19 de outubro de 2010

AMAZONIA: Impressões de viagem

    Por Melissa Bergmann
     É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem. Na semana em que se comemorava a independência do Brasil, entre os dias 05 e 10 de setembro, estive visitando e conhecendo um pouco da Amazônia e a capital do estado amazonense, Manaus. Com quase 2 milhões de habitantes, Manaus é uma cidade histórica que preserva belezas edificadas na época da colonização portuguesa, como o Teatro Amazonas, inaugurado em 1896 durante o Ciclo da Borracha. É um dos mais belos teatros do Brasil.
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     Além de prédios históricos e museus, encontram-se também o CIGS – Centro de Instrução de Guerra na Selva – , o Jardim Botânico e o Bosque da Ciência, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). O CIGS é um centro de treinamento do Exército Brasileiro, que abriga vários animais da selva amazônica e é aberto ao público para visitação. Antas, preguiças, macacos, jibóias e onças são alguns dos animais encontrados, além de se visualizar araras soltas em meio ao bosque que delimita o parque.
     A floresta
     Mas a expectativa maior quando se vai à Amazônia é conhecer a tão exuberante floresta amazônica. Margeada pelas aglomerações urbanas que avançam cada vez mais, os fragmentos florestais estão restritos às reservas e aos institutos de ensino e pesquisa. O Jardim Botânico de Manaus conserva parte de floresta primária, aquela vegetação original, que não foi destruída. Andando pelas trilhas na mata em um dia nublado em que havia chovido pela manhã, a sensação era de muito calor e umidade. O solo, raso e de consistência argilosa, expõe as raízes das plantas à superfície. As árvores são altas, e sobre elas crescem inúmeras plantas epifíticas, que se apóiam sobre seus galhos e troncos sem prejudicá-las e hemi-epifíticas, que crescem como as epífitas, mas emitem raízes que chegam ao solo. As plantas desse grupo são principalmente da família Araceae, abundantes nas áreas tropicais úmidas. Já na Mata Atlântica, por exemplo, floresta também úmida mas não tão quente, encontram-se principalmente orquidáceas e bromeliáceas crescendo sobre outras plantas. Entre as plantas utilizadas como alimento ou no preparo de sucos e doces estão o açaí, uma palmeira, o cupuaçu, parente do cacaueiro, o caju e muitas outras utilizadas também na medicina popular.
     É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem. É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem. É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem.As águas
       Além da extraordinária diversidade botânica, a região amazônica tem uma riqueza inigualável em volumes de água. O Rio Negro, por exemplo, é um dos mais antigos dos rios amazônicos, exibindo uma coloração escura devido à grande quantidade de ácidos originários da decomposição orgânica. Nas águas desse rio, encontram-se os famosos botos cor-de-rosa, espécie de golfinhos de água doce que se aproximam das residências ribeirinhas em busca de alimento.
      Conta a lenda dos povos amazônicos que nas noites de festa junina, o boto cor-de-rosa sai do rio e se transforma num belo rapaz que seduz as moças das comunidades ribeirinhas. Mas apesar de toda a beleza folclórica em torno desse animal, muitos deles são mortos por pescadores, o que vem colocando em risco sua sobrevivência.
 
