conservação ambiental, a respeitar tanto a legislação ambiental como as regras específicas da unidade de conservação onde moram", explica Andréa Oncala, coordenadora do Bolsa Verde do Ministério de Meio Ambiente, sobre as famílias que vão receber o benefício.
Paulo Moutinho, diretor do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), diz que a iniciativa é bem-vinda por ter o mérito de motivar a valorização da floresta, mas faz ressalvas. "O Bolsa Verde não pode ser encarado como uma solução definitiva, pois será necessário que compensações por conservação florestal ou redução do desmatamento sejam parte de uma política maior de valoração florestal e, principalmente, de promoção de um uso mais sustentável e ambientalmente correto das áreas já desmatadas."
Ambientalistas do Greenpeace usam o lançamento do programa para destacar uma contradição na política ambiental brasileira. "A presidente Dilma precisa desligar a motosserra no Congresso, pois para eliminar a pobreza precisamos manter de pé nossas florestas, que são a maior riqueza do país, que abrigam uma parcela importante da população pobre do Brasil e que impulsionam nossa agricultura", criticou Rafael Cruz, da Campanha Amazônia da ONG. Ele se refere à votação do controverso Código Florestal, acrescendo que a presidente ainda não interferiu na discussão.
Uma questão de sustentabilidade
O Bolsa Verde é inspirado no Programa Bolsa Floresta (PBF), instituído pelo estado do Amazonas em 2007 como o primeiro projeto do Brasil voltado para a compensação das populações tradicionais pela manutenção dos serviços ambientais. Atualmente, o PBF contabiliza 35 mil pessoas atendidas em 15 unidades de conservação, numa área que totaliza 10 milhões de hectares.
Os beneficiados dependem da floresta para sustento próprio: eles já moram em unidades de conservação ou assentamentos e exercem atividades extrativistas. "A lei permite que famílias habitem essas áreas", explica Oncala.
Essas pessoas vivem da pesca, da colheita da castanha, do babaçu, da extração da seringa, de fibras, açaí e, na maioria dos casos, praticam atividades agrícolas de subsistência. Questionada sobre qual consciência essas famílias têm do que são ações sustentáveis ou não, Oncala respondeu que o próximo passo do governo é oferecer uma capacitação ambiental mais aprofundada aos beneficiados.
Segundo as regras, as unidades de conservação beneficiadas têm 85% de cobertura vegetal – cinco assentamentos teriam ficado fora da lista do governo por não cumprirem essa determinação. A fiscalização será feita com a ajuda de satélite: o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) vai mapear as áreas onde vivem as famílias atendidas pelo Bolsa Verde. Estão programadas também visitas aos locais para avaliar o impacto do programa.
Se os beneficiados não receberem boa orientação, ressalta Moutinho, a fiscalização terá que ser mais pontual. "A fiscalização só não será tão fundamental se a aplicação dos recursos do Bolsa Verde for bem dirigida, para que gere resultados a longo prazo e que sejam aplicados não só na preservação florestal, mas na busca de valorização das atividades já desempenhadas pelas comunidades contempladas. Pelo menos é isso que a experiência mostra."
Com uma área de 5,5 milhões de km2, Aproximadamente 18% da floresta já foi derrubadaCom uma área de 5,5 milhões de km2, Aproximadamente 18% da floresta já foi derrubada
Mudança de mentalidade
Um estudo assinado pelo Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia) e World Resources Institute mostrou que quase metade da Floresta Amazônica sofre pressão humana. O relatório analisou várias atividades humanas na região – o setor florestal brasileiro representa aproximadamente 8% de toda o rendimento econômico anual do Brasil.
Mas são nas propriedades privadas que o perigo do desmatamento é maior. "E o programa Bolsa Verde é focado em áreas que já são protegidas, unidades de conservação ou assentamentos. Ou seja, o impacto desse benefício para combater a derrubada de floresta é pouco. Mas é claro que o Bolsa Verde também tira a pressão sobre a floresta porque as famílias recebem ajuda para se sustentarem", lembra Cruz, do Greenpeace.
O combate mais intenso das autoridades contra o desmatamento também fez com que o perfil do agressor ambiental mudasse, "a degradação é cada vez mais pulverizada e de menor escala", adiciona Cruz. Dados do Imazom apontam que a área desmatada entre agosto de 2010 e julho de 2011 foi 9% maior que o total registrado no período de 12 meses imediatamente anterior, saltando de 1.488 km2 para 1.628 km2.
Para manter a floresta em pé, Moutinho acredita que o benefício social não seja o único caminho a ser utilizado nem o mais eficiente. "O mais efetivo é buscar o investimento de recursos em programas integrados de gestão ambiental das comunidades, que valorizem o uso sustentável da floresta e ao mesmo tempo ajudem a mudar a lógica econômica da região – que hoje depende do desmatamento – para uma outra lógica onde a preservação florestal gere crescimento econômico e, particularmente, o uso adequado das áreas já abertas."
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque
Fonte: Deutsche Welle

