Por Darci Bergmann
A remodelação do espaço em frente à Igreja Matriz São Francisco de Borja está causando polêmica. Motivo: retirada de uma árvore da espécie exótica Ficus auriculata, conhecida popularmente por figueira-de-jardim, figueira-vermelha e figueira-chilena. ´
É compreensível a manifestação da comunidade e seria interessante até que houvesse uma audiência pública na Câmara de Vereadores. Seria o momento para debater certas questões ligadas ao meio ambiente. Lembro que há pouco mais de um ano, a Prefeitura Municipal de São Borja retirou quase uma centena de árvores da Rua Venâncio Aires*. Naquela oportunidade, os moradores encaminharam abaixo-assinado ao Ministério Público, solicitando que houvesse uma audiência, por ser uma obra de grande impacto ambiental. Não só isso. Passeios públicos, muros e grades de residências foram destruídos. Também não se tem conhecimento se houve consulta ao setor competente da Prefeitura e ao Conselho Municipal de Recuperação e Defesa do Meio Ambiente e se este, por iniciativa própria, tomou alguma medida.
Voltando ao caso da remodelação da Paróquia São Francisco de Borja. A convite, participei de uma reunião no Gabinete do Prefeito Municipal. Houve solicitação de um parecer sobre a situação das árvores no espaço frontal à Igreja Matriz.
Em decorrência, eu e a bióloga Melissa Bergmann fizemos uma rápida vistoria no local. O parecer não remunerado que fizemos tem o intuito de contribuir no debate. Foca principalmente a questão das medidas compensatórias, caso uma árvore ou duas devam ser retiradas do local. A decisão final é das autoridades municipais.
Um fato positivo em tudo isso, é a postura do Prefeito Farelo Almeida e da parte proponente da obra que buscam dialogar e ouvir setores da comunidade que possam contribuir para o melhor encaminhamento da questão.
A seguir, a íntegra do Parecer:
PARECER
TÉCNICO
SOLICITANTES: Prefeitura Municipal de São Borja e Sociedade
Paroquial São Francisco de Borja.
OBJETIVO: Reestruturação do espaço frontal à Igreja Matriz
São Francisco de Borja, atendendo à lei de acessibilidade urbana, com a
retirada de uma araucária ( Araucaria
angustifolia) e um exemplar de figueira-de-jardim (Ficus auriculata)
HISTÓRICO
Há vários anos existe a intenção da Sociedade Paroquial São
Francisco de Borja em fazer melhorias no espaço frontal à Igreja Matriz. Um dos
motivos alegados em consulta verbal, já em 2003, seria a construção de rampas
que permitissem o acesso de pessoas com necessidades especiais – os
cadeirantes. Também houve relato de quedas de pessoas em função dos frutos (figos)
da figueira-de-jardim. Embora a Prefeitura faça a varrição e coleta de folhas e
frutos em dias de semana, é justamente nos domingos e feriados que o fluxo de
pessoas é maior em virtude das missas. É daquela época a constatação de uma
situação preocupante em termos de riscos de acidentes, principalmente com
relação à Araucaria angustifolia, eis
que plantada em local impróprio, há mais de trinta atrás, para enfeite
natalino. Já era de conhecimento do prefeito da época, José Pereira Alvarez,
que esta espécie de grande porte, teria comprometimento do sistema radicular e
poderia cair, como já ocorreu em outras situações semelhantes em áreas urbanas.
Somente agora foi retomada pela Paróquia a intenção de fazer
as reformas e adequação do espaço à acessibilidade. Foi solicitado à Secretaria
Municipal do Meio Ambiente licença para retirada do exemplar de Ficus auriculata, porém sem apresentação
do devido projeto técnico e proposição de medidas compensatórias. A questão foi
encaminhada para análise do Conselho Municipal de Recuperação e Defesa do Meio
Ambiente – CMRDMA, que deu parecer contrário à retirada da árvore, pois não
havia informação suficiente sobre a matéria.
DA VISTORIA REALIZADA EM 16/07/2013
Constatamos que:
1)
O exemplar de Ficus auriculata, espécie exótica, encontra-se
inclinado para o lado norte, em função do sombreamento causado pela Araucaria
angustifolia e por um exemplar da espécie nativa guabiju (Mircianthes
pungens), localizado em terreno contíguo.
2)
O exemplar de Araucaria angustifolia, espécie
nativa em vários estados do Brasil tem idade superior a trinta anos. A espécie
não ocorre em estado nativo na região de São Borja. Embora de beleza singular,
a árvore já mostra sinais de degenerescência na parte apical da copa. Tal fato
talvez seja oriundo do estresse climático, pois a espécie é sensível à alta
temperatura e à baixa umidade relativa do ar, o que é comum nas primaveras e
verões de São Borja, principalmente no centro da cidade.
O solo em volta da árvore está
impermeabilizado por piso de concreto e cerâmico, o que dificulta a aeração e
aumenta o estresse hídrico.