     A paisagem amazônica é marcada ainda pelas casas flutuantes e pelos lugares em que se chega somente com um meio de transporte fluvial. Muito interessante é o encontro das águas dos rios Negro e Solimões sem se misturarem.
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      Outra atração é o Museu Seringal Vila Paraíso, que foi idealizado para a produção do filme brasileiro A Selva, baseado no romance homônimo do escritor português Ferreira de Castro. A obra retrata a sociedade na região amazônica na época do Ciclo da Borracha, no ano de 1912. A visita ao museu permitiu vivenciar um pouco deste capítulo da história brasileira, onde a corrida pelo “ouro negro”, a borracha, era feita às custas de seringueiros que tinham de trabalhar em meio aos riscos de doenças e de animais na selva, uma vez que a retirada do látex das seringueiras era feita à noite. Atraídos por um “emprego”, muitas pessoas saíam de suas cidades, principalmente da região nordeste, mas acabavam tendo de trabalhar sem grandes benefícios para sobreviver. O trabalho de alguns ostentava o luxo de outros. Foi nessa época que foram construídos o Teatro Amazonas e o prédio do Mercado Público de Manaus, em estilo português. Manaus também foi uma das primeiras cidades a ter iluminação pública.
Outras considerações
Embora muito já tenha mudado quanto aos direitos trabalhistas, a região amazônica ainda é uma das mais precárias em educação, e os problemas ambientais enfrentados lá não diferem dos que ocorrem aqui. A utilização desenfreada dos recursos naturais e o crescimento dos aglomerados urbanos são as principais causas das alterações dos ecossistemas. A valorização das reservas naturais ainda é incipiente, e muitas escolas e comunidades locais não apreciam a riqueza do bioma onde vivem. Professores das universidades, como a UFAM (Universidade Federal da Amazônia), o INPA e a UEA (Universidade Estadual do Amazonas) vem desenvolvendo projetos sobre os saberes locais. Será que é preciso destruir parte da floresta do quintal de casa para o cultivo agrícola? Será possível aproveitar a matéria-prima da floresta, como seus frutos e folhas, sem precisar destruir esse ecossistema? São essas questões que vem sendo debatidas com as comunidades. Trabalhar também a importância dos parques e reservas é essencial. Como esperar que as crianças e os jovens valorizem um ecossistema se nem mesmo o conhecem? Muitos pais das comunidades ribeirinhas mandam seus filhos à escola para estudar dentro da sala de aula, e consideram que uma saída a campo não acrescenta nada, pois seus filhos vêem o rio todo dia, por que teriam de sair da sala de aula para ver o rio?
      Cabe lembrar que aqui no Rio Grande do Sul a situação não é  diferente. Cada bioma tem suas particularidades, e a Amazônia é uma floresta exuberante, sim, mas nossos ecossistemas sulinos não ficam para trás. Tanto o Bioma Mata Atlântica quanto o Pampa (campos) são ecossistemas de dinâmicas especiais, e apresentam flora e fauna que não se encontram em outras regiões. Isto se chama biodiversidade!


 



 

