6 de fevereiro de 2012

O Estado e a degradação ambiental (2)

Na foto acima, de 06/02/2012, aparece o bosque de eucaliptos  próximo à estrada de acesso à Fepagro, em São Borja/RS
A queimada iniciada no dia anterior e não combatida pelos Bombeiros atingiu essa área.

A foto de 06/02/2012, mostra um tronco de eucalipto avariado pelo fogo.Minutos antes , na linha de queda, um bombeiro apagava as chamas. Depois o tronco caiu sobre a estrada,algo em torno de vinte segundos após a passagem de um `coletivo da Empresa Santa Inês. Um ciclista quase foi atingido.


Por Darci Bergmann
   Em matéria anterior, comentei que os Bombeiros foram chamados a uma ocorrência de queimada nas terras da UFSM, no local denominado Campo de Semente, em data de 05/02/2012. Como não havia casa que estivesse ao alcance do fogo não mostraram  interesse em combater as chamas. Ficaram quase uma hora no local, tempo suficiente para abafar o fogo, pois o vento mudara de direção e isto facilitaria a tarefa.
   A negligência quase virou tragédia no dia seguinte, isto é, hoje 06/02/2012. Durante a noite o fogo se alastrou até as margens da estrada de acesso à sede da Fepagro -Cereais e atingiu  vários eucaliptos de grande altura, postados ao lado. Dali as chamas atingiram a outra margem. Novamente acionados, os Bombeiros foram até o local e apagaram as chamas. Voltaram à cidade. Mas o pior estava por acontecer. Alguns eucaliptos, com troncos ainda fumegantes da queimada que não fora contida um dia antes, ameaçavam cair sobre o leito da estrada. Quase desesperado, o diretor da FEPAGRO - Cereais, Nilton Gabe, dirigiu apelo à Brigada Militar para que interditasse o acesso, pois ali transitavam até os ônibus da Empresa Santa Inês. A Brigada Militar, estranhamente, sugeriu que fosse acionada a Prefeitura Municipal de São Borja, mas já era por volta das 18 Hs e não tinha como fazê-lo. Então, acompanhei o diretor da Fepagro até o Posto da Polícia Rodoviária Federal. O patrulheiro Nunes entrou em contato com a empresa Santa Inês, na pessoa do Sr. Marcelo Cassol, sugerindo-lhe que comunicasse os motoristas para que chegassem até a sede da Fepagro por outro acesso. O patrulheiro emprestou cones que seriam utilizados como sinalizadores do perigo. Quando retornamos ao local da queimada, na estrada de acesso, eis que lá estavam novamente os Bombeiros, fazendo um rescaldo, na minha opinião, desnecessário. Nilton Gabe havia solicitado que trouxessem motosserra e cortassem os eucaliptos que ameaçavam cair. Estavam sem esse equipamento.
   Um dos bombeiros apagava com jatos d ‘água as chamas de um eucalipto, inclinado e prestes a cair. Gritamos para que se retirasse dali. Minutos depois um ônibus da Empresa Santa Inês chegou até ali, o motorista não fora avisado a tempo do perigo. Atrás do ônibus vinha um ciclista, de nome Mário Lima e aí aconteceu o que temíamos. O eucalipto inclinado desancou sobre o leito da estrada, talvez uns quinze segundos depois da passagem do ônibus. Mário Lima, com os gritos desesperados de Nilton Gabe que vira a árvore se inclinando, jogou o corpo para frente, caindo da sua bicicleta talvez menos de um metro à frente do tronco. Quase fatal o desfecho da negligência do dia anterior.
Os fatos mostram a que ponto chega o jogo de empurra das autoridades. Bombeiros empurrando para a Patram, Brigada Militar empurrando para a Prefeitura e por aí vai.
   No final das contas, vizinhos voluntários como Tiago Mezzomo e um seu funcionário, Nilton Gabe e um funcionário da Fepagro, eu e um trabalhador autônomo providenciamos na derrubada de outros eucaliptos que ameaçavam cair. Mas o perigo ainda continua, pois restam alguns troncos avariados pelo fogo que poderão cair a qualquer momento. Amanhã será um dia de corre-corre. Deus nos livre dos burocratas de plantão desse País abençoado por Deus.
   Os fatos antes narrados evidenciam o despreparo das autoridades no enfrentamento de certas ocorrências. Os Bombeiros deverão receber outras orientações dos seus superiores. Não existe entrosamento entre os diversos setores da Brigada Militar, da qual o Corpo de Bombeiros e a Patrulha Ambiental fazem parte. Isso ficou claro.
   Aqui, faço uma revelação. Quando eu era vereador, na década de 1970, ocorreu em São Borja um grande incêndio que destruiu o prédio onde funcionava a Casa Jaraguá, loja de tecidos. Antes dela outros sinistros ocorreram e quase sempre um caminhão pipa do Exército era acionado. Apresentei, então, um documento  à Câmara de Vereadores para que o prefeito João Carlos Mariense Escobar enviasse projeto de lei,  propondo convênio com o Estado para implantação do Corpo de Bombeiros. Acompanhei os trâmites, a convite do prefeito. Finalmente, Estado e Município celebraram convênio e os Bombeiros aqui se instalaram.
   Os bombeiros prestaram e prestam grandes serviços à comunidade. No entanto, há comportamentos no mínimo estranhos. A prioridade é sempre defender as residências dos perigos das chamas. Mas há casos, como o narrado e outros mais, que merecem uma reflexão mais profunda. Uma simples queimada de campo pode virar uma tragédia, especialmente nessa época de estiagem. As queimadas liberam grande quantidade de CO², causador do efeito estufa e que empobrecem nossas terras. O combate ao fogo, seja ele na cidade ou no campo, é tarefa primeira dos Bombeiros. Isto não exclui a prevenção e a participação voluntária de quem quer que seja. Também não cabe ao Bombeiro indagar se a origem do fogo foi criminosa, como foi sugerido e remeter a questão à Patram, especialmente em domingos e feriados. A Patram não é preparada para combater as chamas.
   Se esse jogo de jogo de empurra persistir, sugiro aos legisladores para que proponham aos executivos a criação de brigadas anti-incêndios rurais. Nada é utópico. O aquecimento global está aí e as secas poderão se tornar ainda piores nos próximos anos.
 Que as forças armadas do Brasil reflitam sobre isso e encontrem alternativas para socorro imediato em casos de tragédias como as queimadas. Talvez aeronaves, pontos para captação de água e outras medidas possam remediar situações de perigo.
   Que os municípios e estado, junto com a União, sentem à mesa comum e tratem sobre a questão das queimadas ANTES QUE OS NOSSOS BOSQUES NÃO TENHAM MAIS VIDA.
Mais fotos:
Funcionário do vizinho Tiago Mezzomo faz derrubada de eucalipto avariado e inclinado que ameaçava cair sobre a estrada. Os Bombeiros não tinham motosserra para esta operação embora fossem alertados por Nilton Gabe, diretor da Fepagro, em São Borja/RS

