16 de março de 2011

Terror nuclear

Por Darci Bergmann


O Japão tem sido vítima de terremotos e tsunamis. O país localiza-se numa região em que quatro placas tectônicas se encontram. A movimentação dessas placas provoca os terremotos e estes podem provocar os tsunamis, aquelas ondas gigantescas. O terremoto de março deste ano foi o mais forte registrado no Japão, até o presente momento. Até aí são fenômenos da Natureza e a intervenção humana tem sido atenuar os efeitos desses fenômenos, através da construção de prédios mais resistentes aos abalos sísmicos e sistemas de alarme de tsunamis. 
Por outro lado, o Japão fez opções na área de geração de energia que no mínimo causam certa perplexidade. O país foi vítima das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, durante a segunda guerra mundial. A tragédia da guerra nuclear não foi suficiente para que os governos do Japão optassem por energias alternativas, tipo eólica e solar em grande escala. A reconstrução do pós-guerra exigia grande demanda energética, pois o Japão sempre foi um país de vanguarda na tecnologia e na indústria. Mas a opção nuclear hoje cobra o seu preço. Por mais que a engenharia das usinas nucleares alardeie segurança e modernidade, a realidade é outra.
Agora, diante dessa nova tragédia de terremoto e tsunami, o povo japones é vítima de um novo pesadelo nuclear, resultado do abalo sísmico. A usina nuclear de Fukushima, danificada, espalha partículas radiativas e centenas de milhares de pessoas foram desalojadas por medida de segurança, somando-se aos flagelados do terremoto e do tsunami. E pior, a radiação já foi detectada em Tóquio, símbolo futurista das grandes áreas urbanas. É uma tragédia pior que a do terremoto e do tsunami. A incerteza, a desconfiança em relação ao governo e o abalo psicológico são males que pioram o cenário de sofrimento do povo, agora, sim, vítima também da intervenção humana por opções em tecnologias que podem devastar países e o planeta por inteiro. 
Que os governos e os povos dos países do mundo reavaliem os seus programas energéticos. A humanidade não pode ficar refém de bombas atômicas em potencial - caso das usinas nucleares. Nem pode ficar refém da propaganda e do discurso interesseiro dos que auferem grandes lucros com a construção de usinas nucleares. Onde estão eles agora? Que explicações vão dar ao povo japones? Essa turma da energia nuclear vai pagar a conta dos prejuízos no Japão ou de qualquer país em que ocorrer tragédia semelhante? 
O terrorismo é temido porque não escolhe as suas vítimas. As usinas nucleares também não escolhem as suas vítimas potenciais. O terror nuclear é real. Só há um jeito de combatê-lo: é a opção por energias menos impactantes ao meio ambiente e à segurança de todos nós.
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Mais sobre o tema:


UE debate testes de resistência para usinas nucleares

Europeus mostram-se preocupados com eventuais acidentes nucleares, após desastres no Japão. Áustria pressiona para que todos os países-membros realizem análises de risco em suas usinas termonucleares.

O ministro do Meio Ambiente da Áustria, Nikolaus Berlakovich, exigiu "testes de resistência" para todos os reatores nucleares na União Europeia. Segundo ele, análises de risco podem mostrar se os programas de segurança ainda se mantêm válidos, em face da experiência no Japão. A sugestão foi feita durante o encontro dos ministros do Meio Ambiente da UE em Bruxelas, nesta segunda-feira (14/03). A Áustria não possui usinas termonucleares em atividade.
"A população europeia está insegura. Assim, devem-se realizar logo os testes de resistência. Foram feitos 'testes de estresse' com os bancos: isso deu segurança à economia. Agora, as pessoas esperam segurança pessoal, portanto devemos testar as usinas nucleares", disse Berlakovich.
Nada é impensável
O comissário da UE para Energia, Günther Oettinger, convidou para uma reunião extraordinária representantes dos órgãos fiscalizadores, das operadoras de energia e dos construtores de usinas de todos 27 Estados-membros do bloco europeu.
Em entrevista à rádio Deutschlandfunk, Oettinger lembrou que, poucos dias atrás, o que acontece agora no Japão seria impensável. "Por isso, nós, na Europa, não devemos jamais dizer que nossos modelos teóricos contêm tudo. Para nós, um vírus de computador ou uma queda na rede elétrica tampouco são inimagináveis", disse.
A falha de abastecimento elétrico nas unidades nucleares japonesas provocou o colapso do sistema de refrigeração dos reatores. O comissário da UE informou que as regulamentações de segurança e os padrões para todas as 143 unidades de energia nuclear nos 14 países-membros com reatores em atividade precisam ser testados, mas "a fundo e sem julgamentos precipitados".
O processo pode "durar dias, mas é de grande valor para todos. Está claro que segurança é indivisível na Europa, portanto a Áustria, mesmo não tendo nenhuma usina nuclear, é afetada pelas questões de segurança", declarou Oettinger.
Indagada como encara a energia atômica, diante da situação no Japão, a comissária da UE para o Clima, Connie Hedegaard, replicou: "Podemos torcer a coisa como quisermos: ainda vamos ter que manter a energia nuclear por um bom tempo. A questão pertinente aqui é a segurança".
França tem maioria dos reatores
Em princípio, a produção de energia é assunto de cada Estado-membro da União Europeia, assim como o aspecto da segurança. A UE tem somente uma função coordenadora na política atômica, os governos nacionais são responsáveis pelo licenciamento e supervisão de suas usinas nucleares.
Alguns países da UE, como a Alemanha, pretendem, a longo prazo, abandonar a energia nuclear. Outros países, como a Itália ou a Polônia, se preparam para adotar essa forma de produção. A República Tcheca, Eslováquia, Bulgária e Lituânia pretendem construir novas unidades termonucleares.
Com um total de 58 unidades, responsáveis por 75% da energia do país, a França é, de longe, a campeã europeia em número de usinas nucleares. O país ainda exporta energia elétrica de origem termonuclear em grande quantidade, por exemplo, para a Itália. Também a Bélgica produz mais energia do que consome.
A ministra francesa do Meio Ambiente, Nathalie Kosciusko-Morizet, assegurou à rádio Europe 1 que as unidades de seu país são suficientemente protegidas contra catástrofes naturais. A usina de Fessenheim, na fronteira da Alemanha, por exemplo, suportaria um terremoto de 6,7 pontos na Escala Richter.
O ministro britânico da Energia, Chris Huhne, declarou à BBC ter pedido aos órgãos de fiscalização atômica de seu país que estudem atentamente os desastres no Japão, aplicando suas eventuais conclusões às 19 unidades nucleares britânicas. A Alemanha informou que irá rever os modelos de segurança de todas as suas centrais termonucleares. Em 2010, o prazo de funcionamento destas foi prorrogado. Uma decisão que agora deve ser revista.
Autor: Bernd Riegert (MP)
Revisão: Augusto Valente

AMÉRICA LATINA | 16.03.2011

Crise no Japão repercute em planos nucleares na América Latina

Crise no Japão faz Caracas suspender programa nuclear. América Latina tem seis usinas nucleares em três países. Enquanto Venezuela e Brasil se mostram preocupados, Chile e Argentina continuam projetos.

