3 de agosto de 2012

UFSM: Área de 400 hectares foi alvo de negociata

Desde 29 de julho de 2012 nesta casa tremula uma bandeira do MST.
Antes o local abrigava a família de um funcionário da FEPAGRO, em São Borja - RS,
numa gleba da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM.
As terras pertenciam ao Ministério da Agricultura e foram doadas
à UFSM para implantar um campus universitário e talvez um dia a
'Universidade das Américas'
Foto: Darci Bergmann, 03/08/2012. 

Por Darci Bergmann


Uma gleba de terras de 400 hectares localizada em São Borja-RS foi cedida ao INCRA pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM com a finalidade de assentar 23 famílias ligadas ao MST.
Há mais de 40 anos as terras, que pertenciam ao Ministério da Agricultura, foram repassadas para a UFSM, por solicitação de José Mariano da Rocha, então reitor. A área deveria sediar um campus universitário e falava-se até na criação de uma Universidade das Américas. Por muitos anos a gleba foi administrada pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária - FEPAGRO. A falta de investimentos fez com que a FEPAGRO devolvesse as terras à UFSM.
Curiosamente, quando da instalação de um campus da Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA, as terras da UFSM não foram repassadas à nova instituição de ensino. O mesmo aconteceu depois com a instalação em São Borja de outra instituição federal - o Instituto Federal Farroupilha. Nem a Universidade Estadual do Rio Grande Sul - UERGS foi contemplada com algum quinhão.

Existem terras particulares para assentamentos do INCRA

As 23 famílias que estão em fase de assentamento na antiga gleba da UFSM poderiam ocupar outras glebas em oferta na região. O assunto causou polêmica em muitos setores, uma vez que algumas entidades já vinham se mobilizando para que a gleba de terra tivesse mantida a sua finalidade para educação e pesquisa. É bom lembrar que a pouco mais de 80 Km de São Borja, em Itaqui, tem um campus da UNIPAMPA onde funcionam cursos de Agronomia e Nutrição que também poderiam ocupar partes das terras da UFSM.

Educação e pesquisa também geram empregos. 

Se a argumentação é assentar pessoas desempregadas, algumas notoriamente sem vinculação com a terra, melhor seria promover o emprego com a criação de cursos técnicos e centros de pesquisa, integrando as instituições públicas - União, Estado e Município de São Borja. Sem demérito aos assentados, recrutados entre a população urbana e rural de vários municípios, a maneira como a transação foi feita cheira a algo muito estranho.

 A questão mereceria ser apreciada pelo Ministério Público Federal?

Há muitas pessoas que entendem que a questão deveria ser objeto de uma interferência do Ministério Público Federal. Como admitir que a UFSM não tenha repassado às suas coirmãs também federais as terras? Como admitir que a UFSM não tenha projetos e nunca se interessou em encontrar alternativas quando a FEPAGRO lhe devolveu a gleba? Que tipo de ideologia percorre a intelectualidade de uma massa crítica universitária que se mostrou incompetente e omissa em buscar parcerias para alavancar projetos na área de ensino e pesquisa? Uma vez que a finalidade das terras repassadas à UFSM e agora cedidas ao INCRA tinham a finalidade única de ensino e pesquisa, essas questões afloram nas mentes de muitas pessoas.

Quem teria sido o mentor da transação das terras públicas da UFSM em São Borja?

Recebi informações de que as tratativas para a transação foram articuladas pelo diretor presidente da FEPAGRO e também professor da UFSM, Danilo Rheinheimer dos Santos.O assunto vinha sendo tratado com certo sigilo.  A esta pessoa se atribui também a investida contra outras parcerias que a unidade da FEPAGRO de São Borja mantém com a Prefeitura. Uma delas seria a retirada da Casa do Mel, mantida por um convênio entre Município, FEPAGRO e Associação dos Apicultores de São Borja. Até um leigo sabe da importância das abelhas na polinização das plantas, aumentando a sua produtividade. A 'casa do mel' foi uma antiga reivindicação da comunidade. Parece que um ar de superioridade e arrogância contaminou esse nomeado político que agora preside a FEPAGRO. Ele não teria recebido pessoas da Prefeitura de São Borja para tratarem da questão das parcerias e outras formas de aproveitamento das terras da UFSM em um amplo projeto envolvendo diversas instituições locais.