Trator da Fepagro auxilia na remoção dos troncos de eucaliptos derrubados  para evitar tragédias..

Os cones da Polícia Rodoviária Federal foram colocados para sinalizar outras árvores  em estado crítico.e que ainda ameaçam cair.

Vista parcial da área atingida pelo fogo, a partir da BR 287
Fotos: Darci Bergmann, 06/02/2012, São Borja/RS/Brasil




O Estado e a degradação ambiental

A foto acima mostra queimada em terras da UFSM, no local denominado Campo de Semente, 1º Distrito de São Borja/RS. São frequentes essas queimadas, pois não há aceiramento da área. Nem a Reserva Legal foi demarcada. Os bombeiros, acionados, nada fizeram. Alegaram dificuldade de acesso. Um dos bombeiros sugeriu contato com a PATRAM, por se tratar de crime ambiental.. PATRAM não apaga incêndio e não funciona aos domingos. Um órgão empurrando para o outro. Omissão escancarada do Estado.
Foto: Darci Bergmann, em 05/02/2012


Por Darci Bergmann   

O Estado degrada o meio ambiente? De várias formas.  Parece não haver poder incólume. Nem os que legislam, nem os que aplicam sentença, nem os que propõem o cumprimento da Lei. Por incrível que pareça, é o que constato dia após dia.
    No executivo municipal, o setor de meio ambiente é visto como um entrave. Daí cumprir a lei é sempre difícil. Nos casos de licenciamento, por exemplo, entram em cena as manobras eleitoreiras. As prefeituras estão mais sujeitas às pressões. É o empresário rico, é o líder comunitário ou o vereador tal, ou ainda o partido da base aliada que pressiona para que a lei seja abrandada ou se finja que ela é cumprida.
Salvo exceções, os licenciamentos ambientais feitos pelos municípios tem distorções  gritantes. A coisa se transforma em mera formalidade, apenas para arrecadar, especialmente quando os serviços são terceirizados. Empresas sem qualificação ‘arrumam’ a papelada para o licenciamento. Os códigos de postura municipais e outras leis dificilmente são cumpridos pela própria municipalidade.
   Nos estados e na união federal não é diferente. Apenas que nessas esferas a pressão direta do cidadão não é tão visível. Mas aí entram em cena as grandes corporações, estas sim capazes de muitos estragos, como é o caso da pseudo-reforma do Código Florestal. Governos são maus cumpridores das leis ambientais. Criam órgãos cheios de departamentos e siglas e nesse faz-de-conta a opinião pública acredita que tudo funciona muito bem. Mas departamentos sem recursos financeiros não funcionam. Salas acarpetadas e com ar condicionado e declarações aos meios de comunicação não impedem a devastação dos nossos biomas.
A fumaça tóxica dos fogos de artifício na virada do ano, com dinheiro público, encobre a triste realidade do cenário de degradação que se vê depois.   
   Nem as universidades públicas são referências quando o assunto é meio ambiente. Formam mestres e doutores e as coisas mais elementares, como  manejo correto dos resíduos sólidos, quase não se vê. É lixo jogado por todos os lados. Quanto mais elas crescem em número de cursos, tanto mais elas têm dificuldade de integração dos diversos campos do conhecimento.
   Um caso específico de negligência ambiental. A UFSM – Universidade Federal de Santa Maria, com sua paquidérmica estrutura, detentora de mais de 400 hectares em São Borja, por mais de 40 anos, até o momento não demarcou a Reserva Legal da citada área. A Reserva Legal, por si só, já seria um projeto importante. Exigiria alguns recursos para conservação e monitoramento e serviria para estudos e pesquisas sobre a regeneração natural de um fragmento do Bioma Pampa. As queimadas freqüentes na área referida prejudicaram a biota e lançaram toneladas de CO² à atmosfera. Péssimo exemplo. Espera-se, pelo menos, uma reação positiva dos atuais gestores da UFSM, demarcando a  Reserva Legal e destinando o restante da área às Universidades já existentes em São Borja.
   O Estado pode mais em termos de preservação ambiental. Ainda acredito nele.