Após os graves problemas surgidos em Fukushima 1, no Japão, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou na terça-feira (15/3) a suspensão do programa de construção de uma central nuclear no país.

"Ordenei ao ministro [da Energia Rafael] Ramirez congelar os planos desenvolvidos, os estudos preliminares do programa nuclear pacífico venezuelano", afirmou Chávez, durante uma cerimônia transmitida pela televisão. "Não tenho dúvida de que isso [a potencial catástrofe nuclear no Japão] irá alterar muito fortemente os planos de desenvolvimento de energia nuclear no mundo", acrescentou.

A Venezuela assinou em 2010 um acordo com a Rússia para a construção de uma central nuclear. Esse projeto provocou a inquietação dos Estados Unidos, que classificaram a medida de "perigosa", devido à estreita relação da Venezuela com o Irã e aos depósitos de urânio existentes no país sul-americano.

Dos 439 reatores nucleares no mundo, seis estão na América Latina. Até agora, a energia nuclear só é utilizada em três países da região: Argentina, Brasil e México.

O precursor da tecnologia foi a Argentina, onde foi instalada a primeira usina nuclear da América Latina. Hoje, o país tem duas usinas nucleares em funcionamento e uma terceira em construção. As autoridades em Buenos Aires minimizaram o risco de que ocorra um desastre similar ao japonês no país.

Argentina aposta em energia nuclear

O gerente de relações institucionais da Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA) da Argentina, Gabriel Barceló, alega que não há razão para uma mudança de planos, já que o país não está em uma zona sísmica e utiliza em suas centrais uma "tecnologia diferente" da adotada na central de Fukushima. O Greenpeace da Argentina rebate esses argumentos. "Embalse está situada em uma zona sísmica, na província de Córdoba", declarou um diretor da organização, Juan Carlos Villalonga.

Central Nuclear de Embalse, em Córdoba, Argentina. Buenos Aires afirma que usinas são segurasCentral Nuclear de Embalse, em Córdoba, Argentina. Buenos Aires afirma que usinas são segurasA central nuclear Atucha 1, localizada nas margens do rio Paraná de las Palmas, cerca de 100 quilômetros a noroeste de Buenos Aires, teve construção iniciada em 1968 e entrou em operação em 1974. A usina Atucha 2 ainda está em construção, mas deverá entrar em funcionamento ainda este ano. As obras de Atucha 2 ficaram paralisadas por mais de 20 anos, tendo sido retomadas em meados de 2007.

A central nuclear de Embalse, localizada na cidade homônima, na província de Córdoba, foi a segunda usina nuclear conectada à rede na Argentina. Embalse, considerada hoje o maior motor térmico da América do Sul, está localizada a 100 quilômetros da cidade de Córdoba e a 700 quilômetros de Buenos Aires.

As três centrais são operadas pela Neoeléctrica Argentina S.A. e são responsáveis por 6,2% do abastecimento de energia do país. Porém, é provável que essa cifra venha a aumentar no futuro, já que em dezembro passado foi confirmada a notícia de que a empresa americana Westinghouse vai construir a quarta usina nuclear na Argentina: Atucha 3.

Brasil deve "parar um pouco para pensar"
No Brasil, 3,1% da oferta total de eletricidade é gerada por energia nuclear. Os brasileiros têm atualmente duas usinas nucleares em atividade e uma em construção. A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAA), conhecida como Central Nuclear de Angra, está localizada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro.

Em 1982, Angra 1 foi conectada à rede, Angra 2 começou a operar em 2000 e em junho de 2010 foi iniciada a construção de Angra 3.

Embora o governo brasileiro preveja a construção de outras quatro usinas nucleares, após o desastre no Japão o presidente do Congresso, José Sarney, disse que ocorreu "uma mudança muito séria na visão que vamos ter que ter em relação às usinas nucleares fornecedoras de energia" e que é necessário "parar um pouco para pensar".

Ativistas antinucleares mexicanos alertam para riscos 
A central nuclear Laguna Verde, localizada em Punta Limón, Veracruz, é a única usina nuclear do México e gera 4% da oferta total de eletricidade do país. Laguna Verde tem dois geradores, que foram inaugurados em 1989 e 1995.

Usinas Angra 1 e 2, no BrasilUsinas Angra 1 e 2, no BrasilLocalizada na costa do Golfo do México, a cerca de 70 quilômetros da cidade de Veracruz, a central é muito criticada por associações ambientalistas. O grupo antinuclear Madres Veracruzanas afirma que Laguna Verde tem as mesmas características e seu sistema de resfriamento é baseado no mesmo sistema que a usina de Fukushima, acusando que "se houver eventos naturais semelhantes aos observados no Japão, provavelmente sofreremos as mesmas circunstâncias".

Chile mantém planos, apesar de crise japonesa
Além de Brasil, México e Argentina também há outros países latino-americanos que apostam na energia nuclear. Na próxima sexta-feira, Barack Obama vai visitar o Chile, justamente para discutir projetos conjuntos em matéria de energia atômica.

Apesar do acidente devastador no Japão e do fato de ser um dos países mais afetados por terremotos e tsunamis, o governo chileno não mudou de planos. "O Chile necessita olhar isso tudo em um horizonte de longo prazo", desconversou o ministro da Energia do país, Laurence Golborne, ao justificar a cooperação com Washington em meio à preocupação com a crise nuclear no Japão.

No momento, o Chile dispõe de dois pequenos reatores experimentais em La Reina e Lo Aguirre, destinados a fins medicinais e de pesquisa.