A questão ambiental nas terras que pertenciam à UFSM em São Borja

Em outra matéria deste blog já foi relatada a ação ambiental desenvolvida pela ASPAN, e por mim também, em parte das terras que então pertenciam à UFSM. Igualmente a Patrulha Ambiental - PATRAM fez muitas solturas de animais silvestres ali e no meu sítio. Ainda muitas vezes fiz diligências contra as queimadas, mobilizando até voluntários para que o fogo não atingisse áreas maiores. Sempre nessas diligências, e até de forma preventiva, a Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural colaborou com algum recurso financeiro na implantação de aceiros e outras medidas de prevenção às queimadas e à caça ilegal.
Resta saber como vai ficar esse santuário da vida silvestre a partir de agora. Ao INCRA cabe a tarefa de passar instruções aos assentados, entre elas as que demandam o respeito ao meio ambiente, não só das glebas dos assentados, como no seu entorno.
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Leia também:
Dilma e Tarso querem privatizar áreas públicas no RS
A Universidade não fez. A natureza e voluntários estão fazendo uma parte
O Estado e a degradação ambiental 



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20 de julho de 2012

Revolução das bicicletas completa cinco anos em Paris



Por Júlio Godoy


Em cinco anos, 138 milhões de pessoas usaram as 23 mil bicicletas de aluguel de Paris, sistema que conta com 225 mil assinantes em uma população urbana de 2,3 milhões.
PARIS, França, 16 de julho de 2012 (Tierramérica).- Em julho de 2007, muitos habitantes da capital francesa riram de seu prefeito, Bertrand Delanoë, quando anunciou a criação de um sistema público de aluguel de bicicletas, destinado a reduzir o tráfego de veículos automotores em Paris. Nos primeiros meses do serviço, denominado Vélib’, das palavras “vélo” (bicicleta em francês coloquial) e “liberté” (liberdade), os céticos pareciam ter razão. Enquanto a maioria dos parisienses desdenhava das pesadas bicicletas públicas, de 23 quilos, outros as destruíam ou as roubavam. 


Durante o primeiro ano oito mil desapareceram e outras 16 mil sofreram vandalismo, segundo informação oficial. Outros inconvenientes desestimulavam o ciclismo urbano cotidiano: a exigência de assinatura, o preço elevado do serviço, o esforço físico que no verão produz efeitos secundários indesejáveis para uma população famosa pelo esmero com sua aparência pessoal, e o caótico trânsito de Paris, temido por seus altos riscos.



E, apesar de tudo, o Vélib’ completou seus primeiros cinco anos no dia 14, e também comemora um êxito inegável: nesse prazo, 138 milhões de pessoas utilizaram as 23 mil bicicletas de aluguel e o sistema conta com 225 mil assinantes em uma população urbana de 2,3 milhões de pessoas. Além disso, nesse período, apenas seis pessoas morreram em acidentes de trânsito envolvendo uma bicicleta de aluguel. O sistema também ganhou adeptos: 31 comunidades do entorno de Paris se associaram ao Vélib’, que serve de modelo para outras 34 cidades francesas.



A administração de Paris afirma, inclusive, que o Vélib’ se oferece como exemplo para um desenvolvimento semelhante em várias cidades do mundo, desde a australiana Melbourne até a norte-americana São Francisco. Em 2011, o sistema alcançou seu nível de rentabilidade, e seguramente dará lucro em 2012. Para Delanoë – um político sóbrio e extremamente reservado, que em 1998 se declarou homossexual –, o triunfo do Vélib’ também é a confirmação de que sua política de transporte, a princípio controvertida, é correta, uma revolução benigna para uma cidade afligida pelos engarrafamentos e pela contaminação ambiental.



“Há cinco anos, não imaginava que os resultados do Vélib’ seriam tão bons”, disse o prefeito ao Terramérica. “Minha intenção era testar uma política diferente, ajudar os parisienses a reconquistarem sua independência e sua liberdade no trânsito e, ao mesmo tempo, reduzir a poluição do ar”, acrescentou. Esta política se resume no lema “Paris respira”, onipresente no cartaz que defende o uso da bicicleta na cidade.



O sistema “acabou com muitos tabus sobre o transporte urbano”, afirmou ao Terramérica a especialista em urbanismo Isabelle Lesens. “A bicicleta reduz os problemas de estacionamento, e em uma cidade relativamente pequena como Paris, com bom clima médio, constitui um eficiente meio de transporte”, destacou. Apesar do êxito, o Vélib’ tem seus problemas. “O custo do Vélib’ é muito alto. A administração e a manutenção de cada bicicleta custa três mil euros por ano. Seguramente, seria possível obter os mesmos resultados por menos dinheiro”, opinou Lesens.



A empresa JCDecaux, que administra o serviço em cooperação com a prefeitura, admite tais problemas. “O sistema é muito caro em termos de exploração”, declarou ao Terramérica seu presidente, Jean Charles Decaux. “No entanto, desde 2011 alcançamos o equilíbrio orçamentário, depois de termos perdido dinheiro nos três primeiros anos”, acrescentou.



Apesar de tudo, o triunfo do Vélib’ é tamanho que os parisienses redescobriram sua paixão pelo ciclismo, que se expressa na competição mais importante do mundo, a Volta da França (Tour de France). Além disso, segundo dados oficiais, os parisienses realizam diariamente cerca de 200 mil trajetos em bicicleta própria. No total, a quantidade destes meios de transporte em Paris aumentou 41% desde 2007. E, ao mesmo tempo, o tráfego de automóveis apresentou queda de 25%.



