24 de janeiro de 2010

O PLANTADOR DE ARAUCÁRIAS


Por Darci Bergmann

Quando eu era adolescente, morei no Extremo Oeste de Santa Catarina. Na cidade de Mondaí, às margens do Rio Uruguai, presenciei o ciclo das balsas. Estas consistiam de toras de madeira ou pranchões amarrados em molhes. A madeira provinha de vários municípios e era depositada no rio. Com as enchentes, as balsas desciam e tinham como destino principal São Borja. Foi um tempo de muita destruição das matas nativas e algumas empresas faturaram alto com isso, deixando para trás encostas desnudadas e depois erodidas. Na esteira do desmatamento veio também a lavoura de fumo, quase sempre ocupando áreas impróprias para esse tipo de cultivo devido à declividade do terreno.
Tempos difíceis para a Natureza que até hoje não se recompôs da cruzada devastadora. Mas em todos os episódios existem exceções de comportamento. Uma dessas foi a de um agricultor analfabeto e sábio por intuição. Esse homem, já pelos seus setenta anos, deixou uma grande lição. Plantava araucárias, o pinheiro brasileiro, botânicamente conhecido como Araucaria angustifolia. Certo dia esse agricultor fora abordado por alguns amigos que lhe questionaram sobre essa estranha mania de plantar árvores que levariam décadas para dar retorno. Até mesmo para a colheita de pinhões seriam necessários mais de dez anos e o plantador já tinha idade avançada. O sábio iletrado então justificou a sua atitude. Disse aos seus interlocutores que não plantava essas árvores para usufruto próprio, mas por agradecimento a Deus e aos seus antepassados. Explicara que quando menino tinha o hábito de andar pelas matas e comer frutas nativas. Ele não havia plantado as árvores que lhe deram frutos. Se elas estavam lá foi por obra da Natureza e de pessoas que as preservaram para que ele pudesse desfrutar. Assim, por gratidão, escolhera uma encosta desmatada para repor árvores que um dia poderiam fazer a alegria das crianças e das pessoas em geral.
Que lição de vida! Chegará o dia em que todos os seres humanos serão gratos a Deus por nos ter legado a Natureza. Aí ela será preservada com ações e não apenas lembrada com palavras.



Artigo publicado no jornal Alternativo, 21/11/2008, pg 16, S.Borja-RS.

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