2 de fevereiro de 2012

A Universidade não fez. A natureza e voluntários estão fazendo uma parte.


Esta área pertence à UFSM. A foto de 14/01/2010, mostra voluntários da ASPAN*  fazendo
semeadura de sementes de espécies florestais na vegetação secundária (vassoura-branca).
A parte roçada está infestada de sorgo-de-alepo.
A ASPAN fez aceiros para evitar a propagação das queimadas


A mesma área da foto superior, em 2007, quando a Fepagro mantinha ali lavouras experimentais, como essa de girassol. Depois a área foi deixada em pousio e está em processo de regeneração com adensamento de espécies nativas feito pela organização ambientalista ASPAN
Fotos: Darci Bergmann




Por Darci Bergmann

     Pelo menos é o que se constata em São Borja. A Universidade Federal de Santa Maria- UFSM,  desde os anos 1970 recebeu uma gleba de terras com mais de 400 hectares. As terras pertenciam ao Ministério da Agricultura, no local denominado Campo de Semente. Ocupando parte das terras da UFSM e tendo outra área própria de mais ou menos 109 hectares, ali também existe uma Estação Experimental Fitotécnica - a FEPAGRO-Cereais. Esta é mantida pelo Estado. As duas áreas foram, por décadas, administradas pela Fepagro, que ali desenvolve projetos de melhoramento de cultivares de soja, trigo, forrageiras, entre outras atividades. Houve atividade pastoril na maior parte da área, tendo até um projeto de produção de leite a campo, agora desativado,  em parceria com o Município de São Borja.
De uns tempos para cá os investimentos na FEPAGRO-Cereais minguaram. São poucos os funcionários e houve redução significativa nos trabalhos de pesquisa. Com altos custos para conservação da gleba - cercas, monitoramento e controle das queimadas, etc., a Fepagro devolveu as terras à UFSM, exceto a sede com benfeitorias construídas pelo Estado.
   Quando eu cursava o último ano de Agronomia na UFSM, em 1973, o então reitor José Mariano da Rocha disse-me que solicitou as terras para que ali fosse mais tarde implantada uma extensão da Universidade, o que abriria as portas para intercâmbio com outros países, na área de pesquisa e ensino.
Conheço “in loco”a gleba da UFSM. Há pouca disponibilidade de água. Boa parte das terras está num divisor de águas. Existe a necessidade de recomposição de vários fragmentos, pois houve neles retirada de material saibroso pela Prefeitura de São Borja.
    Agora o inusitado. A UFSM, não tendo interesse em alavancar projetos nessa gleba, chegou a oferecê-la ao INCRA para o assentamento de famílias. Isto mesmo, terras públicas destinadas à pesquisa virariam um assentamento. Dois agrônomos do INCRA  fizeram vistoria rápida no local, que acharam ‘apto” para assentamentos. “Apto” nesse caso e no entender de muitos, significa descaso com a coisa pública.
    Não é só isso. Em São Borja, tem um “campi” da UNIPAMPA, tem a UERGS, estadual e com cursos na área  de produção primária e mais recentemente o IFEF – Instituto Federal Farroupilha. Portanto três instituições públicas. A UERGS não tem um palmo de terra. A UNIPAMPA  está localizada em área equivalente a três campos de futebol e já não tem mais espaço físico. O IFEF tem algo em torno de 7 ha. Portanto, as três instituições em conjunto poderiam receber essas terras cuja finalidade sempre foi o ensino e a pesquisa.
  Em Itaqui, a pouco mais de 80 Km de São Borja, foi implantado um Curso de Agronomia da UNIPAMPA, numa área de 10  hectares, doada por aquele município. Essa área de 10 hectares para Agronomia é limitante para implantação de cultivos didáticos e de pesquisa, tais como, lavouras, pastagens, hortas, pomares., etc.  E faltaria espaço para benfeitorias  tipo laboratórios, casa de vegetação, oficinas, depósito, entre outros. A Agronomia de Itaqui poderia ter um “campi” avançado de pesquisa nessa gleba da UFSM, em São Borja.
   Não seria prudente e correto repassar as terras da UFSM às instituições de ensino e pesquisa públicas carentes de terras e interessadas em implantar projetos? Que prevaleça o bom senso.

*ASPAN - Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural
Mais fotos:
Na mesma gleba das fotos superiores, a ASPAN tem auxiliado  na  roçada e implantação de aceiros para evitar a propagação do fogo, principalmente depois que a Fepagro devolveu as terras à UFSM.