As bicicletas são um componente da política de transporte urbano que Delanoë colocou em prática desde que foi eleito prefeito pela primeira vez, em março de 2001. Uma de suas primeiras medidas foi criar vias exclusivas para ônibus em quase toda a cidade, a fim de acelerar sua circulação e reduzir o espaço para carros individuais. O governo municipal também participa, em cooperação com as comunidades à sua volta, da construção de uma linha de bondes não contaminantes que em 2020 formará um anel de ligação em torno de Paris. 



Além disso, a prefeitura criou 370 quilômetros de vias reservadas para as bicicletas. Nos finais de semana, o tráfego de veículos automotores está proibido nas ruas mais importantes da capital parisiense. No dia 5 de dezembro, a prefeitura introduziu um sistema de aluguel de carros elétricos, com funcionamento baseado no Vélib’. Batizado, naturalmente, de Autolib’, ainda não tem o grau de popularidade das bicicletas. Porém, Delanoë está seguro de que seu impacto será positivo no transporte.



“Quando o Autolib’ for parte do modo de vida cotidiano dos parisienses, como já é o Vélib’, a política de transporte urbano mudará definitivamente”, disse o prefeito, reeleito em 2008 com 57,7% dos votos, para governar Paris até 2014. “Todas estas medidas (Vélib’, Autolib’, vias exclusivas para ônibus e bonde) têm por objetivo revolucionar o transporte urbano e reduzir os percursos com carros particulares, para diminuir as emissões de dióxido de carbono e purificar o ar”, detalhou Delanoë. “A verdade é que o automóvel não tem mais lugar na grande cidade de nossos dias”, ressaltou.


Fonte: Tierramerica
Foto: Wikipédia

17 de julho de 2012

Os animais de estimação e os impactos ambientais (3)



Onça pintada:
Foto: Wikipédia


Animais retirados do seu habitat: um caso real com um filhote de onça


Por Melissa Bergmann


   Essa questão do cuidado com os animais domésticos é realmente muito delicada. As pessoas se apegam aos bichos, que são dóceis e as acompanham em suas vidas. Mas deve-se ter alguns cuidados, pois não se pode esquecer de que são animais, e não se deve tentar "humanizá-los". Há pessoas que capturam aves, serpentes ou outros animais para criá-los em suas casas, esquecendo-se de que a "casa" deles é o habitat natural, seja um bosque, um banhado ou a capoeira. Em uma visita a uma espécie de zoológico em Santa Maria, havia uma onça que foi capturada, quando filhote, por um médico no Pantanal, que a levou para criá-la em casa, junto com os cães. Acontece que o filhote cresceu e começou a devorar os cãezinhos. Sem saber o que fazer, o médico então doou o animal ao zoológico. Moral da história: os animais silvestres devem permanecer em seus habitats, e não ser domesticados.       Da mesma forma, o cuidado excessivo com os animais domésticos pode desencadear um desequilíbrio nos ecossistemas, aumentando sua população, e influenciando a passagem de outros animais de uma área a outra, ou atuando como predadores de seus ovos ou filhotes.   Assim, ao largar os filhotes de um animal em terreno alheio, ou alimentá-los, está-se promovendo o aumento de sua população de forma desordenada, o que aumenta também a proliferação de parasitas e doenças. Todo animal (doméstico)merece respeito, e por isso cada proprietário deve cuidar dos seus. 


12 de julho de 2012

Asas da liberdade


Foto: DW aves migratórias


Por Darci Bergmann

Alçando vôos em ar de graça,
Abrindo asas sobre as planuras,
Lá vão elas, lá nas alturas,
Aves em paz e liberdade faceira.
Seus cantos, na harmonia campeira,
E suas cores refletem no horizonte
A vida que nasceu livre na fonte,
Com a as aves de beleza inteira

Mas no calmo e harmonioso cenário,
Entre plantas e bichos na inocência,
Pessoas agem por inconsciência,
Despidas de amor e de sentimentos.
Prendem seres, por seus encantamentos.
Cessa a liberdade e inicia o claustro.
Ontem era o céu, hoje o holocausto,
Estrelas a menos no firmamento.

A vida sempre surpreende,
Nunca se perde a esperança.
Já vi tanto, tenho lembrança.
Talvez um dia o algoz carcereiro,
Banhado de luz, cesse o cativeiro.
E consigam as aves enjauladas
Estender asas e partir em revoadas,
Como almas, no espaço inteiro.

Obs.: O poema acima faz parte de uma campanha minha contra o aprisionamento de animais.

5 de julho de 2012

Os animais de estimação e os impactos ambientais (2)


Por Darci Bergmann

Gatos abandonados por seus antigos donos num espaço urbano.

