Algumas décadas atrás houve um movimento contra o uso da energia nuclear para a geração de eletricidade. Os acidentes radioativos contribuíram para essa tomada de posição. E havia o questionamento sobre o destino do lixo atômico, problema até hoje não resolvido, apesar da possibilidade de reprocessamento desse material. Também se argumentava que a energia poderia ser gerada a partir de outras fontes, como a eólica, hidrelétrica, fotovoltaica, biomassa, entre outras. Os defensores da energia nuclear afirmavam que os acidentes eram casos isolados. Quanto aos resíduos, não ofereceriam riscos maiores, pois acondicionados em barricas de chumbo ficariam contidos por milhares de anos.
O tempo passou e alguns sistemas de produção de energia dita mais limpa foram implantados em escala maior. No entanto, a geração de energias limpas não tem a unanimidade dos que se arvoram como ambientalistas. Sobre a energia eólica, dizem alguns que ela provoca tremendo impacto sobre a paisagem, interfere na rota migratória de aves, causa poluição sonora, entre outros problemas citados. Além disso, os ventos são irregulares, o que poderá diminuir o fornecimento por essa fonte em algumas épocas do ano. Quanto à biomassa, ela tem dois aspectos: um se refere ao aproveitamento de resíduos e o outro referente ao plantio de espécies vegetais em grande escala para a produção de biocombustíveis. Ambientalistas de renome entendem que os biocombustíveis são concorrentes diretos da produção de alimentos. Estaria aí um dilema. Um planeta cada vez mais povoado precisa de mais alimentos e de mais energia para atender aos seus padrões de consumo. Disponibilizar terras, máquinas, insumos e energia para a produção de combustíveis faz parte do agronegócio, mas não teria sustentabilidade ambiental, nem social.
Hoje parte dos combustíveis é desperdiçada nas cidades, sob várias formas, com requintes de descaso ao Planeta e às pessoas. Basta ver o que ocorre nos chamados rachas, madrugadas afora. Se assim é no comportamento, não é diferente nos planejamentos urbanos, onde as cidades crescem apenas pensadas para o automóvel e a construção civil moldada para obras consumidoras de energia. Arborização de ruas e outros espaços, para atenuar o calor, tem de ser motivo de pleitos insistentes dos quase sempre criticados ambientalistas.
A controvérsia tem o seu lado positivo. Talvez não exista uma fonte única e ideal de energia, mas um conjunto de alternativas. Particularmente, acredito muito na alternativa da energia solar sob as várias formas de aproveitamento. Mas as peculiaridades regionais devem levar em conta qualquer fonte disponível e de menor impacto ambiental.
Voltando à energia nuclear, fiquei encafifado com as digressões de James Lovelock, no livro Gaia - Alerta Final. Ele defende o uso da energia nuclear e critica a postura dos ambientalistas. O Sr. James Lovelock assevera que os cientistas americanos, em sua maioria, não perceberam o problema do aquecimento global. Agora, diante do dilema, a humanidade precisaria de líderes para fazer um movimento consistente com vistas a, pelo menos, diminuir os impactos do aquecimento global e que a energia nuclear seria uma das alternativas até menos danosas.
O pensamento do Sr. James Lovelock deve ser colocado num contexto de sobrevivência de alguns países, como o Reino Unido. Mas o uso da energia nuclear tem outras implicações que não as de simples construção de usinas e o descarte seguro dos resíduos. Num mundo cada vez mais tumultuado, com ideologias que beiram ao fanatismo mais insano, a humanidade poderá ficar sob a ameaça dos atentados às usinas atômicas. Assim, cada uma dessas usinas se transforma numa bomba atômica em potencial. Os problemas da humanidade não serão resolvidos somente pela ciência ou pelos cientistas. O conhecimento tanto pode ser usado para o bem como para o mal. A ciência é neutra e até isso é reconhecido em parte pelo Sr. Lovelock. É preciso uma ampla mobilização das pessoas, numa corrente que atinja o Planeta por inteiro, visando um novo modo de pensar e de agir. Os atuais padrões de consumo já causaram grandes estragos e levarão a uma derrocada ambiental sem precedentes. No atual momento, centenas de milhões de pessoas estão conectadas na internet, essa ferramenta espetacular que diminuiu as distâncias entre nós. Que se faça um bom uso dela. Podemos esbanjar menos, com atitudes simples e que não nos tiram o prazer de viver. Até para nos livrarmos do pesadelo nuclear.
Darci Bergmann, janeiro de 2010.
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