5 de outubro de 2010

Marina Silva, a grande vitoriosa

Por Darci Bergmann

   Nunca antes na história deste País, a questão ambiental sacudiu tanto as estruturas do poder. A expressiva votação de Marina Silva é um recado claro de que uma parcela significativa da sociedade brasileira já não aceita mais a política mercantilista que ignora a sustentabilidade ambiental. Sim, mercantilista até nas eleições, quando o poder é almejado a qualquer preço e em desrespeito à privacidade do eleitor, ao meio ambiente e à probidade administrativa. Tanto a coligação oficial quanto à de oposição fizeram campanhas milionárias, poluidoras e promoveram um desserviço à educação ambiental. À luz da legislação vigente cometeram crimes ambientais. A ostentação grotesca começou pela confecção de milhares de toneladas de folders em papel caro e de grande impacto ambiental. Boa parte desse papel  impermeável e de difícil decomposição atingiu os bueiros, os terrenos baldios e outros locais. Na noite anterior ao pleito foi lançado em vias públicas, especialmente nas proximidades dos locais de votação. Cartazes estavam espalhados pelas praças, nos passeios públicos e onde mais fosse possível.
A poluição visual escancarada ofuscou as cores da primavera. Nessa época do ano, a maioria das aves inicia o ritual do acasalamento. O canto das aves também foi ofuscado pelas geringonças barulhentas que dia e noite atormentaram os moradores. Os muitos decibéis acima dos níveis permitidos fizeram estremecer as vidraças e as estruturas dos prédios e, pasmem, fizeram até disparar alarmes. Essa arrogância eleitoral cara e esbanjadora já mostra que para muitos candidatos, a maioria talvez, a política é a arte do vale tudo. Se é assim antes das eleições, como vão proceder depois de eleitos?
   Mas nem todos os eleitores se deixam seduzir pelos malabarismos eleitoreiros. Aos poucos as pessoas se dão conta das falsas promessas de campanha e reagem votando em propostas alternativas e apresentadas de forma a respeitar o sossego público e o meio ambiente com um todo. Talvez esse tenha sido um dos motivos para que muitos decidissem votar em Marina Silva. Nunca esteve aqui em São Borja. Não vi sequer um poster dela, não vi ninguém distribuindo propaganda sua, não havia um único carro de som anunciando o seu nome e mesmo assim fez aqui em torno de sete por cento dos votos. Não se elegeu, não foi para o segundo turno, mas que vitória ela teve ao arrebanhar o sentimento de vinte milhões de brasileiros.
Sei que existem ambientalistas em outros partidos. Pessoas realmente preocupadas com a questão ambiental. Mas as estruturas desses partidos quase sempre transformam a questão ambiental em mera retórica. Os filiados e candidatos de visão ambiental tem que aparar muitas arestas para que algumas práticas ecológicas sejam implementadas. Um dos motivos é que os partidos políticos no Brasil se moldam pelo chamado desenvolvimento linear, imediatista e focado apenas em obras e programas assistencialistas, sempre com o intuito de que haja retorno nas próximas eleições. Assim, a natureza é relegada a um plano secundário. O tema meio ambiente se limita a saneamento básico e alguns outros pontos focais, mas é permissivo à destruição ambiental quando o assunto é geração de emprego, renda e impostos, por exemplo. Setores organizados da sociedade, dentro dos partidos políticos, conseguem frear as boas práticas ambientais, como se elas fossem a causa do desemprego e da geração de renda.
    Essa visão distorcida ficou evidente quando da discussão da reforma do Código Florestal brasileiro. A maioria dos proprietários rurais não quer abrir mão de parcela da área destinada à reserva legal. No entanto, esquecem-se de que muitos perdem as suas terras ou boa parte delas para o ressarcimento de dívidas com os bancos credores. Nesse caso, a saída seria a criação de um fundo especial, uma espécie de bolsa para reserva legal  que poderia pagar aos proprietários os serviços ambientais gerados por essas áreas. 
   A sociedade brasileira e os jovens em especial já perceberam que existe saída política para esse tipo de impasse e que o meio ambiente é coisa séria. Marina Silva centralizou a preocupação ambiental difusa que ve saídas políticas para a verdadeira crise ambiental que assola o País. As queimadas, o desmatamento, os desastres ambientais, a poluição em seus vários aspectos, tudo isso motivou a busca de alternativas. 
  A votação em Marina Silva é apenas o começo de uma grande mudança no trato das questões ambientais.    
 Os grandes partidos agora foram sacudidos e o serão mais ainda se não implementarem boas políticas ambientais. O Partido Verde se tornará uma realidade e deverá se estruturar em todo o Brasil. Nas próximas eleições terá certamente muito mais representação em parlamentos e no poder executivo. Isso também estimulará a que os demais partidos sejam mais amigáveis ao meio ambiente.
   A onda verde que iniciou lá nas florestas do Acre trouxe Marina Silva ao cenário político do Brasil. Essa onda verde silenciosa, suave até, foi o contraponto a essa maneira arrogante de fazer política sem respeito às pessoas e à natureza.
  Valeu, Marina!