   Ao longo de várias semanas, quase que diariamente, sobre o passeio público frontal à minha moradia, eu encontrava aquelas bandejas de ‘isopor’, com sinais de alimento consumido ali mesmo.  Deduzi que alguém das imediações alimentava algum bicho que deveria circular pelo meu pátio. Estranhei que aumentara o número de gatos – agora cinco – que se hospedaram na minha área, vindos de outras moradas. Esses gatos logo criaram uma tremenda confusão no habitat urbano. Escalam árvores onde se tornam predadores de ninhos de aves, prejudicando a reprodução natural de várias espécies. A espécie sabiá-laranjeira foi uma das mais afetadas, pois os ninhos são de fácil acesso aos gatos. Uma família de gambás sucumbiu à presença dos intrusos felinos. Reconheço que diminuiu o número de ratos, antes controlados por iscas e ratoeiras. Os muros e telhados se tornaram passarelas barulhentas dos bichanos. Em época de cio, como se sabe, os gatos fazem o maior escândalo. Os machos brigam na disputa pelas fêmeas e estas, em longos gemidos e alguma reação mais agressiva, simulam rejeição ao pretendido candidato. O ritual, ao que parece, é para estimular o momento ideal para o acasalamento.
A foto mostra uma fêmea de sabiá-laranjeira, ave símbolo do Brasil, chocando sob um telhado.
Dias depois dessa foto, foi predada por um gato doméstico.
Foto: Darci Bergmann
  
  O fato é que o espaço urbano disponível não garantia alimentação suficiente aos gatos, pois eu não os alimentava para não atrair outros da espécie. Daí que alguém teve a idéia de alimentar os bichos, espalhando comida sobre o passeio público – naquelas ditas bandejas. Essa pessoa, no intento de mostrar-se compadecida com os animais, encaminhou-os para o meu espaço verde. Só que isso trouxe um tremendo impacto sobre as outras espécies de animais ali estabelecidos. Não havia também controle da prole. Assim, tive que remover os que conseguia apanhar e repassá-los a algum interessado.  A pessoa, supostamente benfeitora de animais, causava poluição com as bandejas de ‘isopor’, um material que não é reciclado aqui na minha região.
  Muitas pessoas tem tido prejuízo nas suas hortas urbanas pela circulação inoportuna de gatos, que danificam canteiros e sementeiras.
  Não se trata aqui de pregar hostilidade contra os gatos e cães, mas sim formas de controle, que devem envolver as autoridades constituídas. A biodiversidade é ampla em espécies e o equilíbrio entre elas é necessário até nos espaços urbanos. Esse equilíbrio está perigosamente rompido, porque nós humanos adotamos algumas poucas espécies, em condições muito artificiais.

  Nas zonas rurais de algumas regiões do Brasil não é diferente. A proliferação de gatos e cães já coloca em risco de extinção algumas espécies de animais silvestres devido à redução dos seus habitats e à presença dessas e outras espécies, consideradas de estimação.  
  A questão é mais séria e envolve até a saúde pública, daí merecer maior atenção das autoridades e das pessoas em geral.
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Mais sobre o tema:

Bom dia Brasil -  Edição do dia 18/12/2013
18/12/2013 08h59 - Atualizado em 18/12/2013 08h59


Fezes de animais contaminam areias de praias

famosas do Rio de Janeiro

Quando secas, elas se misturam aos grãos de areia e podem causar doenças. Trechos de Ipanema, Copacabana e Arpoador estão impróprios.



A uma semana para o começo do verão, a areia de algumas das praias mais famosas do Rio está  suja. E os banhistas devem ter cuidado.
Trechos das praias mais famosas, como Copacabana, Ipanema e Arpoador, atualmente não são recomendados.
Não é só o lixo que muitos banhistas ainda insistem em não depositar nas lixeiras que polui a areia. Existe uma outra razão, considerada pelos especialistas, ainda mais grave. E pior: ela pode estar bem escondida.
São as fezes de animais, principalmente de cachorros. Elas ressecam e se misturam nos grãos de areia.
A análise da prefeitura apontou que: em cada cem gramas de areia foram encontrados acima de 3.800 coliformes fecais.
Uma lei estadual aprovada este ano determina que a praia tenha placas indicando a qualidade da areia, mas ainda não foi regulamentada.
Na cidade do Rio, cachorros nas areias são proibidos. “Não basta só pegar o cocô, tem que não deixar os cachorros andarem na areia, né?”, diz um banhista.

A prefeitura já pensa até em multar os donos. “É uma questão de disciplina, de a gente entender que a saúde da população é fundamental, e romper esse individualismo”, afirma o secretário municipal de Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz.
Mas tem gente que não pensa assim. “Quem polui a areia são os humanos que jogam, deixam resto de comida, e fica cheio de pombo na areia”, diz o publicitário Ricardo Martins.
A verdade é que as fezes dos animais são perigosas para os banhistas. Podem levar a doenças como infecções na pele e micoses.
“É muito comum em peles mais finas, peles de crianças, de idosos, tem que se tomar cuidado”, alerta a dermatologista. “Calçados, toalha, procurar colocar em cima, ambientes que a criança, principalmente as crianças, não entrem em contato diretamente com a areia”.