19 de setembro de 2011

Festa Anual das Árvores

Setor de produção de mudas de espécies nativas  no viveiro
do ambientalista Darci Bergmann, no dia 23/09/2011
Festa Anual das Árvores, em 23/09/2011, vista parcial.
Apesar da ameaça
de chuva, 200 pessoas compareceram ao evento
Festa Anual das Árvores, em 25/09/2008
Foto: Aspan - São Borja/RS


Por Darci Bergmann


Muitos ainda se lembram do chamado Dia da Árvore. Pois de uns tempos para cá as árvores são reverenciadas por uma semana inteira, no que se chama Festa Anual das Árvores. É uma oportunidade para que o tema seja debatido. Nessas ocasiões ocorrem muitos discursos, frases de efeitos e outras exterioridades que nem sempre condizem com a realidade. Os ambientes urbanos em expansão diminuem os espaços verdes e nas zonas rurais lavouras e pastagens avançam sobre as matas e outras formações florísticas. Mas a sensibilização sobre a importância das árvores pode ocorrer nesses eventos. E com ganhos ambientais expressivos. A comunidade escolar tem um amplo motivo para trabalhar o tema em várias disciplinas. A sociedade como um todo pode fazer ações que revertem em melhorias. Sempre tem algum espaço físico que permite o plantio de algumas árvores, seja nas ruas, praças e terrenos particulares. Sempre existem áreas que precisam de preservação na forma de algum parque, alguma reserva biológica, porque ainda a melhor forma de conservar a natureza é evitar que ela seja destruída. E onde a degradação ambiental já fez estragos profundos é preciso botar a mão na massa visando recuperar o que for possível. De fato, só discursos não bastam.
No atual momento, a situação no Brasil é delicada quando o tema é árvore. Falo no conjunto delas. Falo nas florestas. Querem alterar para pior o Código Florestal.  Querem anistiar quem derrubou florestas ao arrepio da lei vigente. Querem fragmentar as florestas e demais formas de vegetação ao longo dos rios ou mesmo em áreas íngremes. O argumento surrado para enganar a opinião pública é de que o Código Florestal como está seria um entrave para a produção de alimentos. Ora essa! Árvore preservada também produz comida. E  assegura condições ambientais favoráveis para produzir mais e melhor. Ou será que os mananciais de água que as florestas e demais formas de vegetação natural protegem não tem valor? Água também é alimento e produz alimento.
 Portanto essa distorção deliberada e urdida nas mentes dos que só pensam em vantagens momentâneas não convence aqueles que pensam no futuro do Brasil e da humanidade. Não faltam terras para plantio. Ocorre que uma parte considerável das terras está degradada, por falta de conservação do solo. Degradar mais florestas só agrava o quadro atual e não traz nenhuma melhoria significativa nem social, nem econômica para a maioria da população brasileira. E uma parte considerável das terras de agricultura nem produz alimento. É o caso da lavoura de tabaco. Mais desmatamentos talvez concentre poder e capital nas mãos de uns poucos. Esses poucos, no entanto, conseguem eleger políticos que defendem seus interesses. Situação curiosa. A maioria da população quer a manutenção do atual texto do Código Florestal, como mostraram as pesquisas de opinião pública. A maioria dos deputados federais e senadores, no entanto, quer mudar para pior a lei que sempre foi burlada nos confins desse País. Estranha democracia é essa em que a maioria do povo pensa de um jeito e os seus representantes, os deputados e senadores agem e legislam de outra forma.
 Não seria esse também um tópico para reflexão na Festa Anual das Árvores?
____________________________________________________________________


____________________________________________________________________________
Veja, o decreto que instituiu a Festa Anual das Árvores.


Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

Institui em todo território nacional, a Festa Anual das Árvores.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , usando das atribuições que lhe confere o Art. 87, item I da Constituição,
DECRETA:
Art 1º Fica instituída em todo o território nacional, a Festa Anual das Árvores, em substituição ao chamado "Dia da Árvore" atualmente comemorado no dia 21 de setembro.
Art 2º A Festa Anual das Árvores tem por objetivo difundir ensinamentos sôbre a conservação das florestas e estimular a prática de tais ensinamentos, bem como divulgar a importância das árvores no progresso da Pátria e no bem-estar dos cidadãos.
Art 3º A Festa Anual das Árvores, em razão das diferentes características fisiográfico- climáticas do Brasil, será comemorada durante a última semana do mês de março nos Estados do Acre, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia e Territórios Federais do Amapá, Roraima, Fernando de Noronha e Rondônia; e na semana com início no dia 21 de setembro, nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Guanabara; Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
Art 4º As comemorações ficarão a cargo dos Ministérios da Agricultura e da Educação e Cultura.
Art 5º Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Florestal Federal.
Art 6º Êste decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 24 de fevereiro de 1965; 144º da Independência e 77º da República.
H. CASTELO BRANCO
Hugo de Almeida Leme
Flávio Lacerda
__________________________________________________________________

Participe!
Dia 23 do corrente, sexta feira, às 9Hs, ASPAN  promove evento denominado Arborização e qualidade de vida. Veja o convite a seguir:

                                               CONVITE


ASPAN - Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural tem a honra de convidar V.S. para o evento alusivo à Festa Anual das Árvores a ser realizado em 23 de setembro do ano corrente, no Centro Ambiental, na rua eng. Manoel Luís Fagundes, nº 1591 (anexo à Solobrás).
       9 H – Abertura - Jones Dalmagro Pinto, presidente da ASPAN
       9H 10 – Mensagem do presidente da ACISB (entidade apoiadora)
       9H 20 – Palestra: Arborização e qualidade de vida, pelo eng. agrônomo Darci Bergmann, coordenador do Projeto SEMEAR
      10H 10 – Visita ao viveiro e demonstrações práticas de arborização.
      10H30 – Encerramento.

Nota: Solicitamos que as instituições de ensino enviem representações de até 40 (quarenta) participantes.
Telefones para contato: 3431-1898 (Solobrás), 3431-2273 (Jones)
Local: Rua engº Manoel Luís Fagundes, 1591
                                      
                                        Atenciosamente.
Jones Dalmagro Pinto
Presidente




13 de setembro de 2011

Florada dos ipês anuncia primavera*

Foto: Darci Bergmann
Ipês na BR 472, entre os trevos de acesso à São Borja. Plantio feito pela ASPAN
Foto: Darci Bergmann


Os ipês floridos transformam a paisagem urbana de São Borja, na região Fronteira-Oeste do Estado. Conforme lei que vigora desde setembro de 1980, o ipê-roxo é a árvore-símbolo do município. Além de milhares de exemplares da espécie também podem ser encontrados, em grande número, ipês-amarelos, que florescem na mesma época. A lei foi iniciativa do ambientalista Darci Bergmann, que na época exercia o mandato de vereador. Ele explica que a escolha do ipê-roxo, ocorreu, entre outras razões, em função da beleza da árvore e do porte apropriado para as áreas urbanas e os acessos.