3 de outubro de 2010

Esbanjamento

Por Darci Bergmann

Hoje é um dia especial. Dia de escolher os governantes e legisladores do País. Mas como é difícil escolhe-los quando um dos critérios é a responsabilidade ambiental. No clarear do dia, fui dar uma espiada na rua em frente à minha casa e fiquei decepcionado com a cena: os passeios públicos, as sarjetas, as ruas enfim, estão repletas de papéis de propaganda eleitoral. São os famosos ¨santinhos¨. Alguns confeccionados em papel branco, outros em papel do tipo acetinado e muito poucos em papel reciclado. O simples fato de serem jogados aos milhares em vias públicas já é um esbanjamento inaceitável. Esse é o retrato fiel da maioria dos pretendentes a cargos eletivos no Brasil. As promessas de probidade no trato da coisa pública e do respeito às leis já é quebrado antes mesmo da posse de qualquer eleito. Ainda vamos levar um bom tempo até que tenhamos a maioria dos candidatos realmente comprometidos com a questão ambiental. É aquele velho ditado: o discurso é um e a prática é outra.
Penso que os candidatos poderiam planejar as suas campanhas com um enfoque voltado para o respeito à sustentabilidade ambiental e dentro de um conceito de não esbanjar recursos financeiros auferidos na campanha. Assim, estariam prestando um grande serviço ao Brasil e à humanidade. Mesmo os que não se elegessem participariam de uma cruzada cívica que seria também uma  aula de educação ambiental. Milhares de assesores de campanha estariam sendo educados num exercício de respeito à legislação. Isto é importante porque muitos deles depois ocuparão cargos nas esferas da administração pública ou nas casas legislativas.
Tem ainda a questão da poluição sonora. A maioria dos candidatos e seus seguidores não respeita a legislação pertinente. A barulheira é tanta que alguns eleitores  ficam irritados. Alguns deixam de votar nos candidatos que abusam com a propaganda barulhenta. Aos poucos a sociedade reage às condutas nada recomendáveis de políticos acostumados a mentir e a não respeitar a privacidade das pessoas.
Chegará o dia em que o eleitor será mais consciente. Então os políticos esbanjadores terão de arrumar  outros empregos, longe dos cofres públicos.

1 de outubro de 2010

Debate na Globo

Por Darci Bergmann

A impressão que eu tive foi de um debate fraco em relação aos temas ambientais. Com exceção de Marina Silva, os candidatos não deixaram claras as suas propostas.  Excetuando-se alguns tópicos pontuais, o tema ficou diluído entre os assuntos recorrentes segurança, educação e saúde, com as variantes de praxe. Há quem pense que a grande gama de questões que envolvem a administração pública não permite o avanço nas discussões sobre meio ambiente. Se verdadeiro isso, é lamentável. Quase todas as questões da nossa sociedade passam pela temática ambiental. Nenhum país, nem a humanidade como um todo, poderá ter um desenvolvimento em bases sólidas se não o fizer dentro dos princípios da sustentabilidade ambiental.  Educação e saúde estão intimamente ligados aos temas ambientais. Educação não é só construir escolas, mas um contexto muito mais amplo e profundamente ligado à questão ambiental. Educar para que? Que modelo de sociedade queremos? Aquela consumista e de competição? Como está o nosso ambiente?  Estas são algumas questões básicas ligadas à educação. E pela degradação ambiental escancarada pode-se deduzir que as coisas precisam melhorar e muito nessa área. A teorização até que existe, mas na prática a realidade é outra. 
O tema saúde é estreitamente ligado ao meio ambiente. Mas as discussões se limitam ao saneamento básico visto sob a ótica de obras gigantescas. Não se trabalha a questão de projetos alternativos, descentralizados. Pouco se falou sobre isso nos debates. Nesse último não foi diferente. 
Talvez as agendas dos candidatos não permitam aprofundar esssas questões. Por isso, entendo que um segundo turno nas eleições teria essa função de esclarecer melhor. Alguns pensam que isso é um gasto a mais, uma perda de tempo. Sou da opinião que os grandes temas nacionais devem ser melhor analisados pela sociedade. E quando um tema de grande interesse para a nossa e as futuras gerações não pode ser esmiuçado por quem deseja governar o Brasil, é bom que haja um segundo tempo no jogo eleitoral.   