Autor: Valeria Risi / Márcio Damasceno
Revisão: Carlos Albuquerque

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Correio do Povo, 04 de setembro de 1979

Físico da URGS diz que energia nuclear agravará crise energética

O físico Alfredo Aveline, professor do Instituo de física da URGS, fez na noite de ontem palestra no Instituto dos Arquitetos do Brasil abordando o tema Energia Elétrica no Brasil, quando criticou a atual política desenvolvimentista do Brasil e condenou o acordo nuclear.
Conforme Alfredo Aveline, “a energia elétrica no Brasil apresenta índices de crescimento de demanda errados e sobre eles é que foi feito o acordo nuclear”.
Para o físico, segundo as estimativas oficiais, “o crescimento de consumo de energia elétrica está em torno de 10% ao ano, o que implica que a cada sete anos seja duplicado o consumo”. Desta forma, Aveline demonstra que, tendo presente a demanda do ano em curso em torno de 25 mil megawatts instalados, em 1986 (daqui a sete anos) precisaremos de 50 mil megawatts; em 1993, 100 mil megawatts e no ano de 2000, 200 mil megawatts.
Segundo o professor, estas taxas não são sustentáveis mas foram as que justificaram o acordo nuclear – Aveline lembrou ainda que em apenas um ano, se fizermos uma projeção, precisaremos do ano 2000 a 2001 o equivalente a implantação de 16 centrais nucleares em apenas um ano.
De 2000 a 2007, continuou o professor, necessitaremos instalar 200 mil megawatts, o que corresponde a 17 usinas iguais a Itaipu ou 160 centrais nucleares. Aveline destacou ainda que se o raciocínio for levado até o ano de 2014, precisaremos 400 mil megawatts, ou seja construir mais 34 Itaipus ou 320 usinas nucleares.

POTENCIAL HIDRELÉTRICO

Em sua palestra Alfredo Aveline disse ainda que, segundo dados da Eletrobrás, de 1978, o potencial hidrelétrico nacional de grandes quedas d’água é em torno de 200 mil megawatts que corresponde a 2,5 vezes a potência elétrica atualmente instalada na Alemanha, e a oito vezes o potencial hidrelétrico brasileiro explorado até o momento. Estes 200 mil megawatts, para Aveline, deveriam ser destinados aos grandes centros urbanos e regiões industriais e utilizar-se as pequenas quedas d’água (com potencial entre 20 e 100 MW) que podem alimentar pequenas cidades e comunidades rurais e que atualmente não são utilizados.



FONTES ALTERNATIVAS

Além das pequenas quedas d’água, que somam 300 mil megawatts e que não são utilizadas, Alfredo Aveline enfatizou que pode ser usada com tecnologia nacional a energia eólica (energia dos ventos) principalmente em irrigações, o álcool, através de mini-destilarias e o metano, pois todas estas alternativas, alguns anos atrás eram românticas, mas tornaram-se economicamente viáveis.
Aveline disse ainda que possuímos também grande variedade de óleos vegetais, como o óleo de dendê, óleo de babaçu e outros que podem substituir o diesel sem sequer necessidade de ajustes nos motores e que não ocorre porque outros interesses industriais não permitem.
Já quanto a utilização do carvão, Alfredo Aveline foi mais discreto, dizendo que o mesmo deve ser utilizado para a gaseificação e que deve evitar-se o transporte do carvão, instalando-se usinas junto às minas, pois nosso carvão é muito pobre, e deixa muita cinza que pode ser utilizada para entulhar as minas. Mesmo assim, enfatizou Aveline, “o carvão deve ser utilizado o mínimo possível”.

PROPOSTA

Após considerar que as projeções oficiais “levam a absurdos”, Alfredo Aveline disse que o Brasil precisa definir seu patamar de crescimento, da industrialização e da população, para após isto, se trabalhar coerentemente.
Alfredo Aveline apresentou como proposta que este patamar seja limitado pelas fontes naturais de energia, aproveitando-se as grandes e pequenas quedas d’água e que se criem outras fontes alternativas derivadas principalmente das várias formas de manifestação da energia solar.

CRÍTICAS

Afirmando que as usinas nucleares apresentam uma série de aspectos negativos, que vão desde altos custos até o risco de vida, Alfredo Aveline disse que em primeiro lugar o Brasil não precisa de energia nuclear, no momento, e que não precisará por muitos anos, devido ao imenso potencial hidrelétrico ainda não explorado. A energia nuclear, segundo o físico, virá a agravar a nossa crise energética, pois a construção de uma usina nuclear exige uma capitalização de 3 a 4 vezes maior do que para as usinas elétricas, resultando daí que, para cada uma usina atômica, deixaremos de construir 4 hidrelétricas, deixando de explorar o nosso grande potencial de águas.
Além disto, continuou Aveline, os investimentos em usinas nucleares são feitos na maior parte em moeda estrangeira, agravando ainda mais nossa dívida externa.

PERIGOS

O professor destacou também que os investimentos em pessoal são muito mais caros nas usinas nucleares que nas hidrelétricas e acrescentou que no custo da Usina Nuclear não está incluído o cuidado com o lixo atômico, que precisa ser guardado durante 500 mil anos.
Os custos de desativação também foram esquecidos, disse o professor, bem como onde colocar o lixo atômico. Aveline esclareceu que países europeus e os Estados Unidos reconhecem os perigos principalmente à vida, que as usinas atômicas representam, mas que seus defensores dizem que não tem outra alternativa a não ser o óleo diesel – “o que não acontece conosco” – destacou Aveline, pois exploramos apenas 12 por cento de nosso potencial de queda d’água.

            FREIO ECONÔMICO

Concluindo, Alfredo declarou que os objetivos de crescimento a qualquer custo e por período indefinido têm que ser revisto e que o procedimento do governo, adotado em 1973, “quando manipulou os dados escondendo a crise energética que vivíamos”, não pode ser repetido.
O objetivo ideal para o físico seria o desenvolvimento do país em lugar do crescimento econômico a qualquer custo. Para isto pode ser usada a estratégia da descentralização pelo sol, nas suas diferentes formas de apresentação e o melhor uso da energia pelo processo de co-geração e aproveitamento de energia solar radiante para ampliações térmicas e elétricas, concluiu Alfredo Aveline.
(Transcrito do jornal Correio do Povo, edição de 04 de setembro de 1979)
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MUNDO | 13.03.2011

História da energia nuclear é marcada por panes fatais


Comparações entre acidentes no Japão e outras catástrofes nucleares se acumulam. História da energia nuclear é marcada por panes e desastres, frequentemente custando vidas humanas. Uma cronologia de quase seis décadas.

