20 de abril de 2010

A ROÇA INCHOU A CIDADE

Por Darci Bergmann


Tenho constatado que nós humanos estamos num excesso de urbanização. Lembro-me de muitos parentes que lá pelos anos 1950 já falavam em migrar para a cidade. Na roça, se dizia na época, era tudo mais difícil. O que se produzia mal apenas pagava as despesas. A vida tinha que ser tocada com muito esforço físico e simplicidade nos gastos. Um agricultor produzia de tudo um pouco e o que sobrava era vendido aos consumidores urbanos. O estilo de vida simples e a atividade física inerente ao trabalho permitiam até uma razoável qualidade de vida. O sistema de produção era exigente em mão de obra, usava tração animal, as sementes eram crioulas e os chamados insumos modernos - agrotóxicos e fertilizantes minerais - eram desconhecidos pela maioria daqueles agricultores. Com o passar dos anos, novas técnicas de produção foram surgindo, a mecanização liberou mão de obra e o crédito rural alocava recursos financeiros para cobrir os custos desse novo modelo. Agora, menos pessoas podiam tocar as propriedades rurais e até expandir a atividade produtiva. Muitas pessoas então venderam as suas terras e foram para as cidades. Tinham alguma reserva de dinheiro, compravam moradias e procuravam trabalho nas indústrias, na construção civil, no comércio, onde fosse possível. Em pouco tempo, as cidades receberam grandes levas desses agricultores. Alguns se deram bem no meio urbano, outros tiveram dificuldades. A população das cidades então ficou maior que a do campo. Agora temos o perfil do cidadão consumidor urbano desatrelado do meio rural.

As cidades não absorveram toda a mão de obra liberada pelo campo. A favelização era inerente. A cidade grande nem sempre oferecia o melhor e a realidade logo apareceu também na questão ambiental, segurança, trânsito, etc. No Brasil, a migração às cidades foi um processo espontâneo, não direcionado pelo Estado. A China que tinha um modelo campesino forte para segurar a maior parte da população no campo optou por um modelo de produção industrial ao estilo capitalista. O modelo chinês que assombrou o mundo depende de matéria prima e alimentos que são importados em escala cada vez maior. O Brasil, com agricultura forte, mecanizada, expande suas fronteiras agrícolas que engolem vastas extensões e destroem ecossistemas e biomas. A produção é suficiente para alimentar os brasileiros e o excedente é exportado. Mas até quando isso vai durar? Plantam-se cana, soja, pastagens em áreas de preservação permanente. Reserva legal não existe no conceito de alguns. Os produtos de exportação são importantes porque trazem divisas ao País. Mas o modelo predatório de produzir a qualquer custo, sem a contrapartida de um mínimo de preservação ambiental, é um caminho que levará à derrocada em tempos que virão.

2 comentários:

Jarbas Felicio disse...
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Jarbas Felicio disse...

Este artigo provoca uma boa discussão e nos faz refletir sobre a importância da agricultura familiar para a questão ambiental e sobre tudo à economia sustentável, algo deixado de lado na gestão do governo atual em nosso Estado (R.G.S), é claro que no passado, ou melhor, certa gestão de governo muito se trabalhou e se incentivou!! É uma pena! Onde estão as políticas do governo atual para o pequeno produtor? Como sugestão sugiro que o leitor do blog leia o artigo postado logo abaixo:
http://darcibergmann.blogspot.com/2010/04/agrobusiness-nao-resolve-problema-da.html