O tipo de arquitetura da copa, com a
inserção horizontal dos ramos e a possibilidade de queda dos mesmos coloca em
risco as pessoas, mesmo em períodos de tempo bom. Em dias de ventos fortes o
perigo é maior e a árvore corre risco de queda caso continue a degenerar em
função das agruras climáticas. Já há casos típicos de mortandade de araucária
na cidade. Um exemplo disso é o espécime em degeneração, localizado num
terreno, na Rua Aparício Mariense, em frente ao Posto Santa Lúcia, onde já
ocorreram quedas de ramos sobre automóveis de um estacionamento.
3)
O projeto de revitalização do espaço em frente à Igreja Matriz,
de responsabilidade do Eng. Civil Nelson Ceccon, foi motivado pela posição correta
do CMRDMA. O projeto prevê o paisagismo com aumento da área livre - sem
revestimento cerâmico – o que aumentará a infiltração das águas pluviais.
4)
Sobre as medidas compensatórias.
Estas não foram apresentadas pela
parte proponente, nem tampouco pela Prefeitura Municipal de São Borja, o que
motivou a negativa do CMRDMA em se manifestar contra a retirada do exemplar de Ficus
auriculata.
Em respeito ao posicionamento do
CMRDMA, o Excelentíssimo Sr. Prefeito Municipal Farelo Almeida, após receber
comissão da Sociedade Paroquial São Francisco de Borja, solicitou laudo técnico
e proposta de medidas compensatórias para serem analisadas pelo setor
competente.
5)
Sugestões
Diante do exposto, encaminhamos as
seguintes sugestões:
5.1) Cenário em que seriam mantidos os dois exemplares arbóreos já referidos
acima, caso não prejudique a instalação da rampa para cadeirantes.
Revitalização do solo ao redor de
cada árvore, aumentando a superfície livre em torno do tronco e plantio de
espécies herbáceas para forração.
5.2) Cenário em que seriam removidas a araucária e a figueira-de-jardim.
Se esta for a alternativa escolhida,
ela evidentemente causará um impacto visual temporário. As copas das árvores já
se incorporaram na paisagem local e a remoção causará polêmica. As medidas
compensatórias neste caso devem contemplar o plantio de exemplares arbóreos na
mesma quadra onde se localiza o espaço a ser remodelado e também em outros
locais públicos, conforme a seguir:
5.2.1) Plantio de pelo menos dois
exemplares da espécie ipê-roxo (Tabebuia avellanedae),
árvore-símbolo do Município (lei Municipal n 1.022/1980, no lado ímpar da Rua
Aparício Mariense, quadra em frente à Praça XV de Novembro.
5.2.2) Plantio de trinta exemplares
arbóreos nativos da região em vias e ou logradouros públicos, com monitoramento
pelo prazo de dois anos, com tratos culturais e reposição se necessário, por
parte da Sociedade Paroquial São Francisco de Borja.
5.2.3) Pela Prefeitura Municipal de
São Borja - Implantação de uma área verde pública no Bairro da Pirahy, nas
imediações da Rua Theobaldo Klaus e Vila Santos Reis, devido ao expressivo
aumento populacional naquela área. Isto, de certa maneira, também compensa o
plantio das dezenas de árvores retiradas pela Prefeitura na Rua Venâncio Aires,
quando das obras de alargamento, sem consulta em audiência pública.
É o parecer
São Borja, 16 de julho de 2013.
EngºAgrº Darci Bergmann Bióloga Melissa Bergmann
CREA 21.534 CRBio
53938-03
A Araucaria angustifolia acima tem mais de trinta anos. |
A figueira-de-jardim acima foi plantada pelo Sr. Corandino Reck, e tem aproximadamente trinta anos. O tronco apresenta racha- dura na bifurcação. |
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Mais sobre arborização;
3 comentários:
ESCÂNDALO! Uma vergonha o que fizeram com as duas árvores em frente à Matriz São Francisco de Borja. A araucária, tudo bem, ela estava errada ali e foi plantada somente para ser decorada num Natal e acabou ficando; sem falar que não é adaptada à nossa região.
Mas a figueira, inacreditável que tenham a retirado. Quantas pessoas ela já protegeu do sol forte? Tinha uma copa gigante, com muito verde e sombra. Já existia uma rampa para acesso à esquerda da Igreja.
Daria para fazer uma modificação no projeto e contorná-la, como sugerido por Bergmann no laudo.
Última pergunta: para que Comissão do Meio Ambiente se isso aconteceu? Já é o órgão máximo de proteção e não deveria haver como recorrer às suas decisões. Este caso abre um grave precedente para mais e mais árvores sejam derrubadas na nossa amada São Francisco Borja.
Mais uma vez, muito triste com a atuação desses órgãos...
Parabéns pela atitude pq a árvore gerava os figos que estavam no chão e que muitas pessoas, dentre elas pessoas idosas, caiam e se machucavam. Certamente essa reforma da Igreja vai dar mais acesso aos cadeirantes e pessoas que eram impedidas de frequentar a missa! Vai ser mais um avanço para São Borja que deixará a cidade mais bonita para receber que visita a cidade!
Darci, tu viste o que fizeram? OK, retiraram a árvore, mas as medidas de compensação não seguiram à risca tuas orientações. As 30 árvores que beneficiariam a população de um bairro todo serão plantadas na sede do Irga (próximo ao parque de exposições). As árvores a serem plantadas na Aparício Mariense, nenhuma palavra.
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