Julho de 2009: O reator da usina de Krümmel, no estado alemão de Schleswig-Holstein, é retirado imediatamente da rede, devido a curto-circuito num transformador. No final de2007, um equipamento de construção análoga se incendiara, após um curto-circuito.
Julho de 2006: Um dos três reatores da central nuclear sueca Forsmark é automaticamente desligado da rede, em decorrência de um curto-circuito. Em seguida é desativado.
Dezembro de 2001: Uma explosão de hidrogênio provoca distúrbios de funcionamento na usina de Brunsbüttel, Schleswig-Holstein. Somente em fevereiro do ano seguinte, por pressão das autoridades de fiscalização, o reator é retirado da rede para inspeção.
Outubro de 2000: A controvertida usina tcheca de Temelin entra em funcionamento. Até o início de agosto de 2006 são registrados quase 100 casos de mau funcionamento.
Setembro de 1999: Numa unidade de reprocessamento de urânio, na cidade japonesa deTokaimura, inicia-se uma reação em cadeia descontrolada, liberando altos níveis de radiação. A causa fora falha humana: operários insuficientemente preparados haviam depositado num tanque de precipitação sete vezes a quantidade máxima permitida de urânio.
Abril de 1986: Até hoje a maior catástrofe em todo o mundo foi a explosão de um reator de água leve moderado a grafite em Tchernobil, Ucrânia (na época parte da União Soviética). O incidente causa a morte imediata de 32 pessoas, milhares de outras sucumbem em consequência da irradiação nuclear, 120 mil têm que ser evacuadas. Nuvens e ventos carregam a radioatividade também à Europa Ocidental. Até hoje não se tem uma medida exata das consequências.
Março de 1979: Defeitos técnicos e falhas humanas provocam o colapso do sistema de refrigeração da usina Three Mile Island, próxima a Harrisburg, nos Estados Unidos. Ocorre o derretimento parcial do reator. A centenas de quilômetros do local do acidente, ainda se pode medir uma nuvem radioativa. Mais de 200 mil pessoas são evacuadas. Trata-se do mais grave acidente nuclear nos EUA, até hoje.
Janeiro de 1977: Curtos-circuitos em duas linhas de alta voltagem causam prejuízo total na central nuclear de Gundremmingen, na Baviera, Alemanha. O prédio do reator fica contaminado com água de refrigeração radioativa.
Julho de 1973: Segunda explosão na estação de reprocessamento de combustível radioativo de Windscale (rebatizada Sellafield a partir de 1983), na Inglaterra. Grande parte da unidade fica contaminada.
Outubro de 1957: Incêndio numa das centrais de Windscale, num reator para preparação de plutônio destinado à utilização em bombas. Gases radioativos contaminam uma área de centenas de quilômetros quadrados. Pelos menos 39 pessoas morrem em consequência.
Setembro de 1957: Na unidade soviética de processamento de plutônio Maiak explode um tanque subterrâneo de concreto contendo detritos radioativos líquidos. Pelo menos mil pessoas morrem, 10 mil sofrem contaminação: até hoje não há números confiáveis a respeito. Desde então, uma aérea de 300 por 40 quilômetros está contaminada por radioatividade. Trata-se de uma das maiores catástrofes atômicas da história, somente em 1976 relatada por um cientista dissidente, e oficialmente confirmada em 1990.
Dezembro de 1952: Grave explosão na central nuclear de Chalk River, próxima a Ottawa, Canadá. Uma fusão parcial destrói o núcleo do reator.
AV/dw/dapd/dpa
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MUNDO | 14.03.2011

Opinião: Energia nuclear é perigosa e ultrapassada


Os trágicos acontecimentos no Japão comprovam mais uma vez que a energia nuclear é incontrolável. Está na hora de deixá-la de lado e investir nas alternativas para o futuro, opina a jornalista de ciência Judith Hartl.

A catástrofe nuclear no Japão vai mudar o mundo, e de forma permanente. Ela deixa claro o quão perigosa e incontrolável a energia atômica de fato é. Sim, conseguimos controlar a fissão nuclear. Sim, sabemos como os átomos se comportam e o que temos de fazer para que eles forneçam uma enorme quantidade de energia. Mas sabemos também que especialistas, físicos atômicos e políticos ficam assustadoramente perplexos quando uma usina nuclear resolve se comportar de forma não prevista. Aí o que predomina é a impotência, e a simples esperança de que a fusão do núcleo do reator pare por si mesma.
Argumentar que o Japão conhece o barril de pólvora sobre o qual está sentado, e que terremotos como o atual não acontecem na Alemanha, é simplificar as coisas. E se um avião cair sobre uma central? E quanto aos ataques terroristas, às múltiplas falhas técnicas ou humanas?
Além disso, o perigo não reside apenas nas panes – também o lixo radiativo, para o qual ninguém tem um destino adequado, vai um dia se tornar um obstáculo. Até hoje não existe em nenhum país do mundo um lugar adequado para depositar detritos atômicos, apesar de buscas intensas.
Queremos continuar correndo esses riscos? Apesar de termos alternativas mais promissoras, como a energia solar e a eólica? Essas são energias renováveis, que nos tornam independentes do petróleo, que não oferecem perigo, que são sustentáveis e que não comprometem as gerações futuras. É nessas energias que devemos investir. Elas não são um sonho ambientalista. Elas representam uma sociedade limpa, sustentável e moderna.
A energia nuclear, por outro lado, está ultrapassada. Ela é poluente e perigosa e consome recursos naturais. O urânio, combustível das usinas nucleares, está em declínio. Há urânio suficiente para no máximo 50, 60 anos, calculam especialistas. Isso é sustentável? Os únicos que asseguram que sim, são os lobistas da energia atômica e as empresas de energia, que se enriquecem com a fissão nuclear e exercem enorme influência sobre a política.
Tomara que a catástrofe no Japão sirva para acordar os políticos. Chegou a hora de eles mostrarem coragem. Coragem de virar as costas para o passado e investir nas energia e tecnologias do futuro.
Autoria: Judith Hartl (as)
Revisão: Augusto Valente
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MUNDO | 12.03.2011

"É possível comparar Fukushima a Tchernobil", afirma físico e ativista alemão

Há paralelos entre a situação básica que levou à catástrofe nuclear de 1986, na Ucrânia, e a ameaça que paira sobre o Japão. Sobretudo não se deve pensar que o perigo esteja longe demais, lembra Sebastian Pflugbeil.

Na qualidade de ativista dos direitos civis, o físico e médico Sebastian Pflugbeil combateu a minimização das consequências de uma catástrofe nuclear pelo governo comunista da República Democrática Alemã (RDA).

Aos 63 anos de idade, ele é presidente da ONG crítica à energia atômica Sociedade de Proteção Contra Radiação (GS). Pflugbeil é uma das poucas pessoas que puderam inspecionar o sarcófago do reator da usina nuclear de Tchernobil, Ucrânia, após a explosão em 1986.

Ele fala à Deutsche Welle sobre as possíveis consequências de uma catástrofe nuclear no Japão, num momento em que havia fortes indícios de uma fusão do reator da usina Fukushima Daiichi, porém sem confirmação oficial.