28 de setembro de 2010

Uma civilização drogada

Por Darci Bergmann

Segundo muitos estudiosos e de acordo com depoimentos dos muitos usuários, as drogas que mais preocupam são usadas livremente. Elas geram uma grande movimentação na economia e algumas tem incentivos oficiais.
Retirando-se o véu que encobre a movimentação financeira e os muitos interesses envolvidos, percebe-se os malefícios causados por essas drogas. Algumas são rotuladas como alimentos, um disfarce que estimula o seu consumo. Outras são incentivadas com argumentos que lembram os prazeres da vida, em rodas sociais ou mesmo na modalidade de consumo discreto. Uma ou outra dessas drogas sempre está ao alcance das nossas mãos. Algumas delas são combatidas por profissionais da saúde, por grupos religiosos ou até por quem já foi prejudicado pelo seu consumo.  Outras, no entanto, tem livre acesso em pessoas de todas as correntes de pensamento.
Desde épocas remotas, a humanidade consome algum tipo de droga. As mais antigas continuam a ter adeptos e no decorrer do tempo outras são acrescentadas à dieta consumista. As drogas ditas ilícitas são as que tem a repressão do aparato policial. Esse tipo de droga chama atenção pela dependência e pela mudança de comportamento no usuário. Entre as ilícitas parece que o crack  é a mais temida, pelos efeitos danosos imediatos ao consumidor. As sociedades estão perplexas porque o crack é realmente devastador. Mas segundo muitos entendidos, essa é apenas a ponta do iceberg da questão drogas. A sociedade competitiva e consumista estimula o consumo de outras drogas que, no seu conjunto, são muito mais prejudiciais que aquelas proibidas em leis. Além de prejuízos à saúde, algumas drogas de grande consumo tem enormes implicações ambientais, como se verá mais adiante.


25 de setembro de 2010

Árvores e biodiversidade: tema mobilizou dezenas de pessoas

Por Darci Bergmann


Na semana dedicada à Festa Anual das Árvores, a ong ASPAN promoveu evento sobre o tema, em data de 25/09/2010. Diversas entidades enviaram representantes. Os trabalhos foram abertos pelo presidente da ASPAN, Jones Dalmagro Pinto, que fez relatório sucinto sobre as atividades que a entidade vem realizando na área ambiental. No ano corrente, até a data do evento, a ASPAN já plantou mil  mudas de espécies florestais nativas, no horto florestal e áreas próximas, entre as quais uma da FEPAGRO Cereais. 
Coube a mim fazer palestra  com o tema Árvores e biodiversidade.  Repassei aos presentes sugestões encaminhadas por diversas pessoas. Uma dessas sugestões refere-se ao controle sanitário da espécie vegetal parasita conhecida como erva-de-passarinho. Essa espécie está infestando centenas de árvores no perímetro urbano e muitas delas já foram aniquiladas. Presume-se que a poluição ambiental esteja favorecendo a propagação da erva-de-passarinho. Dois secretários municipais presentes ao evento prontificaram-se a encaminhar providências sobre a questão. 
Outra queixa recorrente refere-se aos agrotóxicos usados em lavouras próximos ao perímetro urbano. Mais uma vez houve denúncia de que o herbicida Clomazone, nome comercial Gamit, está provocando danos às árvores e demais formas de vegetação. Um dos presentes apresentou folhas de espécies arbóreas com sintomas de clorose albina, aquele branqueamento característico de produtos de princípio ativo Clomazone. As folhas foram colhidas em árvores  da área urbana, próximo ao Jóquei Clube. A questão Clomazone/Gamit já foi objeto de expediente da ASPAN ao Ministério Público Federal, em Uruguaiana, o qual repassou a matéria ao Mnistério Público Estadual. 
Ainda no decorrer da esplanação sugeri aos presentes que houvesse ampla mobilização para que em São Borja, ou em algum município próximo, seja implantada uma UC - Unidade de Conservação, no Bioma Pampa, pelo Ministério do Meio Ambiente.

Também foi sugerido que a prefeitura de São Borja estimule a compostagem dos resíduos orgânicos nas residências, visando diminuir os gastos de coleta. Também a qualidade do ar será melhorada, pois haverá menos circulação de veículos coletores de um resíduo que pode ser facilmente processado no local em que é produzido.  
As propostas receberam manifestações dos presentes e farão parte de um documento a ser encaminhado a outros setores da comunidade.
A palestra ainda abordou outras informações sobre arborização urbana e rural. 
Na sequencia, os presentes visitaram o viveiro com mudas de espécies florestais e um setor de compostagem. Práticas simples e eficientes como a compostagem deveriam ter mais incentivo. No entanto, onera-se o morador com taxas de lixo exorbitantes para repassar esses recursos a empresas de coleta terceirizadas. De uns tempos para cá a questão ambiental vem sendo tratada de forma burocrática e de modo a atender o interesse de corporações que auferem grandes lucros. As práticas simples, descentralizadas e muito mais eficientes são relegadas a um segundo plano. Criam-se projetos mirabolantes, complexos e de resultados ambientais discutíveis.Tudo isso rotulado como avanço ambiental.