Os animais de estimação e os impactos ambientais (1)



Por Darci Bergmann

   O tema é delicado, pois envolve questões afetivas. Antes, devo dizer que sou um defensor intransigente de todas as formas de vida, desde que em condições naturais ou o mais próximo possível delas. Ocorre que tenho observado tendência de algumas pessoas em adotar animais de estimação e transformá-los em mimos que chega às raias da obsessão e com altos impactos ambientais. No fundo de tudo isso, existe o foco do consumismo dirigido pelos que lucram fortunas com isso. Eis alguns casos desse comportamento obsessivo.
   Faz alguns anos, um casal adotou um papagaio de estimação, notòriamente fruto da traficância. O papagaio recebe todos os ‘cuidados’, articula palavras, mas a maior parte do tempo está na gaiola sob uma copa de árvore, esquecido pelos ‘donos’, que estão mais ligados na televisão. Na visão do casal, o eventual carinho dispensado ao bicho é suficiente para caracterizar esse cárcere privado como paixão pela natureza. Certamente nunca lhes passou pelos neurônios que se a ave estivesse livre, no seu habitat, poderia se acasalar e perpetuar a espécie. Agora, domesticada, ela depende dos humanos, pois tem até dificuldade de voar.
   Num outro caso, uma viúva foi presenteada com uma avezinha canora como forma de atenuar o sofrimento pela perda da pessoa amada. O bichinho, solitário na pequena gaiola, até que faz muita cantoria. No meu modo de ver é para chamar atenção, uma tentativa de atrair, pelo canto, uma fêmea da sua espécie que estivesse próxima.
  Nas redondezas do meu refúgio urbano, ocorrem situações no mínimo bizarras, quando o tema é animais de estimação. Mulheres de várias faixas etárias passeiam com os seus cães pelas calçadas, com aquelas paradinhas obrigatórias para fazer xixi e cocô. Os dejetos ficam por ali mesmo e a dona do bicho ainda torce o nariz quando alguém reclama.
    Descobri que uma dessas senhoras obsessivas por cães gasta fortunas mensais com o trato dos bichos, todos à base de rações e xampus caros, banhos, tosas e tudo o mais que garanta uma boa assepsia. Nas compras, não usa dinheiro papel, pois poderia estar ‘contaminado’. No entanto, ela passeia nas ruas com os seus cães, ruas essas que recebem os dejetos de outros animais, escarros humanos, poeiras e derrames de produtos diversos. Em seqüência, ela põe os cães no colo e ainda os beija na ‘boca’, depois que botaram o focinho no cocô alheio – cachorro gosta de cheirar qualquer coisa diferente. Já vi a madame colocando os cães no seu carrão do ano, sobre os bancos, é claro, depois que espalmaram as patas nos passeios públicos. Essa mesma pessoa, tão preocupada com a assepsia, certamente, num banheiro público, vai exigir torneira com sensor, secador das mãos automático ou coisa assim. Não se trata de um contra-senso?

2 de julho de 2012

O valor de um abraço

Por Darci Bergmann



Não somos máquinas. Temos sentimentos e vibrações que vão alem do corpo visível. Sendo assim, somos  mais perfeitos que qualquer máquina, por mais tecnologia que esta possua. No afã de buscar mais sofisticação, esquecemos das coisas aparentemente simples que a vida nos proporciona. Damos muito valor a certas extravagâncias, tudo para aparentar um status que não se traduz em real felicidade.  
A sociedade consumista nos induz cada vez mais a adquirir coisas supérfluas, repor equipamentos sempre em busca de novos modelos e assim o Planeta Terra se torna uma enorme lixeira. A vida simples de consumir só o estritamente necessário não interessa aos que defendem o crescimento ilimitado. Fala-se muito agora em desenvolvimento sustentável, uma tentativa menos impactante de manter a civilização predatória que forjamos. Pagamos um alto preço por certas conquistas, mas nem sempre somos mais felizes por isso.
Dia desses, eu andava angustiado por algumas situações inusitadas que me acometeram. Noites mal dormidas e preocupações de toda ordem me levaram ao estresse. Some-se a tudo isso a ‘necessidade’ de modernização da minha microempresa. Nela nem máquina leitora de cartões de compra estão instalados. Tudo ainda funciona na base da moeda sonante. Os recursos que seriam utilizados para a modernização deveriam sair do meu salário empresarial. Por prioridade ambiental eles foram investidos no plantio de árvores nativas no meu sítio. Foram mais de mil, somando-se às milhares já existentes. Em meio à crise ainda ocorreu um desacerto no plano sentimental, pois todas as ações dependiam de mim e eu estava no limite das minhas forças para agüentar o tranco. Numa dessas noites de insônia, ocorreu-me um pensamento. Frear essa correria desvairada e manter só o possível em andamento. Em outras palavras, optar pela simplicidade e buscar o equilíbrio interior. No dia seguinte, caminhei pela cidade, na base do ‘deixa a vida me levar’.  Então encontrei uma pessoa do sexo oposto que há muito tempo não via. E jogamos conversa fora, pois tínhamos quase a mesma idade e as mesmas preocupações existenciais. Ao me despedir, recebi um pedido da interlocutora. Ela simplesmente queria um abraço fraterno, sem nenhuma malícia, até porque era na rua e à vista de outras pessoas. Abracei-a e desejei-lhe um ‘Deus te acompanhe’. Curiosamente dormi bem naquela noite e no outro dia consegui resolver uma série de questões que pareciam complicadas.
O episódio acima revela como nós somos vulneráveis a essa vida agitada. Coisas tão simples como um abraço fraternal são capazes de terapias que nem os medicamentos às vezes conseguem. Concluo, então, que se quisermos um planeta equilibrado precisamos buscar o equilíbrio interior. Não se reforma o mundo sem reformar as pessoas, sem novas atitudes.  Um abraço não tem preço, mas tem um valor imenso.
Um fraternal abraço a todas e a todos.