Deutsche Welle: Até que ponto se pode comparar Fukushima a Tchernobil?
Sebastian Pflugbeil: Bem, aqui temos a fusão do núcleo do reator; em Tchernobil, tivemos a fusão e uma explosão nuclear. Digamos: são categorias comparáveis, certamente relacionadas à liberação de grandes níveis de radioatividade.

Quais são as consequências da fusão do núcleo de um reator nuclear?
O invólucro do reator ser destruído e tudo o que está dentro ser liberado. Todos os radionuclídeos voláteis [átomos com núcleos instáveis], que estavam dentro, escapam para o ar. Provavelmente não vai haver incêndio, como em Tchernobil, é de se esperar que desta vez a radioatividade pouse num raio menor – digamos, 500 quilômetros –, mas aí com grande intensidade. E então as consequências são fatais, considerando-se a estrutura demográfica do Japão, que é muito mais densa do que em Tchernobil.

O que os japoneses podem fazer para se proteger?
Pode-se aconselhar a população a permanecer em casa. Mas nisso há um problema, pois muitas moradias foram destruídas, as pessoas erram a esmo, tropas de resgate estão em trânsito: esses praticamente não têm nenhuma defesa. Podem-se distribuir tabletes de iodo. Assim se cobre a demanda da glândula tireóide, e se evita que ela absorva o iodo radioativo liberado na atmosfera, perigoso para a glândula.

Caso ocorra a fusão do núcleo e a destruição do sarcófago nuclear, tal liberação é inevitável, já que o iodo radioativo é extremamente volátil. Distribuir tabletes de iodo é praticamente a única medida protetora que faz sentido tomar, se houver a possibilidade.

O ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, não vê perigo para a Europa, pelo fato de o Japão estar tão distante. O senhor compartilha essa opinião?
Eu evitaria fazer uma avaliação dessas. Ela me faz pensar em declarações semelhantes do então ministro do Interior da Alemanha Ocidental, Friedrich Zimmermann, ou do governo da RDA, depois de Tchernobil. Eles estavam convencidos de que a catástrofe fora tão longe, que a Alemanha nem iria notar nada. E a lição de Tchernobil, no tocante aos efeitos sobre a Europa, é inequívoca: mesmo níveis mínimos de radiação podem deixar marcas claras em todo o quadro de saúde. Vamos ver.
Entrevista: Bernd Grässler (av)
Revisão: Francis França
Fonte: DW (Deutsche Welle)
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BRASIL | 23.03.2011

Alemanha quer reavaliar participação em Angra 3

Governo alemão vai consultar Brasília sobre os padrões de segurança da usina nuclear de Angra 3 e reavaliar fiança bilionária dada à empresa construtora Areva/Siemens.

Diante dos desastres ocorridos com as usinas atômicas no Japão, o governo da Alemanha pretende reavaliar a já prometida fiança bilionária concedida à construção da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro.
Segundo nota do Ministério alemão da Economia divulgada nesta quarta-feira (23/03), o governo brasileiro será consultado para saber em que medida os acontecimentos no Japão terão efeito nos próximos procedimentos e nos padrões a serem utilizados na futura usina.
A Alemanha pretende apoiar a construção da usina com uma garantia de crédito de exportação às empresas nacionais de pouco mais de 1,3 bilhão de euros. Entretanto, até hoje não foram assinados o contrato de fornecimento nem os de financiamento.
Ao oferecer esta fiança ao negócio, o Estado apoia as exportações alemãs e protege as empresas em caso de fracasso. Angra 3 será construída pelo conglomerado francês Areva, do qual também participa a empresa alemã Siemens.
Tecnologia ultrapassada
O Ministério alemão da Economia esclareceu que o governo está reavaliando o caso após o episódio Fukushima. "Por isso o governo discute, agora com mais intensidade, esta fiança federal para crédito de exportação com relação a tecnologia nuclear", afirmou o ministério.
Organizações de defesa do meio ambiente exigem a revogação desta garantia de crédito. Seus representantes temem que o fato de obras no complexo nuclear de Angra terem atrasado por mais de 30 anos possa oferecer grandes riscos para o ser humano e para a natureza.
Segundo eles, trata-se de uma tecnologia ultrapassada em um país com "baixos padrões de segurança e sem uma fiscalização nuclear independente". Além disso, Angra se localizaria na única região com perigo de terremoto no Brasil.
Segundo a bancada do Partido Verde no Parlamento alemão, entre outubro de 2009 e agosto de 2010 o governo em Berlim aprovou dez fianças para usinas nucleares na China, França, Japão, Coreia do Sul, Lituânia, Rússia e Eslovênia.
MSA/dpa/epd
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DW (Deutsche Welle)
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MUNDO | 24.03.2011

Radioatividade no Japão lança alerta sobre contaminação de alimentos

Aumento dos níveis de radioatividade no Japão eleva preocupação no mundo sobre os efeitos do desastre nuclear. Governo japonês suspendeu exportação de produtos agrícolas produzidos perto de Fukushima. Conheça os riscos.

