10 de abril de 2010

MACELA - INDICADORA DE BIODIVERSIDADE



Por Darci Bergmann
A tradição de colher macela nas sextas-feiras santas ainda se mantém nas regiões sul e sudeste do Brasil. A macela tem o nome botânico de Achyrocline satureioides e pertence à família Asteraceae, a mesma do girassol, do tagetes e da alface. O costume consagrou o uso das inflorescências dessa planta para o tratamento de vários problemas de saúde, entre os quais disfunções gástricas, cólicas de fundo nervoso, epilepsias, diarréias, inflamações, dores, entre outros. Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos, no livro Plantas Medicinais no Brasil, citam que: Estudos in vitro realizados no Japão mostraram que extratos das flores desta planta inibiram em 67% o desenvolvimento de células cancerosas. Pesquisadores americanos demonstraram in vitro propriedades antiviróticas do extrato aquoso quente das flores secas contra células T-Linfoblastóideas infectadas com o vírus HIV.

A macela se desenvolve em campo aberto, não tolerando o sombreamento de árvores e arbustos. É freqüente em beira de estradas e por alguns agricultores é considerada erva daninha. O uso popular agora tem respaldo nas pesquisas de ponta. Mas em algumas regiões a macela está se tornando escassa. São várias as causas que concorrem para a escassez da macela. Não só dessa planta, mas de várias outras. No geral, um dos motivos é a nossa cultura que não dá valor àquilo que não é cultivado. Plantas herbáceas, sem uso conhecido, são vistas como invasoras ou inúteis. Mesmo pessoas consideradas cultas demonstram ignorância quando o assunto é biodiversidade. Ao enxergarem um campo macegoso, pululando de vida vegetal e animal, logo concluem que ali está uma área improdutiva. Essa miopia ecológica não permite a essa gente de cultura de gabinete uma visão holística das coisas. Muitas dessas pessoas são entronizadas como autoridades. Nessa condição, são capazes de exterminar o que resta dos campos naturais, taxados de improdutivos. Os termos chircal, macegal, bamburral soam-lhes como áreas abandonadas à própria sorte. Nessa concepção cultural desfocada da natureza reside a maior causa da escassez da macela e de outras plantas nativas.

Constatei também que as queimadas reduzem a população da macela e de outras herbáceas medicinais. Os campos macegosos são facilmente atingidos pelo fogo a partir das estradas e dos corredores vicinais. Os fumantes muitas vezes contribuem para essas tragédias ambientais ao atirarem as pontas acesas de cigarros em locais impróprios.

Outra causa de redução da biodiversidade é o uso intensivo de agrotóxicos. O uso de herbicidas está alterando a composição florística próximo às lavouras pulverizadas. O problema se agrava ainda mais quando essas pulverizações são feitas com aeronaves agrícolas. Para se ter uma idéia, um avião que aplica herbicida numa área de 100 hectares, sobrevoa outros tantos hectares, no entorno, fazendo manobras. E existem produtos que, pela sua característica de volatilidade, atingem grandes distâncias. É o caso do herbicida Clomazone. Assim, não é de estranhar que várias plantas da medicina caseira, entre elas a macela, estejam desaparecendo do cenário em muitas regiões.

A tradição de colher macela na sexta-feira santa talvez ainda persista. Depende de cada um de nós. Muitos dos que vão aos campos de macela já deixam no local parte das flores para que as suas sementes germinem para uma nova colheita no ano seguinte. Mas é preciso ir além. A natureza precisa de novos aliados para fazer frente à erosão na biodiversidade.

Fotos Darci Bergmann


Foto acima: O Grupo Maceleiros, em 22/04/2011
Apoio à conservação da biodiversidade


2 comentários:

Melissa Bergmann disse...

Este interessante texto sobre a macela nos mostra que realmente a tradição da colheita e o chá dessa planta medicinal podem estar ameaçados pela destruição do seu habitat. Além de conter várias plantas de uso medicinal, a "macega" ou vegetação nativa pioneira é o processo de regeneração da vegetação em uma área. Ela também é importante para o abrigo de diversas espécies animais, e sua desestruturação, através de queimadas e uso de agrotóxicos pode trazer sérias consequências às regiões naturais, como redução da biodiversidade e deslocamento de animais, inclusive peçonhentos, às áreas urbanizadas, que acabarão causando transtornos às pessoas.É preciso compreender que a capoeira faz parte de um processo de sucessão ecológica e também tem sua função.

ROGERIO BASTOS/MARIA EDUARDA disse...

OLÁ,
SOMOS INTEGRANTES DO GRUPO MACELEIROS, INFELIZMENTE TEMOS APENAS DOIS REGISTROS COM FOTOS, MAS PARTICULARMENTE EU ESTOU A 7 ANOS EM SÃO BORJA E TODOS ESSES ANOS SEMPRE FOMOS NA COLHEITA, OUTROS INTEGRANTES JA FAZEM ESSA COLHEITA A MAIS TEMPO. SEMPRE OBSERVAMOS EM VOLTA A ONDE ESTAMOS PARA VER SE ENCONTRAMOS ALGUMA SUJEIRA, PARA RECOLHER E LEVAR PARA O LUGAR CERTO. É INTERESSANTE O LUGAR ONDE FOI TIRADA A FOTO NO ANO PASSADO, NESTE ANO CHEGAMOS LÁ E VIMOS QUE O LUGAR ESTA TAPADO PELA VEGETAÇÃO ISSO É UM SINAL QUE A CONSERVAÇÃO ESTA DANDO CERTO. ESPERAMOS QUE NO PROXIMO ANO O VERDE CONTINUE PREDOMINANDO NA NOSSA COLHEITA. UM ABRAÇO E ATÉ A PROXIMA COLHEITA. GRUPO MACELEIROS!!!