19 de janeiro de 2010

CRIANÇA NATURALISTA

Seguidamente faço palestra às crianças sobre temas ambientais. E tenho aprendido muito com elas. Constatei, por exemplo, que as crianças encaram o mundo com mais naturalidade, sem aquela preocupação de alterar a natureza. Elas interagem com o meio ambiente, como se fizessem parte dele. Ao contrário da maioria dos adultos que quer mudar o estado natural das coisas, buscando na virtualidade artificial uma suposta felicidade. E um ambiente natural, sem muitos requintes é o que mais as crianças querem - e extravasam alegria quando conseguem brincar em um recanto assim. Um simples graveto, uma pedra, um pouco de areia ou terra e a criança já constrói sonhos. Nas caminhadas pelas trilhas dos bosques em meu sítio elas ficam deslumbradas pelos tons de verde, pelas formas de vida diferentes que encontram, pelos sons dos pássaros e dos insetos, pela flor silvestre que desabrocha. Tudo é motivo de encantamento. Quando se explica o porque de preservar um pequeno banhado, cheio de caraguatás, as crianças logo percebem que isso é importante para a conservação da água. São filtros naturais e locais de recarga dos aqüíferos. Para um adulto, provavelmente isso seria visto como uma área inútil. Quando se fala em preservar a vegetação nas margens dos rios as crianças entendem muito bem o porquê dessa medida. E aguçam a imaginação aumentando o tamanho da floresta e os seus mistérios. Para um adulto, talvez movido por outros princípios, as matas ciliares deveriam se transformar em lavouras e pastos até as barrancas do rio, deixando-o a mercê do assoreamento pela erosão das encostas. Bem, porque matas nativas, frutas silvestres, bichos livres num ambiente preservado? Para as crianças esse é um mundo puro, cheio de sonhos e esse mundo foi criado por Deus e elas fazem parte dele. Para alguns adultos sem sonhos o cenário natural não cria encantos. A Natureza é imperfeita e como tal deveria ser mudada. Pessoas assim não fazem parte do meio e buscam outros valores na exterioridade artificial. As crianças vão crescendo e com o tempo a sociedade lhes inculca outros princípios. A alegria natural cede lugar à pressão competitiva, o sistema de ensino é uma camisa de força e a intuição cede lugar à metodologia da ciência. Antes, quando criança, a pessoa era feliz com a inclusão ambiental. Agora, quando adulto, a sociedade molda o indivíduo para uma visão chamada antropocêntrica, isto é, todas as ações são voltadas para a espécie humana. Pelo que se vê nos noticiários e no nosso cotidiano a espécie humana não é mais feliz apesar de toda a gama de novos produtos e tecnologias que lhe estão disponíveis. Posso estar enganado. Mas percebo que o artificialismo não preenche o vazio que nos assola. A felicidade das crianças em meio à Natureza talvez nos revele um caminho a seguir.

Darci Bergmann (texto publicado no jornal ALTERNATIVO, em 14/11/2008, pg 8.)
Foto: Integrantes do Albergue Criança Feliz em trilha no Sítio Itaperajú- S.Borja-RS, em 14/10/2006.





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