18 de junho de 2012

Dupla insolvência traz sérios riscos à economia mundial



Dirk Messner, diretor do Instituto alemão para Política de Desenvolvimento, teme que a crise econômica ofusque o debate sobre sustentabilidade.
A economia mundial está de novo à beira do desastre, passados apenas quatro anos da falência do gigante bancário Lehman Brothers, que precipitou uma crise econômica à escala global. Nos EUA, a administração Obama luta contra altos índices de desemprego, uma enorme dívida pública e um déficit comercial igualmente problemático.
Enquanto isso, a Europa luta contra a insolvência da Grécia e contra o agravamento da situação na Espanha, Itália e Portugal. Antes impensável, há quem discuta hoje o fim da moeda única, o que poderia significar o colapso do projeto de integração europeia.
Na Ásia, o Japão é obrigado a buscar uma nova abordagem para a sua política energética, após a catástrofe de Fukushima em 2011, para impulsionar a economia.
O JP Morgan, um dos maiores bancos norte-americanos, anunciou no dia 10 de maio ter perdido 1,5 bilhão de euros em especulações de alto risco. O Wall Street Journal calcula que o valor total dos prejuízos possa atingir os 3,5 bilhões de euros. O cassino global continua aberto ao público
Alguns dos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – em concreto, o G7, o clube das nações industrializadas mais importantes – se encontram numa situação verdadeiramente difícil. Eles estão no centro das turbulências econômicas internacionais e dependentes dos fluxos financeiros dos países emergentes. A Europa precisa da ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) para estabilizar a crise nos países do sul do continente.
O Ocidente vive uma crise de insolvência. Quem teria ousado pensar nisso quando caiu o Muro de Berlim em 1989 e as economias de mercado ocidentais foram as únicas a saírem vitoriosas da Guerra Fria?
Rio+20 à sombra da crise econômica
Agora, na conferência do Rio de Janeiro, será debatida a proteção do meio ambiente a nível global, tal como o desenvolvimento sustentável. Mas quem se interessa por isso em plena crise econômica?
Pelo menos os líderes dos países da OCDE parecem não se interessar. No último encontro do G8 em Camp David e na cúpula da União Europeia no final de maio, foram debatidas "duras questões econômicas". Pouco se mencionou a conferência no Rio. No início de maio, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, já havia rejeitado o convite para participar na conferência.
Devido às crises econômicas no Ocidente, a economia parece ter sido priorizada em relação a todo o resto: como combinar a redução da dívida com a revitalização da economia para evitar um colapso mundial? Não há sucesso econômico sem crescimento, mas em quais áreas específicas se deve promover o crescimento? Será que devemos seguir consumindo recursos de forma galopante, aumentando as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para perigosas alterações climáticas, degradando o ecossistema?
Estes são temas da conferência no Rio de Janeiro que parecem interessar pouco a chefes de Estado e de governo, ou mesmo a ministros das Finanças. A maioria dos governos optou por enviar seus ministros do Meio Ambiente ou do Desenvolvimento, relativamente menos influentes.
Mas a mensagem do Rio é clara e deveria ser do interesse das lideranças políticas. O economista e prêmio Nobel norte-americano Michael Senge a resumiu numa frase: "Tendo em conta que a população mundial cresce em direção aos 9 bilhões de pessoas e considerando a crescente prosperidade na Ásia, na América Latina e mesmo em algumas partes da África, não podemos simplesmente manter os atuais padrões de produção e de crescimento".
Insistir no mesmo caminho levará a uma segunda crise de insolvência – a falência dos ecossistemas.
Fonte: DW