Sob coordenação técnica da Associação São-borjense de Proteção ao Ambiente Natural (Aspan), já foi atingida a meta do plantio de 10 mil exemplares na zona urbana e em áreas próximas. Em muitos casos, as árvores não sobreviveram e o ambientalista recomenda replantio. O grande sonho de Darci Bergmann é formar túneis de ipês nos principais acessos à cidade, nas BRs 285, 287 e 472, além do acesso à Ponte da Integração, que liga São Borja à Santo Tomé, na Argentina.

*Matéria transcrita do Correio  do Povo, edição de 05 de setembro de 2011, seção Cidades, exceto as fotos.
_________________________________________________________________________Nota do blog: A matéria acima foi feliz em focar a beleza da cidade de São Borja e da zona rural. Particularmente sinto-me grato à cidade e ao povo que me  acolheu, desde 1974. Que a beleza das flores dos ipês eternize a minha gratidão. Foram milhares de mudas dessa e de outras espécies de árvores nativas que plantei nessas terras. Um dia mais pessoas vão se encantar com as cores da natureza ao longo das estações do ano.
 A lei municipal que tornou a espécie ipê-roxo árvore-símbolo de São Borja é a 1.022, de 26 de setembro de 1980.  

9 de setembro de 2011

Beijo fatal

Foto: Darci Bergmann
Beija-flor-de-papo-branco (Leucochloris albicollis, Vieillot, 1818)*

Por Darci Bergmann

            O caso que relato ocorreu no jardim de uma residência. A casa, apesar de não ser uma mansão, é muito bonita. No jardim bem cuidado, árvores e arbustos convivem com espécies floríferas herbáceas. Devido à boa diversidade de plantas, o local sempre atraiu muitas aves, especialmente os beija-flores. Esse jardim era o sonho da proprietária que, após muitos anos de investimento, conseguiu realizá-lo. Tudo ali se harmonizava e a paisagem passava uma sensação de paz e bem estar. Os pássaros, então, eram uma atração à parte.
             Quem por ali passava ficava impressionado com a quantidade de beija-flores, que se deliciavam com o néctar dos camarões-amarelos, das russélias, dos malvaviscos e de outras plantas. Mas o assédio à proprietária deixaria marcas profundas na convivência paradisíaca de plantas e bichos. Até que o pior aconteceu. A notícia da tragédia se espalhara pelas redondezas e quem olhava aquele jardim naquela primavera sentia que algo inusitado ali ocorrera. As flores exuberantes estavam ali. Mas nenhum beija-flor era visto no jardim inteiro. O que ocorrera, afinal? Os detetives apresentaram muitas versões sobre o caso. Até que a proprietária do jardim resolveu confessar o “delito”. Ela fora seduzida. Conforme ela, alguém lhe sugerira que os beija-flores poderiam ser alimentados de forma suplementar com aqueles bebedouros de plástico. Depois de muitas recomendações, ela entrara numa dessas lojas e adquirira vários desses dispositivos. Neles colocou água açucarada e espalhou-os pelo jardim. As avezinhas foram atraídas pelo alimento fácil e rapidamente se adaptaram aos dispositivos artificiais. Tudo corria bem até que a proprietária teve que se ausentar da casa por alguns dias. Na volta, os sinais da tragédia. Beija-flores mortos por todo o jardim e até nas moradias vizinhas.
              Não houve intenção deliberada de matar as avezinhas, o que absolve a proprietária. Ocorreu que a água açucarada não fora trocada na freqüência habitual, por um desses descuidos casuais. Os dias quentes propiciaram a fermentação do açúcar o que resultou na formação de álcool - este a causa mortis das avezinhas.
             O desfecho do caso mostra que a intervenção na natureza pode ser desastrosa. Um jardim quanto mais natural e quanto mais espécies vegetais tem, é capaz de suprir uma gama muito grande de espécies animais. Portanto, não devemos exagerar com dispositivos artificiais, porque estes, em qualquer falha de manejo, podem causar grandes distúrbios. No caso dos beija-flores, cada beijo na flor de plástico com água açucarada, foi um beijo fatal.