Autoridades norte-americanas anunciaram nesta terça-feira (22/03) que iriam tornar mais rígidas as regras para a importação de alimentos vindos do Japão. Na Alemanha, o Departamento Federal de Proteção contra a Radioatividade (BfS, na sigla em alemão) calcula que as correntes de ar com partículas radioativas possam chegar à Europa Central nos próximos dias.
As autoridades norte-americanas de segurança alimentar explicaram em comunicado que leite e derivados, assim como frutas, verduras e legumes vindos de Fukushima, Ibaraki, Tochigi e Gunma só poderiam entrar no país após medições de radioatividade.
A França chamou a Comissão Europeia a um "controle sistemático de todos os alimentos frescos" vindos do Japão para a Europa. Ao mesmo tempo, disse que o país se opõe a um embargo absoluto de importações.
Na Alemanha, desde quarta-feira todos os alimentos de origem animal e vegetal que chegam ao Aeroporto de Frankfurt são examinados. De acordo com o agente de proteção contra radioatividade da Universidade do Sarre, Andreas Wöhr, os alimentos provenientes do Japão disponíveis atualmente nos mercados da Alemanha provavelmente vieram ao país antes do devastador terremoto.
Produtos atingidos
De qualquer forma, o Japão importa muito mais alimentos do que exporta, e o governo japonês proibiu a exportação de produtos agrícolas oriundos de dois municípios na região da usina nuclear danificada de Fukushima 1.
O governador Naoto Kan ordenou a interrupção no fornecimento de brócolis e da verdura japonesa komatsuna (usada em saladas) da região de Fukushima, assim como de leite cru e salsinha do município de Ibaraki, como informou a agência de notícias Jiji.
Kan também aconselhou evitar espinafre, brócolis e outros produtos. Na região de Fukushima 1 foram encontrados níveis elevados de radiação em 11 tipos de vegetais.
O chefe da estação de monitoramento Schauinsland da BfS, Erich Wirth, disse que nos últimos dias teria sido medido um aumento no nível de radiação também na Califórnia e na Islândia. "E de lá não fica muito mais longe até a Europa Central", completou. A radiação seria, no entanto, "muito, muito baixa".Folhas largas do espinafre são mais suscetíveis a partículas radioativasFolhas largas do espinafre são mais suscetíveis a partículas radioativas
Entenda os riscos
Após o acidente nuclear em Fukushima, bebês e crianças pequenas em Tóquio não devem beber água da torneira, que estaria contaminada com iodo 131 em um nível de 210 becqueréis por litro.
Mas o que isso significa?
O iodo radioativo 131 é liberado em acidentes nucleares, explica Michael Welling, porta-voz do Instituto Johann Heinrich von Thünen, de Braunschweig, na Alemanha. O iodo 131 se acumula – da mesma forma que o iodo não radioativo 127 – na glândula tireoide.
"Uma vez que o elemento radioativo está dentro do corpo, ele não tem mais barreiras para atacar as células", diz Welling. Por isso, dentro do corpo o elemento radioativo é mais nocivo do que fora dele. Entretanto, o iodo 131 não é muito estável: a cada oito dias o número de átomos cai pela metade (meia vida). Passadas cerca de três semanas, grande parte dos átomos já se decompôs.
O que significa a unidade becquerel?
Ela indica a atividade de uma substância radioativa. Um becquerel (Bq) significa que, em um determinado material, decompõe-se um núcleo de átomo por segundo. Normalmente indica-se a quantidade de becqueréis por quilo ou litro.
Níveis mais baixos para crianças
Na Alemanha, segundo o Departamento Federal de Defesa do Consumidor, é proibido comercializar leite ou alimentos infantis com mais de 370 becqueréis por litro. Para todos os outros alimentos – como carne ou cogumelos – a quantidade máxima permitida é de 600 becqueréis por quilo. Os limites alemães são projetados de modo que as pessoas possam comer porções normais desses alimentos por tempo prolongado, explica Welling.
Como a radioatividade chega até a água ou os alimentos?
Elementos radioativos como o iodo 131 ou o césio 137 estão, por exemplo, ligados a finíssimas partículas de pó. Com a chuva, o material radioativo liberado por um acidente nuclear deposita-se no solo ou na água.
"Sob o aspecto químico, o césio 137 é semelhante ao potássio. Portanto, ao atingir o solo ou as raízes, o césio 137 chega até o metabolismo das células. E dali transfere-se para a vaca que come a grama, e através do leite chega aos seres humanos", explica Welling.
Por que o espinafre é especialmente afetado?
Porque, com suas folhas largas e finas, o espinafre absorve toda a radioatividade liberada. "Tudo o que cai do céu, cai sobre essas folhas", diz Gerald Kirchner, da BfS.
Quão perigosa para a saúde é a radioatividade?
A contaminação em seres humanos é medida em sievert (Sv, unidade de radiação emitida por 1 miligrama de rádio a 1 centímetro do alvo por 1 hora). Sob o ponto de vista da estatística, 45% das pessoas expostas a alta radioatividade desenvolvem câncer, diz Peter Jacob, diretor do Instituto de Proteção contra a Radioatividade do Centro Helmholtz, de Munique.
Se estas 100 pessoas tiverem uma contaminação de 100 milisievert, a possibilidade de contrair câncer sobe em um caso, para 46%, explica. A exposição média na Alemanha, proveniente de fontes naturais, é de 2 milisievert por ano. Em exames médicos, como radiografias, recebe-se uma dose adicional de 2 milisievert, informa Michael Welling, do Instituto Johann Heinrich von Thünen.
FF/afp/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DW (Deutsche Welle)
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MUNDO | 01.04.2011

Consenso nuclear começa a enfrentar resistência na França

Com 58 centrais, a França é, proporcionalmente à população, o país com o maior número de usinas atômicas no mundo. Mas, mesmo numa nação habituada ao consenso nuclear, a resistência se levanta.

