12 de outubro de 2011

Clima terrestre. Britânicos suspendem teste de geoengenharia.

Britânicos suspendem teste de geoengenharia para manipulação deliberada do clima terrestre
  Comentários :: Publicado em 11/10/2011 na seção noticias :: Versões alternativas: Texto PDF


Um projeto para injetar água do mar a uma altitude de 1 km na atmosfera, conduzido por pesquisadores de quatro universidades do Reino Unido, não será mais realizado neste mês de outubro de 2011. O plano, que envolvia suspender uma mangueira por meio de um balão de hélio, seria um teste preliminar de uma família de estratégias de geoengenharia - a manipulação deliberada do clima terrestre - para combater os efeitos do aquecimento global.

Chamado
 Spice (sigla em inglês de Stratospheric Particle Injection for Climate Engineering, ou Injeção de Partículas na Estratosfera para Engenharia do Clima), o programa investiga a viabilidade de se lançar partículas na alta atmosfera para refletir parte da energia do Sol de volta ao espaço.

O teste previsto originalmente para outubro, mas agora suspenso por pelo menos seis meses, não teria a capacidade de afetar o clima: um modelo realmente funcional teria de injetar partículas a uma altitude de 20 km. O teste em escala serviria para gerar dados sobre o comportamento do balão e da mangueira.
 

De acordo com o material de divulgação do projeto, o efeito de resfriamento global esperado de uma aplicação dessa estratégia seria comparável ao de uma grande erupção vulcânica, um tipo de evento que lança grandes quantidades de material à base de enxofre na estratosfera.

Os pesquisadores envolvidos no Spice citam como exemplo a
 erupção do Monte Pinatubo, nas Filipinas, me 1991, que causou uma redução de 0,5º C na temperatura média global, ao longo dos dois anos seguintes.

PRESSÃO POLÍTICA

De acordo com o site da revista
 New Scientist, o teste foi adiado depois de uma forte pressão exercida pela ONG ETC, baseada no Canadá.

Em cartas enviadas a autoridades britânicas, a organização acusava o experimento de violar acordos internacionais como a Convenção de Biodiversidade das Nações Unidas, que impõem uma moratória na implementação de estratégias de geoengenharia até que seus efeitos ambientais sejam bem estudados.

Mas um especialista ouvido pela revista aponta que o teste do Spice não deveria ser visto como uma violação desse princípio, já que não teria o potencial de, realmente, afetar o clima. Mas alguns grupos ambientalistas consideram que a simples realização do teste representaria um "Cavalo de Troia" para a introdução efetiva de tecnologias de geoengenharia.
 

Também há o temor de que a opção de manipulação tecnológica do clima seja usada como pretexto para que medidas mais urgentes, como a redução das emissões de dióxido de carbono por atividade humana, sejam adiadas.

A nota do Conselho de Pesquisas em Engenharia e Ciências Físicas do governo britânico que anunciou a suspensão do teste informa, apenas, que a decisão foi tomada para "permitir mais tempo de interação com as partes interessadas. Adotamos uma abordagem responsável de inovação com este projeto", diz o texto. "E nossa decisão de interromper o teste reflete conselhos que recebemos de nosso comitê consultivo".
 

A oposição à geoengenharia não vem só de ONGs, no entanto. Em 29 de setembro de 2011, o
 Parlamento Europeu aprovou uma resolução sobre meio-ambiente que, entre outras disposições, manifesta "oposição a propostas de geoengenharia de larga escala". O mesmo texto reconhece "a importância da pesquisa, desenvolvimento e inovação, e a necessidade de cooperação científica e tecnológica."

RECOMENDAÇÕES DOS EUA

A despeito da perda de prestígio na cena europeia, a pesquisa sobre geoengenharia recebeu, no início de outubro, um impulso de um grupo de estudos nos Estados Unidos, o
 Bipartisan Political Center (BPC).Relatório divulgado em 4 de outubro de 2011 pede que o governo federal americano lance um "programa coordenado de pesquisas para explorar a eficácia potencial, viabilidade e consequências de estratégias de remediação climática".

O relatório afirma que "os riscos da mudança climática são reais e estão aumentando", e que "os riscos geopolíticos e para a segurança nacional da adoção de tecnologias de remediação climática por outros países ou agentes são reais".
 

Com base nisso, indica que os EUA deveriam pesquisar se alguma estratégia de "remediação climática" poderia representar uma resposta significativa aos riscos da mudança climática, e avaliar que medidas outros países podem ser levados a tomar. Os Estados Unidos deveriam "liderar as importantes conversações internacionais que provavelmente surgirão" a respeito do assunto.
 

ROYAL SOCIETY

Em 2009, a
 Royal Society do Reino Unido publicou um relatório de mais de 90 páginas intitulado Geoengineering the climate: science, governance and uncertainty, que avaliava a viabilidade de diversas opções propostas para a manipulação deliberada do clima, notando logo no início a "ausência de informação acessível e de qualidade" a respeito de tais propostas.

O trabalho divide os vários planos sugeridos em dois grupos -- remoção de dióxido de carbono, com as estratégias para retirar o excesso de gás causador do efeito estufa da atmosfera; e controle da radiação solar, envolvendo propostas para reduzir a energia do Sol que chega á superfície do planeta.