Na questão do tratamento de esgoto, as coisas não são diferentes. Por que não descentralizar o sistema de tratamento? Existem alternativas viáveis que permitem tratar o esgoto a nível de residência ou mesmo por quarteirão urbano sem os transtornos das grandes obras. Se o governo é capaz de reduzir tributos para baratear os automóveis, não seria coerente também baratear os equipamentos para tratamento descentralizado dos efluentes residenciais?  Hoje, é facílimo ter financiamento para aquisição de um carro e da casa própria. Mas ainda é difícil conseguir financiamento com prazo e juro acessível para financiar a implantação de sistema de tratamento de esgoto ou mesmo de captação de água pluvial.
Essas e outras práticas são importantes para a qualidade de vida e para a preservação das florestas, na medida em que reduzem as emissões dos gases que provocam o aquecimento global e as mudanças climáticas.

   

21 de setembro de 2010

Como estamos tratando as árvores?

foto:Darci Bergmann


Por Darci Bergmann


 

A semana declarada como Festa Anual das Árvores nos remete à reflexão. Descobrimos então que nada há para comemorar. Primeiro porque milhões de árvores são reduzidas a cinzas pelas queimadas. Não só árvores, mas sementes e mudas necessárias para renovação também desaparecem em meio às chamas. Como se isso não bastasse, a expansão urbana devora os espaços verdes circundantes. Em algumas regiões as cidades se emendam umas às outras e os espaços verdes livres desaparecem sufocados pelo concreto. E as árvores remanescentes ainda sofrem com as derivas dos herbicidas e outras investidas causadas pelas ações humanas.

Arborização nas escolas

Nas escolas, o tema árvore é tratado quase sempre de forma superficial. Uma redação e talvez o plantio de alguma muda que tem pouca chance de se tornar adulta. Não estou exagerando. Com essa inversão de valores onde qualquer bobagem consumista vira um grande evento, a educação ambiental ainda está longe de se tornar realidade nas escolas. Fala-se muito, mas se age pouco. É só observar a quantidade de lixo, desde aquelas embalagens de guloseimas até copos descartáveis jogados em qualquer canto nos pátios dos educandários. Com as árvores não é diferente. Até porque se ensina erradamente que as folhas das árvores sujam as calçadas e algum gramado sobrevivente. Não se faz uma diferenciação pedagógica entre resíduos orgânicos tipo folhas de árvores e aqueles do tipo canudinhos, chicletes e os recorrentes copos descartáveis de plástico, por exemplo. Os currículos são massacrantes. O conhecimento em todas as áreas é tanto que é dedicado menos tempo para o trato com as coisas naturais. Muitas escolas conseguem afastar os alunos da natureza. Esse tipo de escola quase sempre tem prédios rodeados de pátios cimentados. Não se reserva espaço para uma área verde. Em cenários de tamanha esterilidade, falar sobre árvores vira mesmo um exercício de retórica, um discurso vazio apenas para cumprir um calendário. O que esperar dos adultos que passam por educandários sem um mínimo de área verde?

O cenário também faz parte da educação

Se o tempo destinado à educação ambiental de forma prática é pouco, devido à exigência curricular, uma alternativa é a implantação de escolas com a integração de áreas verdes. Os novos projetos deveriam contemplar essa realidade. Os alunos aprendem com o cenário. Educa-se muito mais pela interação aluno ambiente.

Por todos os lados nesse imenso Brasil as florestas estão regredindo. A legislação para protegê-las é importante, mas só ela não evitará a destruição. Para arborizar e salvar parte do nosso patrimônio natural, é necessária uma educação de cunho mais prático. E não há tempo a perder com frases soltas e discursos vazios.