A foto acima mostra um fragmento de área recuperada pelo ambientalista Darci Bergmann, em terras da UFSM,  em São Borja/RS, trabalho iniciado há mais de 20 anos. Diversas espécies florestais nativas e exóticas compõem este cenário. Na borda a vegetação é mantida roçada para evitar a entrada do fogo. A iniciativa foi aprovada pela Fepagro, na pessoa do   engenheiro agrônomo Danilo Bohn* que entendeu a ação como importante na formação de banco de sementes florestais e conservação da área.
Foto: Darci Bergmann, Agosto/2011
*In memorian
Os bugios já formam vários grupos. Os corredores implantados facilitam a circulação dos animais. A PATRAM de São Borja, em parceria com o sítio de Darci Bergmann, fez a soltura de diversas espécies de animais na região, que agora circulam também nas terras da UFSM e da Fepagro.   

Uma das queimadas atingiu parte da área da UFSM, junto ao leito da ferrovia desativada
Fotos: Darci Bergmann
Este corredor de acesso era local de constantes queimadas que atingiam parte das terras da UFSM. Há mais de vinte anos  o ambientalista Darci Bergmann iniciou arborização no local, o que auxiliou na redução dos focos de incêndio. Na foto alunos da Escola Estadual Franco Baglione, quando se dirigiam ao sítio do ambientalista para aulas nas trilhas ecológicas.



31 de janeiro de 2012

Siqueira Campos, em frente à paineira.

Paineira na Rua Siqueira Campos, Porto Alegre/RS
No prédio atrás da árvore localizava-se o Bromberg Magazine
Foto: Darci Bergmann, 27/01/2012


Por Darci Bergmann

     Por muitos anos, em boa parte do Sul do Brasil se ouvia nas rádios de Porto Alegre uma publicidade 'sui generis". O Magazine Bromberg, localizado na Rua Siqueira Campos, tinha em frente da loja uma enorme paineira. Essa árvore era e ainda é uma referência no centro da cidade. Nos comerciais um chamava atenção. Bromberg Magazine: Siqueira Campos, em frente à paineira. Espetacular a publicidade, que aliava o respeito à natureza. Em Mondaí, no Extremo Oeste de Santa Catarina, eu ainda adolescente, ouvia essa publicidade pelas ondas da Rádio Guaíba. Depois, de 1967 a 1969, quando cursava a ETA - Escola Técnica de Agricultura, em Viamão, continuei a ouvir o engenhoso comercial. Fiz questão de conhecer a paineira e o Magazine Bromberg, onde fui cliente eventual.
    Várias vezes a paineira esteve ameaçada de ser retirada pela própria Prefeitura, que pretendia o alargamento da via pública. Nessas ocasiões, o Sr. Luís Siegmann, dono do Magazine, entrava em ação, impedindo a retirada da frondosa árvore. Até que as mentalidades dos gestores públicos começaram a entender a real importância das árvores urbanas. A paineira foi então preservada e serviu de testemunha a outra constatação: de que a sua presença não atrapalharia, como de fato aconteceu, as melhorias na Rua Siqueira Campos. 
     Hoje, dezenas de anos após aqueles episódios, a paineira continua enfeitando a Siqueira Campos. Já não se vê mais o Magazine Bromberg. O proprietário, Sr. Luís Siegmann, foi homenageado pela própria municipalidade pela sua obstinação em preservar o patrimônio verde. Também serviu de exemplo a tantos outros comerciantes, quando demonstrou que árvore em frente à loja não atrapalha. Até, pelo contrário, atrai cliente. 
     De outro lado ainda existem empresários inescrupulosos, imediatistas, que dificultam a vida das árvores em frente dos seus estabelecimentos. Alguns chegam a jogar produtos químicos para matar as árvores. Assim procedem para que as fachadas das lojas fiquem mais expostas. Essas pessoas mesquinhas e amantes do lucro acima do bem estar coletivo, na sua visão equivocada, não colhem melhores resultados comerciais com a destruição das árvores. Hoje, boa parte do público, repele silenciosamente tais procedimentos. 
Dia após dia, os empresários e a população em geral começam a entender melhor o papel da arborização urbana. Menos calor, paisagem harmoniosa e a certeza de que em cada estação do ano o cenário se renova.
   O proprietário do então Magazine Bromberg, na Siqueira Campos, em frente à paineira, esteja onde estiver, deixou-nos uma lição de vida. E a velha paineira, se pudesse falar, talvez dissesse: muito obrigado, amigo. 
    Que a sombra das paineiras e de todas as árvores do meu País nos proteja do sol escaldante. 
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Nota do blog: Recebi e-mail de Andrea Caleffi Ostermayer, neta do Sr. Luís Siegmann, então proprietário do Bromberg Magazine e defensor da paineira. Quando eu cursava a ETA, em Viamão, algumas pessoas faziam confusão entre o nome do proprietário e o nome do Magazine. Fiz a necessária correção no texto. 

30 de janeiro de 2012

Rua 'mais bonita do mundo' vira ponto turístico em Porto Alegre

30/01/2012 07h16 - Atualizado em 30/01/2012 07h24


Moradores fazem trabalho de preservação da Gonçalo de Carvalho.
G1 visitou a rua e conversou com residentes e turistas.

Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes / G1)Árvores formam espécie de túnel na Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes / G1)
Apelidada por um professor português, a "rua mais bonita do mundo" ganhou fama pela internet e pelas redes sociais e agora é parada obrigatória para os turistas que visitam Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Calma e arborizada, a Rua Gonçalo de Carvalho fica na divisa dos bairros Independência e Floresta. Decretada Patrimônio Histórico, Cultural, Ecológico e Ambiental do município em junho de 2006, ficou conhecida não só pelas árvores que formam um túnel verde em sua extensão, mas também pela luta pela preservação mantida há anos pelos moradores e até por quem não reside nela.
Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes / G1)Turistas mineiros incluíram visita à rua no roteiro da
visita a Porto Alegre após verem matéria na TV
(Foto: Tatiana Lopes/G1)
Sob sol forte e temperatura de mais de 30°C, o G1 visitou o local na última semana. Em uma hora, pelo menos três grupos foram vistos fotografando as árvores na Gonçalo de Carvalho. "Vi uma matéria na televisão e procurei na internet. Eu tinha que vir conhecer, é muito bonita mesmo", disse o mineiro de Belo Horizonte Thiago Prisco, 27 anos, que curte férias com o amigo Antônio Luiz Balbino Neto, 28. Em meio aos visitantes, os moradores caminham tranquilamente com seus animais de estimação. Carros transitam frequentemente na rua, mas o volume de ruídos parece menor a quem anda pelo local. A sensação é que as árvores abafam o barulho. E é possível ouvir o canto dos pássaros.
Os turistas mineiros sabiam, sem muitos detalhes, de algumas das histórias da rua. A Gonçalo começou a ganhar fama em 2005, quando moradores e admiradores do local se uniram para impedir a construção de um estacionamento. O projeto previa a remoção de algumas árvores, além da colocação de asfalto no lugar dos tradicionais paralelepípedos do local - que sugam a água da chuva e a armazena no solo, ajudando na irrigação das árvores.
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Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Ricardo Stricher / PMPA)Vistas de cima, árvores formam túnel na rua
(Foto: Ricardo Stricher / PMPA)
"Depois de muita luta, o caso foi para a Justiça e a construtora desistiu do projeto. Não demorou muito para a rua virar Patrimônio Ambiental de Porto Alegre", orgulha-se o artista gráfico Cesar Cardia, um dos principais defensores da Gonçalo, e que não mora na rua.
Cardia mantém o blog Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho, onde reúne material sobre a preservação da rua. Ele faz parte também da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Independência (Amabi). "Quando a principal liderança da rua morreu, o dentista Haeni Ficht, passei a cuidar mais da associação. Chegavam e-mails de fora de Brasil e até de outros países. Nem sabíamos como ficavam sabendo da rua", lembra.
Com as publicações na internet, textos e imagens sobre a rua se espalharam. Em 2008, o blog catalão Amics arbres (Amigos das árvores) escreveu sobre a Gonçalo. Pouco depois, o blog português A sombra verde também divulgou o local e a apelidou de rua mais bonita do mundo. A partir disso não demorou muito para a Gonçalo virar assunto na imprensa e atrair mais visitantes.
Imobiliárias de Porto Alegre não conseguem fazer um levantamento sobre a valorização da Gonçalo de Carvalho desde que virou patrimônio. Em contato com o G1, as explicações chegam quase sempre ao mesmo fim: não há uma quantidade considerável de ofertas na rua. “Os moradores são antigos, moram em suas residências e apartamentos há anos”, informou a imobiliária Lopes.
Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes / G1)Rua foi considerada patrimônio de Porto Alegre
em 2006, mas sofre com ação de vândalos
(Foto: Tatiana Lopes / G1)
Sob os cuidados dos moradores
Segundo Cardia, foram os moradores que ajudaram a plantar, há mais de 70 anos, as árvores que hoje formam o túnel verde. As tipuanas são altas, com galhos e folhas grandes, que se espalham no alto dos troncos. No verão, a sombra predomina, enquanto no inverno o sol aparece, já que praticamente todas as folhas caem.
A dedicação mantida pelos moradores faz com que eles se sintam atingidos quando alguém comete algum ato de vandalismo. Uma das árvores, que fica em frente a um dos acessos a um shopping da região, está queimada e pichada. Outra, no lado oposto da rua, tem um cartaz pregado com aviso sobre onde colocar o lixo. A placa colocada em um banco de concreto pela Prefeitura, com a identificação de Patrimônio Ambiental, já teve de ser recolocada mais de três vezes.
Passeio com crianças e animais de estimação
Além dos turistas, moradores da região também aproveitam a paisagem para passeios com crianças ou animais de estimação. "Procuramos um lugar para morar durante dois anos. Nossa escolha foi pelas árvores", diz o professor Ney Francisco Ferreira, de 44 anos, que reside na rua com a mulher, um filho e um cachorro.
A família já se acostumou com a presença de curiosos na Gonçalo: "Todos os dias tem gente tirando fotos aqui, virou uma normalidade", conta Ferreira. Assim como ele, o médico Luis Aranzibia, de 70 anos, boliviano que vive há 40 anos no Brasil e há 14 na Gonçalo de Carvalho, aproveita as horas vagas para passear. "Escolhi morar aqui por opção, a área verde chamou a atenção", lembra.
Cesar Cardia, de branco, que mantém blog sobre a preservação da rua (Foto: Tatiana Lopes / G1)Cesar Cardia (D) mantém blog sobre a preservação da Gonçalo de Carvalho (Foto: Tatiana Lopes/G1)
Fonte:G1 Globo

29 de janeiro de 2012

Uma Declaração de Movimentos não pode prescindir da democracia...