16 de junho de 2012

A utopia dos ambientalistas

Por Darci Bergmann

   O desejo dos ambientalistas é um mundo melhor e de mais felicidade. Thomas Morus também imaginou uma ilha do Planeta Terra onde os seres humanos encontrariam felicidade plena. Em Utopia não havia criminosos, luxúria e as relações humanas estavam baseadas no conceito da honestidade e do amor ao próximo.Não circulava moeda e cada um tinha o necessário para sobreviver. Do imaginário para o real, o nosso cotidiano é bem diferente. Veja-se a questão ambiental. Os ambientalistas, na sua maioria, não querem a valoração econômica dos recursos naturais. Em outras palavras, a mercantilização da Natureza. Em tese seria bom que assim fosse, mas na prática as coisas não são assim. Exemplo disso é a água potável. Ela é considerada um bem público e seu uso depende de outorga do Estado. Assim, não se pode comprar ou vender água, apenas se adquire o direito de usá-la. Baseados em conceitos assim, parcela considerável dos ambientalistas é contra o pagamento por serviços ambientais. Então seria o caso de o Estado fornecer o serviço de abastecimento de água potável de graça para a população. Mas isto não ocorre. O serviço de colocá-la à disposição tem custos e estes devem ser pagos por quem os utiliza. 
   No mundo real, produtos, serviços, bens de qualquer espécie são valorados e passíveis de serem vendidos ou adquiridos mediante trocas ou pela cotação de moeda. Isto entre pessoas e entre corporações e países. 
   Agora, na Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência da ONU, denominada Rio+20, os líderes das organizações sócioambientais novamente se opuseram aos conceitos da economia verde e contra o pagamento pelos serviços ambientais. Na minha opinião, o conceito de economia verde é apenas um chavão que nada muda em termos de desenvolvimento sustentável. Já com relação aos serviços ambientais, chego à conclusão de que eles devem ser pagos. Caso contrário, a maioria das pessoas não dará maior importância à questão ambiental. Alguém já imaginou como ficariam nossos mananciais se os serviços de abastecimento de água fossem de graça, como na Utopia de Thomas Morus? Ou alguém imagina que a civilização preservaria as florestas só pelo amor à Natureza?  Com uma população mundial crescente, estimulada ao consumismo predatório, é preciso que a sociedade entenda que os bens naturais e os serviços para conservá-los tem custos. A Economia e a Ecologia aqui se encontram. A lei da oferta e da procura se conecta com a necessidade de conservar os bens naturais para que estes propiciem um desenvolvimento sustentável. Isto significa que todos os humanos tenham direito de usufruir dos bens naturais. No entanto, se o número de consumidores aumentar além da capacidade de suporte do sistema natural, este entrará em colapso. Não há mágica. 
   Volto à chamada Cúpula dos Povos, paralela à Rio+20. Não pude me deslocar para o evento. No mundo utópico, talvez eu pudesse ir. Não precisaria pagar as despesas de viagem, hospedagem, alimentação, nada teria custo. Todos os serviços de que eu necessitasse me seriam colocados à disposição pela simples razão de não haver moeda e todos trabalharem movidos por uma causa humanitária.
Mesmo assim, poderia ocorrer um colapso no evento Rio+20. Os mais de sete bilhões de habitantes, no mundo utópico, teriam o mesmo direito de se deslocarem sem custos, varando oceanos e continentes. Onde se hospedaria tanta gente? Que impactos isso traria ao Planeta? Quem arrumaria a Casa depois? Como eu sou ambientalista do mundo real, não fui à Rio+20, por economia e escala de prioridades. Participei do Fórum Global, evento paralelo à Rio 92. Conheci muita gente e vi dos seus anseios por um mundo melhor. E vi depois frustrados os resultados daquela Conferência. Agora, estou num projeto de arborização com mil exemplares de espécies florestais nativas, no meu pequeno sítio.  Não espero retorno financeiro disso. Desloco parte dos meus parcos ganhos para esse fim, deixando de adquirir algum bem supérfluo.  Divido as tarefas de plantio com um ajudante eventual, pagando-lhe por esses serviços ambientais.  Afinal, ele precisa se alimentar, se vestir e conservar a sua viatura pessoal - uma bicicleta. Com a estiagem,  a água ficou escassa. Providenciei na abertura de 'poços de balde', tudo pago em moeda corrente.  Os serviços ambientais de uma fração de quase dois hectares de área que deixei em recuperação espontânea retêm um pouco de umidade.Talvez os ambientalistas que são contra o pagamento por serviços ambientais consigam o milagre de fazer tais tarefas ou mandar fazê-las sem nenhum custo, apenas porque são movidos pelo amor à humanidade e à Natureza. E talvez ainda consigam transporte, alimentação, energia, celulares, computadores e serviços de internet, tudo de graça. 
   Desde que se criou a concepção de Estado, o ser humano passou a sustentá-lo, pagando-lhe por seus serviços e até quando não os faz e dilapida recursos públicos. Qualquer serviço tem um custo e dá direito à remuneração justa pela sua execução. Se até os serviços das prostitutas são reconhecidos em lei e podem ser cobrados, porque um pequeno proprietário que preserva e zela pela conservação dos recursos naturais não poderia ser remunerado, até como incentivo?  No mundo real dessa civilização aloprada, a escala de valores é outra. Uma Copa do Mundo consome somas bilionárias, tudo subvencionado com dinheiro público. Em tal cenário, a conservação dos recursos naturais fica difícil e ocorre até o desmonte de serviços como   fiscalização,  monitoramento, a prevenção às queimadas e outros mais.
    Seria bom viver no cenário da Utopia. Assim, nem o ambientalismo seria necessário. 