*Nota do blog:: O plantio de espécies com floração atrativa aos beija-flores dispensa o uso de dispositivos artificiais

6 de setembro de 2011

O maior destruidor da floresta amazônica



Caro leitor,

Nesta semana o Inpe e a Embrapa revelaram que nada menos do que 62% de toda a destruição que a Floresta Amazônica sofreu até 2008 foi provocada pela expansão da fronteira da pecuária.

Para piorar, a floresta deu espaço para uma pecuária extensiva de baixíssima produtividade, com apenas 1,6 cabeças de gado por hectare. Nas palavras do próprio diretor do Inpe, Gilberto Câmara, “uma atividade que praticamente não gera desenvolvimento econômico”.

Apenas 5% da área desmatada foi destinada para a agricultura, apesar da produção do nosso país aumentar a cada ano. Isso, segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, contrapõe o argumento de defensores de mudanças no Código Florestal, de que é preciso flexibilizar a lei para viabilizar a produção agrícola no país.

Este levantamento pode fazer uma enorme diferença nos debates do Código, esperamos que os nossos representantes do Congresso estejam dispostos a repensar suas posições em virtude das novas informações.

Boa semana!

Equipe Instituto CarbonoBrasil

__________________________________________________________________________________
Mais sobre florestas:

Iniciativa global de reflorestamento é lançada em Bonn

06/09/2011   -   Autor: Fabiano Ávila   -   Fonte: Instituto CarbonoBrasil/WRI/Mongabay

O Conselho Global de Restauração, resultado da união de líderes empresarias, políticos e de organizações não governamentais, pretende recuperar 150 milhões de hectares de florestas até 2020 sem intervir em áreas agrícolas



Acredita-se que cerca de 30% da cobertura florestal do planeta tenha sido perdida no último século e outros 20% tenham sido degradadas. Mais de um bilhão de hectares que eram florestas até algumas décadas hoje estão ocupadas por pastos e pela agricultura.
Para tentar reverter um pouco esse quadro, líderes políticos, empresariais e representantes de organizações não governamentais como a World Resources Institute (WRI) e a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN em inglês), estiveram reunidos na cidade alemã de Bonn na semana passada.
O resultado do encontro foi a criação do Conselho Global de Restauração (Global Restoration Council), uma iniciativa que promete restaurar 150 milhões de hectares de florestas até 2020. Para presidir a entidade foi escolhido o ex-primeiro-ministro da Suécia Göran Persson.
“Restaurar 150 milhões de hectares representa uma grande oportunidade para criar empregos e crescimento econômico ao mesmo tempo em que protegemos nossa natureza e clima. Estou muito feliz de estar à frente dessa nova entidade que deve atrair atenção e recursos para as florestas. Estou ansioso para trabalhar com líderes globais, empresariais e outros colegas nesse esforço visando deixar claro qual a importância da restauração florestal”, declarou Persson.
O Conselho vai se basear em um novo mapeamento global que identificou mais de dois bilhões de hectares com potencial para restauração. Esse levantamento, produzido pelo WRI, IUCN e pela Universidade da Dakota do Sul para a Global Partnership on Forest Landscape Restoration, praticamente dobra as estimativas anteriores.
“A restauração florestal pode trazer enormes benefícios. Melhora a segurança alimentar, aumenta a biodiversidade, protege nosso clima e ainda gera empregos. Com este objetivo de 150 milhões de hectares, nós temos uma grande oportunidade de agir em prol das pessoas e da natureza”, afirmou Manish Bapna, presidente da WRI.
Se for mesmo alcançada, esta meta será uma enorme contribuição para a obtenção do Objetivo 15 da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) e do acordo de REDD + da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (UNFCCC).
O Objetivo 15 da CBD pede a restauração de 15% dos ecossistemas degradados até 2020, enquanto a meta do REDD + é deter a liberação de carbono pelo desmatamento e degradação de florestas.
O Conselho Global de Restauração não trabalhará em áreas de produção agrícola, apesar do WRI acreditar que “o plantio estratégico de árvores poderia aumentar a produtividade ao restaurar os serviços ecossistêmicos”.
Os líderes do conselho esperam que a meta de 150 milhões de hectares restaurados seja adotada como oficial pela ONU e por outras instituições e governos.
Imagem: Mapa identifica áreas com o potencial de serem restauradas / WRI 