Uma Declaração de Movimentos não pode prescindir da democracia e dos temas brasileiros!


Por Paulo Brack*


A chamada Declaração dos Movimentos Sociais, apesar de trazer questões preocupantes quanto às Mudanças Climáticas, Transgênicos, e inclusive o Sistema Capitalista (Sistema de Esgotamento da Vida), infelizmente ignorou algumas das principais bandeiras de luta do movimento ambientalista brasileiro. Não foram citadas a questão do Código Florestal (principal luta socioambiental brasileira de 2011), de Belo Monte (o pior e mais irregular empreendimento de 2011), da Copa Business 2014 (o baú de negociatas mais gigantesco de nossa história) e as demais megaobras de infra estrutura destruidoras, bem como a questão dos Agrotóxicos, que estão fazendo nosso País sucumbir, de forma melancólica no cenário ambiental mundial. Não vimos nem mesmo a citação do nome do Brasil na carta, enquanto são citados Colômbia, Honduras, Palestina, EUA, Cuba, entre outros. Por que?



E, vejam, nosso País (Campeão da Diversidade Biológica e também do desmatamento e uso de agrotóxicos) será o que vai sediar a Rio + 20, daqui a pouco mais de quatro meses!



De que adianta falarmos contra o Capitalismo, algo que concordamos, se na PRÁTICA nem falamos no agronegócio que estrangulou o Código Florestal brasileiro? Não falamos no BNDES que hoje é o banco que mais financia a degradação do Brasil e de Países vizinhos?



Lamentavelmente, documentos que não tiverem nenhuma consulta prévia aos movimentos ambientalistas e outros setores importantes da sociedade ficam comprometidas em sua legitimidade de representação. Fica, assim, muito mais como uma carta de alguns dos movimentos sociais - com algumas lideranças bem alinhadas com os governos que financiaram o FST - com bandeiras muito mais estratosféricas, e não representa o universo dos movimentos sociais no Brasil.
Assim, os ambientalistas não podem chancelar um documento ao qual não tiveram tempo hábil para opinar. Sem democracia,e uma construção coletiva, não vamos longe. E este é um dos principais problemas de nossas lutas no Brasil, ou seja, tratarmos, sem medo, as questões ligadas à democracia, à necessidade de desalinhamento político-partidário e governamental bem como a não permissão de que o capital predador financie nossas ações e movimentos, como vem acontecendo, infelizmente.



Cabe provocarmos a reflexão necessária para que possamos sair desta inércia, de tutelas que podem nos comprometer, de pautas que podem se tornar vazias (e estão se tornando, na prática), se não tivermos  O FOCO dos principais problemas socioambientais e das principais lutas que temos que enfrentar, em cada canto do País e do Mundo.



Sempre é bom lembrar o velho ditado ambientalista: “Pensar globalmente e agir localmente”, e então vamos lutar para colocar em nossos documentos a nossa realidade e nossas lutas, principalmente aquelas representadas pelos Territórios da Sociobiodiversidade, que estão sendo aniquilados pelas políticas anti-socioambientais dos governos federal e estaduais.



Então para uma nova versão de carta futura, com construção democrática, seguem nossas sugestões:



- Parem Belo Monte e demais hidrelétricas de grande impacto ambiental importadas pelo Brasil, concebidas para manter a sangria de nossos recursos naturais (em especial a exportação de commodities minerais)!



- Parem de resgatar Megaobras dos governos militares (década de 70), e de incrementar uma Megainfraestrutura Autoritária, Concentradora e que espalha Morte no Brasil!



- Veto integral às mudanças do Código Florestal, que está destruindo a Amazônia e ameaça com o aprofundamento da destruição de nossa Biodiversidade!



- Não vamos permitir nenhum retrocesso nas conquistas socioambientais brasileiras! Auditorias nos licenciamentos irregulares no Brasil e nos bancos que financiam a destruição da natureza!



- Nenhum tostão público à Copa-Business 2014, e nenhuma expulsão de comunidades pobres para este Evento de Negócios/Negociatas!



- Pelas Energias Alternativas, descentralizadas, pela Agroecologia e Defesa e Empoderamento dos Territórios da Sociobiodiversidade! O Brasil merece ser o Campeão da Sociobiodiversidade, e não das mortes no campo e no uso de agrotóxicos!



- Pelo desatrelamento de setores dos movimentos sociais a partidos, governos e empresas, e por uma reflexão fraterna de nossas práticas e nos focos centrais dos problemas que afligem o Brasil, a America Latina e os demais países, com a construção de estratégias coletivas que integrem a Tod@s!