17 de setembro de 2010

SE AMAS AS ÁRVORES

                                      
Ben Hur Lampman 

“Se já viste e apreciaste a corça e seu filhote correndo por entre as moitas, de manhã cedo, quando a neblina sobe do vale;
Se ouviste e apreciaste o canto sonoro do galo silvestre nos pinheiros e a melancolia dos pombos selvagens chamando uns pelos outros;
Se viste e apreciaste o marreco entrando na água; e o coelho que, de madrugada, sai das moitas de silvas para os bancos de areia – se já apreciaste e ainda aprecias tudo isto, evita os incêndios na floresta.
Se já apreciaste a sombra profunda e fresca do meio-dia, enquanto um gavião circula no ar; o silêncio encantado da floresta sonolenta rescendendo a festas, resinas e amoras; e a paz que flui em todos os sentidos qual uma grande pulsação batendo compassada; e a consciência de que aí não há nem nunca houve pressa; e uma trepadeira pendente carregada de bagas vermelhas, se alguma vez apreciaste essas coisas e te confortaste com elas, evita os incêndios na floresta.
Se já apreciaste o alongar das sombras da floresta ao anoitecer, quando o veado e a codorna saem dos seus esconderijos, se já tiveste a impressão de que ao crepúsculo as montanhas se tornam mais próximas;
Se apreciaste nessa quietude suspensa o rumor da esguia truta subindo à tona ou o salmão subindo o rio;
Se sentes que, de algum modo, tu não és estranho às árvores, ao anoitecer, nem ao Criador destas coisas;
Se já apreciaste tudo isto e guardas um sentimento de gratidão, evita os incêndios na floresta e nos campos”.
__________________________________________________________________________________
(artigo publicado no Oregonian, de Portland, USA)
Nota: O texto acima foi-me enviado por José Antônio Lutzenberger, faz mais de 20 anos. No atual momento em que as queimadas devastam enormes áreas em nosso País e com a proximidade da Festa Anual das Árvores, que aqui na região sul acontece de 21 a 27 de setembro, essa matéria nos remete à reflexão.

13 de setembro de 2010

Brasil em chamas: Biomas inteiros agonizam

Por Darci Bergmann

As queimadas que dilaceram o patrimônio natural do Brasil e de boa parte do nosso continente causariam inveja ao imperador Nero, incendiário de Roma. As estatísticas sobre o número de focos de incêndio variam a cada dia. Mas o lado mais triste dessa tragédia aqui no Brasil é o modelo irresponsável de ocupação de terras que há décadas vem ocorrendo com aval dos governos constituídos. Nesse tocante os governos revolucionários de 1964 e os pós regime militar são parceiros da mesma estupidez ambiental. Grileiros de terra foram favorecidos com benesses oficiais e financiamentos de bancos estatais. Pessoas sem vocação para o trato com a terra foram incentivadas a ocuparem áreas nos biomas cerrado e floresta amazônica, tudo no intuito de ocupar espaços vazios e de alargar a fronteira agrícola.

 São exceções os proprietários que produzem dentro de uma visão de sustentabilidade.

 O novo eldorado gerou uma riqueza aparente em algumas famílias, mas já esboça uma contrapartida de miseráveis que se espalham nas malhas urbanas da região. No campo, entremeando grandes produtores da agropecuária, algumas famílias em pequenas áreas se aventuram num tipo de produção que exige grande aporte de capital. Mas esses extremos se complementam quando o assunto é queimadas. Não há dúvidas que a causa é antrópica. A maioria dessa gente sempre foi incentivada por politiqueiros e atravessadores a liquidarem com a natureza, pois o escopo sempre foi o lucro imediatista e nunca o amor à terra. Num cenário assim, práticas como as queimadas foram usadas para a ocupação rápida dos grandes espaços então disponíveis.