30 de agosto de 2011

Vida de cão


Cadela Rosinha*: animal maltratado, estava abandonado
e com apenas 2,8 quilos.
*Crédito da foto: Arthur Puls, Correio do Povo, 07/05/2011, pág. 13



Por Darci Bergmann

            Desde tempos remotos os animais acompanham  a espécie Homo sapiens. Nessa trajetória, algumas espécies se adaptaram mais ao convívio dos humanos, sobressaindo-se o cão e o gato. O primeiro até considerado por muitos como o melhor amigo do homem. Outras espécies não tiveram a mesma sorte e estão em risco de extinção devido, principalmente, à destruição de seus habitats.
            Voltemos aos cães e gatos. Esses animais hoje fazem parte do cotidiano das pessoas. Parte deles é adotado por gente de todas as classes sociais. Outros perambulam nas cidades, vilarejos e zonas rurais e ali se reproduzem espontaneamente, sem controle sanitário.
            Adotar animais virou um modismo ou quem sabe uma necessidade.  Talvez um preço a ser pago pelo progresso. O aumento da população humana, com a desnaturação dos seus espaços de convivência, a insegurança - e a isso se agregam outras causas - motivaram um estado de solidão em muitas pessoas. Difícil é aceitar que existe solidão em um mundo tão agitado e populoso, mas é o que parece se evidenciar cada vez mais.

            Os animais adotados têm realidades diferentes, conforme o poder aquisitivo dos proprietários e dos cuidados que lhes dispensam. Nesse tocante, constata-se que algumas pessoas vão ao exagero de humanizar os animais domésticos. Os bichos gozam de uma regalia que muitos humanos não têm. Rações caríssimas, nutritivas, assistência de médicos veterinários, produtos e salões de beleza, creches, festa de aniversário.  Até mesmo vestuário canino que vai do razoável ao ridículo. Às vezes aparece bicho pintado com cores chamativas, extravagantes, no meu entender um desrespeito. O tratamento dispensado aos bichos evidencia cenas inusitadas. Alguém uma vez reclamou do exagero que uma dondoca dedicava ao seu cãozinho de estimação. Ao ver a dona charmosa dispensando beijos no bichinho enfeitado, o sujeito comentou:
            - Desse jeito até eu queria levar vida de cão.
            Pessoalmente, entendo que um animal deve ser respeitado na sua individualidade. Isso implica que não deve ser maltratado, mas também não deveria ser tratado como alguém da espécie humana. Assim procedi em relação a uma cadela vira-lata. Era faminta. Depois de alimentada fixou moradia no meu quintal. Não lhe restringi a liberdade de ir e vir. Até porque não gosto de animal preso, acorrentado ou em espaço muito restrito. Apenas intervenho com a administração de vermífugos e anticoncepcionais. Tem direito a um abrigo contra intempéries. Antes arredia, agora se tornou proprietária do pátio e faz guarda contra eventuais intrusos à noite. Em suma, nada de exagero.
            O comportamento dos humanos em relação aos animais é controverso. Cães e gatos bem alimentados, maquiados e cheios de mimo escondem uma triste realidade. O mundo animal reflete o que ocorre com os humanos. Para uns sobram regalias, para outros as mazelas.

  Começando pela exclusão das outras formas de vida. A civilização caminha mesmo para um mundo cada vez mais artificializado, com predomínio egoísta da espécie humana em prejuízo da biodiversidade. As espécies escolhidas para o convívio são aquelas que se mostram aparentemente submissas, caso dos cães, gatos e algumas outras mais. Também existem as espécies que foram domesticadas para o fornecimento de alimentos e matérias primas diversas.
 O que se percebe é a proliferação exagerada de algumas espécies animais – como as já citadas – e a ganância por lucros polpudos com os extravagantes modismos.
 Se uma parte dos recursos gastos com o luxo aos animais de estimação fosse aplicada na manutenção de reservas biológicas, certamente milhares de outras espécies poderiam ser salvas da extinção. Respeito aos animais de todas as espécies, sim. Extravagância e luxúria, não.