*Paulo Brack
InGá - Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais

O seu passado é o seu futuro (1)

Foto: Darci Bergmann
Clivia miniata

           Por Darci Bergmann


         Não é ficção. É uma percepção real. Indiferente a quantos já estudaram o tema, revelo aqui a minha experiência pessoal. E cada pessoa tem a sua própria experiência.
       Tudo começa na infância e talvez muito antes dela. O DNA, no momento da concepção, forma  a estrutura genética do novo ser. A partir daí o ambiente molda o indivíduo, fazendo com que as suas potencialidades se manifestem ao longo da vida. Essas potencialidades incluem tendências vocacionais, estado de saúde física e mental, entre outras. Daí que, já na gestação, a mãe deve zelar pelas boas condições de desenvolvimento do feto. Atitudes e posturas hostis à vida certamente vão se refletir na criança e no adulto depois. Entre essas atitudes prejudiciais estão o consumo de cigarros, bebidas alcoólicas, exposição a ruídos excessivos, metais pesados, agrotóxicos e outros produtos químicos de uso corriqueiro nos ambientes domésticos. Qualquer um desses fatores adversos causa seqüelas que se manifestam muitos anos depois. Esses são os fatores ambientais domésticos e que depois se ampliam para o meio ambiente em geral.
Por isso é preciso um meio ambiente equilibrado ecològicamente porque só ele pode permitir que o indivíduo desenvolva plenamente o seu potencial genético.
        De outra parte, condições ambientais desfavoráveis podem desencadear determinada doença se houver tendência genética naquela pessoa. A simples exposição de um feto ou mesmo uma criança – cujos órgãos ainda estão em formação – a um desses inseticidas químicos usados dentro de casa pode trazer sérias conseqüências. Tenho conversado com especialistas em saúde sobre isso. O avanço científico propiciou a cura de várias doenças, mas ele próprio e a tecnologia e produtos decorrentes causam outras seqüelas – as doenças da modernidade. E não são apenas casos de câncer em crianças e pessoas jovens. As doenças na mente afetam um percentual cada vez maior da população. A grosso modo a humanidade inteira revela índices maiores de pessimismo e  depressão, apesar das propaladas conquistas tecnológicas. Basta ver o grau de revolta e frustração de alguém metido nesses estressantes engarrafamentos no trânsito das grandes cidades.
       A exposição das pessoas aos fatores de risco pode ocorrer em qualquer fase da vida. No útero, infância e adolescência os riscos são maiores. Mesmo aqueles que foram cercados de cuidados nos primeiros anos de vida podem ser vítimas de condições ambientais adversas ou do comportamento pernicioso de outros indivíduos. No trânsito, motoristas alcoolizados são fatores de risco. Também traficantes de droga, que se infiltram nas rodas sociais em busca de possíveis vítimas. Estas são escravos que lhes garantem privilégios financeiros nessa sociedade em que as aparências às vezes valem mais do que o bom caráter. Conheci pilantra desfilando de carro novo, nunca fruto do trabalho e sim de falcatruas  e até da traficância de drogas. Para esse tipo de gente os outros são vistos como meros consumidores. Em escala maior algumas empresas e corporações agem da mesma forma quando só pensam nos lucros que podem auferir, mesmo sabendo que os seus produtos causam profundas seqüelas na saúde e no meio ambiente em geral. O consumo responsável pode mudar esse quadro.

28 de janeiro de 2012

Fórum Social Temático: Ambientalistas gaúchos apresentaram propostas

Darci Bergmann, camisa listrada, faz exposição das propostas da APEDEMA/RS,
ladeado pelo coordenador do evento Paulo Brack, 

Por Darci Bergmann


  O tema Rio+20: Que Desenvolvimento Queremos foi proposto pelos organizadores do Fórum Social Temático e ficou a cargo da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa gaúcha. As palestras e debates seriam realizados na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. O falecimento do ex-vereador Brochado da Rocha forçou o cancelamento desse evento. A APEDEMA/RS, que reúne 37 entidades ambientalistas e que seria uma das debatedoras, incorporou a discussão de propostas em outro evento paralelo, sobre as Hidrelétricas, nas dependências da UFRGS.
Ruppenthal, da equipe de Paulo Brack,
expõe o tema das grandes hidrelétricas e seus impactos socioambientais 

    Paulo Brack coordenou os trabalhos e ainda abordou o tema das hidrelétricas e seus impactos sócioambientais. Francisco Milanez (AGAPAN) e Darci Bergmann (ASPAN-São Borja), dentre outros presentes, reforçaram as discussões. Em nome da APEDEMA/RS, Bergmann apresentou um resumo das propostas dos ambientalistas gaúchos, sob o título a Transição Ecológica Necessária. Uma a uma, as propostas foram sendo alinhavadas, com a citação de exemplos e fatos pertinentes, inclusive com imagens em algumas delas.O documento não é conclusivo e está aberto a novas discussões. Mas certamente será uma importante ferramenta - uma espécie de roteiro - para ampliar as discussões preparatórias à Rio+20, na visão dos ambientalistas gaúchos.
Alguns representantes das entidades presentes e filiadas à APEDEMA/RS
A velha guarda, com a sua trajetória de lutas, recebe o apoio da gente nova  que
vem chegando. O ideal de Henrique Roessler, José Antônio Lutzenberger e tantos outros
 anima a causa por um mundo melhor

22 de janeiro de 2012

Alheia ao clima, agricultura segue despreparada para alimentar a todos

BRASIL | 20.01.2012


 

Com participação brasileira, estudo publicado na revista Science mostra que a agricultura, cada vez mais impactada por mudanças climáticas, ainda ignora sustentabilidade e segurança alimentar.