Como primeiro chefe de Estado estrangeiro a visitar o Japão após a catástrofe de 11 de março, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, exigiu nesta quinta-feira (31/03) em Tóquio padrões internacionais de segurança para as usinas nucleares.
Sarkozy sugeriu ainda a realização de uma conferência internacional sobre o tema, que deverá reunir as 20 principais economias do mundo (G20) em Paris, em maio próximo. Com 80% da energia produzida em seu país por usinas nucleares, Sarkozy tem bons motivos para tratar da questão.
Logo após a catástrofe nuclear em Fukushima, o presidente francês deixou claro que uma desistência da energia nuclear estaria fora de cogitação em seu país. Afinal, os reatores franceses seriam os mais seguros do mundo, assegurou Sarkozy. E o ministro francês da Indústria, Eric Besson, completou: os franceses terão que enfiar a mão mais fundo no bolso caso o país venha a produzir menos energia nuclear.
Pouco antes, os verdes franceses haviam proposto um referendo para decidir sobre a desistência nuclear – uma novidade na França, onde a Areva, maior empresa local de energia nuclear, com participação majoritária estatal, é quase intocável.
"Na França, tivemos a sorte de realizar a maior parte do programa nuclear numa época em que a opinião pública queria reagir à crise do petróleo", disse Bertrand Barré, que foi diretor de comunicação científica na central parisiense da Areva e hoje é conselheiro da empresa.
Segundo o ex-diretor da Areva, entre 1974 e 2000 o programa nuclear francês teve o objetivo de produzir energia independentemente do petróleo. Havia um grande consenso em torno disso, afirmou. "E como a energia nuclear funcionava bem, como não existiam dramas, as pessoas se acostumaram."
Nuvem radioativa para nas fronteiras francesas
Desbordes: radiação de Tchernobyl está no solo até hojeDesbordes: radiação de Tchernobyl está no solo até hojeEm 1986, na época do desastre em Tchernobil, as autoridades francesas tentaram convencer a população do país de que a nuvem radioativa proveniente da Ucrânia teria parado nas fronteiras francesas. Até que alguns cientistas da cidade de Valence desmascararam a mentira estatal.
Eles se reuniram em torno da sigla Criirad – Comissão de Pesquisa e Informação Independentes sobre a Radioatividade, na sigla em francês. O físico Roland Desbordes dirige esse centro de pesquisa e informação independente e único na França.
Segurando uma amostra de 40 gramas de terra, ele afirma que até hoje se pode comprovar a presença da radiação de Tchernobyl no país. "Isso aqui é césio 137", diz Desbordes, apontando para a amostra, "com uma meia-vida de 30 anos, como detectamos em laboratório. Depois de 25 anos, sua atividade não diminuiu nem pela metade. Ainda contém cerca de 60% da radioatividade de 25 anos atrás".
Cidadãos nunca foram consultados
Em Lyon, terceira maior cidade da França, está a central de Sortir du Nucléaire (sair do nuclear), uma rede que reúne quase 900 associações em todo o país. Todas dividem o mesmo objetivo: a desistência da energia nuclear. Elas exigem que os 16 reatores franceses mais antigos, ou seja, aqueles com mais de 30 anos de funcionamento, sejam desativados.
O vice-coordenador do grupo, Xavier Rabilloud, aponta para o mapa de um país abarrotado de usinas nucleares, em funcionamento ou desligadas, com depósitos de lixo nuclear, minas de urânio, instalações de processamento, reatores de pesquisa e instalações militares nucleares, bem como portos para submarinos nucleares ou o porta-aviões nuclear Charles De Gaulle.
Rabilloud: franceses não foram consultados sobre energia nuclearRabilloud: franceses não foram consultados sobre energia nuclearSegundo Rabilloud, oficialmente a agência francesa de segurança nuclear ASN registra em média cem incidentes na região do Vale do Ródano a cada ano. Entre 800 e 900 casos como esses são registrados anualmente em toda a França, diz.
"É realmente verdade que o setor nuclear na França se encontra completamente fora da zona de influência democrática", constata Rabilloud. "É preciso que se saiba que os cidadãos franceses jamais foram consultados sobre o programa nuclear, nem de forma direta tampouco através de seus deputados."
Extensão de vida útil para 40 anos
O bloco 1 da central nuclear em Tricastin, no Ródano, teve sua vida útil prolongada para 40 anos em dezembro de 2010 – foi o primeiro caso do tipo na França. Atualmente, uma prorrogação da vida útil de todos os reatores franceses para 50 anos está em discussão entre a Areva e as autoridades de segurança nuclear.
E isso levando em conta que a França produz mais energia do que precisa, diz Rabilloud. A indústria nuclear, por outro lado, vê a situação de forma diferente: quando as usinas alemãs forem desativadas, os nossos vizinhos precisarão de mais energia – que será fornecida por nós. Ou seja, um negócio lucrativo.
Autor: Alexander Musik (ca)
Revisão: Alexandre Schossler
Fonte: DW (Deutsche Welle)
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MUNDO | 12.04.2011

Japão eleva acidente nuclear de Fukushima ao nível do de Tchernobil

Acidente nuclear de Fukushima pode ser comparado ao de 1986 na Ucrânia. Operadora Tepco teme que radioatividade liberada no Japão possa ultrapassar a de Tchernobil.

O Japão elevou nesta terça-feira (12/04) de 5 para 7 o nível de alerta na central atômica de Fukushima, caracterizando a situação de "catástrofe nuclear". Segundo a Escala Internacional de Eventos Nucleares (Ines, do inglês), 7 é o nível máximo e só foi aplicada até agora após o acidente nuclear de Tchernobil, há 25 anos.
O porta-voz da agência japonesa de segurança nuclear disse tratar-se de uma classificação provisória e que a avaliação final deverá ser feita pela Agência Internacional de Energia Atômica. Aumentar o nível de magnitude do acidente para 7 significa admitir que a radioatividade tenha fortes consequências sobre a saúde e o meio ambiente.
No entanto, a radioatividade liberada em Fukushima corresponde a apenas 10% do irradiado em Tchernobil, segundo a Agência de Segurança Nuclear do Japão.
Área de risco
O governo japonês ampliou nesta segunda-feira a área de risco de contaminação radioativa para um raio de 30 quilômetros da central nuclear de Fukushima. A radioatividade é emitida principalmente pelo reator de número 2, que explodiu no último dia 15 de março, informou a agência de notícias japonesa Kyodo.
Segundo o porta-voz da Tepco (empresa operadora da usina nuclear de Fukushima) Junichi Matsumoto, o vazamento de radioatividade de Fukushima poderá superar a quantidade liberada em Tchernobil.
A escala que mede os acidentes nucleares foi criada depois da catástrofe em Tchernobil. A intenção era poder definir a seriedade de um acidente nuclear. Para medir o nível de radioatividade são analisadas quantidades de iodo 131 e césio 137 liberadas.Classificação na escala Ines ainda é provisória
Classificação na escala Ines ainda é provisória
Réplicas não cessam
Nesta terça-feira, uma réplica de terremoto de 6,3 graus de magnitude sacudiu o nordeste do Japão e causou um incêndio próximo ao reator de número 4.
Operadores da Tepco disseram que conseguiram apagar o fogo rapidamente e que não foram registradas consequências para os trabalhos de refrigeração dos reatores.
Na segunda-feira (11/04), exatamente um mês após o terremoto seguido de tsunami que devastou parte do Japão, uma forte réplica seguida de alerta de tsunami atingiu o país. O alerta, no entanto, foi cancelado duas horas depois.
BR/dpa/rts/lusa/ap
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DW (Deutsche Welle)
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MUNDO | 19.04.2011

Reunião em Kiev define ajuda para isolar reator danificado em Tchernobil

Estrutura móvel de alta tecnologia deverá conter vazamento nuclear por no mínimo cem anos. Sarcófago deveria estar pronto desde 2006. Atual revestimento pode romper.