O relatório conclui que as opções de geoengenharia "só deveriam ser consideradas como parte de um pacote mais amplo de alternativas", incluindo reduções nas emissões de gases causadores do efeito estufa, e que ainda assim os métodos relacionados à remoção do dióxido de carbono são preferíveis. No entanto, o texto diz que, numa situação de "emergência climática", técnicas para refletir a luz solar de volta ao espaço podem representar "a única forma de reduzir as temperaturas globais".

FONTE
 

Inovação Unicamp
Carlos Orsi
 - Jornalista
Telefone: (19) 3521-4876
E-mail:
 contato@reitoria.unicamp.br

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Saiba mais sobre o clima:
Uma persistente La Niña está de volta
Por Stephen Leahy, da IPS
La Niña voltou menos de três meses após sua última e poderosa manifestação, que ajudou a disparar os preços mundiais dos alimentos. A nova Niña, fase fria da Oscilação do Sul, prolongará a falta de chuvas em importantes regiões agrícolas do Brasil e da Argentina, e no sul dos Estados Unidos, afetando colheitas de soja e trigo.
Não é raro que La Niña se apresente em vários anos consecutivos, disse Jeffrey Masters, diretor de meteorologia e cofundador deWeather Underground, primeiro serviço meteorológico comercial na internet. A última vez que ocorreu foi em 1998 e 2001, "com intervalo de poucos meses de condições neutras, como neste ano de 2011", explicou ao Terramérica.

La Niña e El Niño são, respectivamente, as caras fria e quente do El Niño Oscilações do Sul (Enos), fenômeno climático marítimo cíclico que afeta os padrões meteorológicos em todo o mundo. O Enos é parte do sistema que regula o calor no trópico oriental do Oceano Pacífico e está pautado por mudanças na temperatura da superfície oceânica e na pressão atmosférica. Entretanto, mal começamos a entender como o Enos se manifestará no futuro em razão da mudança climática, advertiu Masters.

A aparição anterior do La Niña foi em junho de 2010. Na Austrália desatou fortes chuvas que puseram fim a dez anos de seca, mas que inundaram cerca de 850 mil quilômetros quadrados, quase a área que França e Alemanha ocupam juntas. Também causou inundações sem precedentes no norte da América do Sul, por exemplo, na Colômbia e norte do Brasil. Ao mesmo tempo, o centro e o sul de Brasil eArgentina e o sul do continente sofreram secas.

"As projeções indicam que esta Niña será mais fraca", afirmou Masters. Contudo, seus impactos serão amplificados porque muitas regiões ainda não se recuperaram do La Niña anterior. América Central, Venezuela, Colômbia e outras regiões, que em dezembro e janeiro sofreram inundações sem precedentes, podem esperar mais precipitações fortes nos próximos meses, segundo as previsões, acrescentou.

Devido à mudança climática, a atmosfera terrestre é, em média, 0,8 grau mais quente do que na era pré-industrial e por isso retém 4% mais de vapor de água, disse ao Terramérica, por e-mail, o especialista em clima Kevin Trenberth, do National Centre for Atmospheric Research, com sede em Boulder, o Estado norte-americano do Colorado. "A umidade extra acompanha as temperaturas marinhas e tem impacto em tudo. Nos lugares que estão mais quentes durante o La Niña, há mais risco de inundações", destacou.

Os modelos climáticos computadorizados ainda não conseguem prever como a mudança climática afetará o complexo ciclo do Enos, que pode durar entre três e sete anos, afirmou Trenberth. Embora as inundações e as secas tenham piorado, não há evidências claras de que a mudança climática afetou o Enos, alertou. Masters prevê que oLa Niña atual atingirá seu clímax em janeiro e se diluirá na primavera boreal [do hemisfério norte]. Isto levará tempo seco ao Texas e a outras partes do sul dos Estados Unidos que já sofrem uma seca extrema.

"As secas tendem a gerar sistemas de alta pressão que atuam reforçando as condições que produzem a própria seca", disse Masters. Este ano caíram no Texas menos de 127 milímetros de chuva, quebrando todos os recordes e causando perdas agropecuárias de US$ 5 bilhões. A agricultura da região enfrenta um caminho longo e difícil que exigirá várias temporadas de fortes chuvas para se recuperar, acrescentou.

Os técnicos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos(USDA, da sigla em inglês) acreditam que, continuando o La Niña, haverá "uma grande probabilidade" de fracassar a colheita de inverno de trigo e "um possível fracasso dos cultivos de verão" em 2012 nas planícies do sul do país. O Oil World, um serviço de previsão agrícola com sede na cidade alemã de Hamburgo, prevê que a soja e outros cultivos estarão ameaçados por condições mais secas em boa parte da Argentina e no sul e centro do Brasil.

"O centro do Brasil sofrerá condições de secas incomuns desde meados de abril", diz um informe do Oil World, divulgado dia 30 de setembro de 2011. Em algumas zonas da Argentina choveu muito menos do que a metade do que se considera normal. Sem chuvas, as colheitas de outubro e novembro podem ir à bancarrota, segundo o informe.

Os preços mundiais dos alimentos estão 26% mais altos do que há um ano, segundo o Índice da FAO, publicado em setembro pelaOrganização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação(FAO). As reservas de cereais estão baixas, mas a FAO estima que os rendimentos mundiais de trigo serão 2,8% mais altos do que em 2010, embora esta previsão seja de junho, antes de se saber com certeza do La Niña atual.

Fonte:Agrosoft/Tierramérica

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