24 de maio de 2013

Um manto para proteger a terra




Por Darci Bergmann


   Tanto o corpo humano, quanto o solo precisam ser protegidos dos agentes externos. No corpo humano é a pele que faz essa proteção. No solo são as forrações.  
   Qualquer pessoa sabe o quanto é dolorida uma esfolação. Além disso, essa área exposta está sujeita a infecções, se não for tratada adequadamente. Um solo desnudo, sem a cobertura de folhas e vegetais, também está sujeito a sofrer injúrias.
    Parece um coisa corriqueira, mas não é. Nós humanos muitas vezes nos esquecemos de que o solo também precisa de cuidados. E tudo começa em mantê-lo protegido. 
Região arenosa, formação Botucatu, no Rio Grande do Sul.
Áreas assim sofreram intenso pastoreio que debilitou a
cobertura vegetal. Também foram implantadas lavouras com
recursos do crédito rural. A intervenção humana agora
é no sentido de recuperar essas áreas. Haverá crédito rural
para reparar a ferida exposta?
   Alguns desertos, áreas degradadas e barrocas surgiram por falta de cobertura vegetal do solo. Essa cobertura, que alguns chamam de forração, pode ser um manto de palhas, folhas ou algo assim. Podem também ser plantas herbáceas, arbustivas e árvores. 

   O manto de folhas sobre o solo não é lixo

Isto é lixo


  Muitos humanos ainda não entendem todas as relações entre o solo e os seres vivos que nele vivem. Alguns supõem que folhas e flores caídas são lixo. Pátios desnudos, pomares varridos e lavouras sem cobertura vegetal verde ou palhosa estão sujeitos à degradação. As partículas de solo se desagregam e são carregadas pelas chuvas e pelos ventos.

Manejo incorreto de áreas arborizadas

   Em pomares domésticos ainda há quem faça a capina e a remoção das folhas que recobrem o solo. Em pouco tempo, a superfície dá sinais de desagregação das partículas. Depois, ocorre o arrastamento com as águas pluviais, deixando as raízes expostas. O material perdido acaba  nos bueiros, riachos e rios maiores - é o assoreamento.  
Evite as capinas sob as copas das árvores. As capinas danificam o sistema radicular, deixando as plantas mais vulneráveis ao ataque de pragas e doenças. Para controlar as ervas, faça as roçadas.
   

Os espaços verdes das áreas urbanas também precisam de manejo correto. Muitas dessas áreas são arborizadas e o solo é recoberto com gramíneas rasteiras, que se desenvolvem bem sob sol pleno. Com o tempo, a copada das árvores deixa o ambiente com menos passagem de luz solar. O gramado, então, já não cobre toda a superfície do terreno. As folhas são removidas, pois muitas pessoas as consideram 'lixo'. Inicia-se o processo de erosão do solo. 
Um dos argumentos para a remoção das folhas é que, nos períodos de estiagem, elas seriam focos de queimadas, devido às baganas acesas jogadas pelos fumantes.
Uma remediação possível, em casos assim, é o recobrimento das raízes expostas com um substrato rico em matéria orgânica e o plantio de espécies herbáceas de meia sombra.

A remoção constante das folhas deixa o solo exposto à
erosão.


 O solo de lavoura deve sempre ficar com algum tipo de cobertura
   O sistema de plantio direto, mantendo a cobertura com palha, ajuda a diminuir a erosão do solo. Mas é preciso que esta prática seja complementada com outras, como a rotação de culturas e melhoria das condições biológicas. 

A foto acima mostra plantio de soja em palha de linho. A
cobertura de solo é pouca. Nota-se, que o dessecamento
com o herbicida glifosato não eliminou a planta conhecida
como buva (Conyza bonariensis) que já apresenta
 resistência ao herbicida.

Outro exemplo de pouca cobertura do solo. Em casos assim,
uma das alternativas é o plantio de espécies melhoradoras do
solo e que produzem mais massa verde. 

As formações vegetais nativas constituem a melhor proteção ao solo e aos mananciais hídricos
A diversidade de espécies faz com que o sistema radicular de todas elas ocupe camadas diferentes do perfil do solo. E o aproveitamento da luz solar é máximo. As folhas, flores, frutos e ramos caídos formam um ambiente propício a muitos organismos que deles se alimentam e reciclam essa matéria orgânica, transformando-a em húmus. Disso também resulta a melhor infiltração das águas pluviais e a consequente recarga dos aquíferos.
Áreas de capoeiras evoluem para a floresta mais complexa. E o resultado será ainda melhor se os remanescentes florestais forem ligados uns aos outros, através dos chamados corredores ecológicos.
Os ecossistemas se fortalecem e se recuperam e isso faz bem para toda a cadeia produtiva. 
Nós humanos dependemos de todas as outras formas de vida.