Representantes da comunidade internacional asseguraram recursos para construir um novo contêiner de isolamento nas ruínas da usina nuclear de Tchernobil. Os participantes da Conferência de Kiev, alusiva aos 25 anos da explosão da instalação, prometeram a liberação de 550 milhões de euros para o confinamento do reator danificado.
O presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, saudou as promessas de ajuda financeira e agradeceu a comunidade internacional por não deixar a Ucrânia arcar sozinha com os custos. A Ucrânia esperava receber 740 milhões de euros para completar a construção de uma capa de isolamento de alta tecnologia sobre o reator danificado. O país deverá participar do projeto com 104 milhões até 2014.
Ministros e representantes dos G8, grupo dos sete países desenvolvidos mais a Rússia, assumiram a liderança da conferência, declarando a intenção de financiar a construção da maior parte do que está sendo chamado de "sarcófago", que isolará o reator, substituindo a estrutura de concreto e aço utilizada até momento.
Preocupação vizinha
François Fillon quer rápida decisão de outros paísesFrançois Fillon quer rápida decisão de outros paísesPaíses geograficamente próximos como Turquia, Hungria, Romênia e Eslovênia também prometeram mobilizar recursos. O presidente do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (Berd), Thomas Mirow, anunciou que irá liberar de 120 milhões a 180 milhões de euros para o projeto e a Comissão Europeia, 110 milhões.
O primeiro-ministro francês, François Fillon, acredita que mais países, entre os 50 presentes à conferência, devam participar do financiamento.
Fillon apelou para que os Estados que ainda não anunciaram a liberação da ajuda financeira decidam-se "rapidamente" sobre a questão. A Ucrânia espera arrecadar os recursos não somente junto a governos, mas também com organizações internacionais.
O recente desastre nuclear na usina de Fukushima também foi lembrado durante a conferência. As delegações presentes expressaram solidariedade com os esforços japoneses para resolver a crise em seu território. Devido à concentração de recursos em Fukushima, o Japão anunciou que não vai participar da mobilização internacional em torno de Tchernobil.  
Sarcófago
Acidente na usina nuclear de Tchernobil ainda concentra atenção mundialAcidente na usina nuclear de Tchernobil ainda concentra atenção mundialO reator nuclear destruído há 25 anos em Tchernobil deveria ter sido isolado por um sarcófago de 29 mil toneladas há alguns anos. O confinamento de concreto e aço que reveste o reator precisa ser retirado porque ameaça romper. A organização ambiental Greenpeace calcula que os custos para a construção da estrutura podem chegar a 1,6 bilhão de euros.
O sarcófago planejado em 1992 tinha construção prevista para 2005 e 2006. A meta é instalar uma estrutura que dure no mínimo cem anos.
O Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento quer que o sarcófago esteja pronto até 2015. Ele deverá ser móvel, montado fora da região do reator, sendo deslocado posteriormente através de trilhos para a área danificada da usina.
O projeto de construção do sarcófago prevê uma altura de 110 metros, largura de 164 metros e 257 metros de comprimento. O acidente nuclear de Tchernobil, cidade localizada a 100 km de Kiev, na fronteira da Ucrânia com Belarus, ainda é considerado o pior da história. "A catástrofe de Tchernobil deixou feridas profundas com as quais a Ucrânia terá que viver por ainda muitos anos", disse o Yanukovich.
MP/afp/rtr/dpa/lusa
Revisão: Carlos Albuquerque
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MUNDO | 25.04.2011

Consequências da tragédia de Tchernobil persistem mesmo após 25 anos

 

Um quarto de século depois, os efeitos do acidente nuclear na Ucrânia ainda afetam a população e o meio ambiente. Mesmo longe da área evacuada são detectados altos níveis de radiação em alimentos.

 
As sequelas da explosão na usina nuclear de Tchernobil, na Ucrânia, em 26 de abril de 1986, podem ser sentidas, vistas e medidas mesmo 25 anos depois da catástrofe. 
Uma equipe da organização ambientalista Greenpeace estava no local para avaliar as sequelas deixadas pela catástrofe, em março último, quando recebeu a notícia da explosão em Fukushima, no Japão.
"Não sabíamos exatamente o que estava acontecendo no Japão naquele momento, mas sabíamos que em 25 anos o cenário lá seria o mesmo", conta Aslihan Tumer, especialista do Greenpeace para assuntos de energia. Mesmo tanto tempo depois, as consequências na Ucrânia são visíveis por todos os lados.
População advertida 70 horas depois
Após a explosão, há 25 anos, a nuvem radioativa contaminou não só a região ao redor da usina, como atingiu, com menor intensidade, a América do Norte e a Europa Ocidental. O reator continuou queimando por dez dias e a população dos arredores só foi avisada do perigo 70 horas após o acidente. Hoje, o reator danificado está revestido por uma espécie de sarcófago de aço e concreto.
Quase um quarto do território de Belarus foi contaminado, mesmo a 300 quilômetros de Tchernobil a radioatividade foi levada pelas chuvas. Porém as partículas radioativas se distribuíram de forma desordenada.
Enquanto em Chausy a irradiação ultrapassou pouco o limite permitido, algumas cidades vizinhas foram contaminadas de tal forma que tiveram de ser evacuadas para sempre. 
Os antigos moradores, como Oleg Pisarev, contam que ao lado das casas foram abertas enormes valas por gigantescos veículos militares. Em seguida, as casas inteiras eram empurradas para as valas e cobertas por terra.
Contaminação pela cadeia alimentar
"Mesmo longe da área evacuada ainda é possível detectar altos níveis de radioatividade, sobretudo no leite e em outros alimentos", declara Tumer.
"Ainda hoje as pessoas estão expostas à radioatividade por meio da cadeia alimentar", afirma a especialista do Greenpeace. Segundo ela, é possível detectar os efeitos da catástrofe de Tchernobil numa distância de centenas de quilômetros do local da explosão.
"As pessoas ainda sofrem com o que aconteceu, sobretudo as crianças", diz Tumer. Ela cita mutações genéticas em bebês cujos pais foram expostos à radioatividade há 25 anos. Em alguns casos, as crianças nascem sem alguns órgãos internos ou desenvolvem problemas cardíacos. Também os casos de câncer e de doenças da tireoide aumentaram vertiginosamente nas regiões contaminadas.
Os especialistas ainda não sabem quantas gerações serão afetadas pela tragédia de Tchernobil. Tumer cita um estudo segundo o qual 11 gerações sofrerão as consequências da explosão.
Vestígios na Alemanha
Há também pesquisas que provam que a natureza nos arredores de Tchernobil se recuperou nos últimos 25 anos. Peter Jacob, diretor do Instituto de Proteção contra a Radioatividade do Centro Helmholtz, de Munique, diz que o meio ambiente na área próxima à usina está melhor agora do que antes do acidente, "também pelo fato de não haver mais seres humanos por ali".
Jacob explica que não só algumas espécies se procriaram em maior quantidade, como também novas espécies se adaptaram à região, cuja radioatividade ainda é extremamente alta. Por isso, explica Tumer, tanto animais como frutos e cogumelos desta área também continuam contaminados.
O césio 137 liberado na explosão em Tchernobil ainda é detectado na Alemanha, em cogumelos e animais de caça. Também no mar ele continua presente, apesar da grande capacidade de dispersão no oceano.
O Instituto de Ecologia Pesqueira de Hamburgo, no norte da Alemanha, continua detectando no Mar Báltico césio 137 liberado em Tchernobil há 25 anos.

Autoras: Olga Kapustina/Irene Quaile (br)
Revisão: Roselaine Wandscheer
 
 






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