 
Na região Sul do Brasil, celeiro agrícola do país, o regime de chuvas não é mais o mesmo das últimas décadas. Santa Catarina, por exemplo, viveu sete anos de estiagem nos últimos dez anos – embora os cientistas ainda não possam afirmar categoricamente se a alteração foi causada por mudanças no clima.
"Mas é, sem dúvida, uma anomalia. Temos que prestar atenção. E a ciência é responsável por buscar a causa dessas anomalias", disse Carlos Nobre, do Ministério de Ciências e Tecnologia, em conversa com a DW Brasil. O pesquisador é um dos autores do artigo "What next for agriculture after Durban" ("O que vem pela frente para a agricultura depois de Durban", em tradução livre), publicado nesta sexta-feira (20/01) na revista Science.
Assinado por 14 cientistas atuantes em diferentes partes do mundo, o texto é provocativo: um dos setores sob maior pressão para garantir a sobrevivência da humanidade e que tem a missão de alimentar uma população de 9 bilhões de pessaos até 2050 é uma pauta esquecida nas negociações climáticas.
"A agricultura global precisa produzir mais comida para alimentar uma população cada vez mais numerosa. Por outro lado, avaliações científicas mostram que as mudanças climáticas são uma ameaça crescente para as lavouras e para a segurança alimentar", alerta o artigo.
Chifre da África: eventos extremos tornam-se comunsChifre da África: eventos extremos tornam-se comunsMudança em curso, alimento em risco
"É cientificamente provado que se pode ter uma agricultura de menor impacto ambiental, menos emissão, menor impacto de resíduos, menor impacto na biodiversidade e, ao mesmo tempo, mais produtiva e adaptada às mudanças climáticas que já se tornaram inevitáveis", afirma Nobre.
Essa inevitabilidade pôde ser vista nos últimos dois anos: na seca que castigou o Chife da África e desencadeou uma crise humanitária, nas queimadas na Rússia que atingiram plantações de trigo, nas enchentes no Paquistão e Austrália que também afetaram lavouras. São exemplos de eventos extremos que, como afirmam especialistas, ficarão mais frequentes com o aquecimento do planeta.
O setor agrícola mundial, porém, continua conservador, praticamente inerte a esse cenário desafiador, afirmam os cientistas. "As políticas priorizam o valor de mercado da agricultura, o fator econômico. A agricultura sustentável exige uma readequação do parâmetro principal, ou seja, foco na segurança alimentar e na redução do impacto no meio ambiente", ressalta o autor brasileiro do estudo.
Brasil: avanços e retrocessos
Nesse cenário, o Brasil está, ao mesmo tempo, "um passo atrás e um passo a frente". O país é elogiado por ter uma meta de redução de emissões, e o Plano ABC, ou Agricultura de Baixo Carbono, do governo federal, faz parte dessa estratégia.
A meta é evitar a emissão de 165 milhões de toneladas equivalentes de CO2 nos próximos dez anos. Para tanto, foram disponibilizados 3,15 bilhões de reais em créditos para os agricultores brasileiros aplicarem na chamada agricultura sustentável: incentivo ao plantio direto, recuperação de pastagens degradadas, plantio de florestas comerciais, integração lavoura-pecuária-floresta e fixação biológica de nitrogênio.
Lavouras brasileiras ignoram efeitos de um clima diferenteLavouras brasileiras ignoram efeitos de um clima diferentePor outro lado, a ameaça de regressão vem das diretrizes ainda em discussão do Código Florestal. Ainda não se sabe se a nova lei vai conciliar o desenvolvimento sustentável e socialmente justo com as necessidades da agricultura sustentável. "Há muitas forças conservadoras que não enxergam a sustentabilidade da agricultura e até certo ponto buscam um retrocesso. Ou seja: a expansão sem limites da fronteira agrícola", critica Nobre.
Enquanto isso, no resto do mundo, há poucos bons exemplos de práticas agrícolas sustentáveis que garantam também boa colheita. O artigo da Science ressalta um caso africano: na Nigéria, 5 milhões de hectares foram regenerados com técnicas agroflorestais, o que beneficiou mais de 1 milhão de residências e gerou uma produção extra de 500 mil toneladas de grãos por ano.
Agricultura num clima diferente
Os anos de estiagem e os alarmes disparados pelos cientistas começam a provocar tímidas reações no agricultor brasileiro. No sul, a fruticultura, acostumada ao clima frio, já começa a se planejar para o plantio em clima tropical. Em vez da maçã, que pede temperaturas mais amenas, a banana e o abacaxi poderiam ser cultivados no "novo Sul'. Essa possibilidade já é estudada pelos agricultores da região.
"A cafeicultura brasileira, finalmente, também começou a reagir. O setor relutou muito, foi muito conservador, mas percebeu que pensar no futuro com clima diferente é importante", comentou Nobre. O plantio da espécie arábica, por exemplo já se vê ameaçado nas regiões onde as temperaturas não param de subir.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Francis França