O capitalismo segue as nuvens da fumaça

Na esteira da ocupação acelerada, as obras de infra-estrutura, tais como estradas e pontes, permitem o acesso fácil a rincões antes protegidos pelo isolamento. Escoamento da produção, acesso a novas áreas, criação de núcleos urbanos, produção de energia, para citar algumas, são exigências dos novos proprietários. O uso intensivo de agrotóxicos e do fogo sempre fez parte desse processo. Aquilo que se repete por gerações vira tradição, um modelo cultural. Modelo cultural negativo, destruidor quando aniquila a natureza milenar. É assim que devem ser vistas as queimadas em boa parte do Brasil. É uma cultura equivocada, mas que tem raízes históricas e teve apoio oficial. As conseqüências dessa destruição ambiental agora assustam. Cidades inteiras ficaram cobertas de fumaça e fuligem. A saúde das pessoas agora é afetada numa escala sem precedentes, haja vista que os hospitais ficam lotados de pacientes com problemas respiratórios. Mais uma vez os grandes laboratórios farmacêuticos se beneficiam com a venda de medicamentos. Alguns desses laboratórios produzem agrotóxicos e assim o ciclo capitalista se fecha.

A fumaça das queimadas mata gente na cidade, já poluída por outras fontes.

Lá no interior a natureza agoniza. Os últimos refúgios naturais estão virando gigantescos cemitérios de bichos e plantas. Assim começaram muitos desertos. Quem faz uso deliberado das queimadas não deveria ter acesso a nenhum programa de financiamento. A queimada é crime ambiental e crime contra a humanidade.


Mais sobre queimadas:

9 de setembro de 2010

SINAL DE ALERTA

Por Darci Bergmann
A luz vermelha acendeu em São Borja e região. Os rios Butuí e Icamaquã que delimitam a nossa bacia hidrográfica, juntamente com o Rio Uruguai, já revelaram presença de produtos químicos em níveis acima dos teores normais. Em amostras colhidas e analisadas por equipe de professores da URCAMP, os metais pesados aparecem com índices preocupantes. Com relação ao Rio Uruguai seria até compreensível que pudessem provir de alguma região mais industrializada. Mas como explicar altos índices também nas amostras dos rios Butuí e Icamaquã? As respostas podem ser muitas. Metais como cromo, chumbo, cádmio e cobre estão associados aos adubos químicos, como impureza. É uma dentre outras possibilidades. As rochas que originaram o solo poderiam contê-los, mas isso é improvável. O cobre é micro-nutriente. Em excesso causa problemas, assim como o ferro. Os outros três elementos são altamente tóxicos e não tem função nos organismos vegetais e animais. Causam problemas sérios e podem levar à morte. O cádmio e o chumbo eram ou ainda são componentes de pilhas, tintas, impurezas industriais, etc. Os metais pesados não se degradam.

O tratamento convencional da água não retira os metais pesados. Alguns deles passam à cadeia alimentar de vários seres. Peixes, crustáceos, aves e mamíferos podem acumular chumbo e outros metais pesados. São necessárias condutas que diminuam a contaminação ambiental com metais pesados. Uma primeira sugestão. Quem tem arma de fogo para defesa pessoal não faça disparos desnecessários. A caça e as competições com arma de fogo deveriam ser proibidas de uma vez por todas, pelo bem da Natureza e no interesse da saúde humana.


O chumbo também foi espalhado em nossos campos e matas pelos caçadores.

 Esse metal se acumulou ao longo de séculos e hoje ameaça a fauna e a espécie humana em particular. São Borja e região foram cenários de muitas caçadas. Até pouco tempo se realizavam competições esportivas que deixaram no solo centenas - talvez milhares de quilos de chumbo. A modalidade chamada de tiro ao prato foi amplamente praticada na sede de uma associação de tiro e caça, próximo à FEPAGRO Cereais, em São Borja. Toda a munição usada nesse esporte continua sobre o solo, liberando partículas do metal pesado chumbo. Dali as águas vão para a sanga das Pontes, um dos formadores da sanga da Estiva; esta deságua no Rio Uruguai, um pouco acima do ponto de captação de água da CORSAN. Os que praticaram esporte de tiro vão limpar o resíduo perigoso chumbo que deixaram no ambiente?