Na foto acima uma situação complexa: A encosta com floresta
está conservada. Logo abaixo, a intervenção humana incorreta
 resultou em processo de degradação do solo. A recuperação
de uma área degradada é demorada e de alto custo.
Pastoreio excessivo causa degradação das pastagens e do solo

Quando um herbívoro se alimenta das ervas, ele reduz a quantidade de folhas que fazem a fotossíntese. Então é preciso um tempo mínimo para que as plantas se recuperem, o que depende das espécies e da época do ano. Nesse lapso de tempo, as reservas de nutrientes do pasto são mobilizadas. O pastoreio contínuo, com elevada carga animal, consome a brotação que ainda se recupera. A pastagem enfraquece e a massa verde já não cobre toda a superfície do solo. É o início da degradação. Em muitos países, os desertos começaram assim.



Taludes e canais de irrigação devem ser recobertos com vegetação natural ou material equivalente.


Obras públicas e privadas revelam o descuido com a proteção dos taludes. Queima-se combustível para transporte de material e aterramentos e, depois, nem sempre é feita a cobertura vegetal, o que fica por conta da natureza. Por ocasião das chuvas, esses materiais sofrem erosão, muitas vezes comprometendo a estrutura toda.

Os taludes no pontilhão acima, por falta de forração vegetal
adequada, mostram sinais de erosão. A terra é carreada para
o córrego, que fica assoreado. Nossos impostos se vão
águas abaixo. 


Conduto de água e estrada interna
de uma lavoura de arroz. O canal de irrigação tem seus taludes
com cobertura vegetal satisfatória.
A foto mostra outra lavoura. Aqui o lavoureiro cometeu
degradação intencional da vegetação ciliar ao longo do
córrego, usando herbicida dessecante. É uma área de preservação
permanente, nos termos do Código Florestal. Atitudes assim
não trazem nenhum benefício para o lavoureiro e ainda com-
prometem os mananciais hídricos.

  


  Forrações com plantas rasteiras

  Existem muitas opções de plantas rasteiras para cobertura do solo. Algumas aceitam pisoteio moderado a intenso, outras não. Mas todas elas protegem o solo de alguma maneira e ainda permitem a infiltração de boa parte da água das chuvas.  


O singônio (Syngonium podophyllum ) forra o solo
e sobe em árvores. É uma alternativa
para áreas de meia-sombra.

A maria-sem-vergonha (Impatiens walleriana) é uma das
opções para áreas de meia sombra.


O camarão-vermelho (Justicia brandegeana)
é boa opção para áreas abertas. A planta
 é bonita, rústica e atrai os beija-flores.


Plantas de vasos também precisam de forração




Nos jardins, as forrações com pedras são uma alternativa




Espaços rústicos
Alguns recantos, sombreados pelas árvores, são mais ecológicos quando forrados pelas folhas caídas. Elas evitam a desagregação do solo, conservando a umidade e permeabilidade. Em dias chuvosos, o manto de folhas evita o barreamento da superfície.  




Nem todo o revestimento é bom para o solo
O revestimento asfáltico impede a infiltração das águas
pluviais. As cidades crescem e os alagamentos se
tornam mais frequentes. As áreas verdes, como na
foto acima, em Porto Alegre-RS, são um contraponto
que ameniza um pouco as cidades cada vez mais quentes
e artificiais. 

A utilização maciça de materiais que impermeabilizam o solo se contrapõe às vantagens das forrações vegetais. Há ocasiões em que não se tem outra alternativa. É o caso de alguns tipos de taludes e revestimentos de grandes canais de irrigação. As cidades, por seus prédios e vias públicas, também impermeabilizam o solo. Por isso mesmo, já surgem movimentos para reduzir esses impactos ambientais. Passeios públicos já podem ser revestidos com materiais permeáveis. Parte dos passeios públicos também pode ser revestida de grama.
A utilização de pedras na pavimentação de ruas, ecologicamente é melhor do que o revestimento asfáltico. 

As áreas livres vegetadas atenuam os efeitos do calor e melhoram a infiltração das águas pluviais.

Algumas cidades já adotam o conceito de área livre vegetada nos lotes urbanos. Nelas, as legislações municipais estabelecem que uma quinta parte de cada lote seja destinada a espaços verdes - jardim, horta ou pomar. Nessa área livre vegetada não se permite revestir o solo com material impermeável, tipo piso cimentado. As áreas livres vegetadas atenuam os efeitos do calor e melhoram a infiltração das águas pluviais. As cidades se beneficiam com isso, diminuindo também os alagamentos



Revestimentos e caminhos permeáveis permitem oxigenação do solo e infiltração das águas pluviais



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Sobre desertificação: Meio Ambiente por Inteiro - O fenômeno da desertificação
Dia 17 de junho é o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca. No Brasil, 11 estados possuem áreas suscetíveis à desertificação. Esse fenômeno ocorre a partir da degradação de terras secas por causa de variações climáticas e das ações humanas. A desertificação é a causa de diversos problemas políticos e socioeconômicos, como a pobreza, à segurança alimentar e as precárias condições de vidas das populações que vivem nestas regiões.
O programa Meio Ambiente por Inteiro é exibido pela TV Justiça.



FONTE

TV Justiça
Programa Meio Ambiente por Inteiro

Links referenciados

Meio Ambiente por Inteiro
www.tvjustica.jus.br/index/ver-detalhe-p
rograma/idPrograma/212912

TV Justiça
www.tvjustica.gov.br









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