10 de junho de 2012

O padrão Steve Jobs é predador


José Pio Martins

Por que milhões de pessoas estão descartando aparelhos novos, diminuindo o tempo de vida dos produtos e adquirindo modelos novos com pequenas melhorias?

Vou nadar contra a correnteza. Afirmo que o modelo de consumo imposto por Steve Jobs é predador e prejudicial ao futuro da humanidade. A morte de Steve elevou-o à condição de mito e chegaram a compará-lo a Leonardo da Vinci. Ele era um gênio da engenharia, disso não discordo. Mas penso que sua obsessão quase louca por lançar um produto e, alguns meses depois, relançá-lo com melhorias marginais, e seu êxito em conseguir convencer multidões a substituí-lo compulsivamente em período curto contribuíram para a exploração irracional e destrutiva dos recursos ambientais.

Debati esse assunto em uma mesa-redonda na qual o palestrante louvava Steve Jobs como um ser quase extraterrestre, um deus que estaria propiciando aos humanos um patamar superior de vida na Terra. Jobs ofereceu coisas novas e boas, sem dúvida; mas também contribuiu para o consumismo predador.
Antes, é preciso esclarecer um ponto: há inovações que são caracterizadas como “saltos tecnológicos”, enquanto outras, não. A evolução da abreugrafia (o raio X) para a ressonância magnética; da máquina de escrever para o computador; do telefone fixo para o celular; da carta para o e-mail, a invenção da internet... todos esses são exemplos de saltos tecnológicos geniais e extremamente úteis à humanidade. Mas sair de um iPad 1 para um iPad 2 não é salto tecnológico algum, são apenas melhorias marginais na mesma tecnologia e no mesmo produto.
Fiz, ao palestrante, a seguinte pergunta: “Diga-me em que a humanidade se torna superior por adquirir um iPhone e, antes de dominar e usar 20% de seus recursos técnicos, substituir pelo modelo 2, comprar o modelo 3 em mais seis meses... o modelo 4... o modelo 5...?”. Na realidade, afirmei, nada há de superior nisso, e o descarte de produtos praticamente novos está causando destruição de recursos naturais, aumentando o lixo mundial e colocando a humanidade em um beco capaz de comprometer a vida de nossos filhos e das gerações seguintes.
Há pessoas que compraram o iPad 1, exploraram uns 5% de sua capacidade, jamais leram um único livro em seu leitor eletrônico e, eufóricos, compraram o iPad 2 apenas meio ano depois. E irão comprar o iPad 3, o iPad 4 e quanto mais houver. E precisam disso? Não. Não precisam e não usam 80% do equipamento. Por que milhões de pessoas estão descartando aparelhos praticamente novos, diminuindo o tempo médio de vida dos produtos, e adquirindo modelos novos do mesmo, praticamente iguais, com pequenas melhorias marginais? É apenas fruto de desejo, ansiedade, consumismo e exibicionismo, vícios que são antigos. Na obra Satiricon, escrita por Petrônio na época do Império Romano, o milionário diz: “Só me interessam os bens que despertam no povo a inveja de mim por possuí-los”. Karl Marx voltaria ao assunto, para dizer que “o fetiche da mercadoria vai transformar todas as relações sociais em mercadoria”.
A indústria programa desgastes artificiais dos produtos e provoca sua obsolescência em períodos curtos, como forma de obrigar os mesmos consumidores a uma reposição mais rápida. Ao constatar que a troca de uma peça simples de seu aspirador de pó custava quase o mesmo preço de um aspirador novo, a professora italiana Giovanna Micconi, doutorando em Harvard, afirmou que “algo de muito errado está acontecendo com nossa sociedade”.
O caso do aspirador de pó é uma situação que deixa o consumidor meio sem alternativa. Porém, as versões novas de telefones, televisores, carros, computadores, tablets e até de roupas nos levam a entrar na onda de trocar o tempo todo apenas pela angústia de comprar. E há um sério agravante: grande parte dos consumidores está comprando tudo isso não com renda, mas com dívidas.
O economista Eduardo Gianetti deu entrevista indignado com a incapacidade da economia de mercado (da qual ele e eu somos fãs) em levar em conta o custo ambiental de nossas escolhas de produção e consumo. Ele fala da “corrida armamentista do consumo”, que, com mais bilhões de chineses e indianos ingressando no mercado consumidor, vai explodir os recursos do planeta. A Terra não vai aguentar.
O abacaxi está posto para a humanidade e esse padrão de consumo, do qual Steve Jobs é um símbolo, não é sustentável. A genialidade e as inovações são úteis; o consumismo que elas estão moldando é trágico.